Incentivamos os jovens a descobrir e escolher por si mesmos seu próprio caminho

Lidia Via trabalha desde 2019 na Assessoria Regional do Opus Dei em Espanha como responsável pelas atividades com jovens. Nesta entrevista, explica a atividade formativa que a Prelazia realiza com os jovens e o acompanhamento nos processos de discernimento das vocações para o celibato.

As recentes Assembleias regionais do Opus Dei, que tinham por título “Aprofundar no carisma e renovar o nosso desejo de servir a Deus, a Igreja e a sociedade” manifestaram de novo o papel protagonista dos jovens no presente e futuro da Obra. Juntamente com toda a Igreja, o Opus Dei percorreu um caminho de reflexão sobre a pastoral vocacional e o acompanhamento nos processos de discernimento das vocações para o celibato.


🎙 Ouvir a entrevista (em espanhol) do vídeo sobre a formação cristã que o Opus Dei proporciona:


Há um ano, além do mais, foi lançada Youth, uma plataforma dirigida aos jovens, dentro do site do Opus Dei. Coincidindo com este aniversário, conversamos com Lidia Via, responsável pela juventude na Assessoria Regional do Opus Dei em Espanha, para conhecer de perto a atividade formativa com jovens que o Opus Dei faz hoje nesse país, assim como as aprendizagens e melhorias que houve ao longo de quase cem anos de história, os sonhos e desafios que se apresentam no futuro.

Lidia Via é licenciada em Jornalismo pela Universidade Complutense de Madri e tem um Mestrado em Reputação Empresarial pela Universidade de Navarra. Madrilena, de pais catalães, dirigiu associações juvenis impulsionadas pelo Opus Dei em Madri, Zaragoza e Tenerife, assim como uma Residência Universitária em Madri.

Começou iniciativas de empreendimento no âmbito da comunicação criativa e assessora diversas iniciativas e organizações no âmbito da comunicação estratégica. Desde há cinco anos, faz parte da equipe de direção de mulheres do Opus Dei na Espanha, na qual que é responsável pela juventude.

Nesta conversa vamos falar de jovens no Opus Dei. Para começar pelo princípio: Como explicaria o que é o Opus Dei?

O Opus Dei é cada pessoa do Opus Dei. Católicos que querem, com a ajuda de Deus, contribuir para a missão evangelizadora da Igreja, sendo coerentes com a mensagem de Cristo na nossa vida diária – especialmente no trabalho – e procurando colaborar com a graça de Deus para que muitas pessoas possam conhecer e encontrar-se com Cristo pessoalmente.

Nos começos, o Opus Dei não tinha atividades formativas para menores de idade. Qual foi o motivo para estas atividades começarem?

Foi uma evolução natural, própria de uma realidade eclesial que vai crescendo junto dos primeiros fiéis que a conformam. São Josemaria, quando começa o Opus Dei com vinte e seis anos, começa por reunir os seus amigos, jovens universitários e jovens profissionais, pelo que as primeiras iniciativas de formação são residências universitárias. Este foi o começo da obra de São Rafael, que é como se chama na Obra a atividade de formação de jovens.

Com o tempo, esses jovens formaram as suas próprias famílias e quiseram para os seus filhos essa formação e esse acompanhamento que os ajudou a aproximar-se mais de Deus. Assim começaram as primeiras atividades para adolescentes e as primeiras associações juvenis, nos anos 50. Também nos anos 60, alguns pais fundaram colégios nos que queriam contar com a Obra para a orientação cristã da tarefa educativa com os alunos, as alunas e as suas famílias.

E que o Opus Dei  aos jovens?

O Opus Dei disponibiliza atividades de formação espiritual e humana para jovens, com o fim de os inspirar para que cheguem a ser mulheres e homens íntegros, que vivem a mensagem cristã na sua vida cotidiana, contribuindo desta maneira para melhorar o seu ambiente social e profissional.

Estas atividades são variadas, também em função do que cada pessoa procurar ou necessitar. Para os rapazes e as moças que pedem à Obra ajuda para viver a sua vocação cristã no meio do mundo, há uma proposta de formação que inclui aulas semanais sobre temas de vida espiritual e de ensinamento católico, acompanhamento espiritual, momentos de oração e de dar-se aos outros através das catequeses e de ajuda a pessoas necessitadas.

É uma formação que procura animar os jovens a crescer em intimidade com Jesus Cristo, a aprofundar no conhecimento da sua fé, a servir os outros, ser bons amigos, preparar-se para ser bons profissionais e cidadãos no futuro, e cuidar da sua família.

