João XXIII

Angelo Roncalli nasceu em Sotto il Monte, em 1881 e faleceu em 3 de junho de 1963.

Apesar de o seu pontificado ter sido breve, marcou a história da Igreja no século XX ao convocar o Concílio Vaticano II, com o objetivo de refletir sobre o modo como a Igreja comunica a sua mensagem ao mundo contemporâneo.

Papa Francisco descreveu a sua atitude com estas palavras: "São João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado, guiado pelo Espírito. Este foi o seu grande serviço à Igreja; por isso gosto de pensar nele como o Papa da docilidade ao Espírito Santo."

João XXIII também foi conhecido como "il Papa buono" (o Papa bom), pela sua enorme afabilidade e sorriso cativante.

Foi canonizado pelo Papa Francisco em 27 de abril de 2014, na mesma cerimônia que São João Paulo II.

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Biografia breve

Angelo foi o quarto dos treze filhos de Giovanni Battista Roncalli e Marianna Mazzola. A sua família era pobre, seus pais eram camponeses, mas com um rico patrimônio de piedade cristã.

Desde pequeno, Angelo manifestava desejos de ser sacerdote. Entrou no Seminário de Bérgamo, onde estudou até o segundo ano de Teologia. Depois, graças a uma bolsa de estudos, pôde ir a Roma, onde estudou no Pontifício Seminário Romano (situado no Palazzo dell'Apollinare, hoje sede da Pontifícia universidade da Santa Cruz).

Sacerdócio

Recebeu a Ordenação sacerdotal a 10 de Agosto de 1904, em Roma, e no ano seguinte foi nomeado secretário do novo Bispo de Bérgamo, D. Giacomo Maria R. Tedeschi, acompanhando-o nas várias visitas pastorais e colaborando em múltiplas iniciativas apostólicas.

Em 1915, quando a Itália entrou em guerra, foi chamado como sargento sanitário e nomeado capelão militar dos soldados feridos que regressavam da linha de combate. No fim da guerra abriu a "Casa do estudante" e trabalhou na pastoral dos jovens estudantes. Em 1919 foi nomeado diretor espiritual do Seminário.

Em 1921 começou a segunda parte da sua vida, dedicada ao serviço da Santa Igreja. Tendo sido chamado a Roma por Bento XV como presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé, percorreu muitas dioceses da Itália organizando círculos missionários.

Carreira diplomática

Em 1925, Pio XI nomeou-o Visitador Apostólico para a Bulgária e elevou-o à dignidade episcopal da Sede titular de Areopolis.

Recebeu a Ordenação episcopal a 19 de Março de 1925, em Roma, e começou o seu ministério na Bulgária, onde permaneceu até 1935. Visitou as comunidades católicas e cultivou relações respeitosas com as outras comunidades cristãs. Atuou com grande solicitude e caridade, aliviando os sofrimentos causados pelo terremoto de 1928. Suportou em silêncio as incompreensões e dificuldades de um ministério marcado pela tática pastoral de pequenos passos. Consolidou a sua confiança em Jesus crucificado e a sua entrega a Ele.

Angelo Roncalli visita o Seminario menor dos Passionistas. [Arquivo da família Martincev - Malcika]

Em 1935 foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia: era um vasto campo de trabalho. A Igreja tinha uma presença ativa em muitos âmbitos da jovem república, que estava se renovando e organizando. Mons. Roncalli trabalhou com intensidade ao serviço dos católicos e destacou-se pela sua capacidade de diálogo e pelo trato respeitoso com os ortodoxos e os muçulmanos. Quando começou a segunda guerra mundial ele encontrava-se na Grécia, que ficou devastada pelos combates. Procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra e salvou muitos judeus com a "permissão de trânsito" fornecida pela Delegação Apostólica. Em 1944 Pio XII nomeou-o Núncio Apostólico em Paris.

Durante os últimos meses do conflito mundial, e uma vez restabelecida a paz, ajudou os prisioneiros de guerra e trabalhou pela normalização da vida eclesial na França. Visitou os grandes santuários franceses e participou nas festas populares e nas manifestações religiosas mais significativas. Foi um observador atento, prudente e repleto de confiança nas novas iniciativas pastorais do episcopado e do clero na França. Distinguiu-se sempre pela busca da simplicidade evangélica, inclusive nos assuntos diplomáticos mais complexos. Procurou agir como sacerdote em todas as situações, animado por uma piedade sincera, que se concretizada todos os dias em prolongado tempo dedicado à oração.

