50 histórias

A multiplicação das voluntárias foi quase a multiplicação dos pães e dos peixes

São quase 20h e a reunião ainda não chegou ao fim. Uma pergunta paira no ar. Na verdade, paira na cabeça da produtora audiovisual Nina e das jornalistas Camila e Gabriela:

– Vamos escrever um livro, gravar um podcast ou criar um site?

Ninguém tem a resposta exata. Muito menos a dimensão do que aquela ideia despretensiosa poderia alcançar, mas o objetivo é claro: encontrar e contar as histórias de 50 pessoas que conheceram ou foram impactadas pela mensagem de um santo. O santo que, ao pisar no Brasil, declarou ter visto uma mãe.

“Uma mãe grande, bela, fecunda, terna, que abre os braços a todos, sem distinção de línguas, de raças, de nações, e a todos chama filhos”, afirmou São Josemaria Escrivá, em 1974.

A ideia surgiu na mente de Flávia durante as comemorações do cinquentenário da visita do sacerdote ao Brasil. “Cinquenta anos depois, por que não contar as histórias de 50 pessoas que o conheceram aqui?”, pensou ela. A médica confiou a “missão” à Camila e à Nina, que, por sua vez, compartilhou a ideia também com Gabriela. Foi assim que a proposta começou a ganhar vida naquela quarta-feira à noite.

– E se começássemos criando uma página nas redes sociais? –, sugeriu Camila. O espaço parecia ser o lugar perfeito para reunir texto, áudio e imagens, o que poderia dar vida a todas as ideias anteriores.

A primeira reunião terminou com uma lista de tarefas e uma inquietação. O trio estava ciente de que, sem ajuda, seria quase impossível concluir o projeto até a data desejada: 26 de junho, quando a Igreja celebra a memória de São Josemaria Escrivá. “Nunca achamos que seria fácil”, relembra Gabriela. “Como conseguir tantas voluntárias para nos ajudar a contar essas histórias?”.

O que começou como um pequeno grupo, porém, logo se transformou em uma comunidade vibrante de jovens se reunindo para preservar as memórias de pessoas que puderam estar com São Josemaria Escrivá ou que tiveram suas vidas transformadas por sua mensagem. Em poucos dias, três voluntárias viraram seis, nove, doze, quinze, dezoito…quarenta! De São Paulo a Londrina, cerca de quarenta meninas que frequentam as atividades do Opus Dei em diferentes estados do Brasil se voluntariaram para ajudar a fazer as entrevistas do projeto.

Cada relato revelava um aspecto da vida do sacerdote espanhol. Inês Brito, por exemplo, foi uma das pessoas que recebeu São Josemaria no Aeroporto de Congonhas com uma camélia. Ela contou que, mais tarde, soube que o sacerdote ofereceu a primeira flor que recebeu no Brasil aos pés de Jesus, em um oratório.

Lupi Pacheco disse que ele a apelidou carinhosamente de “minha filha das cristaleiras”, porque Lupi usava óculos grandes. Já Vera Perri, que fazia parte da equipe responsável por administrar a residência em que São Josemaria ficou hospedado, lembra até hoje o dia em que ele pegou a metade de um mini pão para comer e guardou a outra em um cesto. “É o que fazemos quando estamos em casa: se a gente quer algo para comer, simplesmente pegamos e comemos. No Brasil, São Josemaria se sentiu em casa”, disse ela.

A meta era 50 entrevistas, mas o esforço coletivo resultou em 59. Cada história parecia “transportar” o santo de volta ao Brasil, deixando-o mais perto até de quem nasceu mais de duas décadas após sua morte. “Eu sentia que ele iria entrar pela porta a qualquer momento e se juntar à conversa”, brinca Iasmin, 19 anos, que entrevistou algumas pessoas em Londrina (PR).

