Como é que eu vou à Missa?

Antonio conta as suas recordações de como conseguiu assistir à missa nas frequentes viagens profissionais aos quatro cantos do mundo.

Com o meu amigo Manel ao lado do muro de Berlim

Centro e raiz da vida interior: o Concílio Vaticano II recuperou esta expressão que São Josemaria utilizava com frequência para expressar a importância da Santa Missa para um cristão.

Por motivo de congressos, reuniões, cursos, missões humanitárias, etc., tive de viajar para diversos lugares do mundo. A minha primeira preocupação é a de assegurar sempre a missa diária. Às vezes não é fácil, porque o destino é um país não católico ou pela duração da viagem. A primeira coisa que faço normalmente é pedir ajuda ao meu Anjo da Guarda. A segunda coisa é obter informações, sobretudo através da internet: podemos encontrar os horários de missas no nosso destino com uma simples busca.

Mas os dias da semana podem ser problemáticos. Num 1º de maio, cheguei às 7h30 ao Rio de Janeiro e teoricamente havia várias missas perto do aeroporto Santos Dumont, mas na realidade não havia. Fui à catedral e cheguei muito tarde; o responsável foi muito gentil, telefonou para saber informações e disse-me para eu ir à Nossa Senhora de Copacabana onde havia missa de hora em hora e era o lugar ideal para ver o Cristo Redentor.

Em viagens longas, uma possibilidade é viajar no domingo tendo assegurado a missa no sábado à tarde. Em outras ocasiões, podemos fazer a viagem em duas etapas e sair do aeroporto para ir à missa. Fiz isso em Singapura ao viajar para a Nova Zelândia, e assim pude visitar os meus familiares e ir à missa na catedral; depois, quando cheguei no dia seguinte a Auckland, tive de correr para não perder a missa do dia.

Em Casablanca (Marrocos) também é preciso ser rápido e tentar ser o primeiro a passar o controle da alfândega para ir à cidade situada a 25 km. Uma das vezes quando voltava do Congo, estava já na igreja das religiosas franciscanas quando uma pessoa da minha família, que estava lá por motivos de trabalho, entrou e ficou surpreendida de me ver.

Existem alguns aeroportos onde se pode assistir à missa, a International Association of Civil Aviation Chaplan (IACAC) tem umsite que fornece informações sobre as missas nos aeroportos do mundo inteiro. Em Barajas, Madri, na capela existe um quadro de São Josemaria, para lembrar que é um santo que utilizou este aeroporto e pedir-lhe que proteja os viajantes.

Capela do aeroporto de Barajas em Madri

Numa viagem aos Estados Unidos, não havia missa na capela. Encontrei um seminarista que regressava ao seu país na América Central e que também queria ir à missa. Disse-me que estava rezando para não faltar nesse dia, e continuou a rezar.

Então, entrou na capela um dos bispos auxiliares de Nova Iorque, e perguntei-lhe se ia celebrar missa; disse-me que queria fazê-lo antes de pegar o avião, mas pensava que não seria possível se a sacristia não abrisse num curto espaço de tempo. Corri para encontrar o responsável, um homem piedoso que também queria participar, e ficamos todos felizes.

Outra vez, ao regressar de Legazpi, nas Filipinas, uma viagem com quatro transfers e de mais de 24 horas, consegui assistir à missa no aeroporto de Manila e partir rapidamente, depois de ter recebido a bênção de viagem do celebrante, para não perder o avião seguinte.

Numa missão humanitária a Kisangani, o benfeitor que a promoveu disponibilizou um carro e um policial com uma metralhadora para eu poder ir todos os dias à missa. Um dia, o motorista não tinha chegado e comecei a andar depressa para a igreja com o policial que me seguia. Como vi que ia chegar atrasado, mandei parar uma moto-táxi e subi nela com o policial e a sua metralhadora, e chegamos exatamente no momento em que a celebração ia começar.

Catedral de Kisangani

Outra estratégia para garantir a missa consiste em escolher um hotel próximo de uma igreja católica. Foi o que fiz em Istambul, onde a igreja fica no bairro dos Gálatas (São Paulo escreveu-lhes uma carta). Como a igreja fica muito perto da embaixada da Rússia e, na época, existia um conflito entre os dois países, para ir à missa eu tinha de passar entre os manifestantes e a polícia.

