Em família, as alegrias se multiplicam e as tristezas se dividem

Rafael Pich, pai de uma família de 16 filhos, engenheiro e empresário, é membro e co-fundador da Fondation Internationale de la Famille e vice-presidente da International Federation for Family Development (IFFD), uma ONG com estatuto consultivo depositado junto à ONU.

Rafael Pich e seus netos

Quando e como conheceu São Josemaria?

O meu primeiro contato com o fundador do Opus Dei foi em 1947 através de sua obra Caminho. Posteriormente, tive oportunidade de encontrar-me com ele em diversas ocasiões.

Poderia dizer que o fato de tê-lo conhecido o marcou em algum sentido?

Desde 1957 meditei e estudei vários dos seus escritos. É difícil, com essas leituras e com a participação em algumas atividades de formação cristã do Opus Dei, não reagir positivamente. Também por essa altura comecei a colaborar em atividades cívicas de interesse familiar.

Como se lembra de São Josemaría?

Rafael Pich e seus netos

Como na capa de uma das edições de “Questões Atuais do Cristianismo”: sua expressão muito natural esboça um sorriso. Tinha um grande poder de comunicação, mesmo sem falar.

A sua mulher faleceu há poucos anos. Quando se conheceram e decidiram casar-se tinham pensado em ter uma família tão numerosa?

Tenho cinco irmãos, e ela também. Nós nos divertíamos muito quando éramos pequenos. Às vezes comentávamos: “se dependesse de nós, seis no mínimo!” Quando se têm já seis e chega o sétimo, trata-se apenas de um acréscimo de 15% de filhos. Quando chegou o décimo era só 10% a mais; já quase não nos demos conta. Os filhos vão chegando conforme Deus os concede. Temos tantos amigos que querem ter filhos e não podem…

Poderia dizer-nos se teve uma vida feliz?

Tivemos uma vida muito feliz. A verdadeira vida de família – e mais ainda quando se tem uma perspectiva positiva das coisas -, é uma experiência incomparável.

Com alguns participantes de um curso de orientação familiar

- Algumas pessoas poderão pensar que vocês foram loucos ou irresponsáveis, até mesmo, perdoe a expressão, ignorantes.

Há casais que contam: um filho = um peso, dois filhos, um peso duplo, três filhos, o triplo… E, caso não eduquemos bem estes filhos, estes casais podem estar com a razão; mas, se os ensinamos desde pequenos que estamos no mundo para trabalhar e para ajudar os pais: arrumar a mesa, a cama, a roupa suja… então descobrem por si próprios a maravilha que é o trabalho, e então um filho = uma ajuda, dois filhos = duas ajudas, três filhos = três ajudas…

O que os ajudou nos momentos difíceis? Porque certamente passaram por alguns desses momentos, não? Valeu a pena o sacrifício que isso significou em muitas ocasiões?

Não me lembro de nenhum em especial porque contamos com a graça de Deus, e de um modo particular com a força dos sacramentos. Tivemos uma vida familiar espiritualmente intensa com a participação na missa de domingo todos juntos e rezando o terço em família. Muitos não sabem que as alegrias vividas em família se multiplicam e os sofrimentos se dividem.

Por que motivo começou a promover iniciativas para a educação dos pais? É preciso aprender a ser pai ou mãe?

A família é uma realidade internacional

Durante a primeira metade do século XX, o mais habitual era que as três gerações de uma família vivessem na mesma casa. Estavam todos juntos à mesa, no café-da-manhã, almoço e jantar. A avó dizia: “Zezé, isso não se faz”. O avô: “Joãozinho, muito bem!” Mas esta convivência das três gerações foi desaparecendo, tornando-se necessário preencher essa lacuna. Os papéis do pai e da mãe foram ganhando importância e complexidade. Por isso começamos cursos de orientação familiar. É preciso aprender esta profissão como acontece com qualquer outra.

Todas essas atividades não lhe tiravam tempo para dedicar-se aos seus filhos?

Nunca sobra tempo aos pais de família normais. Mas também é certo que uma pessoa sempre arranja tempo para aquilo que quer. Os filhos responsáveis colaboram com os trabalhos dos pais, os quais também aprendem a fazer duas coisas ao mesmo tempo e, quando podem, fazem ainda uma terceira.

O senhor continua a viajar e a promover em todos os continentes uma instituição que confia na perenidade da família verdadeira. De que forma ela é acolhida entre os casais jovens da Europa, em países de culturas diferentes?

As famílias que amam de verdade os filhos sabem que devem esforçar-se – hoje em dia muito mais – para ter uma família no verdadeiro sentido da palavra. No Japão e em Hong Kong as crianças choram à meia-noite, tal como as européias. As falhas na educação existem em todo o mundo, e a vontade de melhorar a educação familiar cresce de dia a dia. Isto se constata em todas as mídias: as crianças são cada vez mais estragadas, mimadas, super-protegidas …, mas mesmo com tudo isso, há famílias em todos os países com grande desejo de melhorar.

Os casais jovens aderem muito rapidamente ao ‘Curso de Primeiros Passos’, direcionado para pais com filhos de até quatro anos. Eles se dão conta daquilo que podem aprender e entusiasmam-se com a “profissionalização”, se assim se pode dizer, de sua tarefa.

Na mensagem da Jornada Mundial da Paz, Bento XVI referiu-se à família como “a primeira e insubstituível educadora da paz”. Tendo em conta a sua experiência, poderia dar-nos algum exemplo que ilustrasse esta afirmação do Papa?

João Paulo II também nos dizia que “a recristianização do mundo passa pela família”. Eu gosto de concretizar um pouco mais: passa pela por uma verdadeira vida de família que é feita de horários razoáveis, e pressupõe um calendário bem estudado, pontualidade, assembléias familiares, convivência…

Gostaria de acrescentar mais alguma coisa a esta entrevista?

Os cursos de orientação familiar promovidos pela minha instituição constam de seis anos sequenciais, como um curso universitário. Começa-se com Primeiros Passos, para pais de filhos pequenos de até 4 anos. Eles aplicam o que aprenderam e voltam depois de alguns anos para o curso Primeiras Letras, para pais com filhos entre 4 e 8 anos. E assim sucessivamente até o último, Avós jovens. Intercala-se ainda o curso “Amor matrimonial” em ocasião oportuna.

    Um artigo publicado no site josemariaescriva.info