Homilia das ordenações presbiterais 2010

Homilia pronunciada pelo Prelado do Opus Dei nas ordenações de 32 presbíteros do Opus Dei, em 8 de Maio de 2010.

1. Queridíssimos ordenandos. Queridos irmãos e irmãs.

Celebrámos há pouco tempo o Domingo liturgicamente chamado do Bom Pastor, em virtude dos textos que se lêem no Evangelho. É já habitual que nessa ocasião se celebrem ordenações sacerdotais e se reze com mais intensidade pelos sacerdotes. Exorto-vos, pois, no início desta celebração, que peçais ao Senhor que faça verdadeiramente santos estes e todos os outros sacerdotes do mundo inteiro: acompanhemo-los de perto com a nossa oração e o nosso sacrifício.

Hoje, mediante a imposição das mãos do Bispo e a invocação do Espírito Santo, um novo grupo de homens bem formados juntar-se-á às inumeráveis promoções de sacerdotes que os precederam. A partir de hoje poderão colaborar com os Bispos, sucessores dos Apóstolos, na condução do povo cristão, mediante o ministério da Palavra, a administração dos sacramentos e a cura pastoral das almas que lhes forem encomendadas.

Detenhamo-nos a considerar a origem divina do sagrado ministério. Os Apóstolos, escolhidos directamente pelo Senhor, eram homens absolutamente normais, com as mesmas debilidades que nós. Mas Jesus Cristo promete-lhes que o Paráclito estará sempre presente na vida da Igreja. Por isso, quando, depois do Pentecostes, surgiram algumas dificuldades, os Apóstolos e os discípulos reuniram-se para as examinar a fundo, deixando-nos este testemunho fantástico recolhido nos Actos dos Apóstolos: Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor mais encargos além destes indispensáveis (Act 15, 28).

Vem-me à memória a admiração que S. Josemaria Escrivá de Balaguer manifestava, ao considerar esta atrevida expressão dos Apóstolos. Puseram-se de acordo e redigiram os seus decretos conciliares, com aquela afirmação fantástica: visum est enim Spiritui Sancto et nobis... Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós. Que audácia![1].

2. No centro da cerimónia de ordenação encontramos o gesto da imposição das mãos por parte do Bispo, feito em silêncio. Significa que Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, toma posse do sacerdote de modo especialíssimo. É como se o Senhor — explica Bento XVI — dissesse a cada candidato: «Tu pertences-Me (...). Estás sob a protecção das minhas mãos. Estás sob a protecção do meu coração. Estás guardado nas minhas mãos e é precisamente assim que te encontras dentro da imensidade do meu amor. Permanece no espaço das minhas mãos e dá-me as tuas»[2].

A vós, meus filhos que estais quase a converter-vos em presbíteros, digo-vos: permanecei sempre muito perto do Senhor por meio da oração e do sacrifício. Procurai cumprir com amor, todos os dias, os vossos deveres ministeriais. Passai tempo com Jesus Cristo, não apenas no momento da celebração eucarística, mas ao longo de todo o dia. Sede muito devotos da Virgem, nossa Mãe e de São José. Imitai o exemplo de S. Josemaria, nosso queridíssimo Padre, e assim estareis sempre bem guardados nas mãos de Jesus.

Além da imposição das mãos por parte do Bispo, sinal essencial da ordenação juntamente com a oração de consagração que o prelado recita imediatamente depois, vários presbíteros imporão as mãos aos eleitos. Esta acção significa que os novos sacerdotes são fraternalmente acolhidos na ordem do presbiterado. Com efeito, o sacramento recebido cria uma forte comunhão entre todos os sacerdotes. As alegrias e os sofrimentos de uns são os sofrimentos e as alegrias dos outros. Tende-o bem presente, meus filhos, para servir de apoio aos vossos irmãos em todas as suas necessidades, para serdes verdadeiramente servidores dos demais sacerdotes e também para vos deixardes ajudar docilmente pelos outros.

3. Depois, uma vez revestidos com os paramentos sacerdotais para a celebração do Sacrifício do Altar, as mãos dos novos sacerdotes são ungidas com o óleo sagrado. Também este gesto está cheio de significado. «A mão do homem é o instrumento da sua acção, é o símbolo da sua capacidade de enfrentar o mundo, de o "dominar". O Senhor impôs-nos as mãos e agora quer as nossas mãos para que, no mundo, se transformem nas Suas. Quer que já não sejam instrumentos para pegar nas coisas, os homens, o mundo para nós, para tomar posse dele, mas para que transmitam o Seu toque divino, pondo-se ao serviço do Seu amor»[3].

