Jérôme Lejeune e São Josemaria na Universidade de Navarra

Publicamos um artigo, extraído de Studia et Documenta, sobre o dia em que Jérôme Lejeune, descobridor da causa da Síndrome de Down, foi proclamado doutor “honoris causa” na Universidade de Navarra, estando presente São Josemaria que era o Grã-Chanceler.

Artigo: Os primeiros doutores honoris causa da Universidade de Navarra (1964-1975) em Studia et Documenta (2014).


Jérôme Lejeune nasceu em 1926 em Montrouge (França). Obteve o doutorado em Medicina em 1951 e em Ciências Naturais em 1961. Em 1952 havia começado a trabalhar no Centro Nacional de Investigações Científicas de Paris, onde foi diretor de pesquisas. Em 1964 foi nomeado professor titular da Cátedra de Genética Fundamental da Universidade de Paris, e um ano mais tarde, chefe do Serviço de Genética Fundamental do Hôpital des Enfants Malades. Em 1968, assumiu o cargo de diretor executivo do Institut de Progénèse, e dois anos mais tarde foi nomeado decano da Unité d’Enseignement et de Recherche.

O professor Lejeune funda a Citogenética Clínica ao verificar pela primeira vez que uma síndrome – a de Down, o mongolismo – é resultado de uma alteração no cariótipo humano: presença triplicada de um elemento 21. Descobre a primeira translocação em cromossomos humanos. Acha a deleção do braço curto do cromossomo 5, que determina a síndrome “cri du [sic] chat”. Postula o fenômeno da aneusomia de recombinação. Realiza uma análise comparativa minuciosa dos cariótipos do homem e dos primatas superiores. Palavras pronunciadas pelo padrinho, Dr. Eduardo Ortiz de Landázuri, decano da Faculdade de Medicina, elogiando o graduado Dr. Jérôme Lejeune.

Foi membro da Real Sociedade de Medicina de Londres e da Academia Norte-americana de Artes e Ciências de Boston. Ocupou importantes funções internacionais na Organização Mundial da Saúde. Foram-lhe concedidos numerosos prêmios e suas publicações superavam, na época, uma centena.

O doutorado honoris causa foi concedido a Lejeune pela Faculdade de Medicina e o decano, Eduardo Ortiz de Landázuri, foi o seu padrinho. No currículo anexo à proposta da chancelaria estava mencionada a principal razão pela qual o propunham como candidato:

Soube defender firmemente a vida humana e a dignidade da pessoa humana desde o primeiro momento de sua existência. Em sua cátedra de Genética Fundamental, de Paris, na Academia de Ciências Morais e Políticas da capital da França, como presidente e fundador da Sociedade Laissez-les-vivre, ou através de suas numerosas ações internacionais, o Dr. Lejeune defendeu – como produto da mais rigorosa pesquisa genética – a necessidade de proteger a vida humana desde o próprio momento de sua concepção. (Anexo da Comunicação interna da Chancelaria ao Reitorado, n. 3449/73, 21 de outubro de 1973).

Na própria cerimônia de investidura, em seu discurso, Hengsbach tinha dito “uno-me, aqui, ao aplauso que a Universidade de Navarra concede ao Professor Lejeune”. Pode-se dizer, efetivamente, que a concessão do grau de doutor honoris causa a Lejeune constituía um aplauso por sua defesa da vida.

O grã-chanceler disse a respeito dos dois novos doutores: “Este compromisso pessoal com a verdade e com a vida, do qual fizeram profissão Monsenhor Hengsbach e o professor Lejeune, une-se ao dos grandes Mestres de todos os tempos, que não se deixaram arrastar por ambientes superficiais, nem se enganaram pela miragem da novidade fácil. Seu exemplo é um estímulo notável e alentador, quando (...) a humanidade se debate contra uma borrasca tremenda”.

Quando a chancelaria propôs ao reitorado conferir o grau a Lejeune, havia igualmente argumentado dizendo: “Ele está defendendo ativamente os princípios cristãos de importância vital para a sociedade”. Em seu discurso, o grã-chanceler louvou “a firme defesa da vida humana do Professor Lejeune”.

Além disso, a defesa dos princípios cristãos, tanto no exercício da profissão como a partir dela, estava plenamente de acordo com o espírito do Opus Dei e, portanto, com um dos ensinamentos que a Universidade de Navarra anelava transmitir a seus alunos. O padrinho destacou assim como o Professor Lejeune lutava “contra a lei do aborto legal, com as mais sutis considerações científicas, produto da mais rigorosa pesquisa genética” e, por isso, disse: “a Faculdade de Medicina sente extraordinária alegria ao propor o Professor Lejeune como partícipe de suas mesmas tarefas com iguais ideais”.

Lejeune foi um exemplo de cientista católico, valente e coerente, que defendeu no exercício de sua profissão a lei natural e a doutrina da Igreja. Talvez, por isto, o grã- chanceler tenha dito:

A Universidade sabe que a objetividade cientifica necessária rejeita justamente qualquer neutralidade ideológica, qualquer ambiguidade, qualquer conformismo, qualquer covardia: o amor à verdade compromete a vida e todo o trabalho do cientista, e sustenta sua têmpera de honradez diante de possíveis situações incômodas, porque a essa retidão comprometida não corresponde sempre uma imagem na opinião pública. (Discurso do Grã Chanceler, Exmo. e Revmo. Mons. Josemaria Escrivá.