A esperança do Opus Dei quanto ao trabalho de São Rafael é poder acompanhar os jovens para que sejam, como dizia São Josemaria, “cristãos cheios de otimismo e impulso, capazes de viver no mundo a sua aventura divina”, e desta maneira fazer o bem e melhorar a sociedade que os rodeia.

Parece que na atualidade os jovens estão se afastando das mensagens da Igreja e do estilo de vida cristão. Que desafios encontram na formação da juventude de hoje?

A primeira coisa que gostaria de dizer é que, em certas ocasiões, escuto uma visão dos jovens de hoje que, na minha opinião, não reflete toda a verdade. Parece que são pessoas cansadas, frágeis, sem capacidade de se comprometer com ideais elevados; e essa não é a minha experiência.

Como todos, são filhos do seu tempo, e cada momento da história nos faz ser e viver de uma maneira concreta. Temos um exemplo próximo de como reagiram todos os jovens em Espanha, católicos e não católicos, com a DANA em Valência. Centenas deles foram ajudar, vindos de todas as cidades do país.

Gostaríamos de que a formação que recebem os ajude a ter um impacto positivo na sociedade. Que possam – com o seu estudo e o seu trabalho profissional, com o seu modo de se relacionar e de enfrentar as dificuldades – fazer o bem e melhorar o mundo em que vivem. Para isto, torna-se necessário ajudá-los a adquirir um sentido crítico construtivo, de maneira que descubram em cada tendência, em cada situação, que a vida não funciona como nas redes sociais nas quais só se tem a opção de decidir se gosto ou não gosto.

A vida, as pessoas, têm nuances, e isso é enriquecedor. Temos o desafio de formar rapazes e moças que cresceram num contexto de polarização e de confrontação, e sermos capazes de proporcionar espaços de abertura, plurais, em que saibam mover-se com agilidade, sendo quem querem ser ao mesmo tempo que convivem com outros estilos, com outros modos, com outras ideias.

Nas Assembleias que tiveram lugar em Espanha, recebemos sugestões de pessoas da Obra e de pessoas próximas sobre a necessidade de que haja mais abertura nos centros da Obra, que se façam mais atividades para pessoas afastadas da fé, que se acolham pessoas mais variadas. Queremos trabalhar nesse sentido porque isso nos melhora e, sobretudo, nos torna mais parecidos com Cristo.

Ao mesmo tempo, o que é bonito na Igreja e no Opus Dei – o “real”, por assim dizer –, não é tanto o que se faz a nível corporativo (nas residências universitárias, nas associações juvenis, etc.), mas como a vida de cada pessoas do Opus Dei pode contribuir ao contexto em que vive. Nesta linha, como dizia São Josemaria, os ambientes ao redor da Obra não devem ser nunca “uma espécie de redutos defensivos; mas, antes pelo contrário, um exemplo manifesto e concreto de espírito aberto, de compreensão”.

E toda esta formação que dão aos jovens está orientada para que as pessoas sejam do Opus Dei?

Não. A finalidade do trabalho que fazemos com os jovens é recordar-lhes que todas as pessoas estão chamadas à santidade, e que, portanto, cada um tem uma vocação, um chamamento, uma missão no lugar onde está. Essa é a mensagem do Opus Dei. Queremos contribuir para a missão evangelizadora que a Igreja tem, à qual Jesus Cristo nos convida a colaborar de maneira pessoal.

Por isso tentamos promover que os jovens descubram e escolham por si mesmos o seu próprio caminho. Como diz o Papa Francisco na Exortação Apostólica Christus vivit dirigida aos jovens, é importante fazer-se a seguinte pergunta: “Como se vive a juventude quando nos deixamos iluminar e transformar pelo grande anúncio do Evangelho?”.

Neste sentido, o Opus Dei é simplesmente mais um caminho dentro da Igreja, e o normal é que a maioria dos jovens que se aproximam da formação do Opus Dei nunca cheguem a pertencer à Obra. Também, como é lógico, entre os jovens que participam nestas atividades, alguns chegam a considerar que a sua vocação está no Opus Dei, quer no celibato apostólico quer no matrimônio.

Com que idade uma pessoa pode ser membro do Opus Dei?

Só é possível ser membro do Opus Dei a partir da maioria de idade. Nenhum menor de dezoito anos pode incorporar-se. No entanto, a vocação é uma experiência pessoal, fruto da relação com Deus, que pode intuir-se antes. Neste sentido, quando um jovem manifesta o desejo de ser da Obra vivendo o celibato, o Opus Dei contempla nesse processo vocacional distintos passos.

