Meditações: 18º Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Reflexão para meditar no domingo da 18ª semana do tempo comum. Os temas propostos são: a ilusão do vício; vaidade e discrição; avareza e desprendimento.

- A ilusão do vício

- Vaidade e discrição

- Avareza e desprendimento


NA SEGUNDA leitura de hoje, São Paulo anima os Colossenses a aspirarem aos bens do alto. E, para isso, exorta-os a arrancar o que há de mundano em suas vidas: “imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria” (Col 3,5). De fato, uma vida arrastada pelo vício dificulta que possamos contemplar Deus face a face no céu. Mas não só isso: também impede que saboreemos a felicidade já nesta terra. Embora às vezes o vício possa se apresentar como algo atraente, porque dá a impressão de oferecer uma alegria segura e intensa, a verdade é que é como uma miragem: parece real, mas não é. Geralmente, se aproveita de uma necessidade da natureza humana – amar e ser amado, bem-estar, paz... – e nos faz acreditar que uma boa maneira de a satisfazer é por meio do pecado. No entanto, temos a experiência de que esse caminho não leva a lugar nenhum: embora talvez acalme por um tempo, acaba exigindo maior repetição e intensidade, sem oferecer uma paz verdadeira. Provoca, portanto, um estado de insatisfação permanente e até mesmo uma certa incapacidade de desfrutar dos prazeres mais simples: só se encontra algum consolo nos atos do vício.

“O coração do homem pode ceder às más paixões, pode dar ouvidos a tentações nocivas disfarçadas sob vestes convincentes, mas também pode opor-se a tudo isto. Por mais difícil que seja, o ser humano foi feito para o bem, que o realiza verdadeiramente, e pode também praticar esta arte, fazendo com que certas disposições se tornem permanentes nele”[1]. Essas disposições são as virtudes, que nos permitem ter o hábito de escolher o bem não apenas de vez em quando, mas de forma estável. Uma pessoa que vive as virtudes está mais capacitada para governar suas paixões e assim agir com maior liberdade: não quer preencher seu coração de qualquer maneira, mas de uma forma mais autêntica e profunda, coerente com sua identidade de cristão. “A verdadeira virtude – escreve São Josemaria – não é triste nem antipática, mas amavelmente alegre”[2]. Certamente, no caminho da virtude não faltarão a luta e o esforço para renunciar à atração do vício. Mas o decisivo não é abraçar o sacrifício pelo sacrifício, mas saber que, dessa forma, permitimos que a graça nos purifique, construindo assim uma liberdade interior que nos permitirá desfrutar da vida junto ao Senhor. “o combate espiritual leva-nos a olhar mais de perto os vícios que nos agrilhoam e a caminhar, com a graça de Deus, para as virtudes que podem florescer em nós, trazendo a primavera do Espírito à nossa vida”[3].


A VAIDADE leva a construir a própria felicidade com base no que os outros pensam de nós. Em hebraico, para se referir a esse vício, usa-se um termo que significa “vapor” ou “névoa”. Com isso em mente, podemos compreender com maior profundidade a primeira leitura deste domingo, que retoma o início do Eclesiastes: “Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, tudo é vaidade!” (Ecl. 1,1-2). O autor sagrado pretende mostrar que todos os desejos do vaidoso – grandeza, reconhecimento, sucesso – são como o vapor: apenas proporcionam uma satisfação efêmera, superficial, que desaparece à primeira mudança; vive-se por um instante de vapor que, assim que passa, não deixa rastro. “O Eclesiastes explica a constituição particular das coisas e nos manifesta e torna presente a vaidade de tudo o que há no mundo, para que entendamos que as coisas que são transitórias não são dignas de serem desejadas e para que compreendamos que não devemos dirigir nossa atenção para coisas fúteis ou sem importância”[4].

