Álvaro, um farol para os seus amigos

Na madrugada de 16 para 17 de abril de 2021, faleceu em São Paulo Álvaro de Pedroso Siqueira, um jovem supernumerário do Opus Dei, vítima de Covid. A partir do momento que Deus quis chamá-lo para junto de Si, começaram a surgir vários depoimentos de amigos manifestando como o Álvaro lhes havia aproximado de Deus

De fato, desde 2013, quando se converteu ao catolicismo, Álvaro procurou transmitir aos seus amigos as luzes que havia recebido de Deus: a mensagem do Opus Dei que conheceu e com a qual tanto se identificou: o ideal de santidade no meio do mundo. E notamos como em 2014, ano em que pediu admissão à Obra como supernumerário, essa luz se intensificou na sua vida.

As mensagens ressaltam a sua bondade, a sua simplicidade e alegria contagiantes (virtudes que sempre brilharam no seu olhar), o seu desejo de ajudar que alguns se reconciliassem com familiares, outros se confessassem e aprofundassem na Fé.

Em 2021 começou com entusiasmo um curso de formação mais intensa de filosofia e teologia, com duração de 2 anos. O seu anseio de aprofundar no conhecimento dos valores perenes da humanidade (gostava muito dos clássicos da literatura) e na doutrina cristã, o levaram a um compromisso firme nos meios de formação humana e cristã que recebia nos centros culturais do Opus Dei.

Criou um grupo de aprofundamento na doutrina cristã, que chamou carinhosamente de "Farol", com desejo de iluminar a vida das pessoas com o Amor de Deus. A sua vida de fé é uma luz que começou a brilhar na juventude, um “Farol” que iluminou a vida de seus amigos e parentes, um luzeiro que São Josemaria via em cada um dos seus filhos e que continuará brilhando na eternidade.

A sua vida de fé é uma luz que começou a brilhar na juventude, um “Farol” que iluminou a vida de seus amigos e parentes

Em 2020, durante o período em que as igrejas ficaram fechadas pela pandemia, comungou após meses com grande emoção. Sentia um forte desejo de estar com o Senhor na Eucaristia. Era cuidadoso com sua a saúde e rezou por amigos e parentes de seus amigos que tinham sido infectados pelo coronavírus e todos se recuperaram.

Esteve hospitalizado desde o início de abril. Três dias antes de Deus o chamar, quando já estava entubado, completou 27 anos e recebeu a unção dos enfermos.

A seguir, reproduzimos trechos de uma entrevista em 2014, onde conta a história de sua conversão, do seu encontro com Cristo e com Nossa Senhora.


Álvaro nasceu em Franco da Rocha (São Paulo) e se converteu ao catolicismo em 2013.

O decurso de minha conversão e batismo levou cerca de um ano e está intimamente ligado com o trabalho do Opus Dei. Eu era protestante por causa da família e o pouco que conhecia da Santa Igreja Católica era fundamentado no preconceito da igreja evangélica. Havia sido reprovado no exame de vestibular e por um acaso (por providencia na realidade) comecei a fazer cursinho no Tatuapé, lugar muito distante de onde moro. Foi lá que conheci Leonardo, que me falou de certa “palestra com o Padre” num Centro Universitário. Fui por curiosidade. Sentia uma carência que não compreendia muito bem, acreditava que era devida a minha falta de instrução. Embora estivesse tendo aulas de doutrina protestante para me batizar (eu ainda não era batizado nem na igreja protestante), reconhecia que sabia pouco sobre religiosidade e achei que os católicos podiam dar uma mãozinha. Mas não queria misturar-me, muito menos tomar a confissão de fé católica, só queria ter um reforço, uma carga horária maior de estudo no que diz respeito à religião.

Gostei da palestra e resolvi voltar outra vez e outra vez. Não eram só as palestras (que chamamos de “meditação”) que eu apreciava, mas também as outras atividades que o Centro Universitário oferecia. Havia o “papo filosófico”, a “tertúlia”, a “pizza da sexta” e eu também podia falar com o sacerdote (depois vim a saber que aquela conversa tem o nome de “direção espiritual”). Aceitei conversar com o padre porque tinha dúvidas quanto ao livro do Gênesis e ele se propôs a elucidá-las. Não demorou e aquele gosto tornou-se encanto. O Opus Dei era encantador. Eu conhecia vários católicos, mas nunca tinha visto o catolicismo ser vivido daquela maneira e me dei conta de que na realidade não conhecia o catolicismo (...). Estavam ali, bem na minha frente, pessoas que viviam o evangelho, que não argumentavam com palavras, mas com o modo de viver. Todavia, ainda demoraria a conversão.

Passaram-se dez meses. Aproximava-se a data de meu batismo na igreja protestante. Eu já havia iniciado aulas de catequese com o Pedro Paulo, membro do Opus Dei, e lia o Catecismo da Igreja Católica. Como estava incerto se deveria batizar-me ou não fui orientado a adiar o batismo, mas não era algo fácil. Passei pelo conselho de membros da Igreja Presbiteriana e respondi corretamente as perguntas que me fizeram (mal sabiam eles que algumas delas eu me baseava nas aulas de catequese católica para dar a resposta) e fui aprovado. Um dos membros presbiterianos disse que sentira algo que nunca havia sentido com aquele grupo que iria batizar-se. O pastor tinha grande estima por mim e eu também gostava muito dele. Eu mesmo havia insistido com ele para ser batizado e agora que chegava o momento não queria mais receber o sacramento. Foi então que aconteceu algo maravilhoso que, embora vá aumentar o tamanho dessa minha resposta à pergunta “como chegou a ser batizado como católico?”, sinto-me impulsionado a contar:

