Queridíssimos ordenandos diáconos
Queridos irmãos e irmãs
1. Está prestes a terminar o Ano da Fé proclamado por Bento XVI. O Papa Francisco encerrá-lo-á solenemente na solenidade de Cristo Rei do Universo. Esta circunstância põe em relevo um aspeto particular desta ordenação diaconal de trinta fiéis do Opus Dei.
Com efeito, estamos a participar numa grande manifestação de fé. Cada um destes homens, depois de ter respondido livremente à chamada do Senhor, está a ponto de se converter em ministro de Cristo, servidor de todos. A eleição é divina, como a de Jeremias, que escutámos na primeira leitura: Antes que no seio materno fosses formado, eu já te conhecia - diz o Senhor - antes do teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações (Jr 1, 5).
Vós, filhos queridos, respondestes à chamada que se vos dirigiu pessoalmente. Adsum! Aqui estou! - dissestes. E depois, a minha pergunta: quereis ser consagrados ao serviço da Igreja, mediante a imposição das minhas mãos com o dom do Espírito Santo? A vossa voz ressoará com vigor perante toda a assembleia: Volo! Sim, quero!
Como bem sabeis, a imposição das mãos do Bispo constitui — juntamente com as palavras da oração consagratória — o sinal fundamental do sacramento da Ordem nos seus diversos graus. A imposição das mãos do Bispo, que faz as vezes de Cristo Sumo Sacerdote, tem um significado muito preciso: Jesus toma posse de cada um de vós, de todo o vosso ser, para que vos convertais em instrumentos vivos da Sua ação santificadora; compreendo a vossa alegria e a vossa emoção ao converteres-vos em ministros de Jesus Cristo, pois é muito grande o dom que ides receber. Já no Baptismo e na Confirmação cada cristão se converte, pela ação do Espírito Santo, noutro Cristo, filho adotivo de Deus Pai, e — como dizia S. Josemaria — não só noutro Cristo, mas no próprio Cristo, ipse Christus. Hoje, com a ordenação diaconal, e mais adiante com a presbiteral, transformar-vos-eis pela força do sacramento, no próprio Cristo, participando de um modo novo no Seu sacerdócio.
Comentando este antiquíssimo gesto da imposição das mãos, Bento XVI afirmava que, além de tomar posse dos ministros ordenados, o Senhor dirige-se a eles, um a um, e diz-lhes: «Tu estás sob a protecção das minhas mãos. Tu encontras-te sob a protecção do meu coração. Tu estás conservado na palma da minha mão e é precisamente assim que te encontras na vastidão do meu amor. Permanece no espaço das minhas mãos e dá-me as tuas"»[1].
Trata-se de um novo e solene compromisso de amor; ser-lhe-eis fiéis, com a ajuda do Senhor, se guardardes e alimentardes o espírito de oração; cumprindo fielmente o encargo de recitar a Liturgia das Horas; procurando conformar a vossa vida a Jesus Cristo, cujo Corpo, a partir de agora, podereis distribuir aos fiéis na Comunhão. Percebe-se a razão pela qual S. Josemaria dizia: Senhor, porque me amas tanto?
2. Após a imposição das mãos e da oração de consagração, a liturgia prevê algumas ações simbólicas com as quais põe em relevo os encargos assumidos. Em primeiro lugar figura vestir os paramentos próprios do diácono: a estola que apoia sobre o ombro esquerdo e a dalmática. São sinais do destino dos diáconos ao serviço da comunidade de fiéis. Recordemos o que São Paulo nos disse na segunda leitura: embora livre de sujeição a qualquer pessoa, fiz-me servo de todos para ganhar o maior número possível. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos. (1 Cor 9, 19-23).
Servi, pois, com alegria, humildade e caridade as vossas irmãs e os vossos irmãos, todas as almas: com a pregação do Evangelho, com a administração da Eucaristia e a exposição do Santíssimo Sacramento para a adoração dos fiéis, com os serviços da caridade que vos forem confiados.
