“A Igreja precisa dos jovens”

Entrevista concedida por D. Javier Echevarría à agência de notícias alemã DPA. "Os jovens precisam da Igreja e a Igreja precisa dos jovens”, sublinhou o prelado do Opus Dei.

Qual vai ser a sua participação — e a dos membros e amigos do Opus Dei — na Jornada Mundial da Juventude?

Pessoalmente, vou a Colônia cheio de fé e esperança, com a ânsia de voltar a experimentar que a Igreja é jovem, como disse o Santo Padre desde o primeiro dia do seu pontificado. A Jornada Mundial da Juventude constitui um momento de encontro, em que poderemos comprovar a importância que a fé tem para os jovens e a grande importância que os jovens têm para a Igreja. Os participantes irão ouvir as reflexões do Papa; o Papa vai ouvir as esperanças da juventude. Estou convencido de que todos regressaremos de Colônia com novos desejos de seguir e amar mais Jesus Cristo.

Julgo que os fiéis do Opus Dei — que participam na Jornada de formas muito diversas, inseridos em várias dioceses e organizações, sem formar um grupo — vão estar presentes com essa disposição de espírito aberta ao momento da graça.

Como é que vê a relação entre os jovens de hoje e a Igreja? O que é que a Igreja lhes pode oferecer?

Diria que é uma relação de mútua dependência: os jovens precisam da Igreja, com necessidade vital; e a Igreja precisa dos jovens, porque são uma parte importante do Povo de Deus. Através da Igreja os jovens chegam ao conhecimento de Jesus Cristo: Deus feito homem, a resposta às inquietações mais profundas, a fonte da verdadeira felicidade. Eles e elas dão à Igreja vida nova, quando descobrem com entusiasmo a figura e a mensagem de Cristo, e transmitem o entusiasmo dessa descoberta às novas gerações. Neste sentido, eles são a Igreja, constituem, com os pobres e os doentes, um tesouro especial.

Naturalmente, a relação da Igreja com os jovens também tem obstáculos e dificuldades: por um lado, durante a juventude experimenta-se a esperança e a generosidade, mas também não poucas dificuldades, por outro, os jovens nem sempre entendem adequadamente a verdadeira natureza da Igreja, talvez por causa daquilo a que poderíamos chamar problemas de comunicação, próprios deste tempo, caracterizado por excesso de informação e falta de orientação. Essa circunstância desafia os católicos a atuar com consciência e responsabilidade de filhos de Deus; e a continuar empenhados em transmitir com coerência o essencial da nossa fé.

Temos de oferecer, aos jovens que procuram o sentido da vida, o testemunho sincero da nossa felicidade e do nosso compromisso, cada um nas suas circunstâncias.

Como descreveria o Papa Bento XVI?

Eu vejo-o, e desejo vê-lo sempre, como o Pai bom da Igreja. E não vou mais longe na descrição, porque essa palavra — Pai — resume tudo. Certamente, a Providência preparou-o para a missão de Romano Pontífice. Com tantos anos de ministério adquiriu um conhecimento invulgar da realidade da Igreja no mundo; uma aguda percepção dos desafios que a cultura contemporânea apresenta; e uma clara visão de conjunto que lhe permite intuir os caminhos da vontade de Deus para a Igreja no nosso tempo.

Se tivesse de resumir numa só expressão a sua trajetória e o seu perfil, diria: sabedoria humilde e paz contagiosa. Há uma manifestação muito visível disso mesmo: a sua grande capacidade de ouvir, de compreender e de procurar respostas que saciem a sede de Deus das mulheres e dos homens de hoje.

Como é a sua relação com ele até agora? Bento XVI conhece e aprecia o Opus Dei tanto quanto o seu predecessor?

Leg 1 — O prelado do Opus Dei

O prelado do Opus Dei

Em primeiro lugar, quero dizer que, na minha opinião, qualquer comparação seria facilmente enganosa. Em todo o caso, posso dizer que atualmente Bento XVI conhece melhor o Opus Dei do que, no começo do pontificado em 1978, o conhecia João Paulo II.

Mas, insisto, a relação do Santo Padre com os fiéis católicos e as instituições da Igreja não se dá somente no campo do conhecimento, mas no contexto próprio da comunhão e do afeto, paterno e filial. E nisso não há diferenças.

O Opus Dei tem crescido na Alemanha? Tinha S. Josemaria alguma relação especial com este país?

O Opus Dei cresce de modo natural, a sua mensagem difunde-se de pessoa a pessoa, de um a um. A medida do apostolado é uma medida humana, embora o motor do apostolado é sempre a graça de Deus, que tem os seus ritmos e a sua lógica.

Na Alemanha, a presença do Opus Dei — como julgo que acontece com a Igreja em geral — estende-se de modo particular nas famílias jovens: pessoas que desejam partilhar a sua experiência da fé, recorrer à ajuda de uns meios de formação compatíveis com os deveres diários.

Sei que, em várias cidades, são numerosas as pessoas que participam nas atividades apostólicas. Na Missa que o Cardeal Meisner celebrou em Janeiro de 2002, pelo centenário do nascimento de São Josemaria, notava-se um fervilhar de pessoas na Catedral de Colônia.

São Josemaria esteve várias vezes na Alemanha. Tive a sorte de acompanhá-lo, pela primeira vez em 1958, e testemunhei a admiração que tinha por esta terra, por este povo e pelas suas virtudes. Confiava muito na contribuição que os católicos alemães podem dar no trabalho evangelizador da Igreja. Aqui, como em todos os lugares, veio também para aprender e servir.

Nos anos 70 e 80 o Opus Dei sofreu na Alemanha fortes ataques nos meios de comunicação. Passado este tempo, como é o que o Opus Dei vê esses anos?

Com serenidade. Por um lado, é óbvio que os meios de comunicação não são infalíveis, e ser alvo dos seus ataques, quando não têm fundamento, não tem especial transcendência. Não quero dar uma visão negativa dos meios de comunicação, que tantos serviços prestam à sociedade. Quero frisar que podem cometer erros, como tudo o que é humano. Tal como fazem noutros campos, aqueles que se enganam, retificam com nobreza.

Por outro lado, as críticas não são nada de novo nem na Igreja em geral, nem no Opus Dei em particular. Por assim dizer, fazem parte do roteiro, estão ‘previstas no orçamento’. A minha experiência diz que, no fim de contas, são um modo de estender o conhecimento do Opus Dei a muito mais pessoas.

Poderia descrever, em breves traços, o Fundador? O que é que aprendeu de mais importante com ele?

Talvez possamos colher a descrição que João Paulo II fez no livro “Levantai-vos, vamos!”: um sacerdote santo, para os tempos modernos, porque recordou a importância da santidade na vida corrente, precisamente quando vemos essa fratura entre a fé e a vida quotidiana, que o Concílio Vaticano II e os últimos Papas assinalaram como um dos grandes problemas do nosso tempo. Por superar essa divisão, pessoal e social, a mensagem de São Josemaria é uma ajuda para nós.

Tive sempre dificuldade em resumir tudo o que aprendi deste sacerdote santo. Sem dúvida, ficou-me gravada para sempre a sua capacidade de querer bem: vivia para Deus e para os outros, e entregava-se totalmente.

    Vicente Poveda // Deutsche Presse-Agentur