Bento XVI explica o sorriso de João Paulo I

João Paulo I passou à História como «o Papa do sorriso». Bento XVI, após assistir no domingo, 8 de outubro, a um filme sobre esse Pontífice, assegurou que o segredo estava em sua confiança na Virgem Maria, que lhe deu serenidade e alentou o seu compromisso de fraternidade.

O ator Néri Marcoré, interpretando o Papa João Paulo I

Assim explicou na sala da Filmoteca Vaticana, na sede do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, durante a exibição de «Papa Luiciani , il sorriso di Dio», realizado pela rede de televisão italiana RAI.

Ao dirigir-se ao presidente da RAI, senador Cláudio Petruccioli, assim como ao diretor do filme, Giorgio Capitani, e ao ator que interpreta o papel de Albino Luciani, Néri Marcoré, o Papa recordou «a figura doce e cheia de mansidão de um pontífice forte na fé, firme nos princípios, mas sempre disponível para a acolhida e o sorriso».

«Mestre de verdade e catequista apaixonado, recordava a todos os crentes, com a fascinante simplicidade que o caracterizava, o compromisso e a alegria da evangelização, sublinhando a beleza do amor cristão, única força capaz de depor a violência e de construir uma humanidade mais fraterna», afirmou.

O ator Néri Marcoré, interpretando o Papa João Paulo I

Por último, considerou que no amor e na confiança na Virgem se encontra o segredo «de uma serenidade cotidiana e de um compromisso concreto a favor da paz no mundo», que caracterizou esse Papa.

A fase diocesana da Causa de Beatificação do Papa João Paulo I, começada em Belluno, no ano 2003, deverá ser concluída antes do final do ano 2006, segundo anunciou em agosto o vice-postulador do processo, Dom Giorgio Lise.

O cardeal Joseph Ratzinger conheceu o cardeal Albino Luciani um ano antes do conclave no qual este seria eleito Papa. O então arcebispo de Munique recebeu a visita do patriarca de Veneza quando, no verão de 1977, encontrava-se em férias no seminário diocesano de Bressanone.

O discurso do Papa Senhor presidente da RAI,

Senhoras e senhores: Acabamos de ver juntos este belo filme, que percorre as etapas mais significativas da vida de meu venerado predecessor, o servo de Deus João Paulo I. Sinto a importante necessidade de expressar minha sincera gratidão antes de tudo ao senhor presidente, e depois ao conselho de administração e ao diretor geral da RAI por ter oferecido a mim e a meus colaboradores esta grata oportunidade.

Saúdo os responsáveis da «RAI Fiction» e da sociedade «Leone Cinematográfica» que conceberam e produziram este interessante longa-metragem. Dirijo uma particular saudação e agradecimento ao diretor, Giorgio Capitani, aos diferentes atores, em especial a Néri Marcoré, que interpretou Albino Luciani.

Saúdo também a todos vós, que haveis acolhido o convite para participar deste encontro, no qual pudemos reviver momentos sugestivos da vida da Igreja no século passado.

Sobretudo pudemos recordar a figura doce e cheia de mansidão de um pontífice forte na fé, firme nos princípios, mas sempre disponível para a acolhida e para o sorriso. Fiel à tradição e aberto à renovação, o servo de Deus Albino Luciani, como sacerdote, bispo e Papa realizou uma atividade pastoral incansável, estimulando constantemente o clero e o laicado a perseguir, nos diferentes campos do apostolado, o único e comum ideal da santidade.

Mestre de verdade e catequista apaixonado, recordava a todos os crentes, com a fascinante simplicidade que o caracterizava, o compromisso e a alegria da evangelização, sublinhando a beleza do amor cristão, única força capaz de derrotar a violência e de construir uma humanidade mais fraterna.

Por último, recordo com agrado a devoção que ele sentia pela Virgem Maria. Quando era patriarca de Veneza, escreveu: «É impossível conceber nossa vida, a vida da Igreja, sem o rosário, sem as festas marianas, sem os santuários marianos e sem as imagens da Virgem». É belo acolher o seu convite e encontrar, como ele fez, no fato de pôr-se humildemente nas mãos de Maria, o segredo de uma serenidade cotidiana e de um compromisso concreto a favor da paz no mundo.

