Inauguração do Ano Acadêmico em Roma: o dom da unidade

“Cabe a cada um de nós descobrir o presente que cada pessoa é”, disse Mons. Fernando Ocáriz na homilia de inauguração do ano acadêmico da Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma).

O Grão-chanceler, Mons. Fernando Ocáriz, celebra os 25 anos de alguns professores e funcionários

O Grão-chanceler da Pontifícia Universidade de Santa Cruz, Mons. Fernando Ocáriz, presidiu a missa de inauguração do Ano Acadêmico de 2022. Na homilia, comentou sobre o “desejo de unidade na Igreja” proposto pelos textos correspondentes à Missa de Pentecostes, que se costuma celebrar nessa ocasião.

Após a missa, houve a cerimônia de abertura do ano letivo. Giorgio Faro, professor da Faculdade de Filosofia, falou sobre o sentido do trabalho. O prelado do Opus Dei fez o discurso de abertura. Abaixo oferecemos uma tradução da homilia e um link para o discurso em italiano.

Homilia do Grão-chanceler

Acabamos de ouvir o relato de Pentecostes. O relato de um encontro muito especial que, graças à descida do Espírito Santo, deu à humanidade a oportunidade de se reunir novamente em nome do Senhor, não mais como estranhos, mas como irmãos.

Estou feliz por estar aqui com todos vocês hoje, após um longo tempo de ausência durante o qual a pandemia, ainda não vencida, impediu-nos de nos encontrarmos pessoalmente. Hoje rezo de maneira especial por nosso querido professor Miguel Ángel Tabet e por todas as pessoas da nossa comunidade acadêmica que faleceram nos últimos meses.

“Pentecostes é a festa da união, da compreensão e da comunhão humana” (2012), disse Bento XVI há alguns anos. Esta comunhão é um presente de Deus, do qual o nosso mundo e toda a família cristã tanto necessitam. O início de um novo ano letivo é uma ocasião propícia para nos unirmos ao Senhor, mais uma vez, na oração pela unidade que Ele pronunciou na sua última Ceia: “Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós” (Jo 17, 21).

Em janeiro passado, o Papa Francisco, falando da unidade da Igreja, disse: “O Senhor não ordenou aos discípulos que se unissem. Nem lhes deu um discurso para justificar essa necessidade. Não, Ele rezou ao Pai por nós, para que fossemos um. Isso significa que nossas próprias forças não são suficientes para alcançar a unidade. A unidade é antes de tudo um dom, uma graça que devemos pedir na oração”.

No Evangelho de hoje, ouvimos que Jesus tinha muito mais coisas para dizer aos Apóstolos (cf. Jo 16,12). Entre elas está certamente o desejo de unidade na Igreja e de unidade entre nós. Unidade que nos permite descobrir as grandes obras de Deus de que falavam os apóstolos (cf. At 2,11). A alternativa, como bem sabemos, é ficarmos ancorados nas nossas pequenas coisas, que, em vez de aproximar-nos de Deus e dos outros, nos prendem em nosso egoísmo, e não nos permitem ver a beleza do mundo e, sobretudo, o valor das outras pessoas.

O Salmo volta a falar dessas grandes obras: “Bendize, ó minha alma, o Senhor! Senhor, meu Deus, vós sois imensamente grande! Quão variadas são as vossas obras! Feitas, todas, com sabedoria, a terra está cheia das coisas que criastes”. (Salmo 103). Entre essas obras estão as pessoas, de uma forma especial. Cada pessoa é uma obra do Senhor que nos é oferecida como um dom. Cabe a cada um de nós descobrir o presente que é cada pessoa que encontramos em nosso caminho.

Nos anos da Universidade, há muitos encontros com gente nova: outros alunos, professores, funcionários da Universidade. Peçamos ao Senhor saber descobrir sempre o presente que Ele nos dá em todos estes encontros. Quantas belas amizades nascem durante os anos em Roma! Amizades duradouras que todos nós levaremos aos nossos países e que muitas vezes são um forte estímulo em nossa vida a serviço de Deus. “Quando uma amizade é verdadeira, quando a preocupação pela outra pessoa é sincera e preenche a nossa oração, não há tempos compartilhados que não sejam apostólicos: tudo é amizade e tudo é apostolado, sem nenhuma distinção” (Carta Pastoral 1/11/2019, n. 19).

Em 1969, São Josemaria dizia numa meditação: “Viver segundo o Espírito Santo é viver de fé, de esperança, de caridade: é deixar que Deus tome posse de nós e mude pela raiz os nossos corações, para os moldar à sua medida” ( É Cristo que passa, 134). Façamos talvez, também, um novo propósito de viver de acordo com o Espírito Santo, que nada mais é do que viver como Jesus. Estas palavras de São Josemaria falam de uma mudança de coração pela raiz. Alguns podem se perguntar porque isso é necessário. Por que ainda precisamos de uma mudança de coração, na raiz, se já temos muitos anos de vida cristã ou mesmo uma vocação a serviço de Deus em sua Igreja? A resposta a esta pergunta encontra-se nas palavras de Jesus que acabamos de ouvir: “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos”. Se realmente queremos ouvir a voz de Deus hoje, devemos ter um espírito aberto. Precisamos daquela atitude humilde de quem sabe que recebeu muito e, ao mesmo tempo, de quem é consciente de que Deus é muito grande e que a sua sabedoria ultrapassa em muito o nosso saber.

Em Pentecostes, Nossa Senhora ocupa um lugar discreto, mas está presente junto aos apóstolos de seu Filho. Peçamos a ela, no início deste ano letivo, que nos ilumine nos próximos meses para que também nós possamos ser instrumentos de unidade onde quer que estejamos e, especificamente, na vida universitária.

* * *

Discurso do Grande Chanceler na cerimônia de abertura (4 de outubro de 2021)