Em certo sentido, a vaidade leva a instrumentalizar as relações: consideramos os outros como dispensadores de aprovação. Para o vaidoso, “a sua pessoa, as suas conquistas, os seus sucessos devem ser exibidos a todos: ele é um perene mendigo perpétuo de atenção”[5]; “considera-se a si mesmo como o sol e o centro daqueles que estão ao seu redor. Tudo deve girar em torno dele”[6]. Jesus, durante sua vida, alertou para o risco de realizar boas obras apenas para ser visto pelos outros, pois assim se prefere o reconhecimento humano à recompensa divina (cf. Mt 6,1); ao mesmo tempo, elogiou gestos simples e discretos, como o da pobre viúva que deu uma pequena oferta sem que ninguém percebesse (cf. Mc 12,41-43). Se olharmos ao nosso redor, certamente reconheceremos também muitas pessoas que se sacrificam silenciosamente por nós. A vida cristã é composta por tantos gestos – sorrir quando estamos cansados, evitar comentários que possam incomodar, compartilhar nosso tempo com quem não nos damos muito bem, um trabalho oculto do qual muitas pessoas se beneficiaram – que exigem um esforço que provavelmente passará despercebido pelos outros, mas que Deus valoriza: “Teu Pai, que vê no oculto, te recompensará” (Mt 6,4). E essa recompensa será uma felicidade mais estável e autêntica, que não depende da opinião mutável dos outros, mas da certeza de estar agradando a Deus.


NO EVANGELHO de hoje, Jesus fala de um homem rico que tem uma grande colheita. Diante de tanta abundância, ele pensa que, a partir de agora, sua existência consistirá em relaxar, comer, beber e se divertir. “Mas Deus lhe disse: 'Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?' Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”. Por isso, Cristo adverte: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,13-21). De fato, o vício da avareza leva a pensar que a felicidade é questão de somar experiências ou posses; por outro lado, tudo o que implica uma renúncia é percebido como um drama, pois não se compreende que se possa ser feliz sem um determinado bem ou privando-se de certas realidades. Foi isso que aconteceu com o jovem rico: ele não acreditava que poderia ser feliz se vendesse suas propriedades. Nessa passagem, o evangelista ressalta que ele foi embora triste: essa é a consequência de confiar a própria felicidade às riquezas.

Por outro lado, no Evangelho também vemos muitos outros casos de pessoas que, diante do chamado do Senhor, não hesitaram em escolhê-lo acima de tudo, abandonando o que tinham. E não foi uma renúncia abstrata, geral, mas concreta: Pedro, Tiago e João deixaram os barcos na margem (cf Lc 5,11), e Mateus renunciou ao seu lucrativo trabalho como cobrador de impostos (cf Mt 9,9). Embora, num primeiro momento, esses gestos possam ter custado um certo sacrifício para os apóstolos, na realidade alcançaram um bem maior, porque, em vez de acumular bens que mais cedo ou mais tarde se esgotam, optaram por encher o seu coração com algo que não decepciona nem desaparece: o amor a Cristo. Por isso, São Josemaria tinha a certeza de que quem decide viver para o Senhor, na verdade, não perde nada[7]. Isso, evidentemente, não significa ignorar completamente as realidades materiais. “Logicamente, tens de empregar meios terrenos. Mas põe um empenho muito grande em estar desprendido de tudo o que é terreno, para usá-lo pensando sempre no serviço a Deus e aos homens”[8]. Podemos pedir à Virgem Maria que nos ajude a ter um coração livre, que perceba como uma conquista tudo aquilo que nos leva a estar mais perto de seu Filho.


[1] Francisco, Audiência, 13/03/2024.

[2] São Josemaria, Caminho, n. 657.

[3] Francisco, Audiência, 3/01/2024.

[4] São Basílio, In principium Proverbiorum 1.

[5] Francisco, Audiência, 28/02/2024.

[6] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 101.

[7] Cfr. São Josemaria, Sulco, n. 21.

[8] São Josemaria, Forja, n. 728.