Patriarca de Veneza

Em 1953 foi criado Cardeal e enviado a Veneza como Patriarca, realizando ali um trabalho pastoral sábio e empreendedor e dedicando-se totalmente ao cuidado das almas, seguindo o exemplo dos seus santos predecessores: São Lourenço Giustiniani, primeiro Patriarca de Veneza, e São Pio X.

Papa João XXIII

Depois da morte de Pio XII, foi eleito Sumo Pontífice a 28 de Outubro de 1958 e assumiu o nome de João XXIII. O seu pontificado, que durou menos de cinco anos, apresentou-o ao mundo como uma autêntica imagem de bom Pastor. Manso e atento, empreendedor e corajoso, simples e cordial, praticou cristãmente as obras de misericórdia corporais e espirituais, visitando os encarcerados e os doentes, recebendo homens de todas as nações e crenças e cultivando um extraordinário sentimento de paternidade para com todos. O seu magistério foi muito apreciado, sobretudo com as Encíclicas "Pacem in terris" e "Mater et magistra".

Convocou o Sínodo romano, instituiu uma Comissão para a revisão do Código de Direito Canônico e convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II. Visitou muitas paróquias da Diocese de Roma, sobretudo as dos bairros mais novos. O povo viu nele um reflexo da bondade de Deus e chamou-o "o Papa da bondade". Sustentava-o um profundo espírito de oração, e a sua pessoa, iniciadora duma grande renovação na Igreja, irradiava a paz própria de quem confia sempre no Senhor. Faleceu na tarde do dia 3 de Junho de 1963.

São João XXIII e o Opus Dei

O cardeal Ângelo Giuseppe Roncalli, que reinará com o nome de João XXIII, tinha conhecido o Opus Dei de um modo direto. Em 1954, estivera em dois Centros da Obra: La Estila, em Santiago de Compostela, e Miraflores, em Saragoça. Durante a passagem pela Galicia, anotara no seu diário, em 23 de julho de 1954: “Cena a sera con il Card. Feltin nell'Opus Dei, istituzione nuova per me, interessante e edificante [Jantar com o cardeal Feltin no Opus Dei, instituição nova para mim, interessante e edificante]”.

Em certa ocasião o Papa joão XXIII comentou com o seu secretário, mons. Loris Capovilla, que mais tarde seria bispo de Loreto: “L'Opus Dei è destinata a operare nella Chiesa su inattesi orizzonti di universale apostolato” (“O Opus Dei está destinado a abrir na Igreja insuspeitáveis horizontes de apostolado universal”).

Pilar Urbano, no livro "O Homem de Villa Tevere", relata que na primeira audiência que concedeu como Papa a São Josemaria, disse-lhe, brincando que "da primeira vez que ouvi falar do Opus Dei, disseram-me que era uma instituição imponente e che faceva molto bene. Da segunda vez, que era uma instituição imponentissima e che faceva moltissimo bene. Essas palavras entraram-me pelos ouvidos, e... o carinho pelo Opus Dei ficou-me no coração" (ver relato completo primeira audiência a São Josemaria).

Em 27 de junho de 1962, o Papa concedeu outra audiência a São Josemaria. Depois deste encontro, o fundador do Opus Dei estava tão contente que escreveu numa carta a todos os fieis da Obra: "Gostaria realmente, queridos filhos, que todos vocês sentissem a mesma alegria que eu e ficassem imensamente gratos ao Papa João XXIII pela sua bondade e benevolência" (segunda audiência a São Josemaria).

Numa entrevista, São Josemaria contava sobre uma destas conversas com o Papa João XXIII; "uma vez comentei ao Santo Padre João XXIII, movido pelo encanto afável e paterno de seu trato: 'Santo Padre, na nossa Obra, todos os homens, católicos ou não, sempre encontram um ambiente amável: não aprendi o ecumenismo de Vossa Santidade'. Ele riu emocionado, porque sabia que, já a partir de 1950, a Santa Sé havia autorizado o Opus Dei a receber como associados Cooperadores os não-católicos e até os não-cristãos (Entrevistas com Mons. Escrivá, n. 22).