JESUS é um bom pedagogo. Procura acompanhar os seus ensinamentos com exemplos, imagens ou gestos concretos. Não poupa tempo nem energias para que a sua doutrina chegue e se conecte com todos. Preocupa-se em conhecer bem os discípulos para captar o seu entendimento nos discursos, e repete as coisas sempre que necessário. Como dizia São Josemaria, “o Senhor foi pródigo conosco. Instruiu-nos pacientemente; explicou-nos os seus preceitos com parábolas e insistiu conosco sem descanso”[1].
Quando o Senhor falou sobre o valor da oração, quis reforçar os seus ensinamentos com um exemplo que despertaria o interesse de muitos dos seus ouvintes; e poderia ter acontecido recentemente. “Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: "Amigo, empresta-me três pães, porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer", e se o outro responder lá de dentro: "Não me incomoda! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães"” (Lc 11, 5-6).
Além da mensagem concreta desta passagem, podemos ver a preocupação de Jesus em se colocar no lugar do outro quando deseja transmitir os seus ensinamentos. Aproveitava os acontecimentos diários para revelar grandes realidades divinas. Deus não é “uma inteligência matemática muito distante de nós. Deus se interessa por nós, ama-nos, entrou pessoalmente na realidade da nossa história e comunicou a si mesmo a ponto de se encarnar. Portanto, Deus é uma realidade da nossa vida, é tão grande que tem tempo também para nós, preocupa-se conosco. Em Jesus de Nazaré nós encontramos o rosto de Deus, que desceu do seu Céu para imergir no mundo dos homens, no nosso mundo, e para ensinar a ‘arte de viver’, o caminho da felicidade; para nos libertar do pecado e para nos tornar filhos de Deus”[2]. Nós também, quando transmitimos a fé, podemos imitar a preocupação do Senhor em conectar seus ensinamentos com as realidades cotidianas. Dessa forma, o Evangelho não será percebido como algo estranho, mas como algo familiar, próximo, que desperta o desejo de viver essa Boa Nova.
RESSOAVAM ainda nos ouvidos dos discípulos as diversas petições que Jesus tinha sintetizado no Pai-Nosso: um modo novo de se dirigir a Deus, filial e confiado. Neste contexto, Jesus apresenta agora o exemplo de um amigo inoportuno que, em uma hora inadequada, pede pão para um hóspede inesperado. Cristo quer que comparemos nossa maneira humana de responder a pedidos com a maneira inovadora de Deus.
Para que este modo divino fique gravado nos corações dos seus ouvintes e nos nossos, Jesus diz: “Portanto, eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto” (Lc 11, 9). Em poucas ocasiões o Senhor é tão insistente, quer pelas imagens que utiliza – pedir, procurar, bater – como pela frequência com que as repete, dizendo por uma segunda vez: “Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá” (Lc 11, 10).
Jesus apresenta uma consoladora promessa sobre a oração de petição: nada fica sem resposta. “A súplica é expressão do coração que confia em Deus, pois sabe que sozinho não consegue. Na vida do povo fiel de Deus, encontramos muitas súplicas cheias de ternura crente e de profunda confiança. Não desvalorizemos a oração de petição, que tantas vezes nos tranquiliza o coração e ajuda a continuar a lutar com esperança”[3]. É o que fizeram tantos santos ao longo da história, diante de muitas obscuridades ou obstáculos. Pedir fez com que crescessem em sua consciência de que era Deus quem levava as coisas para a frente: a missão apostólica que tinham entre mãos, a sementeira de paz e de alegria que queriam levar por todo o mundo; a sua própria santidade, as preocupações familiares… São Josemaria, em momentos de incompreensões e dificuldades, insistia com os seus filhos, servindo-se de uma frase de Isaías: “Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta” (Is 58, 1).
“SERÁ QUE ALGUM de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?” (Lc 11, 11). Seguindo o seu modo de ensinar, Jesus apresenta outra comparação para completar a imagem que os ouvintes podiam ter de Deus. Não é só um Pai a quem se pode pedir todo o tipo de bens, como mostrou no Pai-Nosso. Também não é suficiente para descrever essa paternidade o fato de não deixar qualquer súplica sem resposta. Além de tudo isto, é um Pai muito superior ao melhor que pudéssemos encontrar. “Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11, 13).
Provavelmente já tivemos a experiência de pedir algo a Deus que, no final, Ele não nos concedeu. Então podemos pensar que não é verdade aquilo de que “todo aquele que pede recebe”. Mas o que Jesus quer transmitir é que, quando não nos cansamos de suplicar, o primeiro bem que recebemos é precisamente o de sermos verdadeiramente filhos de Deus, graças ao Espírito Santo. Em determinadas ocasiões, com efeito, pode parecer que não nos dá o que pedimos, mas temos a certeza de que Deus é bom e, por conseguinte, sempre “quer o melhor para nós”[4]. Essa oração, se é cheia de confiança, ajuda-nos a ser humildes, a reconhecer que somos filhos necessitados de um Pai cheio de amor. E muitas vezes o principal fruto dessa petição será o de ter tomado consciência da nossa filiação.
“Deus, ao diferir a sua promessa, aumenta o desejo; dilata a alma e dilatando-a, torna-a capaz dos seus dons”[5]. Quando Jesus parece não nos conceder o que pedimos, ele o faz para que continuemos a insistir e para que o desejo de o obter cresça em nós. Por meio dessa oração incansável, Deus prepara a nossa alma para acolher o dom da filiação divina que ilumina o nosso caminho rumo à santidade e que nos faz ter a Virgem Maria como nossa Mãe. “Mãe! – Chama-a bem alto, bem alto. – Ela, tua Mãe Santa Maria, escuta-te, vê-te em perigo talvez, e oferece-te, com a graça do seu Filho, o consolo do seu regaço, a ternura das suas carícias. E encontrar-te-ás reconfortado para a nova luta”[6].
[1] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 52
[2] Bento XVI, Audiência, 28/11/2012.
[3] Francisco, Gaudete et exultate, n. 154.
[4] Francisco, Ângelus, 16/01/2022.
[5] Santo Agostinho, Sobre a primeira carta de São João, Tratado IV.
[6] São Josemaria, Caminho, n. 516.