Se entrasse mesmo pela porta, como será que agiria? Como sempre fez. “Uma das coisas que as pessoas mais diziam é que ele era exatamente igual ao que tinham ouvido falar antes de sua vinda ao Brasil”, diz Heloisa, voluntária do projeto. “Isso me fez pensar: ‘eu sou exatamente como eu sou na minha faculdade, na minha casa, com as minhas amigas?’. É uma inspiração para ter unidade de vida”.

Trechos em vídeo das entrevistas também foram compartilhados na página do projeto no Instagram, que hoje tem quase 3 mil seguidores. Um deles teve mais de meio milhão de visualizações. No registro, Maria Helena Barros compartilha como um hábito de São Josemaria – perguntar para as pessoas se elas estavam alegres – mudou sua visão sobre a alegria. O que o público ainda não sabe é que Maria Helena estava pedindo a Deus a graça de ser ouvida.

“Durante minha vida inteira, dei aulas e comentei sobre as virtudes de São Josemaria, mas o máximo que posso fazer hoje em termos de mobilidade é chegar até a porta da minha casa. Esses dias, falei: ‘meu Deus, tenho tanta riqueza dentro da alma, Deus me deu tantas graças, eu gostaria de passar isso para outras pessoas”, diz ela, agora com 90 anos.

A surpresa veio quando seu filho mostrou à mãe que o vídeo tinha viralizado, o que, para Maria Helena, foi uma prova viva da generosidade divina: “Quando nós pedimos algo a Deus, pedimos como mendigos, mas Ele nos atende como um rei”.

Algumas voluntárias ajudaram a fazer as transcrições das conversas, com o auxílio de uma ferramenta de transcrição de áudio. As histórias foram publicadas no Instagram e em uma plataforma online. Um grupo no WhatsApp também foi criado para compartilhar os relatos, pensando em quem não usa o Instagram – Nina achou que fosse apenas o caso de sua mãe, mas mais de 400 pessoas se interessaram e entraram no grupo.

Todos os textos são escritos em primeira pessoa, com o objetivo de levar ao público emoções e nuances que só podem ser reveladas através da perspectiva de quem viveu cada momento. Só Teresinha Siviero, por exemplo, pode dizer que “São Josemaria me ensinou a ser feliz mesmo quando Deus me pediu o meu marido”. Ou, como afirmou Miriam, que “com Ele, aprendi que sou importante para Deus”.

O evento de lançamento do projeto aconteceu em 29 de junho, no Centro Universitário Jacamar, e reuniu mais de 120 participantes. A cinquentésima história foi publicada no dia 2 de outubro, quase quatro meses depois da meta inicial. Não foi fácil conciliar o projeto com os estudos e o trabalho, mas até o “atraso” teve um saldo positivo: fez a data coincidir com o aniversário de 96 anos do Opus Dei. Afinal, “50 histórias” é um convite para mergulhar não só no perfil de São Josemaria, mas na trajetória de 50 pessoas que, de alguma maneira, tiveram seus caminhos cruzados pelo “santo do cotidiano” e, com suas vidas, estão escrevendo a história da Obra. São quase 20h e a reunião ainda não chegou ao fim…


Instagram: @cinquentahistorias

Onde ler as histórias:

https://padlet.com/50historiassaojosemariaescriva/50-hist-rias-ptgtsj1wefnt2tuf?fbclid=PAZXh0bgNhZW0CMTEAAaaTDZwM_bNsXvTCcN4uCAtIBNsASHM9UflN52bhxNwnDzaUeWh-wf7oY8Y_aem_7S0fQtA9u1xOJD-o5WCOTA

Link para entrar no grupo no Wpp:

https://chat.whatsapp.com/D66RR7oJdNC5ztknIfdlHZ?fbclid=PAZXh0bgNhZW0CMTEAAabqosCdpSWphdeExHAXvxCIpIaC42iYHuV97sLp2qRFUQY7GkWzNtz1-Ec_aem_C07Lx4xNhLXZVjYu7UDqLw