Quando se pode pedir a admissão no Opus Dei?

A partir dos 16 anos e meio pode pedir-se a admissão no Opus Dei escrevendo uma carta ao Prelado e continuar com o processo de discernimento (uma vez que isto não implica nenhuma incorporação jurídica). A partir da maioria de idade, se a pessoa confirma o seu desejo de continuar, pode incorporar-se à Obra.

Esta incorporação é definitiva? Como se assegura a liberdade da pessoa?

Desde a primeira incorporação, continua um período de pelo menos cinco anos nos quais a pessoa deve reafirmar em diferentes ocasiões, que quer ser membro do Opus Dei, como uma maneira de assegurar que é um processo no qual é protagonista. De fato, desde que a pessoa solicita a admissão até que realiza a incorporação definitiva, a pessoa manifesta explicitamente, pelo menos oito vezes o seu desejo de pertencer à Obra.

Estes marcos no processo vocacional permitem comprovar a liberdade e a idoneidade e que a própria pessoa vá confirmando – ou não – se esse é o seu caminho na Igreja.

Como é o processo de discernimento para ser parte do Opus Dei?

O discernimento é algo fundamentalmente vivencial. As palavras do Papa Francisco nas suas catequeses sobre o discernimento me ajudam; aí explica que é um processo tão bonito como “cansativo” porque põe em funcionamento a cabeça, a vontade, o coração, tudo o que se é, ao mesmo tempo que a pessoa se dá conta de que, como diz o Papa “Deus é Pai e não nos deixa sozinhos”.

São processos que combinam a simplicidade e a complexidade em partes iguais. A simplicidade no sentido em que uma pessoa vai vendo, intuindo, que Deus a chama a uma forma de ser e de estar na vida e vai comprovando se é esse o seu lugar, e de certo modo, se se sente confortável e feliz nessa missão, sabendo, no entanto, que qualquer caminho é uma aventura; e complexo porque não há nada externo que assegure que isso é para ela. Faz parte do claro-escuro da fé.

Por outro lado, como para qualquer vocação dentro da Igreja Católica, o processo de admissão e discernimento é longo, com a finalidade de que só a pessoa que quiser livremente  possa se incorporar. Para começar, tem que expressar o seu desejo de formar parte da Obra. Depois, ao longo de seis meses, pelo menos, receber uma formação e acompanhamento pessoal que permitem compreender a fundo o tipo de compromisso para o qual a pessoa se está se preparando.

Isto é seguido de, pelo menos, mais um ano de formação e discernimento, a partir do qual se pode fazer o que seria a primeira incorporação, que é temporária. Depois, durante pelo menos cinco anos, a pessoa deve confirmar anualmente o seu desejo de continuar. Pode parecer demais, mas o fato de ter de se reafirmar o seu desejo de ser do Opus Dei, ao longo de pelo menos cinco anos, facilita a compreensão da própria chamada e ajuda a Obra a acompanhar num processo no que é necessário confirmar a liberdade, o protagonismo e a idoneidade da pessoa em concreto.

Que faz com que uma pessoa jovem, com vocação para o celibato, se incline para ser numerária ou adscrita?

A vocação é um mistério. No Opus Dei todos temos uma única vocação, mas há diferentes modos de estar dentro da Obra. Quando uma pessoa vê que a sua chamada é para o celibato apostólico, também decide como projetar a sua vocação e o seu compromisso com Deus de uma maneira concreta.

Segundo o seu modo de ser, as suas circunstâncias vitais, o seu caráter, as suas aspirações, vai descobrindo se se vê mais como numerária ou numerário (dedicado à formação dos outros membros da Obra) ou como adscrita ou adscrito (realizando um amplo apostolado no seu contexto familiar e profissional, e colaborando com a formação que se dá às pessoas que se aproximam da Obra).

Na minha experiência de acompanhamento vocacional, a chave é perguntar à pessoa 'como você se vê' e animá-la a dialogar sobre isso com Deus. Por isso, agora procuramos que em todos os centros da Obra haja numerárias, adscritas, numerárias auxiliares e supernumerárias de maneira que as jovens possam ver exemplos, a vocação feita vida de diversas maneiras. Também não é raro que fruto desse discernimento inicial alguém comece o seu caminho de uma forma e o prossiga de outra.

Em que medida o Opus Dei implementou melhorias nos processos de discernimento vocacional?

