“Deus tinha certeza, mas eu não”

O padre Luis, sacerdote da Arquidiocese de Caracas e membro da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, conta a história da sua vocação e do seu ministério sacerdotal entre jovens e doentes.

Desde pequeno que queria ser militar, pois grande parte da família do meu pai está nesse ambiente, e obviamente isso sempre me despertou muito interesse. Frequentei o Liceu Militar Ayacucho, uma instituição de ensino secundário pertencente ao Exército venezuelano.

O meu pároco me convidou para assistir a uma ordenação sacerdotal. O canto das ladainhas e a prostração impressionaram-me tanto que disse aos meus colegas: “A próxima ordenação tem que ser a minha”.

Entrei para o seminário com 16 anos. Tinha acabado um namoro, e isso também me deixou com um certo sentimento de nostalgia. Aconteceu que, em certo momento, pensei em abandonar o seminário, precisamente por toda essa questão de me apaixonar.

Foi então que perguntei ao Senhor: “Que queres de mim?”. E dei-me conta de como Deus tinha certeza de me ter chamado para este caminho.

Essas experiências de contraste e a consciência de que era realmente ali que devia estar me ajudaram a ter segurança na minha resposta.

Quando estava no primeiro ano de Teologia, um colega nos convidou para uma das jornadas que a Obra organiza para seminaristas. Foi aí que pude conhecer mais de perto a Obra.

Ofereceram-me um livro chamado Caminho, e impressionou-me um dos pontos, se não me falha a memória, o número 2, que diz: “Oxalá fossem tais o teu porte e a tua conversação que todos pudessem dizer, ao ver-te ou ouvir-te falar: ‘Este lê a vida de Jesus Cristo’”. Assumi essa convicção como minha: que o que eu faça sejam os gestos de Jesus, que as pessoas vejam em mim um Evangelho aberto.

Depois da minha ordenação – não hesitei nem um segundo – comecei a fazer parte da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz. A Obra ajudou-me a ser mais de Cristo.

Quando encontrei com a Via Sacra compostas por São Josemaria, numa daquelas meditações, tão pessoais, ele diz: “Porque te afliges com as tuas penas, com os teus desencantos? Pede a Deus pelas tuas penas… e pelas minhas”.

Tenho que deixar que Jesus entre até nas minhas vulnerabilidades, porque é assim, deixando-me transformar por Ele, que poderei ouvir as vulnerabilidades dos outros, para me envolver e acolher a vontade que o outro tem de se deixar moldar. Fazer de cada um de nós um Tabor, uma transfiguração.

Encontrar-se com os doentes é uma experiência de Tabor, de transfiguração. Muitas vezes visitei o hospital aqui na nossa cidade. Ao experimentar esse Cristo sofredor, experimento a esperança que eles, mesmo no meio de tantas dificuldades, mantêm. E isso, todos os dias, diz-me que tenho realmente que me abandonar nas mãos de Deus.

Fui enviado para uma paróquia que ficava próxima de outro hospital muito grande, em redor do qual dormem muitas pessoas na rua. Muitos deles iam à paróquia, e começamos um trabalho de acompanhamento e de oração, mas sobretudo de contato pessoal.

Fazer caridade é muito fácil, porque significa ser apenas fornecedor de algo que outro nos dá. Mas ser caridade implica envolver-se, fazer nossa a vontade do outro e revelar Deus mesmo no meio da sua pobreza.

A partir de 2019, recebi a missão específica de ser animador da juventude em Caracas. Os jovens, com o seu ímpeto continuamente renovado e com a sua criatividade, ajudaram-me a crescer no meu ministério paroquial, a crescer como pessoa e a crescer na compreensão das realidades humanas.

Para mim, pessoalmente, a juventude não é uma idade: é uma opção de vida. É deixar-se tocar pelo Espírito, que faz novas todas as coisas. É apaixonar-se através do que aprendemos, para que as pessoas possam encontrar Jesus.

Sonho ser santo. Um santo da porta do lado. A frase bíblica da minha ordenação é a dita por São João Batista: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua”. Afinal, o que desejo é que as pessoas se lembrem mais de Jesus do que do padre Luís.