Queridos ordinandos, sacerdotes concelebrantes, familiares, irmãos e irmãs em Cristo:
Saúdo com especial afeto o prelado do Opus Dei, Monsenhor Fernando Ocáriz, que teve a amabilidade de me convidar a presidir a esta Liturgia. Estamos reunidos para celebrar os santos mistérios da nossa fé e, ao mesmo tempo, para acompanhar e ser testemunhas da ordenação diaconal destes nossos queridos irmãos que o Senhor escolheu para O servir na Sua Igreja.
Cada liturgia de ordenação, quer seja diaconal ou sacerdotal, devolve-nos a imensa alegria do dia em que também os sacerdotes fomos chamados a dizer “sim” ao Senhor, prostrando-nos por terra. A prostração dos escolhidos e a de todo o povo, que se ajoelha, é sinal da total disposição para receber a graça do Espírito Santo para o exercício do ministério ordenado.
Dentro de instantes, vocês serão chamados a se apresentarem, como escolhidos, perante a Igreja e o santo povo de Deus: “Aproximem-se os que vão ser ordenados diáconos”.
Eis que chegou o momento que talvez nenhum de vocês esperasse: as suas vidas já estavam encaminhadas a servir em outros âmbitos de santificação, todos vêm de experiências de vida e de profissões que pareciam definitivas, mas sabemos bem como os nossos caminhos nem sempre coincidem com os do Senhor, e vocês, deixando tudo como os primeiros discípulos, destes o primeiro passo, no dia em que a Obra os convidou, em nome da Igreja, a empreender o caminho valente e gozoso da sequela Christi.
Estes nossos irmãos provêm de uma dúzia de países, e cada um deles tem a sua própria história, a sua própria bagagem cultural e social, o que favorece o enriquecimento mútuo e nos lembra a universalidade da Igreja e a sua missão de anunciar o Evangelho até aos confins da terra. Neste sentido, permitam-me uma recordação pessoal: quando era bispo de Daejeon, na Coreia, determinei que alguns sacerdotes passassem um período de especialização em estudos e colaboração pastoral em outros países: Itália, Estados Unidos, Taiwan, França, Chile... No seu regresso, podia ver-se um crescimento, uma abertura do coração e da mente, que tinham recebido mais dessas comunidades do que haviam dado. Assim, a diversidade vivida em espírito de comunhão enriquece e contribui para o crescimento de todos. Cada país tem os seus próprios pontos fortes, bem como os seus próprios desafios, e os que estão numa situação diferente podem dar e aprender muito com os outros.
Confesso, queridos amigos, que cada vez que me é concedida a graça de conferir as Ordens Sagradas, penso sempre na pergunta que faço ao Reitor do Seminário ou ao Superior: “Sabeis se eles são dignos?”. E caindo em mim, como o filho pródigo, pergunto-me: “Como se pode ser plenamente digno de receber um ministério tão alto e tão grande? Nós, pobres homens, eu pobre Lázaro, chamados a participar no Sacerdócio de Cristo”?
Há uns dias, depois de me encontrar com vocês no Dicastério, enquanto pensava nestas coisas e, sobretudo, em vocês, meus queridos irmãos, tive por acaso nas mãos um livro antigo intitulado “Eternal Priesthood”, do cardeal Manning, uma das grandes figuras do catolicismo inglês do século XIX, primeiro “rival” e depois amigo do santo cardeal Newman, em que li precisamente isto: “Não há ato maior do que a consagração do Corpo de Cristo, assim como não há ordem mais sublime do que o Sacerdócio”. E com o dom do Diaconato abrimos a porta a esta bela realidade de consagração e santidade. Dentro de uns meses, se Deus quiser, vocês receberão o grau seguinte do Sacramento da Ordem e se tornarão sacerdotes da Nova Aliança.
Ouvimos na Palavra de Deus a dupla dimensão do serviço próprio do ministro ordenado: o que se presta a Deus, “prestando serviço à Morada”, como repete várias vezes o livro dos Números, e o que se presta a favor da comunidade, segundo as palavras dos Apóstolos, que consideravam necessário encontrar “homens de boa reputação, cheios de Espírito e de sabedoria, a quem confiar a tarefa” de assistir aos necessitados (cf. At 6, 2-3).
