31. Era normal que tantas mulheres rodeassem Jesus?

A atitude e os ensinamentos de Jesus – que depois seguiu a primeira comunidade cristã como se vê no livro dos Actos dos Apóstolos e nas cartas do Novo Testamento – outorgavam à mulher uma dignidade que contrastava com os costumes da época.

Embora houvesse diferenças entre as classes altas e baixas, o comum é que a mulher não tivesse um lugar na vida pública. O seu âmbito era o lar onde estava submetida ao marido: saía pouco de casa e quando saía fazia-o com o rosto coberto com um véu e sem se deter a falar com os homens. O marido podia dar-lhe o libelo de repúdio e despedi-la. Certamente, tudo isto não se aplicava estritamente às mulheres que, por exemplo, tinham de trabalhar ajudando nas tarefas do campo. Mas ainda assim, não podiam deter-se e estar a sós com um homem. Onde se percebe a diferença mais notável com o homem é, no entanto, no plano religioso: a mulher está submetida às proibições da Lei, mas está livre dos preceitos (ir às peregrinações a Jerusalém, recitar diariamente a Shemá, etc.). Não estava obrigada a estudar a Lei e as escolas reservavam-se para os rapazes. Da mesma forma, na sinagoga as mulheres estavam com os meninos, separadas dos homens por um gradeamento. Não participavam no banquete pascal, nem estavam entre os que pronunciam a benção depois das refeições.

Em contraste com isto, nos evangelhos descobrimos muitos exemplos de uma atitude de aberta Jesus: além das muitas curas de mulheres que realiza, na sua pregação propõe frequentemente exemplos de mulheres como a que varre a casa até encontrar a dracma perdida (Lc 15, 8), a viúva que persevera na oração (Lc 18, 3), ou a viúva pobre mas generosa (Lc 21, 2). Corrigiu a interpretação do divórcio (Lc 16, 18) e admitiu que as mulheres o seguissem. Relativamente ao seguimento de Jesus, ou ao grupo dos discípulos, também a atitude de Jesus foi mais aberta. Jesus tinha seguidores, discípulos sedentários, poderia dizer-se, que viviam nas suas casas, como Lázaro(Jo 11, 1; cf. Lc 10, 38‑39), ou José de Arimateia (Mt 27, 57). Do mesmo modo que estes, se podem considerar seguidoras Marta e Maria (Lc 10, 38-41). De Maria diz-se que “sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra” (Lc 10, 39), como uma maneira de mostrar a atitude do discípulo do Senhor (cf. Lc 8, 15.21).

Também no evangelho se fala da missão itinerante de Jesus e dos seus discípulos. Neste contexto há que entender Lc 8, 1-3 (cf. Mt 27, 55-56; Mc 15, 40-41): “Jesus caminhava pelas cidades e aldeias, pregando e anunciando a boa nova do Reino de Deus; andavam com Ele os doze e algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e de doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios, Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes, Susana, e outras muitas, que os serviam com os seus bens”. Há um grupo de mulheres que acompanham Jesus e os Apóstolos na pregação do Reino e que desempenham um trabalho de diaconia, de serviço.

 

Bibliografia: J. Gnilka, Jesús von Nazareth. Botschaft und Geschichte, Herder, Freiburg 1990 (ed. esp. Jesús de Nazaret, Herder, Barcelona 1993); A. Puig, Jesús. Una biografía, Destino, Barcelona 2005; J. Jeremias, Jerusalén en tiempos de Jesús, Cristiandad, Madrid 2000; J. González Echegaray, Arqueología y evangelios, Verbo Divino, Estella 1994.

Vicente Balaguer