Mais uma vez, obrigado, queridos amigos, por vossa presença. Com afeto, abençôo a todos vós e a vossos entes queridos. Filmoteca Vaticana, espaço para diálogo entre Igreja e cinema

Desde o mês de maio, Claudia Di Giovanni é a nova delegada desta Filmoteca, que conserva algumas das jóias do cinema de todos os tempos, com material que começa com imagens do Papa Leão XIII em 1896.

Como demonstra a visita do Papa, a Filmoteca não é só um arquivo histórico que custodia obras-primas do passado, mas é também um lugar de diálogo com o cinema atual.

Claudia Di Giovanni nasceu em Roma em 9 de maio de 1963. De 1989 até abril deste ano, trabalhou na Filmoteca Vaticana como assistente de Dom Enrique Planas, seu predecessor no cargo. Especialista em Arqueologia, é também uma apaixonada e especialista em cinema. É casada e tem uma menina de quase três anos.

Numa recente entrevista que concedeu à agência Zenit, respondeu a algumas perguntas:

— A Filmoteca Vaticana é só um grande arquivo histórico ou é muito mais?

A Filmoteca Vaticana é sem dúvidas um grande arquivo histórico, mas sua atividade não se limita só à conservação de material, às vezes única.

Ela pretende ser uma ponte de diálogo com o mundo do cinema, em sua dimensão de veículo de valores e de cultura.

A tela é uma grande janela aberta ao mundo, capaz de aproximar, através da linguagem universal das imagens, os homens de qualquer latitude e pensamento, fazendo o espectador refletir, através do entretenimento, sobre temas fundamentais do mundo contemporâneo.

Os filmes refletem também as diversas exposições da espiritualidade e a Filmoteca trabalha desde há anos em uma pesquisa sobre o cinema relativo à religião, analisando filmes produzidos em todo o mundo desde 1896 até hoje que tenham enfrentado as relações do homem com o transcendente.

— Chegam até aqui diretores de cinema do mundo inteiro. Por que é interessante para vocês esta confrontação com o mundo cinematográfico atual?

Esta confrontação é indispensável precisamente para seguir mantendo aberto o diálogo com todos os que intervêm no cinema, para aproveitar as grandes potencialidades que este instrumento de comunicação social pode oferecer ao desenvolvimento da pessoa e à difusão de valores universais.

A Filmoteca Vaticana, em colaboração com o Ente do Espetáculo Italiano e do Conselho Pontifício para a Cultura, desde há nove anos organiza um Congresso de Estudos sobre cinema e espiritualidade, do qual participam importantes expoentes dos ambientes cinematográficos e culturais.

No mundo atual é impossível ignorar o impacto que o cinema tem sobre o público, em especial sobre os jovens, determinando modas e atitudes. Portanto, é indispensável analisar os conteúdos propostos, ajudando os espectadores, inclusive os menores, a realizar uma leitura madura e consciente dos filmes.

— Qual é o melhor filme que vocês «guardam» aqui dentro?

Nosso arquivo custodia pérolas históricas sobre os pontífices: a filmagem de Leão XIII nos Jardins Vaticanos, realizada em 1896 em película Lumière, a inauguração de «Rádio Vaticano» em 1931, com Pio XI e Guglielmo Marconi, o conclave e a eleição de Pio XII, o Concílio Vaticano II.

O elenco de filmes históricos sobre a atividade da Igreja e dos pontífices poderia ser longo, mas a Filmoteca conserva em arquivo também filmes comerciais ou produções dos inícios do cinema como «O inferno», filme de 1911, realizado pela italiana Helios Film, inspirando-se na obra de Dante, na qual pela primeira vez aparecem efeitos especiais modernos. Pensava-se que este filme se havia perdido, mas ele foi reencontrado em nosso arquivo e, com a ajuda da empresa farmacêutica Bayer, agora foi restaurado e se distribuiu em DVD nos círculos acadêmicos e especializados.

Em arquivo há também algumas filmagens de grande interesse antropológico, realizadas pelos missionários, por volta dos anos cinquenta do século passado, que efetuavam tomadas da vida cotidiana e religiosa de população que de outra forma teriam sido ignoradas.

Zenit