Declarada beata a professora Guadalupe

Que todos os educadores se inspirem no exemplo e na vida da professora Guadalupe, recentemente beatificada, para que possamos conseguir uma profunda transformação nas famílias, na sociedade e no mundo.

Há cerca de um mês, tive a oportunidade de participar da cerimônia de beatificação de uma professora de Química chamada Guadalupe Ortiz. Como se trata de uma leiga que se dedicou à carreira acadêmica durante toda a sua vida, penso que pode ajudar os nossos professores, neste momento em que estamos em pleno caminho sinodal também nas escolas e universidades da Arquidiocese.

Em maio de 2017, quando eu soube que o Papa Francisco assinou o decreto de virtudes heroicas da professora Guadalupe, comecei a me interessar por ela e a ler a primeira biografia publicada sobre sua vida. Impressionou-me saber que era uma mulher decidida e destemida: começou a faculdade de Química em 1933, quando contava com apenas 17 anos de idade, numa época em que era raro encontrar as mulheres em cursos superiores na área de Exatas. Ingressou no curso de Ciências Químicas na Universidade Central de Madri, sendo que havia somente outras quatro ou cinco colegas mulheres e a maioria dos estudantes eram rapazes.

Depois de trabalhar alguns anos no México e em Roma, retornou à Espanha em 1956, seu país natal, onde retomou a atividade acadêmica e começou uma pesquisa sobre refratários isolantes e o valor das cinzas da casca de arroz neles. Esse trabalho ganhou o prêmio Juan de la Cierva e culminou com uma tese de doutorado, que defendeu no dia 8 de julho de 1965. Ao mesmo tempo, desenvolveu as suas tarefas docentes como professora de Química no Instituto Ramiro de Maeztu, durante dois anos, e na Escola Feminina de Formação Industrial – na qual chegou a ser subdiretora – durante os dez anos seguintes. A partir de 1968, participou no planejamento e início do Centro de Estudos e Investigação de Ciências Domésticas (Ceicid), no qual seria subdiretora e professora de Química de têxteis.

A nova Beata, professora Guadalupe, era uma pessoa apaixonada pela sua profissão. Em todos os centros educativos onde atuou, seus colegas nutriam grande admiração pela sua liderança, tanto que várias vezes foi escolhida para exercer cargos de chefia, e seus alunos se sentiam despertados para uma dedicação ao trabalho bem-feito e ao aprofundamento nos estudos e na pesquisa.

Assim, a sua trajetória vocacional em direção à santidade se realizou na normalidade de uma vida de trabalho, de oração, missa diária e devoção a Nossa Senhora. Em suas biografias, vemos uma mulher normal, com um temperamento forte, que reconhecia, sem medo, seus defeitos e não desistia nunca de retificar. Por isso, torna-se um exemplo muito próximo a todos os educadores leigos que atuam nas escolas e universidades.

Quando decidiu beatificar a professora Guadalupe, o Papa Francisco reconheceu que, ao longo de sua carreira acadêmica, ela foi um exemplo de vocação laical vivida no cumprimento dos seus deveres profissionais. Em carta lida no final da cerimônia de beatificação, em 18 de maio último, o Papa Francisco afirmou que “Guadalupe Ortiz, com a alegria que brotava da sua consciência de filha de Deus, aprendida do próprio São Josemaría [fundador do Opus Dei], pôs as suas numerosas qualidades humanas e espirituais a serviço dos demais, ajudando de modo especial outras mulheres e suas famílias necessitadas de educação e de melhora das condições de vida”.

Em nossa cidade e em todo o mundo, precisamos, cada vez mais, de professores conscientes da sua vocação e missão, principalmente no ambiente escolar. O exemplo de vida desta santa professora é um grande estímulo para nós que estamos realizando o sínodo arquidiocesano nas escolas e universidades católicas da Arquidiocese.

Queremos conscientizar os educadores acerca da importância da sua missão na ação evangelizadora da Igreja, tal como nos propõe a Congregação para a Educação Católica: “O educador leigo exerce um trabalho que tem inegavelmente um aspecto profissional, mas que nele não se esgota. O aspecto profissional está incluído e assumido na sua vocação sobrenatural cristã. Portanto, ele deve viver o seu trabalho como uma vocação pessoal na Igreja e não apenas como o exercício de uma profissão”. (Documento “O leigo católico, testemunha de fé na escola”, de 15 de outubro de 1982).

Que todos os educadores se inspirem no exemplo e na vida da professora Guadalupe, recentemente beatificada, para que possamos conseguir uma profunda transformação nas famílias, na sociedade e no mundo.

Dom Carlos Lema Garcia

Jornal O São Paulo