Depois de vestirdes as vestes, entregar-se-vos-á o livro dos Evangelhos, para que anuncieis a boa nova a todas as gentes. No momento em que vos é confiado, o Bispo diz: crê sempre o que proclamas, ensina o que aprendeste na fé, vive o que ensinas. São palavras dirigidas especificamente aos novos diáconos, mas que são também dirigidas pessoalmente a todos os cristãos. Cada fiel, com efeito, deve crer na Palavra de Deus, há-de pô-la em prática e ensiná-la aos outros. E como Cristo é a Palavra de Deus vivo, que se fez homem para nossa salvação, S. Josemaria recomendava frequentemente a todos: vamos confiar ao Senhor a nossa decisão de aprender a realizar esta tarefa de serviço, porque só servindo poderemos conhecer e amar Cristo e dá-lo a conhecer e conseguir que outros mais O amem[2].
Esta é o convite que se nos dirigiu no texto do Evangelho que escutámos: a primeira pesca milagrosa, que se conclui com o mandato do Senhor a Pedro e aos outros Apóstolos — também a ti e a mim — de ser pescadores de homens (Lc 5, 10). Aqui podemos recordar algumas palavras do Santo Padre Francisco numa das últimas audiências: «Cristo convida todos a "ir" ao encontro dos outros, envia-nos, pede-nos que nos movamos para levar a alegria do Evangelho. Perguntemo-nos uma vez mais: somos missionários com a nossa palavra, mas, sobretudo, com a nossa vida cristã, com o nosso testemunho? Ou somos cristãos encerrados no nosso coração e nas nossas igrejas, cristãos de sacristia? Cristãos só de palavra, mas que vivem como pagãos? Devemos fazer-nos estas perguntas, que não são uma recriminação. Também eu o digo a mim mesmo: como sou cristão? É realmente com o testemunho?»[3].
3. Finalmente, o Bispo dá-vos o abraço da paz. Além de significar que fostes admitidos na Ordem do diaconado, este gesto expressa muito mais: significa o carinho de todo o povo de Deus, cheio de agradecimento pela vossa entrega ao seu serviço. Como consequência, temos de rezar mais pelos ministros da Igreja e, de modo particular, pelo Romano Pontífice, que desde há séculos conserva como título principal o de servus servórum Dei, servo dos servos de Deus.
Queridos irmãos e irmãs. Acompanhemos os novos ministros do Senhor com a oração e a mortificação. Peçamos ao Espírito Santo que envie muitas vocações sacerdotais à Igreja. A propósito desta necessidade, S. Josemaria aconselhava-nos a pedir a Deusque aumente a nossa ânsia de servir, porque messis quidem multa, operarii autem pauci(Mt9, 37); porque os operários são poucos, e muita a messe: o mar do trabalho apostólico não tem margens, e há no mundo tão poucas almas que queiram servir! [4].
Supliquemos à Virgem Nossa Senhora, a S. Josemaria e a todos os santos que intercedam por estes nossos irmãos; recorramos também às almas do purgatório neste mês a elas dedicado: podem tanto diante de Deus! [5]. Naturalmente convido-vos a rezar pela santidade dos seminaristas e dos sacerdotes de todo o mundo.
Antes de terminar, dirijo a minha felicitação mais carinhosa aos pais, irmãos e irmãs dos novos diáconos, aos seus familiares e amigos. E à medida que nos aproximamos do final do Ano da fé, roguemos a Deus, por intercessão de Maria Santíssima, este grande presente para todos nós: um aumento de fé, de esperança, de caridade e de piedade no cumprimento de nossos deveres cristãos.
Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!
[1] Bento XVI, Homilia na Missa crismal, 13-IV-2006.
[2] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 182.
[3] Papa Francisco, Discurso na audiência geral, 16-X-2013.
[4] S. Josemaria, Carta 9-I-1932, n. 85,
[5] S. Josemaria, Caminho, n. 571.