Lar de cuidados paliativos Mãe do Amor

Centro de cuidados paliativos para doentes terminais na província de Los Baños, nas Filipinas

“Criança – Doente. – Ao escrever estas palavras, não sentis a tentação de as pôr com maiúscula? É que, para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele.“ (Caminho, 419).

Graças à ideia dos cuidados paliativos, o que antes era para muitos um tema tabu – os momentos finais da vida – é agora encarado abertamente e com coragem, como o tema merece.

Iniciadas nos anos 90, as instituições que prestam estes cuidados proliferaram por toda a parte. Proporcionar atendimento cuidado e conforto a todas as pessoas que se encontram à espera da morte, é uma ideia revolucionária. Os serviços que se prestam procuram responder às necessidades dos doentes terminais. Estas necessidades podem ser espirituais, psicológicas, sociais e emocionais. Trata-se, numa palavra, da vertente científica da compaixão humana.

Nas Filipinas tem-se dado muita importância a esta ideia. Um exemplo é o Lar “Mãe do Amor”, inaugurado a 24 de Agosto de 1994 na província de Los Baños. Deve o seu nome à invocação de Nossa Senhora Mãe do Amor Formoso.

Até agora, o Lar “Mãe do Amor” atendeu 560 doentes terminais e prestou apoio às respectivas famílias. Neste Lar existe a firme convicção de que a missão do voluntário não consiste só em suavizar ou procurar atenuar a dor atual mas também a de acalmar a ansiedade relativamente ao futuro: o medo de morrer e a preocupação pelos entes queridos que se deixam. Este é o legado do sócio co-fundador Tony Mercado. Tony, tinha absorvido profundamente o espírito do fundador do Opus Dei, São Josemaria, e especialmente o seu zelo pelas almas. O objectivo principal de Tony ao promover o Lar foi o de proporcionar aos moribundos – no caso de serem católicos - a oportunidade de receberem os últimos sacramentos, e confiar à infinita misericórdia de Deus, Pai de todos, os que não eram católicos.

“No nosso trabalho no Lar somos testemunhas da misericórdia Deus” escreve Monina Allarey Mercado, viúva de Tony (…)

Com doze anos de existência, o Lar “Mãe do Amor” já assistiu a numerosas conversões no seu trabalho de voluntariado. Entre elas está o caso de uma pessoa que costumava praticar abortos. Pediu apoio ao Lar porque estava a sofrer muito devido a um cancro e também ao peso que sentia na sua consciência. Confessou-se não uma mas três vezes por sua própria vontade. Recebeu a absolvição especial que lhe perdoava a pena de excomunhão imposta pelo pecado do aborto. O nosso voluntário do Lar esteve ao seu lado, a rezar com ela, até que morreu. “Os moribundos são a melhor escola de prioridades” acrescenta Monina. “Para os voluntários, os doentes e as famílias abrem novas perspectivas de valentia, compaixão e vinculação. O Lar realiza curas: cura de temores, ressentimentos, perda do controle, desespero, solidão e da grande incerteza de sentimentos que implica a proximidade da morte”.

N lar da “Mãe do Amor” valoriza-se a ideia de aliviar a dor dos moribundos e, no caso dos doentes católicos, assume a maior relevância a administração dos sacramentos como preparação para chegar a ver Deus face a face. “O apostolado com os moribundos é estar junto a uma alma que está prestes a nascer para vida eterna” explica Monina.

Desde 1994, os voluntários encarregam-se de entre 15 a 35 doentes terminais por mês. “Estão connosco um dia, uma semana, um mês, seis meses ou inclusive um ano. Os nossos doentes costumam ter uma média de 50 a 60 anos. Também os há de 80 e 90 anos. A causa principal das mortes é o cancro” diz Monina.

Os serviços do Lar são gratuitos graças aos donativos generosos de muitos amigos. Esta ajuda financeira chega também para manter os voluntários, enfermeiras, pessoal administrativo e o material necessário.

Vivemos com um orçamento muito apertado e dependemos dos corações generosos. A maioria da gente pensa nas instituições deste tipo como entidades com regime de internato, enquanto que o Lar “Mãe do Amor” tem como base a própria família do doente. É gratuito e abrange até aos níveis sociais mais baixos”.

“Outro nosso doente vivia numa barraca entre guindastes e chapas de lata. A cama era feita de cartões de caixas de embalagem.

Quando chegou o momento de ouvir a sua última confissão, o capelão ajoelhou-se junto ao doente e agachou-se para o ouvir, absolvê-lo e dar-lhe a Comunhão.

Recordo também o caso de um homem inseguro das suas capacidades de sociabilidade que vivia como um eremita no alto de uns montes há mais de 30 anos. Quando se sentiu doente, mandou recado aos seus familiares para o acolherem. Recolheram-no, lavaram-no, deram-lhe de comer e transferiram-no para o Lar. Tinha uma doença nos rins em fase terminal. Quando um dos voluntários lhe falou em chamar um sacerdote para o confessar, concordou. Depois de várias semanas, ainda ao cuidado do Lar, faleceu.

Uma das nossas doentes, ao ter conhecimento da sua doença, voltou a aproximar-se de Deus, depois de uma vida inteira de afastamento, e recebeu os sacramentos. Nos últimos momentos insistiu em que a levássemos a uma igreja próxima. A uns passos da porta principal, faleceu na cadeira de rodas, relata Monina.

Todos estes doentes são atendidos por uma equipa de voluntários generosos, homens e mulheres, com maturidade, com sólida formação espiritual. São reformados, muitos foram professores da Universidade das Filipinas em Los Baños. Alguns deles possuem doutoramento universitário. O mais importante é que são católicos que tentam viver a sua fé. Não se exige que os voluntários sejam católicos, mas são estes os que permanecem nesta tarefa anos a fio.

Como um dos voluntários disse. “Hoje vê-me a mim. Amanhã verá o rosto de Cristo”.

É aos voluntários que se confiam as obras de misericórdia de ensinar e de sugerir aos doentes a recepção dos sacramentos. Desde a sua fundação em 1994 até agora, todos os doentes terminais católicos quiseram receber os sacramentos.