Dentro de momentos, seremos testemunhas da sua oferenda a Deus, à sua Igreja e à Obra; a partir de agora, vocês já não serão “donos” de si mesmos, mas pertencerão ao Senhor e ao seu povo santo para se dedicarem ao grande ministério da caridade, do amor. Não é casualidade que a página do Evangelho deste dia tão importante nos dê o mandamento do amor; “permanecei no meu amor” (Jo 15, 9) diz o Senhor na intimidade do Cenáculo, confiando aos seus amigos, os discípulos, o mandamento novo “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13, 34).
Como se ama como Jesus, com uma dedicação ilimitada a todos? Na realidade, o Mestre não nos propõe o caminho do esforço supremo até ao sacrifício da vida, mas sim uma atitude diferente: a de nos configurarmos com Ele, de Lhe pertencer, de ser a sua imagem viva, para poder transmitir o Seu amor aos irmãos que encontrarmos em nosso caminho.
Jesus adverte os seus amigos que os outros perceberão que são seus discípulos “se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35) e, portanto, o que nos torna credíveis perante o mundo é, em primeiro lugar, o modo como vivemos a caridade com o próximo.
Fazendo ainda mais seu o grito do Arcanjo Miguel: “Serviam, Servirei!”, para que já não sejamos servos, mas amigos do Senhor, servindo e amando como nos recorda o seu Santo Fundador Josemaria: “Tendes que enamorar-vos da Humanidade Santíssima de Jesus Cristo (...). Quando estiverdes diante do nosso Redentor, dizei-Lhe: adoro-Te, Senhor; peço-Te perdão; limpa-me, purifica-me, inflama-me, ensina-me a amar”.
O nosso querido Papa Francisco, durante a celebração do Jubileu dos Diáconos no Ano Santo da Misericórdia, disse: “O diácono é apóstolo e servo. Quem anuncia Jesus está chamado a servir e quem serve anuncia Jesus. O próprio Jesus “fez-Se nosso servo” (Fl 2, 7) “não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10, 15). “Fez-Se diácono de todos”, como escreveu o Padre da Igreja São Policarpo. O servo aprende cada dia “a desprender-se da tendência a dispor de tudo para si e de dispor de si mesmo como quer”. Treina-se, cada manhã, para “dar a vida”, pensando “que o dia não será dele, mas deverá ser vivido como um dom de si”. Quem serve não é “um guardião cioso do seu tempo”, mas “renuncia a ser senhor do seu próprio dia”. “Sabe que o tempo que vive não lhe pertence, mas é um dom que recebe de Deus a fim de, por sua vez, o oferecer: só assim produzirá verdadeiramente fruto. Quem serve não é escravo do que estabelece a agenda, mas, dócil de coração, está disponível para o não-programado: pronto para o irmão e aberto ao imprevisto, que nunca falta sendo muitas vezes a surpresa diária de Deus. O servo está aberto à surpresa, às surpresas diárias de Deus” (Homilia, 29/05/2016).
Queridos irmãos diáconos, para devolver a esperança a este mundo ferido, devemos partir do nosso desejo de identificar-nos com Cristo, de servir o próximo com o coração, o olhar, os gestos e as palavras de Jesus. Na medida em que nos sentirmos olhados amorosamente por Ele, seremos capazes de ajudar os outros, movidos por uma autêntica caridade. Precisamos que a nossa relação com Jesus Cristo vá além de uma “realidade virtual”. A nossa vida deve partir de uma relação interior, do conhecimento de Jesus, da adoração à Santíssima Trindade, de uma ligação mais profunda do que a de una mãe com o seu filho. Para que isto seja possível, são indispensáveis os momentos de deserto, como fez Jesus quando se retirou a rezar durante a noite ou de manhã cedo.
Concluo dirigindo-me aos pais, familiares e amigos dos ordinandos: agradeço e felicito, porque nas suas famílias vocês deixaram atuar o Espírito Santo, que também marcou, através de vocês, com o seu amor incondicional, um caminho de felicidade para os vossos filhos.
Confio o seu ministério e as suas vidas a Maria Santíssima. Que a que sempre soube servir e amar sem reservas, ajude a ser sempre fiel à sua chamada e conceda a perseverança de uma vida santa: Sancta Maria, Spes nostra, Sedes Sapientiae, ora pro nobis. Amen.