Entrevista da Agência Ecclesia a Isabel Sánchez

Isabel Sánchez, autora do livro "Procurar o Norte num Bosque de Desafios" e secretária central da Assessoria do Opus Dei, apresenta o seu livro com um destaque para a liderança feminina, e a defesa de que homens e mulheres são necessários para servir a Igreja e o mundo.

Isabel Sánchez, secretária central da Assessoria do Opus Dei, disse à Agência ECCLESIA que defende um “feminismo de serviço”, sem excluir ninguém, porque todos são necessários para cuidar do mundo e da Igreja.

“Para afirmar-se, a mulher nunca vai precisar de espezinhar o homem. O único modo de construir um mundo melhor é contar com todos”, indica a leiga espanhola que dirige, desde 2010, o conselho de mulheres que presta assessoria ao prelado do Opus Dei, o cargo feminino com maior projeção na prelatura.

“O homem e a mulher são iguais em dignidade, têm caraterísticas próprias, comuns, cada um deles. Este mundo é tão complexo, está cheio de tantos desafios, é uma época de tanta confusão, que precisamos do talento e do contributo de todos”, acrescenta.

A entrevistada destaca a estrutura de governo “colegial” da obra, em que homens e mulheres trabalham “em paridade, em igualdade”.

Isabel Sánchez reconhece que nem sempre a ideia de liderança feminina é associada à Igreja Católica, mas sublinha o contributo próprio das mulheres.

“A liderança feminina traz esse olhar particular da mulher, criativo, que coloca a pessoa em primeiro lugar, que resolve problemas, conciliador. Vale a pena deixar que as mulheres cheguem onde devem chegar”, aponta.

A responsável rejeita a ideia de que a família seja o “espaço exclusivo da mulher”, deixando o espaço público para os homens, assumindo a necessidade de “sacrifício” para conseguir “amar e cuidar”.

“A família é um valor tão grande, que o projeto familiar tem de ser dos dois”, sustenta.

Para Isabel Sánchez, existe uma “expertise” das mulheres, no cuidado das pessoas, que deve ser vista como um “patrimônio espiritual partilhável com os homens, mas não como quem tira um peso de cima”.

“Sem família, não há sociedade”, prossegue, lamentando que a sociedade e as regras laborais “penalizam a maternidade e a paternidade”.

Licenciada em Direito, esta responsável vive em Roma e trabalha com mais de 50 mil mulheres que fazem parte da prelatura do Opus Dei em mais de 70 países e “desempenham a sua liderança feminina, aí, onde estão”, nas suas famílias, bairros, cidades ou trabalhos.

A entrevistada apresenta os valores do Evangelho como “cruciais, transformadores do mundo”, considerando que a santidade é a “ambição de aspirar ao melhor” de cada um, na vida quotidiana.

Isabel Sánchez relata que encontra muitos “preconceitos” em relação ao Opus Dei e à presença das mulheres na prelatura, “porque se conhece pouco”.

“Gostaria que se percebesse que somos pessoas muito normais, vulneráveis, que recebemos este chamamento feliz para espalhar uma notícia que diz respeito a todos: tu podes ser santo, és chamado a ser santo, desfruta a vida, tudo faz parte”, acrescenta.

A responsável lançou o livro ‘Procurar o Norte num Bosque de Desafios’, que veio apresentar em Lisboa, no qual defende ser desejável que haja “muitas mulheres e homens leigos que trabalhem em dicastérios do Vaticano”, uma ideia que viria a ser assumida pelo Papa na nova Constituição da Cúria Romana.

A obra ‘Procurar o Norte num Bosque de Desafios’, com a chancela da Alêtheia, é construída sobre “a forma de relatos e conta as histórias inspiradoras de mulheres anônimas que conseguiram vencer os mais variados obstáculos e dificuldades e se afirmam como grandes líderes”, refere uma nota enviada à Agência ECCLESIA.

O livro surgiu, entre outros momentos, da beatificação, em maio de 2019, de Guadalupe Ortiz de Landázuri (1916-1975), leiga do Opus Dei, doutorada em química e investigadora espanhola, que inspirou a atribuição de bolsas de estudo a investigadoras africanas.

“Uma pessoa pode deixar um legado, na Igreja e no mundo, que pode transformar o mundo, ajudar outras mulheres”, refere a autora.

Isabel Sánchez escreveu a obra antes da pandemia, vendo agora a necessidade de “reflexão” perante uma aceleração constante da vida pessoal e comunitária, aceitando que em toda a história há uma dimensão de “mistério”.

“Descobrimos uma série de coisas e ainda que não sejamos capazes de as viver na prática, elas brilharam de uma forma que não acontecia. O capítulo não está fechado e podemos seguir em frente, sendo melhores”, afirma.


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Fotografias: Agência ECCLESIA/TAM