Jornalismo policial com anjos da guarda

Marco é jornalista policial e descobriu que a sua profissão, em contato tão próximo da morte e do sofrimento, pode encontrar um horizonte sobrenatural cristão.

Uma colega tinha me avisado: “Olha, o jornalismo policial é exigente. Depois de anos de trabalho, acabei precisando fazer terapia”. A perspectiva de “terminar na terapia” não me agradou, mas a minha curiosidade era grande. Tinha coberto política e cultura durante anos, e queria uma mudança de área.

Tive a oportunidade de mudar graças ao diretor e ao editor de um jornal da minha cidade, que me confiaram a responsabilidade de tudo o que acontece de horrível: roubos, violência, homicídios. Ladrões, assassinos e mafiosos.

A relação quase diária com a morte e os que ficam para trás parte o coração de qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade

Não é certo esconder alguns assuntos do público, que lê sempre com grande interesse, apesar de serem frequentemente recebidos com indignação e acusações aos jornalistas e jornais pelas coisas nefastas que publicam.

O dia de trabalho do repórter criminalista não conhece horários, mas não é tão desordenado; aliás, não me parece que seja incompatível com as necessidades de uma família, basta um pouco de organização.

É frequente que o repórter tenha de visitar famílias que perderam um ente querido, vítima de uma tragédia ou da maldade de alguém, para pedir uma fotografia da pessoa desaparecida para publicar no jornal (um pedido mortificante, para a pessoa que o faz e para a pessoa que o recebe).

A relação quase diária com a morte e os que ficam para trás parte o coração de qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade. Da mesma forma, lidar com os parentes daqueles que, por vários crimes, acabaram na prisão, quebra a moral até dos mais astutos repórteres.

Lembrei-me que a Obra nasceu num dia 2 de outubro, a festa dos Anjos da Guarda

Um dia fui ao funeral de uma senhora de certa idade que tinha sido encontrada morta em casa. Ela tinha sido roubada e morta. Entrei na igreja, curioso para ver quem estava presente no funeral, “talvez o assassino também esteja lá”, pensei para comigo. Sentei-me num dos últimos bancos, absorvido nos meus pensamentos. Naquele momento percebi que a igreja era dedicada aos Anjos da Guarda. Os meus pensamentos recuaram no tempo, aos meus anos de universidade, passados numa residência universitária em Bolonha. Um centro do Opus Dei. Lembrei-me que a Obra nasceu num dia 2 de outubro, a festa dos Anjos da Guarda. Lembrei-me das meditações que assisti no oratório da residência de Torleone; lembrei-me das palavras do pe. Ugo Borghello sobre a amizade com os Anjos da Guarda. Na minha memória revi as imagens filmadas de um encontro com o fundador do Opus Dei. São Josemaria, falando sobre a devoção aos Anjos da Guarda, convidava os presentes a imaginá-los com traços humanos.

Estas lembranças não foram uma descoberta ou uma iluminação mística. Simplesmente aquela parte da minha formação espiritual que eu tinha recebido há muitos anos, ressurgiu, permitindo-me compreender que eu também tinha a possibilidade da oração.

Desde então, o meu trabalho permanece o mesmo, mas quando vou visitar alguém que foi tocado pela tragédia ou pela maldade, preparo-me com tempo, pedindo aos Anjos da Guarda que os apoiem.

quando vou visitar alguém, preparo-me com tempo, pedindo aos Anjos da Guarda que os apoiem

Rezo pelos que se foram e pelos seus entes queridos ou pelos que perderam a liberdade. Isto faz-me sentir melhor, porém o que é mais importante: muda para melhor a minha relação com estas pessoas. É como se, por algum mistério, compreendessem que não estão perante um predador que procura a sua notícia, o “furo”, sem respeito por nada nem por ninguém. E a vida na minha família também melhorou. Agora existe um marido e um pai mais sereno: os tormentos e ansiedades desapareceram quase por magia, mesmo que as preocupações comuns de uma família normal ainda estejam presentes.

Com um copiar-e-colar enviarei estas reflexões à colega que tinha me avisado sobre o lado negro das notícias policiais e quem sabe, talvez ela também decida começar ou recomeçar a procurar um horizonte sobrenatural na sua profissão.