Há 28 anos, oferecem-se em Marangatu cursos de capacitação em ofícios para mulheres que vivem na região, com o objetivo de facilitar uma melhor saída profissional, e contribuir com o desenvolvimento da comunidade. A principal finalidade é capacitar mulheres com poucos recursos em Luján por meio de uma formação integral: profissional, cultural, humana e espiritual.
Milhares de mulheres se formaram nas oficinas de Marangatu. Em junho de 2017, algumas delas participaram, emocionadas e agradecidas, do evento em que foi inaugurada a rua que fica ao lado das oficinas com o nome “Bem-aventurado Álvaro del Portillo”.
“Nesse dia então, São Josemaria dizia ‘Quando me for ficarei aos pés de Santa Maria de Luján, aí deixo meu coração’. E assim foi. Aqui ficou entre nós”
Assim o conta Maria Eugenia, uma das participantes:
«10:30 da manhã e tudo parece pronto em Marangatu. Começa o ato. Rodeando o monumento com a inscrição do nome do beato estão o Arcebispo de Mercedes-Luján, Mons. Agustín Radrizzani; a Secretária de Políticas Sociais da Prefeitura de Luján, Mónica Issouribehere; a Coordenadora das Oficinas Marangatu, Zunilda Cavasin; Silvia D’Imperio, representante da associação ICIED; o Vigário do Opus Dei em Buenos Aires, padre Fabricio Melchiori; o padre Diego Piccardo, e um grupo de alunas e professoras.
O padre Fabricio começa a falar, e lembra que em um dia de outono como este, precisamente em 12 de junho de 1974, chegavam a Luján em romaria São Josemaria e o Beato Álvaro para honrar a Mãe de Jesus: “Nesse dia então, São Josemaria dizia ‘Quando me for ficarei aos pés de Santa Maria de Luján, aí deixo meu coração’. E assim foi. Aqui ficou entre nós”.
Não só deixou seu coração em Luján, mas também transformou o de milhares de argentinos e argentinas que, pelo impulso da vida e palavras de São Josemaria e do B. Álvaro, se sentiram mobilizados a pôr em andamento iniciativas sociais, educativas e de capacitação profissional que pudessem resolver de maneira concreta as necessidades do povo, especialmente dos pobres e dos doentes, dos que mais sofrem. Uma delas foi Oficinas de Marangatu.
“Agradecemos a Deus – continua o padre Fabricio – porque cerca de 4.000 mulheres que já receberam cursos e capacitação sobre arte, técnicas de tecido artesanal, gastronomia, acompanhamento de pessoas e corte e costura.”
“Que alegria ouvi-las quando contam que puderam levar adiante um empreendimento pessoal, que as suas famílias se sentem orgulhosas delas; que emocionante descobrir que cada uma, em seu ambiente, converte-se ao mesmo tempo em transmissora, compartilhando com outras o que aprendeu nas Oficinas de Marangatu”, finaliza o padre Fabricio, ao que se segue uma série de aplausos que transmitem a emoção e a alegria de formar parte do projeto.
A Coordenadora das Oficinas, Zunilda Cavasin, participa deste projeto desde o início, em 1989 e conta que professoras e alunas trabalham em um clima de amizade e companheirismo que as une como um laço invisível, e acrescenta: “O objetivo das Oficinas é que cada uma se converta em formadora e transformadora do lugar onde se encontra”.
As Oficinas Marangatu são iniciativa da ICIED, uma associação que surgiu há 30 anos com uma destacada dimensão social: “Trabalhamos com absoluta segurança de que a promoção da mulher não beneficia só a ela mas também a todos os que participam de sua vida, sua família e comunidade”, afirma Silvia D’Imperio, representante da Comissão Diretiva.
Recordou algumas outras iniciativas que a ICIED leva adiante, como o Centro de Saúde, Nutrição e Desenvolvimento Social em González Catán (La Matanza), o CECAM, um centro de educação e capacitação para a mulher em Derqui (Pilar); Impulso Social, organização destinada a coordenar a capacitação e ação de estudantes e jovens profissionais em voluntariado social, entre outras.
No ateliê de pintura está Mercedes. Pergunto-lhe pelo que está fazendo e começamos a conversar. Conta-me que pinta quadros e que vende alguns: “Assim, apesar da idade que tenho, e receber uma aposentadoria, é algo que também me ajuda economicamente”.
Minha curiosidade quer saber qual é a oficina que mais gosta, qual o motivo para vir aqui … Sua resposta é profunda, me diz que ao longo de sua vida participou de muitas oficinas, mas que esta é diferente: “Cada uma de nós viemos com nossas mochilinhas, até a professora, e além de compartilhar o lugarzinho da pintura e a paixão pelo que gostamos de fazer, compartilhamos nossas vivências, nossas felicidades e erros, compartilhamos tudo”.
“Eu encontro em Marangatu compreensão e vontade de continuar em frente, muita vontade de continuar em frente…”
Continua a conversa e comenta, com uma mistura de dor e alegria ao mesmo tempo, que depois que seu marido faleceu, um de seus filhos esteve 23 dias em coma induzido por um problema de saúde: “O respeito, o carinho, e o apoio que recebi de todas, foi o que me ajudou a não cair”.
Faz-se silêncio, e prossegue: “Eu encontro em Marangatu compreensão e vontade de continuar em frente, muita vontade de continuar em frente…”. Vêm-me à mente esse “Vão adiante”, que o Papa propôs aos jovens no Rio de Janeiro e me ocorre que Mercedes é um exemplo e que com certeza o Papa gostaria de conhecê-la e ouvir sua história.
Vou embora de Marangatu. Busco em minha caderneta as palavras que o padre Fabricio disse há algumas horas e leio: “O B. Álvaro nos animava a não ser indiferentes, a ser sempre um sinal de mais, sinal de amor e de entrega”. Fico pensando… Um sinal de mais: isso é Mercedes, isso é Marangatu».