Meditações: 29º domingo do Tempo Comum (Ano C)

Reflexão para meditar no 29º domingo do Tempo Comum (Ano C). Os temas propostos são: oração perseverante; oração confiada; oração comunitária.


PARA NÓS, muitas vezes é difícil de aceitar a súplica a Deus sem resposta. Acostumados ao imediatismo que a tecnologia nos oferece, a espera torna-se árdua, pois nos parece lógico que todo desejo ou pedido seja satisfeito imediatamente. Sem percebermos, este ritmo acelerado também pode moldar a nossa forma de nos relacionarmos com Deus e levar-nos a esperar d’Ele a mesma prontidão na resposta. No entanto, a vida dos santos revela-nos uma lógica diferente. Eles rezaram durante anos, ou até décadas, por grandes intenções, com a certeza de que a perseverança na oração dá sempre fruto, ainda que esse fruto nem sempre se manifeste imediatamente ou da forma que esperamos. Assim, do coração de São Josemaria brotava muitas vezes a expressão cheia de confiança: “Clama, ne cesses[1]. Com estas palavras recordava que, ainda que a resposta divina possa demorar, a oração insistente sempre abre caminhos. Mais ainda, essa espera pode ser ocasião para fazer crescer em nós o desejo daquilo que pedimos e para nos unirmos mais ao Senhor.

Então, por que é tão difícil aceitar o silêncio de Deus como resposta? Talvez por isso, Jesus conta a parábola do juiz injusto. Nela, o Senhor sublinha um aspecto concreto: “a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir” (Lc 18, 1). Para ilustrar esta questão, apresenta o diálogo insistente entre um juiz poderoso – “não temia a Deus, e não respeitava homem algum” (Lc 18, 2) – e uma viúva indefesa que lhe pedia com simplicidade: “Faze-me justiça contra o meu adversário” (Lc 18, 3). O juiz, cansado da sua insistência, acaba por ceder, não por sentido de justiça, mas para se ver livre dela. Com esta imagem, Jesus mostra que a perseverança na oração é essencial: deste modo manifestamos que o que pedimos não nasce de um capricho passageiro, mas de um desejo firme de recorrer a Ele e não desistir. “Deus ouve o grito de quem o invoca. Até os nossos pedidos hesitantes, que permanecem no fundo do coração, que também temos vergonha de expressar, o Pai ouve-os e quer conceder-nos o Espírito Santo, que anima cada oração e transforma tudo”[2].


UMA VEZ explicada a necessidade da perseverança, o Senhor indica também qual é o fundamento da oração: a fé. A verdadeira constância nasce da confiança em Deus. A nossa insistência não é fruto do egoísmo, mas sim da fé na força divina. É possível, no entanto, que a nossa fragilidade nos leve a acreditar que esse poder é relativo. Jesus percebeu esse sentimento entre as pessoas do seu tempo, e por isso exclamou: “o Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc 18, 8).

Deus, por meio do seu Filho, quis abrir de par em par as portas do paraíso e derramar sobre a humanidade dons imensos. A única chave capaz de fazer descer essa graça é a fé. Assim o expressava São Josemaria: “Ouve-se às vezes dizer que atualmente os milagres são menos frequentes. Não se dará antes o caso de serem menos as almas que vivem vida de fé?”[3]. Esta observação continua atual: o que muitas vezes falta não é o poder divino, mas a confiança.

Por isso, a santidade pode parecer-nos às vezes um caminho impossível. Reconhecemos que existe um abismo entre o que Deus pede e o que nós conseguimos alcançar com o nosso próprio esforço. A vida dos santos, pelo contrário, mostra-nos que o decisivo não é o muito que eles fizeram, mas sim a fé que tiveram na graça divina. Essa foi a experiência de Santa Teresa do Menino Jesus: “Sinto sempre a mesma audaciosa confiança de tornar-me grande Santa, pois não conto com meus méritos, por não ter nenhum, mas espero em Aquele que é a Virtude, a própria Santidade Só Ele é que, cingindo-se aos meus débeis esforços, me elevará a Si próprio, e, cobrindo-me com seus méritos infinitos, fará de mim uma Santa[4].


ALÉM da perseverança e da confiança, a oração cristã tem outro traço característico: é comunitária. “Não obstante a prece do discípulo seja totalmente confidencial, nunca decai no intimismo. No segredo da consciência, o cristão não deixa o mundo fora da porta do seu quarto, mas traz no coração as pessoas e as situações”[5]. Quando os Apóstolos pediram a Jesus que lhes ensinasse a rezar, Ele transmitiu-lhes uma oração que sublinha, entre outros, este aspecto: o Pai-Nosso. Nela, invoca-se Deus como Pai, não para apresentar pedidos individuais, mas compartilhados: venha a nós o vosso Reino, o pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas.

Deste modo, o diálogo com o Senhor vai configurando o nosso coração com o d’Ele. “Não se pode rezar a Deus como ‘Pai’ – observa o Papa Leão XIV – e depois ser duro e insensível para com os outros. Pelo contrário, é importante deixarmo-nos transformar pela sua bondade, pela sua paciência, pela sua misericórdia, para refletir o seu rosto no nosso como num espelho”[6]. Já desde os primeiros séculos, a comunidade cristã compreendeu a força desta dimensão comum da oração. Um Padre da Igreja narra como, depois da proclamação do Evangelho na Missa, “todos juntos rezamos por nós… e por todos os demais, onde quer que estejam, a fim de que sejamos achados justos na nossa vida e nas nossas ações e sejamos fiéis aos mandamentos, para assim alcançarmos a salvação eterna”[7].

Ainda hoje, a liturgia conserva esta mesma consciência. No rito da comunhão, a Igreja pede a Deus a paz e a unidade com uma súplica que resume a confiança de todo o povo de Deus: “Não olheis os nossos pecados, mas a fé que anima a vossa Igreja; dai-lhe, segundo o vosso desejo, a paz e a unidade”. Esta oração, repetida em cada celebração eucarística, manifesta que a força da fé não é apenas individual, mas comunitária. E à frente desta família encontra-se a Virgem Maria, que abriu o caminho para toda a Igreja com o ato de confiança mais fecundo da história: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).


[1] São Josemaria, Em diálogo com o Senhor, n. 86.

[2] Francisco, Audiência, 09/12/2020.

[3] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 190.

[4] Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, Manuscrito A, 32f: Obras Completas. Textos e últimas palavras, Edições Loyola, 1997, p. 119

[5] Francisco, Audiência, 13/02/2019.

[6] Leão XIV, Ângelus, 27/07/2025.

[7] São Justino, Apologia I, 65-67.