Meditações: quinta-feira da 23ª semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar na quinta-feira da 23ª semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: iluminar os caminhos terrenos; a hora do amor; Deus precede-nos.


NO DISCURSO da planície, São Lucas apresenta um perfil do discípulo de Cristo recolhendo as palavras do Senhor: “A vós que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam. Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica. Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva” (Lc 6, 27-30). Trata-se de uma mensagem exigente. Como cristãos, somos chamados a seguir os passos do Mestre, que “passou fazendo o bem, porque Deus estava com Ele” (At 10, 38). Somos o sal da terra e a luz do mundo (cf. Mt 5, 13-14), enviados para dar testemunho da vida cristã a partir de onde estamos “até aos confins da terra” (At 1, 8), inseridos nas realidades do mundo como o sal e o fermento: não podemos vê-los, mas sentimos a sua presença.

Os primeiros cristãos procuraram colocar em prática estes ensinamentos do Senhor. “Os cristãos não se distinguem dos outros homens – escreveu um deles no século II – nem por sua terra, nem por língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver (...). Vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida social admirável e, sem dúvida, paradoxal”[1].

Hoje, como então, “a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8, 19), o testemunho da nossa vida cristã, ao mesmo tempo simples e admirável. Somos “filhos de Deus, portadores da única chama capaz de iluminar os caminhos terrenos das almas, do único fulgor em que nunca se poderão dar escuridões, penumbras ou sombras. O Senhor serve-se de nós como tochas, para que essa luz ilumine… De nós depende que muitos não permaneçam em trevas, mas andem por caminhos que levam até à vida eterna”[2].


O MUNDO anseia pelo testemunho dos filhos de Deus, porque nele se realiza a aspiração mais íntima de todo o ser humano. Jesus sabe disso, porque “penetrou, de uma maneira singular e que não se pode repetir, no mistério do homem e entrou no seu coração[3]. Por isso, pode afirmar que o que nos pede não é, na realidade, algo extraordinário, pois responde à vocação original do ser humano, manifestada na voz da sua consciência. Assim se compreende que Cristo sintetize todo esse discurso tão exigente numa simples regra de ouro: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles” (Lc 6, 31).

Em última análise, trata-se simplesmente de responder à vocação ao amor. Toda a lei se resume no duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo (cf. Mt 22, 37-40), e o mandamento do Senhor é que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou. Pelo amor, o mundo reconhece-nos como discípulos do Mestre (cf. Jo 13, 34-35), pois foi precisamente isso que marcou a sua passagem pela terra: ele amou-nos até ao extremo de dar a sua vida por cada um de nós.

Para ilustrar as consequências práticas deste ensinamento, Jesus continua o seu discurso: “Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim (...). Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca” (Lc 6, 33-35). Este é o testemunho autêntico dos filhos de Deus que o mundo espera, precisamente hoje, agora: um amor que não conhece barreiras, que se abre a todas as pessoas que nos rodeiam. “Esta é a hora do amor – proclamou Leão XIV na Missa de início do seu pontificado. A caridade de Deus, que nos torna irmãos entre nós, é o coração do Evangelho”[4].


É POSSÍVEL amar como Jesus nos pede? Talvez sintamos frequentemente a dificuldade de amar como Ele: com a sua infinita paciência, com a sua misericórdia sem limites… Logicamente, se nos apoiássemos apenas nas nossas forças, teríamos motivos mais do que suficientes para desanimar. No entanto, é Ele mesmo que nos ajuda: partilha generosamente o seu amor conosco, derramando-o nos nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5, 5). “Ele nos amou primeiro e continua a amar-nos primeiro; por isso, também nós podemos corresponder com amor. Deus não nos impõe um sentimento que não possamos suscitar em nós mesmos. Ele ama-nos e faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desse "antes" de Deus também pode nascer em nós o amor como resposta”[5].

Por isso, quando percebemos que o nosso coração resiste a amar como o Senhor nos pede, podemos viver com a confiança de que Ele é o primeiro a amar-nos: “O seu amor precede-nos sempre, acompanha-nos e permanece junto a nós apesar dos nossos pecados”[6]. É muito libertador viver abandonados no amor de Deus, recebendo o seu amor infinito e dando-o com generosidade. Saber que não temos que nos preocupar em julgar, porque quem julga é o Senhor (cf. 1Cor 4, 4); que temos sempre a possibilidade de perdoar “com a plena liberdade do amor”[7]; que podemos estar sempre alegres e fazer com alegria mesmo aquilo que não gostamos, porque podemos fazer tudo por amor...

Viver assim, além disso, enche-nos de uma esperança segura: “Não julgueis – diz Jesus – e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será colocada no vosso colo; porque com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos” (Lc 6, 37-38). Ou seja, se ao longo da nossa vida foram o amor, a misericórdia e a generosidade que marcaram as nossas relações com os outros, o Senhor nos julgará da mesma maneira. Podemos pedir à Virgem Maria que nos conceda um grande amor e nos ajude a imitar Jesus, para dar ao mundo o testemunho dos filhos de Deus.


[1] Carta a Diogneto, cap. 5-6.

[2] São Josemaria, Forja, n. 1.

[3] São João Paulo II, Redemptor hominis, n. 8.

[4] Leão XIV, Homilia 18/05/2025.

[5] Bento XVI, Deus caritas est, n. 17.

[6] Francisco, Misericordia et Misera, n. 5.

[7] São Josemaria, Via Sacra, X estação.