“Olha para o teu coração que não te coloco
essa inquietação por motivo fútil”

Foi na paróquia Nossa Senhora da Conceição, do Tatuapé, próxima de onde eu fazia o cursinho. Costumava ir lá com o Leonardo Relvas e com a Thelli Vieira para, além de assistir à missa da quarta feira (eu assistia as missas mais para entender o rito que para participar), ter aulas com o pároco Rodrigo e para rezar no intervalo entre aulas. Um dia antes de meu batismo fui lá para rezar e dizer a Deus o quanto estava apreensivo com o meu batismo protestante, que já havia aceitado. No oratório, além do Santíssimo Sacramentado, há duas estátuas, uma de Nossa Senhora de Fátima e outra do Sagrado Coração de Jesus. Nessa segunda estátua Jesus aponta para o seu coração e com a outra mão mostra sua chaga, como que nos convidando a estar com ele. Enquanto rezava eu olhava fixamente ao coração e, por um instante, senti que não era mais para o Seu próprio coração que Nosso Senhor apontava, mas para o meu, dizendo “Olha para o teu coração que não te coloco essa inquietação por motivo fútil, mas para que perceba a intenção que Eu tenho”. Sai de lá com a certeza de que não podia me batizar naquele momento e assim fiz.

No domingo de meu batismo liguei para o Pastor e disse que não iria batizar-me. Ele compreendeu, mas chamou-me para ir ao culto mesmo assim e eu fui. Como avisei em cima da hora não deu tempo de informar ao meu avô que não haveria mais o meu batismo, de maneira que ele também estava lá só para ver-me. Naquele dia todos do meu grupo foram batizados, eu estava na última cadeira da igreja, um pouco envergonhado, e toda a igreja se perguntava “onde está o Álvaro?”, porque havia sido anunciado entre eles que eu seria batizado naquela noite. Não fiquei para a festa que sucedeu a ablução e todos ficaram sem entender o que havia acontecido.

Passou um mês e eu continuei nas aulas de Doutrina Católica com o Pedro Paulo, bem como na Direção Espiritual com Padre Marcos. Chegou então o dia do Retiro Espiritual com o pessoal do Opus Dei. Eu estava inscrito. Foi lá que minha conversão se completou. Ali vi pela primeira vez a recitação do terço em grupo e numa das meditações o Padre Marcos nos contou do milagre de Fátima, com pormenores que me fez meditar no milagre, bem como me encantar com o acontecido. E então, embaixo duma arvore da chácara em que fizemos o Retiro, fiz minha primeira oração a Maria, dizendo “Maria, nunca a tive por minha Mãe, embora sempre fosse e confesso, como bem sabes, que te maldisse e te desprezei, porque foi assim que sempre aprendi. Todavia agora peço, embora já seja, que me tome por filho teu”. E assim iniciei minha devoção mariana e, a modelo dos pastorzinhos de Fátima, comecei a rezar o terço diariamente. Foi a Thelli quem me ensinou e me emprestou um folhetinho.

Daquele ponto em diante eu já era mais católico que protestante, e já sabia muita coisa do catolicismo. O próprio Pedro Paulo disse com bom humor: “cara, se você já reza o terço é um católico!”, ao cabo que eu disse “creio ter chegado o momento de batizar-me como tal”.

No dia 19 de maio recebi o Batismo na paróquia Santa Generosa, do bairro Paraíso, na festa de Pentecostes, e posso dizer que com exclusividade porque, por um erro de comunicação, cheguei para ser batizado às 17h00 horas, sendo que o horário de batismo era às 12h00. Apenas eu fui o batizando daquele horário. Os padrinhos foram o Leonardo e a Thelli, que acompanharam de perto minha conversão e sempre me orientaram, eu não podia ter escolhido melhores (a propósito, eles são um casal de namorados e o Leonardo já é membro do Opus Dei). Minha mãe também estava lá e, apesar de ser protestante, aceitou muito bem minha conversão, até me deu posteriormente, para meu espanto, uma estátua de Nossa Senhora Aparecida, que disse ter achado linda. Outros membros do Opus Dei estavam lá, até o Padre Marcos, que disse inicialmente que não poderia ir. Três amigos meus estavam lá também, Lucas (que posteriormente foi o meu padrinho de crisma), César e Amanda, e vale ressaltar a presença deles porque o dia do meu batizado era o dia da final do campeonato de futebol do time de coração deles. Eles abriram mão de assistir o campeonato só para ver o meu batismo e deixaram de ver o seu time ser campeão.

O Restante de minha família também aceitou muito bem a minha conversão. Com exceção de uma tia minha, nenhum deles são praticantes da religião que confessam ter. Eu rezo constantemente para que se convertam, a começar pela minha mãe.

Dos livros que você leu após a sua conversão, qual foi o que mais lhe marcou e por quê?

aprendemos a vivenciar cada um dos mistérios de tal maneira que parece que um dia estivemos na Palestina, ao lado de Cristo

Certamente foi “O Santo Rosário” de São Josemaria Escrivá. Neste livro aprendemos a vivenciar cada um dos mistérios rezados no terço de tal maneira que parece que um dia estivemos na Palestina, ao lado de Cristo, Maria, José e os apóstolos. Aprendemos a partilhar a alegria e as dores de Nossa Senhora, tomamos Cristo no colo após ter nascido, vemo-lo ascender aos céus e sumir no meio das nuvens, procuramos junto a José por Jesus em cada caravana e choramos por não encontrá-lo. Lembro-me que após ler “O Santo Rosário” estava tão afeiçoado à Sagrada Família que me sentia parte dela, coisa que nunca havia sentido como protestante. “O Santo Rosário” foi crucial para aproximar-me mais de Cristo.

Artigo publicado no site "Negócios de Família"