Meditações: 25º domingo do Tempo Comum (Ano B)

Reflexão para meditar no 25º domingo do Tempo Comum (Ano B). Os temas propostos são: uma fé provada; superar-se nas dificuldades; fortaleza perante os inimigos internos.


DURANTE a sua vida na Terra, Jesus Cristo encontrou muitas pessoas simples e de bom coração. Aproximam-se d’Ele porque os seus gestos e palavras são comoventes. O Senhor os inspira com a esperança de uma vida mais plena e exigente, ao mesmo tempo mais humana e em conformidade com a vontade de Deus. Muitos deixam-se transformar por aquela novidade que ilumina a existência. Mas alguns também duvidam e aproximam-se dele com a intenção de testá-lo: “É permitido ou não pagar tributo a César?” (Lc 20, 22); “É permitido ao homem despedir sua esposa por qualquer motivo?” (Mt 19, 3).

Até certo ponto, é normal que exista o desejo de verificar a coerência de uma nova mensagem com o comportamento de quem a transmite. É algo que as crianças fazem em relação aos pais e aos educadores. No entanto, por trás deste desejo de verificação crítica, às vezes também se pode esconder uma raiz maliciosa. Assim diz hoje o Livro da Sabedoria na primeira leitura: “Armemos ciladas ao justo. Vejamos, pois, se é verdade o que ele diz, e comprovemos o que vai acontecer com ele” (Sb 2, 12.17).

Nesse sentido, quem quiser seguir Cristo de perto verá a sua autenticidade testada pelas circunstâncias e pelas pessoas: períodos de trabalho particularmente intensos, imprevistos econômicos, um familiar ou colega com quem não conseguimos nos dar bem... Nesses momentos precisamos mais do que nunca buscar o apoio de Deus. Ele nos ajudará a abraçar estas situações com esperança, sabendo que são provas com as quais o Senhor testa a nossa fé. “Quando pensamos que tudo se afunda sob os nossos olhos, nada se afunda, porque Tu és, Senhor, a minha fortaleza. Se Deus mora na nossa alma, tudo o resto, por mais importante que pareça, é acidental, transitório; em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente”[1].


UMA FÉ madura dá coerência e consistência a quem a vive. Permite tomar decisões fundamentadas a partir da escuta atenta do Espírito Santo; e ajuda a mantê-las ao longo do tempo sem que as adversidades ou os contratempos as destruam. Esta fé dá uma unidade de vida que não só resiste às provações – como uma rocha resiste ao vento – mas também usa a adversidade para voar mais alto – como os pássaros aproveitam o vento.

Enquanto os agentes climáticos externos, como a água ou o sol, degradam as estruturas inertes ou artificiais, estes mesmos agentes auxiliam o desenvolvimento dos seres vivos. O que é inerte se desintegra, apodrece. No entanto, o princípio de vida contido numa semente não sedimenta, mas ao ser enterrada se desenvolve e cresce quando está escondida. Por isso, perante as adversidades, podemos rezar como o salmista: “contra mim orgulhosos se insurgem, é o Senhor quem sustenta minha vida” (Sl 54, 5.6). Desta forma construímos uma vida capaz de assimilar as dificuldades a favor do seu desenvolvimento, porque Jesus Cristo tomou sobre Si os nossos pecados e nos tornou capazes daquela nova existência dada por Deus.

É normal que, no nosso caminhar com o Senhor, encontremos obstáculos de vários tipos. Épocas em que nos sentimos frios na hora de rezar e de recorrer aos sacramentos. Pessoas que não compreendem a nossa fé. Dificuldade em compreender algum aspecto da doutrina cristã. Todas estas circunstâncias podem nos ajudar a considerar o que realmente queremos e a crescer no nosso desejo de viver com Deus. “Pensemos, um desejo sincero sabe tocar profundamente as cordas do nosso ser, e por isso não se extingue perante as dificuldades ou contratempos. É como quando estamos com sede: se não encontramos algo para beber, não renunciamos; pelo contrário, a busca ocupa cada vez mais os nossos pensamentos e ações, até nos dispormos a fazer qualquer sacrifício para a poder saciar, quase obcecados. Obstáculos e fracassos não sufocam o desejo, não; pelo contrário, tornam-no ainda mais vivo em nós”[2].


A VIRTUDE da fortaleza é a que “dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem. Ela firma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral”[3]. Essas dificuldades podem ser externas, e, às vezes, há pouco que uma pessoa possa fazer para mudá-las; no entanto, em muitos casos são inimigos internos “o seu nome é ansiedade, angústia, medo, culpa: todas estas forças que se agitam no nosso íntimo e que, em certas situações, nos paralisam. (…) A maior parte dos medos que surgem dentro de nós são irrealistas e não se concretizam de forma alguma. É melhor então invocar o Espírito Santo e enfrentar tudo com fortaleza paciente: um problema de cada vez, como formos capazes, mas não sozinhos! O Senhor está ao nosso lado, se confiarmos n’Ele e procurarmos sinceramente o bem. Então, em todas as situações, podemos contar com a Providência de Deus para nos amparar e blindar”[4].

Talvez tenhamos passado pela experiência de sofrer por algo que poderia acontecer: uma possível reprovação num exame, um projeto que talvez pudesse correr mal, um problema de saúde nosso ou de uma pessoa de quem gostamos que poderia mudar radicalmente as nossas vidas… Em alguns casos, essa tensão nos permite atuar e prevenir uma situação desastrosa. Ao mesmo tempo, em outras ocasiões esta dor não nos ajuda muito, pois nos impede de lidar com as situações mais reais que cada dia nos apresenta e nos obriga a nos concentrar em hipóteses que muitas vezes sabemos que não se concretizarão.

Podemos pedir ao Senhor luz e força para obter clareza e fortaleza dentro de nós, para avaliar se o sofrimento nos ajuda a enfrentar o presente ou se nos rouba desnecessariamente. “Há almas que parecem empenhadas em inventar sofrimentos, torturando-se com a imaginação – escreve São Josemaria –. Depois, quando chegam penas e contradições objetivas, não sabem estar como a Santíssima Virgem ao pé da Cruz, com o olhar posto no Filho”[5]. Podemos terminar este tempo de oração pedindo à nossa Mãe que nos ajude a viver o presente, acolhendo as dificuldades de cada dia com o desejo de nos unirmos ao sacrifício de Jesus.


[1] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 92.

[2] Francisco, Audiência, 12/10/2022.

[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 1808.

[4] Francisco, Audiência, 10/4/2024.

[5] São Josemaria, Sulco, n. 248.