Penso que no Opus Dei, como acontece em outras instituições da Igreja, fruto das boas e das más experiências, se fizeram aprendizagens importantes sobre os processos vocacionais. Por exemplo, como dizia, aprofundamos no que significa o discernimento vocacional, reforçando o protagonismo de quem sente a chamada de Deus, e do ponto de vista institucional com uma visão que poderíamos chamar paciente, que reforça a maturidade necessária e procura que a pessoa tenha uma certeza ainda mais profunda e consciente sobre as suas decisões.

Adaptamos os prazos de incorporação porque percebemos mais a necessidade de tempo para este discernimento pessoal e eclesial. O Prelado, depois de ter estudado este assunto com os seus conselhos de homens e de mulheres que com ele colaboram no governo do Opus dei, flexibilizou, há alguns anos, os prazos de incorporação, para que possam ser melhor avaliados com cada pessoa, que é quem, com a instituição, vai vendo quando e como se vê mais preparada para o fazer. Também desenvolvemos uma sensibilidade mais profunda perante aqueles que deixam de ser da Obra durante este processo, e uma maior compreensão dos possíveis motivos.

Por outro lado, estamos trabalhando, de maneira mais consciente e clara, na formação das pessoas que já são do Opus Dei e que acompanhamos jovens no seu processo vocacional. Formamo-nos continuamente neste sentido e trabalhamos documentos do Papa atual e dos mais recentes e outros documentos da Igreja que falam do discernimento, para assegurar que os jovens que ponderam a sua vocação se sintam e sejam livres e felizes neste caminho.

Embora a princípio possa parecer que não tem a ver com o discernimento, com os anos, aprofundamos também na unidade de cada pessoa com a sua própria família. Não só no início da formação, momento em que o Opus Dei realmente acompanha e ajuda os pais na sua missão de educar os seus filhos, mas também ao longo de toda a vida. Por exemplo, no caso das que somos numerárias e moramos em centros da Obra, gostamos de que as famílias conheçam as pessoas com quem vivemos e possam participar da nossa vida, como eu o faço com a deles.

Como se informam as famílias para que conheçam a vocação dos seus filhos?

Atualmente é necessário, e vive-se assim, que todas as pessoas comecem este caminho com o conhecimento dos seus pais. Não só os menores, mas também os maiores de idade que são jovens e frequentemente dependentes deles. As famílias conhecem que os seus filhos ou filhas estão num processo vocacional e conta-se com eles para o percorrerem.

Além disso, fomenta-se que as pessoas que estão orientando os jovens nas associações e centros, tenham uma relação sólida com as famílias; não só nos casos em que os seus filhos ou filhas manifestem o desejo de ser da Obra ou comecem a ser, mas que também nos empenhamos em ir lado a lado com a família na formação de cada pessoa.

Em que consiste a figura de aspirante?

Os aspirantes são moças ou rapazes com mais de 14 anos e meio que intuem uma chamada de Deus a pertencer ao Opus Dei como pessoas célibes – numerários ou adscritos –, mas que não o podem fazer ainda por serem menores de dezoito anos e por também por não terem idade para poder pedir a admissão. Nestes casos, a Obra acolhe esse desejo e acompanha esse processo conforme a sua idade.

Neste período, não são membros da Prelazia e não assumem nenhuma obrigação nem responsabilidade. Recebem, sim, orientação espiritual e formação para se conhecerem melhor, aprofundarem na doutrina da Igreja e nos sacramentos, serem melhores filhas e filhos dos seus pais, melhores amigos, estudantes, etc.

São ajudados a refletir sobre a sua missão apostólica no mundo e também se lhes vai explicando o espírito do Opus Dei, de modo que vão tendo informação suficiente conforme a sua inquietação vocacional. De qualquer maneira, pelo menos na Espanha, esta figura não está tão estendida como em outros tempos, penso que também pelos ritmos mais pausados das novas gerações.

Além disso, a figura do aspirante mudou com o tempo, tanto no modo de ser entendida como no modo de viver. Fruto da experiência que o Opus Dei vai adquirindo, adaptamos tanto a formação como o acompanhamento que recebem neste período da vida, em que se trata de consolidar a sua própria maturidade humana e espiritual, e compreendemos melhor na prática a necessidade de andar junto com os seus pais.

Por exemplo, durante uma época, animavam-se os aspirantes a viverem do modo mais parecido possível com uma pessoa do Opus Dei. Pelo contrário, desde há anos, a formação centra-se em ajudá-los a crescer pessoalmente como cristãos no meio do mundo, ao mesmo tempo que se dialoga com eles sobre essa inquietação que têm de se entregar a Deus.

