História de uma princesa e um rei encarcerado

Voluntárias acompanham os filhos de prisioneiros para visitar seus pais numa prisão italiana.

Ester é voluntária em uma prisão italiana (foto: Thomas Hawk).

Ester vive numa cidade italiana que tem uma prisão. Junto com outros voluntários, acompanha os filhos dos presidiários que vão visitar os pais na prisão.

“Durante anos recebi formação cristã na paróquia e frequento as atividades que oferece o Opus Dei” –explica Ester–. “Entendi que devia assumir a caridade, vivê-la com quem precisa da minha ajuda”. Desde então, colabora para que essas crianças não percam os laços afetivos com seus pais, com quem não podem conviver habitualmente.

“Os policiais são muito delicados com as crianças, porém o fato de serem revistados causa um impacto neles”

Este tipo de voluntariado exige ser capaz de ajudar deixando de lado os preconceitos, ajudando o preso e a sua família, sem ter em conta o motivo da prisão. “Tentamos reconstruir com pequenos detalhes o afeto entre pais e filhos” – conta Ester. “Por exemplo, com os menores fazemos uns desenhos simples ou recortamos corações para entregarem aos pais. Coisas assim ajudam os prisioneiros a apreciar a beleza da paternidade”.

Um momento delicado é quando chegam à prisão, pois tem de atravessar muitos controles. “Os policiais são muito delicados com as crianças, porém o fato de serem revistados causa um impacto neles”.

Os encontros duram aproximadamente una hora, numa sala sem alma. A idade das crianças varia desde poucos meses até 12 anos. “Os menores de um ano ficam nos braços de suas mães; os maiores preferem conversar sentados nas mesas; os outros participam dos jogos que as voluntárias propõem”.

Um dos desenhos preparados pelas crianças que vão visitar a seus pais.

“Com os jogos, tentamos que as crianças aprendam o respeito pelo outro e o valor da sinceridade. Eles gostam muito de pintar, especialmente imagens de personagens de desenhos animados. Através dessas pequenas ‘obras de arte’ muitos pais começam a valorizar a presença de seus filhos”.

Por que meu pai está aí dentro?

Numa ocasião uma menina me perguntou o porquê de seu pai estar ali. Evidentemente, a mãe não tinha tido forças para explicar

Uma tarefa que exige muita delicadeza é explicar os motivos por que os pais estão ali. “Algumas mães – explica Ester – contam aos pequenos que o papai está realizando um trabalho particular nesse lugar. Assim superam a sensação de terem sido abandonados”. Contudo, com o tempo, essa desculpa geralmente é desmascarada e é preciso ajudar os pequenos no processo.

“Numa ocasião uma menina me perguntou o porquê de seu pai estar ali. Evidentemente, a mãe não tinha tido forças para explicar. Como era muito pequena, contei que seu pai era um rei e ela uma princesa. Por um encanto mágico, o rei não podia sair daquele castelo, mas sim, poderia ser visitado pela rainha e pela princesa” Enquanto a menina corria para abraçar seu pai, a mãe, que tinha ouvido a história, me disse: “Muito obrigada. Eu vou me encarregar de contar-lhe como continua o conto, até que compreenda a verdade”.

Habitualmente não é permitida a comunicação entre os voluntários e os presos, mas podem dizer algumas palavras de agradecimento. “Uma vez felicitei um preso porque sua filha era uma menina especialmente boa. Ele, com um sorriso enorme, me disse: ‘Ela é o motivo principal pelo qual conto os dias para terminar minha pena”’.

Esta experiência, conclui Ester, “inspira muito minha vida cristã. Agora sei que as condições em que vive um preso são muito tristes, porém o afeto que recebem de seus filhos demonstra que o perdão passa pela entrega de si mesmo aos outros”.