A divina misericórdia deposita grandes tesouros nas mãos dos sacerdotes. Com essas mãos pegam no pão e no cálice com o vinho, que se converterão no Corpo e Sangue de Cristo. Com essas mesmas mãos distribuem o perdão divino no sacramento da Reconciliação e ungem os doentes com os santos óleos. Com essas mãos abençoam as iniciativas apostólicas dos seus irmãos na Igreja, oferecem uma ajuda fraterna aos necessitados e expressam o seu desejo de servir a todos, sem excepções de nenhum tipo.

Pelo Sacramento da Ordem — escreve S. Josemaria —o sacerdote capacita-se efectivamente para emprestar a Nosso Senhor a voz, as mãos, todo o Seu ser[4]. É este o fundamento da incomparável dignidade do sacerdócio, que não depende — é dogma de fé definido pela Igreja — da dignidade pessoal de cada um dos sacerdotes. Por este motivo, advertia S. Josemaria, se alguma vez deparais com um sacerdote que, externamente, parece não viver conforme o Evangelho — não o julgueis, julga-o Deus — sabei que se celebrar validamente a Santa Missa, com intenção de consagrar, Nosso Senhor não deixa de descer àquelas mãos, mesmo que sejam indignas. Haverá maior entrega, maior aniquilamento? Mais do que em Belém e do que no Calvário. Porquê? Porque Jesus Cristo tem o Coração oprimido pelas suas ânsias redentoras, porque não quer que ninguém possa dizer que não foi chamado, porque se faz encontrar pelos que não O procuram[5].

O mesmo se há-de afirmar a respeito dos outros sacramentos. É Amor! Não há outra explicação. Que insuficientes se tornam as palavras, para falar do Amor de Cristo! Ele rebaixa-se a tudo, admite tudo, expõe-se a tudo — a sacrilégios, a blasfémias, à frieza da indiferença de tantos — desde que ofereça, ainda que seja a um só homem, a possibilidade de descobrir o bater de um Coração que salta no Seu peito chagado[6].

4. Esta ordenação tem lugar no decurso do Ano sacerdotal que o Papa Bento XVI proclamou para comemorar o 150º aniversário do dies natalis do Santo Cura d’Ars. Escutemos o testemunho deste grande pastor e demos graças a Deus pelo dom destes novos sacerdotes, que concede à Igreja. «Só entenderemos bem o sacerdote no céu. Se compreendêssemos bem o que representa um sacerdote sobre a terra, morreríamos, não de pavor, mas de amor». E dá as seguintes razões: «Todos os benefícios de Deus não nos fariam proveito sem o sacerdote. De que nos serviria uma casa cheia de ouro se não houvesse ninguém que nos abrisse a porta? O sacerdote tem a chave dos tesouros do céu, é ele quem abre a porta; é ele o administrador do bom Deus; o administrador dos Seus bens»[7].

Não há, pois, motivos para ficar assombrado se — como sucedeu frequentemente na história da Igreja — os inimigos de Deus se esforçam por desacreditar a instituição do sacerdócio de mil modos possíveis. «Quando se quer destruir a religião — afirmava com razão o Santo Cura d’Ars — começa-se por atacar o sacerdote, porque onde não há sacerdotes não existe nem o sacrifício nem a religião»[8].

Graças a Deus, isto não sucederá nunca, pois temos a promessa do Senhor: Eu estarei convosco todos os dias até ao fim do mundo (Mt 28, 20). Também nós estamos cheios de confiança: Jesus Cristo não abandona nunca a Igreja e, como garantia da Sua promessa, enviou o Espírito Santo ao mundo.

Não quero concluir sem felicitar os pais, os irmãos e irmãs, as famílias e os amigos dos novos presbíteros. Agora têm mais necessidade do que nunca das vossas — das nossas — orações. Rezemos por eles e por todos os outros sacerdotes, para que sejam santos e em número suficiente para atender as necessidades da Igreja em todo o mundo. Supliquemos ao Dono da messe que envie muitos e santos trabalhadores para a Sua messe (cfr. Mt 9, 38).

Rezemos de modo especial pelo Papa, pelos seus colaboradores no governo da Igreja, pelo Cardeal Vigário de Roma e pelos Bispos do mundo inteiro. Confiemos esta prece à Mãe dos sacerdotes, suplicando-lhe que cuide especialmente destes seus filhos e os ajude a identificarem-se todos os dias mais com Jesus Cristo, o Sumo e Eterno sacerdote. Assim seja.

[1] S. Josemaria, Apontamentos de uma reunião familiar, 23-VI-1974.

[2] Bento XVI, Homilia na Missa Crismal, 13-IV-2006.

[3] Ibid.

[4] S. Josemaria, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973.

[5] Ibid.

[6] Ibid.

[7] São João Maria Vianney, cit. em A. Monnin, Spirito del Curato d'Ars. Pensieri, omelie, consigli. Ed. Ares, 2009, p. 77.

[8] Ibid., p. 78.