Penso que todas estas mudanças de que fomos falando, que se deram por volta do ano 2000, são fruto da aprendizagem a Obra que fez e de uma melhor compreensão dos jovens e das famílias de hoje.

E as vocações em celibato procedem geralmente de famílias do Opus Dei?

A realidade das vocações no Opus Dei evoluiu muito. Na Espanha, por exemplo, nos começos, o mais normal era que fossem os filhos e filhas a dar a conhecer a Obra aos seus pais. Depois, logicamente, esses jovens formaram as suas próprias famílias e na vida cotidiana educaram os filhos numa relação pessoal com Deus, a importância dos laços familiares, o desejo de servir os outros, a importância do trabalho bem feito, a amizade… Isto é, deram aos filhos o que para eles foi relevante na sua própria vida cristã.

Como para poder querer alguma coisa temos de a conhecer antes, creio que tem toda a lógica que muitas vocações que vêm ao Opus Dei em Espanha surjam de famílias cristãs que também transmitiram aos seus filhos o espírito cristão do Opus Dei. Mas cada família é um mundo. Na minha, por exemplo, os meus pais são da Obra, mas cada um dos meus irmãos projetou a sua vida de maneira completamente diferente.

Além disso, em outros países, vejo que as situações são muito diferentes: em alguns as vocações surgem em adultos convertidos, por exemplo, porque mal existem famílias católicas.

Apesar de reconhecer que qualquer instituição da Igreja tem uma missão evangelizadora e deseja ter vocações, há pessoas que consideram que o Opus Dei, durante anos, foi insistente no modo de abordar os adolescentes sobre se tinham vocação e animá-los a dar esse passo. Que responderia?

Como expliquei antes, ao ser uma parte da Igreja, partilhamos a missão de evangelizar. A maneira como se levou a cabo essa missão evoluiu com o tempo e pode ter sido entendida de diferentes maneiras segundo a experiência de cada pessoa.

Em toda a Igreja, tal como no resto da sociedade, houve uma profunda mudança no modo de acompanhar os jovens. Daí que, na reflexão sobre a pastoral vocacional, em especial no discernimento sobretudo em adolescentes, se dê importância à maturidade, à prudência e ao respeito para levar a cabo um acompanhamento adequado.

Parece que na Igreja e no Opus Dei há uma crise de vocações ou que muitos dos que empreendem o caminho o deixam depois. Que nos diria sobre isso?

Não ignoramos o fato de que há pessoas que passaram pelo Opus Dei que manifestam ter sentido uma pressão neste sentido, e tenho muita pena que tenha sido essa a sua experiência. Gostaria de que não tivesse acontecido.

Penso que, nas primeiras décadas de expansão, o entusiasmo por transmitir a mensagem do Opus Dei, muito vinculado à ação, pode ter levado, em alguns casos, a uma abordagem bem-intencionada, mas talvez demasiado insistente. No entanto, no Opus Dei sempre se sustentou a ideia de que a vocação é uma chamada pessoal e livre, e tratou-se de que cada pessoa refletira profundamente, na presença de Deus, com liberdade e sem pressões, sobre o seu próprio caminho espiritual.

É certo que o número de vocações nos anos 90 e primeiros anos de 2000 diminuiu. É Deus que suscita as vocações; nós, como dizia o Prelado recentemente numa entrevista, colaboramos com a graça de Deus para que muitos possam conviver com Jesus Cristo.

Ao mesmo tempo, as vocações não são o único fruto, e sendo menos que em outros momentos, damos muitas graças a Deus pelas pessoas que o seguem entregando a sua vida no Opus Dei tanto no celibato como sendo supernumerários e supernumerárias, ou em outros caminhos dentro da Igreja; e são muitas as famílias, jovens e adultos que se aproximam da Obra e agradecem a ajuda que se lhe dá na sua formação.

É certo, também, que muitas pessoas foram da Obra e não continuaram. Temos pena de que algumas tenham más recordações dos seus anos no Opus Dei e se tenham sentido sozinhas no momento da sua saída e com a passagem dos anos. Neste sentido, pode ter-nos faltado proximidade e compromisso com essas pessoas e talvez tenhamos posto mais o foco em que a sua saída não tivesse um efeito negativo no resto das pessoas da Obra. Penso que desde há muito anos isto já não é assim, e em qualquer caso, queremos trabalhar mais para que não seja.

Também estou ciente de que são muitas as pessoas que consideram que os seus anos na Obra foram felizes e veem-nos como uma ajuda que Deus quis para lançar nelas raízes cristãs sólidas e continuam muito próximas, inclusivamente pediram de novo a admissão no Opus Dei.