Quando chego a um lugar, se puder, vou à igreja para aprender o caminho, ver quanto tempo demora para ir e verificar os horários. Quando a distância não ultrapassa meia hora, prefiro ir a pé porque é a melhor forma de conhecer uma cidade e é o mais seguro para chegar a tempo.

Todos os anos, coincido com o meu amigo e colega Manuel, de Paris, em dois ou três eventos em diferentes países da Europa e ele confia totalmente em mim em relação à missa, sabe que geralmente tenho o local e hora já decididos. Normalmente, fazemos a ida e volta a pé e aproveitamos para ter longas conversas. Muitas vezes, um ou dois colegas médicos juntam-se a nós na missa de domingo.

Atualmente, com aplicativos, como o google maps, que nos posicionam e orientam sobre as diferentes possibilidades para irmos a qualquer lugar, é muito fácil deslocarmo-nos nas cidades com os transportes públicos.
Em Copenhague, fui com Marc, outro colega. Chegamos à missa e pediram-nos desculpas dizendo que havia um funeral e que seria mais tarde, mas nesse momento era-nos impossível voltar. Havia outra missa daí a 30 minutos no outro extremo da cidade, mas graças a este app, que nos dava informações precisas sobre os transportes em tempo real, chegamos a tempo, depois de pegar um trem, um ônibus e correr um pouco.

Catedral da Imaculada Conceição em Pequim

O meio mais habitual de se deslocar é pegar um táxi, e quando a igreja é afastada, geralmente não há outra forma de ir. Emilio, comercial numa grande empresa de Gerona, viajou para vários locais na China, no Japão, nos Estados Unidos, etc. Disse-me que para ir à missa em Pequim, é preciso levar o nome da igreja e o endereço escritos em chinês num papel, assim como o endereço do nosso hotel para conseguir voltar. Segui o seu conselho, mas uma vez tive um taxista que não via bem e que começou a lamentar-se resmungando porque não entendia o papel. Eu não tinha nenhuma outra forma de me comunicar, porque ele só falava chinês. Graças a Deus, lembrou-se de pedir a outro taxista para lhe explicar para onde deveria levar-me: era a igreja de Santo Inácio, a mais importante da cidade.

Apesar de todos os esforços, algumas vezes é impossível ir à missa pura e simplesmente porque não há. Em Takoradi, uma cidade na costa do Gana, estávamos numa igreja de uma escola de religiosas à espera do início da missa, e havia várias centenas de meninas. Depois de um momento de espera, disseram-nos que não nos podiam dar a comunhão porque não havia vinho para celebrar.

Oluko no Ouganda

Em outras ocasiões, pode ser inclusive perigoso ir à missa. Em Tijuana (México), perguntei ao diretor do hotel, que estava na recepção, como podia ir à missa na catedral. Ele disse-me que a igreja estava numa zona de conflito, mas quando percebeu o meu interesse, propôs acompanhar-me de carro. No trajeto de ida e volta, disse-me que tentava ser bom católico, mas que durante anos se tinha descuidado e não praticava. Aproveitei para o incentivar a confessar-se e, a recomeçar.

Um sentimento que experimentei, sobretudo nos países onde há apenas uma minoria católica, ou quando a maioria das pessoas presentes eram estrangeiras, é o de fazer parte da família dos filhos de Deus. Em Bucareste, no fim da missa da comunidade latino-americana, dirigida pelo padre Javier, falei com várias pessoas que me acolheram com muito afeto, e sentia que éramos como velhos amigos.

Santa Maria Draperis em Istambul

Penso que esta preocupação por assegurar a missa diária é uma forma de demonstrar o nosso amor e a nossa fé ao Senhor no Santo Sacramento. Podemos não sentir nada e estar aparentemente frios, mas estas ações provam quem somos, e fazem-nos participar nestes discursos proféticos de Malaquias: “Porém, do nascente ao poente, o meu nome é grande entre as nações, e em todos os lugares é oferecido ao meu nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura” (Ml 1, 11).

Dr. Antonio Villalonga