A canção de Natal preferida de São Josemaria

“Madre en puerta hay un niño”, uma canção de Natal especial para São Josemaria. Veja a letra em espanhol, com a tradução, e descubra a sua história e a sua relação com São Josemaria.

1. Madre, en la puerta hay un Niño,
más hermoso que el sol bello,
diciendo que tiene frío,
porque viene casi en cueros.
Pues dile que entre y se calentará,
porque en esta tierra ya no hay caridad
porque en esta tierra ya no hay caridad.

2. Entró el Niño y se sentó,
y mientras se calentaba,
le preguntó la patrona,
¿de qué tierra y de qué patria?
Mi Padre es del Cielo, mi Madre también,
Yo bajé a la tierra para padecer,
Yo bajé a la tierra para padecer.

3. Hazle la cama a este Niño,
en la alcoba y con primor.
No me la haga usted, señora,
que mi cama es un rincón.
Mi Padre es del Cielo, mi Madre también,
Yo bajé a la tierra para padecer,
Yo bajé a la tierra para padecer.



Mãe, na porta está um Menino,
mais formoso que o belo sol,
dizendo que está com frio
porque está quase sem roupa
pois que entre e irá se aquecer
porque nesta terra não existe mais caridade
porque nesta terra não existe mais caridade.

O Menino entrou e se sentou,
e enquanto se aquecia
a senhora lhe perguntou,
de que terra e de que pátria?
Meu Pai é do Céu, minha Mãe também,
Eu desci à terra para padecer,
Eu desci à terra para padecer.

Faça a cama para este Menino,
no meu quarto e com esmero.
Não precisa, senhora,
pois minha cama é um cantinho.
Meu Pai é do Céu, minha Mãe também,
Eu desci à terra para padecer,
Eu desci à terra para padecer.


As canções populares antigas nasciam frequentemente num lugar e depois espalhavam-se por outros, perdendo alguns elementos no processo e adquirindo outros em troca. Um pastor viajando pelos vales com o seu rebanho, um mercador indo de cidade em cidade, poderia cantar aqui e ali uma canção da sua pátria que, longe dela, foi depois reconstruída por outros, com esquecimentos, acréscimos e alterações que, voluntária ou involuntariamente, lhe deram uma nova vida e um novo significado.

Em 1930, um estudioso de música americano, de origem alemã, Kurt Schindler, viajou para a Espanha e Portugal com um fonógrafo em busca de vestígios da tradição folclórica da Península Ibérica. Recolheu e depois publicou, com letra e partitura, quase mil peças que os habitantes das diferentes províncias foram cantando para ele. Na província de Sória, onde esteve por mais tempo, registrou, além de outras 317 músicas, 42 canções de Natal – os chamados villancicos – e cinco delas são variantes de uma que, nas terras de Aragão, poucos anos antes, também Dolores Albás, a mãe de São Josemaria, poderia ter cantado: Madre en la puerta hay un niño.

Várias regiões espanholas disputam entre elas a paternidade dessa canção. Na coleção do antigo Coral Hilarión Eslava, de Madri, há partituras de Madre en la puerta hay un niño de Castela e Leão, Andaluzia e Galícia, cada um com sua própria versão. E também em Aragão estão documentadas versões nativas. Hoje em dia artistas andaluzes como Rosa Lopez ou o grupo Raya Real, a apresentam como uma canção de natal flamenca, mas outros, como os Hermanos Galindo a interpretam também em sua forma popular castelhana, mais sóbria.

    O texto padrão dessa canção de Natal consta de três estrofes de oito versos cada uma, com repetição dos dois últimos. A primeira é: Madre en la puerta hay un niño / Más hermoso que el sol bello, / Diciendo que tiene frío / Porque viene casi en cueros. / Pues dile que entre / Y se calentará, / Porque en esta tierra / Ya no hay caridad.

    A segunda diz: Entró el Niño y se sentó, / Y mientras se calentaba / Le preguntó la patrona / ¿De qué tierra y de qué patria? /Mi Padre es del Cielo, / Mi Madre también, /Yo bajé a la tierra /Para padecer.

    E a terceira: Hazle la cama a este Niño / En la alcoba y con primor. / No me la haga usted señora, / Que mi cama es un rincón. / Mi Padre es del Cielo, /Mi Madre también, / Yo bajé a la tierra / Para padecer.

    É muito frequente, na terceira estrofe, a variante Mi cama es el suelo (Minha cama é o chão) / Desde que nací (Desde que nasci) / Y hasta que me muera (E até que eu morra) / Ha de ser así (Deve ser assim), em vez de Mi Padre es del Cielo... (Meu Pai é do Céu), que é a mera repetição da segunda parte da estrofe anterior.

    A combinação de versos de oito e seis sílabas é típica do gênero musical dos villancicos (canções de Natal), embora normalmente os de seis sílabas sejam invariáveis, como um refrão. A mesma pauta métrica de Madre en la puerta hay un niño é observada em muitas outras canções de Natal populares na Espanha: San José al Niño Jesus, La Marimorena... Por sua letra e música, no entanto, Madre en la puerta hay un niñotem caráter próprio.

    Pela suavidade de sua melodia, foi muitas vezes considerada não somente uma canção de Natal, como também uma canção de ninar. Torna-se quase intuitivo pensar que a mãe de São Josemaria, ao cantá-la a seu filho, aproveitava para niná-lo. “Quando eu tinha uns três anos” – contava numa ocasião, em 1957 – a minha mãe cantava-me esta canção, tomava-me nos braços, e eu adormecia todo feliz[1].

    Quanto à letra, a presença do Menino Jesus sozinho à porta de uma casa (a “mãe” do título da canção não é a Virgem Maria) converteu o texto, na interpretação de alguns, em um tipo de “Romance do Menino Perdido”. Assim, por exemplo, uma variante do vestígio que Kurt Schindler encontrou em Fuentepinilla (Sória, Castela e Leão) contém estrofes como a seguinte: O Menino entrou no Templo/ Com os sábios da Lei, /Entra e discute com eles;/ Todos se admiram dele./ De onde veio / Sua sabedoria? / Este é um prodígio/ Que Deus nos envia. E pouco depois: A Virgem e São José / Encaminham-se ao templo / E ao entrar encontraram / Aquela estrela divina. / Menininho perdido, / Dai-nos o consolo / De vê-lo e achá-lo / Todos no Céu. Existem também versões mais dramáticas, como a de Andorra (Teruel, Aragão), um lugar famoso por sua impressionante celebração da Semana Santa: nesta versão, o Menino ao despedir-se não se dirige ao Templo de Jerusalém, mas ao Gólgota (Vou para o calvário / onde está minha cruz).

    Para São Josemaria, no entanto, esse Menino quase nu é, sem dúvida, o que nasce em Belém e a porta em que bate é a porta do coração de cada homem e de cada mulher. “Deus humilha-se para que possamos aproximar-nos d’Ele”, lemos em sua homilia de Natal, “para que possamos corresponder ao seu amor com o nosso amor, para que a nossa liberdade se renda, não só ante o espetáculo do seu poder, como também ante a maravilha da sua humildade”, porque “Jesus continua ainda hoje a buscar pousada no nosso coração. Temos que lhe pedir perdão pela nossa cegueira pessoal, pela nossa ingratidão. Temos que lhe pedir a graça de nunca mais lhe fecharmos a porta de nossas almas”[2].

    [1] Andrés Vázquez de Prada, O fundador do Opus Dei, I, São Paulo 2004, p. 31.

    [2] É Cristo que passa, n. 18-19.