– A sua missão, junto de Maria e do Messias
– Com Maria e Jesus, as dificuldades são superadas
“TU, JÁ NESTA VIDA, abraças a Deus”. Assim reza o hino “Te Ioseph”, que há séculos coloca em nossos lábios o que sentimos ao considerarmos a missão do Santo Patriarca[1]. Podemos pedir ao esposo de Maria que nos ajude a apreciar o Menino Jesus e o carinho que Ele nos oferece.
No entanto, a alegria de São José aqui na Terra não esteve isenta de altos e baixos: “antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,18). Ele imediatamente reagiu com a lealdade de um homem fiel e cheio de amor a Deus. Decidiu repudiá-la em segredo, para não impor a ela nenhum peso além da falta de sua companhia. Tudo nesta família está de acordo com a vontade do Senhor. Embora não tenham sido muitas as horas de angústia, São José sofreu. Ele não entendia o que estava acontecendo, mas nunca duvidou de sua esposa nem de Deus. Ele estava “cheio de um santo temor de viver ao lado de tamanha santidade”[2]. Um anjo foi enviado para convencê-lo e mostrar-lhe sua missão, em meio a uma situação que ele contemplava com espanto: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,20-21).
É fácil imaginar a alegria de José com este duplo anúncio. O Messias já estava na terra e ele iria protegê-lo junto com a sua Mãe. À alegria de recuperar Maria uniu-se, naquele instante, a imensa alegria de saber que o momento havia chegado. Para um descendente de Davi, essa notícia era a mais esperada. O Salvador já estava entre eles. Ele nunca tinha sonhado com uma sorte tão grande e imerecida. Começou, então, a desfrutar do que tinha, embora ainda não conseguisse entender como aquilo se tornaria realidade.
ANTES de receber o anúncio do anjo, o santo Patriarca “estava seguindo um bom projeto de vida, mas Deus reservou para ele outro plano, uma missão maior. José foi um homem que sempre deixou espaço para ouvir a voz de Deus, profundamente sensível ao seu amor secreto, um homem atento às mensagens que vinham do fundo do seu coração e do alto. (...). E assim, José chegou a ser ainda mais livre e magnânimo. Aceitando-se de acordo com o desígnio do Senhor, José encontra plenamente a si mesmo, além de si mesmo. Esta liberdade de renunciar ao que é seu, a posse da própria existência, e esta plena disponibilidade interior à vontade de Deus, desafiam-nos e mostram-nos o caminho”[3].
É muito provável que José tenha corrido para contar à esposa o que lhe foi revelado. A palavra "acolher" se repete várias vezes no Evangelho de hoje. É um verbo que define muito bem a relação que queremos ter com Deus. Estamos entusiasmados por ser um refúgio, abrigar este mistério de amor em nossos corações. Acolher, referindo-se a uma pessoa, significa admiti-la em nossa casa ou companhia. É como se Deus também pedisse permissão a José para entrar no mundo. Dessa forma, percebemos que Jesus não se impõe, mas chega pedindo um espaço em nossos corações. Ele nos pede que lhe demos abrigo e que lhe ofereçamos nossa companhia.
É surpreendente que Deus tenha pedido a São José que acolhesse as duas vidas mais preciosas que já existiram na terra. Como homem agradecido, o esposo de Maria aceitou o dom que lhe era oferecido e Deus demonstrou que nunca se deixa superar em generosidade. O Senhor também nos oferece permanentemente os seus dons, grandes e pequenos, projetos nos quais podemos abrir um espaço para Jesus e sua mãe. São Josemaria se entusiasmava com a simplicidade do Santo Patriarca: “São José é maravilhoso! É o santo da humildade rendida ..., do sorriso permanente e do encolher de ombros”[4].
TALVEZ São José tenha pensado muitas vezes na grandeza de ter Jesus e Maria sob o seu teto e tenha se sentido abençoado. Provavelmente, Maria e Jesus faziam com que ele sentisse, a cada momento, a importância de sua missão e de sua vida. Eles devem tê-lo convencido facilmente de que ele era o melhor pai do mundo.
Apesar disso, deve ter sido particularmente difícil o dia em que Jesus ficou no Templo sem avisar, deixando clara a sua missão no mundo. “Este episódio evangélico revela a vocação mais autêntica e profunda da família: acompanhar cada um dos seus componentes no caminho da descoberta de Deus e do projeto que lhe preparou”[5].
Ao encontrarem o Menino Jesus após três dias, José deve ter se consolado ao perceber que Maria também não o entendia. A companhia de Maria ao seu lado era a chave, era a solução para todas as suas dúvidas e incertezas. Com Maria, tudo ficou mais fácil para ele.
O que mais um homem poderia pedir na terra? Receber um carinho tão especial de uma criatura como ela e tê-la sempre ao seu lado para qualquer tarefa, difícil ou simples, era como estar no céu. Que diferença fazia, com essa companhia, caminhar pelo deserto fugindo para o Egito ou trabalhar um dia e outro na oficina de Nazaré? Que diferença fazia se as coisas saíssem como ele esperava ou não? O sorriso da sua esposa tornava tudo muito simples. Peçamos a Deus que possamos acolher o seu amor como Maria e José o fizeram. “Se as tuas mãos te parecem vazias, se vês o teu coração pobre em amor, esta noite é para ti. A graça de Deus manifestou-se para resplandecer na tua vida. Acolhe-a e brilhará em ti a luz do Natal”[6].
[1] Tu vivens, Superis par, frueris Deo. O hino é usado nas Vésperas da Solenidade de São José e em memória de São José Operário.
[2] São Tomás de Aquino, Comentário sobre as sentenças de Pedro Lombardo , lib. 4, d. 30, q. 2, a. 2, ad 5.
[3] Francisco, Ângelus, 22-XII-2013.
[4] A. Vázquez de Prada, Josemaria Escrivá, tomo III, Quadrante, São Paulo, p. 663.
[5] Bento XVI, Ângelus, 31-XII-2006.
[6] Francisco, Homilia, 24-XII-2019.

