Ensiná-los a dirigir

Chamo-me Manuel, sou casado com a Macu, tenho sete filhos e sou professor de uma auto-escola na Baía de Cádiz.

Graças ao meu trabalho, tenho oportunidade de conhecer muitas pessoas jovens e de manter uma relação direta com eles, durante um tempo mais ou menos longo, dado que a aprendizagem para tirar a carteira de motorista requer algum tempo.

Estar durante muitos dias junto dos alunos dá-me a oportunidade de poder manter conversas de todo o tipo com eles. Pouco a pouco falamos de coisas da vida, das suas aspirações, das situações em que se encontram, de estudo, de trabalho, das preocupações pessoais. E ao mesmo tempo que vão me contando as suas coisas, aproveito para ir introduzindo aspectos mais profundos da vida, mais transcendentes e viver, assim, um dos afãs principais da minha vida cristã, que é fazer apostolado.

Ao contrário do que poderíamos pensar, tenho verificado a necessidade que as pessoas têm de falar de temas como a existência de Deus, a vida cristã, a participação na Eucaristia aos domingos, etc. No dia em que fazem exame, a maioria pede a interseção de um ou outro santo, porque no fundo – dizem alguns dos aparentemente mais afastados – têm algo de fé, só necessitam que alguém os remova.

Baía de Cádiz vista do Porto de Santa Maria.

Por isso, quando já tenho alguma confiança com os meus alunos, falo-lhes de Deus de alguma maneira; às vezes com um pouco de receio, porque não sei como irão reagir; embora a maioria das vezes fique surpreendido pelo interesse que demonstram. Até agora, ninguém mostrou apatia por estes temas, muito pelo contrário. Às vezes parece que ninguém lhes tinha falado antes destas questões e verifico a necessidade que as pessoas têm de algo mais transcendente nas suas vidas.

Um dos casos que mais me tocou foi o de um aluno que tive há pouco tempo ao qual me unem laços de uma boa amizade. Veio para Espanha procedente de um país estrangeiro. É médico e veio com a mulher e os seus dois filhos pequenos, de um país onde não podiam viver de forma livre a religião cristã, pelo que esta situação lhe tinha provocado vários problemas a ele à sua família, já que todos têm uma grande formação cristã e uma profunda convicção na fé católica.

Pouco a pouco fui conhecendo-o e graças às conversas que mantivemos fui verificando que me encontrava diante de uma pessoa com boa formação. Isto me deu a possibilidade para que num dia, em plena aula de condução, às 12h00, lhe dissesse: “Olha, eu a esta hora tenho o costume de rezar o Angelus, e, portanto – se não te importas – vou fazer uns minutos de silêncio, a não ser que também queiras rezar comigo”. A resposta deixou-me atônito: “Com certeza que te acompanho”.

Com base nesta experiência, comecei a falar-lhe do Opus Dei e dos meios de formação. Ele já tinha uma vaga idéia, uma vez que o seu pai – segundo me disse é também um homem de profundas convicções religiosas – lhe tinha dito alguma coisa sobre São Josemaria.

Outro detalhe foi uma frase que me disse noutra altura: “Não quero me converter num cristão de domingo”. Consta-me que assiste à Missa diariamente. Com base em tudo isto convidei-o a ir, pela primeira vez, a um recolhimento mensal e ficou entisiasmado. E sempre que o trabalho profissional permite continua a ir.