Meditações: 19º Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Reflexão para meditar no domingo da 19ª semana do tempo comum. Os temas propostos são: Uma vigília de espera; Sentinela, alerta!; Cuidar do tesouro.


AS LEITURAS deste domingo nos convidam a estar sempre vigilantes, esperando a chegada do Senhor. Na carta aos Hebreus, o autor sagrado canta a grandeza da fé dos antigos patriarcas: “Foi pela fé que Abraão obedeceu à ordem de partir para uma terra que devia receber como herança, e partiu, sem saber para onde ia (...). Pois esperava a cidade alicerçada que tem Deus mesmo por arquiteto e construtor” (Hb 11,8.10). Na noite da primeira Páscoa no Egito – assim nos lembra o livro da Sabedoria – quando os israelitas foram libertados da escravidão e chamados a ser o povo de Deus, Javé pediu-lhes que esperassem a passagem do Senhor com bom ânimo, oferecendo sacrifícios, despertos e em pé (cf Sb 18,6-9). Depois, ano após ano, o povo celebrou a Páscoa como memória da salvação, com essa mesma atitude de espera e atenção: Deus passa perto de nós mais uma vez.

Pelo Batismo, fazemos parte do novo povo de Deus que é a Igreja e esperamos herdar um dia a terra prometida do céu. Agora, em nossa vida cotidiana, o Senhor nos procura e vem também ao nosso encontro. Jesus deseja para seus discípulos essa atitude de vigília: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade eu vos digo: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá” (Lc 12,35-37).

A fé nos impulsiona a viver assim, vigilantes e preparados. Com a ajuda da graça, essa atitude de não baixar a guarda e permanecer atentos à passagem do Senhor está ao nosso alcance. “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera” (Hb 11,1), com ela quem crê adquire uma certeza firme das promessas divinas e uma posse antecipada dos bens celestiais. Essa fé viva – na qual podemos crescer – leva-nos à convicção de que o que não se vê se cumprirá quando Deus dispuser. Assim cresce na alma o desejo e a confiança em Deus: o coração aprende a esperar sem se cansar, enraizado no presente e aberto ao que está por vir. “Até nos momentos obscuros da vida – comenta Leão XIV –, quando o tempo passa sem nos dar as respostas que procuramos, peçamos ao Senhor que volte a sair e nos alcance onde estamos à sua espera”[1].


NOS TEMPOS antigos, as cidades amuralhadas tinham na torre um vigia que, à noite, permanecia no ponto mais alto, protegendo seu povo e olhando para o leste, esperando os sinais do dia. Quem estava na escuridão da cidade, de vez em quando gritava: “Custos, quid de nocte?”, “Sentinela, alerta!” (Is 21,11). O vigia, que prestava muita atenção a todos os sinais, exclamava: “Eu vejo! Em meu posto de guarda, Senhor, eu me mantenho o dia inteiro; em meu observatório permaneço de pé todas as noites” (Is 21,8).

Partindo dessa imagem, São Josemaria encorajava os cristãos a cultivarem essa mesma atitude de vigilância: “Sentinela, alerta! (…) para te entregares mais, para viveres com mais amorosa vigilância cada detalhe, para fazeres um pouco mais de oração e de mortificação. Olha que a Santa Igreja é como um grande exército em ordem de batalha. E tu, dentro desse exército, defendes uma ‘frente’, onde há ataques, lutas e contra-ataques. Compreendes? Essa disposição, ao aproximar-te mais de Deus, te empurrará a converter as tuas jornadas, uma após outra, em dias de guarda”[2].

Pela fé, sabemos que Cristo passa ao nosso lado e nos chama. A cada momento, Ele espera de nós uma resposta generosa. Ao descobrir a presença do Senhor nas circunstâncias cotidianas, aprendemos “a viver cada instante com vibração da eternidade”[3]. Com essa atitude interior, tudo o que fazemos, pequeno ou grande, importante ou não, pode ser um caminho que nos leva a Deus. Nada é então indiferente. Como repetia o fundador do Opus Dei: “Fazei tudo por Amor. Assim não há coisas pequenas: tudo é grande. A perseverança nas pequenas coisas, por Amor, é heroísmo”[4].


“VÓS TAMBÉM FICAI PREPARADOS!”. Dizia Jesus aos seus discípulos. “Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes” (Lc 12,40). À primeira vista, poderia parecer que essa atitude de vigilância contém um certo medo de Deus ou temor diante dos próprios fracassos. No entanto, é exatamente o contrário. No mesmo discurso, Jesus esclarece o sentido de suas palavras: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino” (Lc 12,32). Vigiar não é fruto do abatimento nem motivo para inquietação. Nossa esperança se baseia no fato de sabermos que somos herdeiros do reino de Deus, um reino que já é também nosso. Todos os esforços pessoais são fruto de um amor que se deseja e se procura incansavelmente. “A nossa passagem pela terra, que deve ser uma passagem para o divino” – escrevia o bem-aventurado Álvaro – “torna-se um tempo de luta sem tréguas, um tempo de luta santa, corredentora, confiada à linhagem de Deus, às filhas e aos filhos de Santa Maria (...). Por vocação divina, estamos seriamente comprometidos nesta belíssima guerra de amor e paz”[5].

“Estejamos à espera da sua chegada; não nos encontre adormecidos”[6], pregava Santo Agostinho. A nossa atenção, a luta contra o sono que nos pode paralisar, centra-se precisamente em cuidar desses dons divinos que recebemos na Igreja, porque possuímos um tesouro no céu que não acaba; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. (Lc 12,33). Vigiar “é lutar para ser bons cristãos”[7], cuidando nosso tesouro com todas as nossas forças, como Jesus nos pede: “pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6,21). O esforço para proteger esse tesouro que nos foi confiado pode, às vezes, implicar uma certa tensão interior, mas é uma luta impregnada de otimismo e esperança, somos conscientes de que não se trata de uma guerra fria e incômoda, mas de uma vigília de amor, que nos leva a trabalhar com empenho para santificar nosso mundo, cuidando de nossos irmãos e amigos. Assim, o cristão responde alegremente “à voz divina que o chama (…): sentinela, alerta!”[8].

Se estivermos conscientes de que recebemos muito, vigiaremos com sentido de responsabilidade, porque sabemos que “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” (Lc 12,48). Nessa luta, contamos com a ajuda de Nossa Senhora. “Ela escuta-nos sempre, está sempre perto, e sendo Mãe do Filho, participa no poder do Filho, na sua bondade. Podemos confiar sempre toda a nossa vida a esta Mãe, que não está longe de nós”[9].


[1] Leão XIV, Audiência, 4/06/2025.

[2]São Josemaria, Sulco, n. 960.

[3] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 239,

[4]São Josemaria, Caminho, n. 813.

[5]Bem-aventurado Álvaro, Cartas de família (II), n. 249.

[6] Santo Agostinho,Sermão 361, 19.

[7]São Josemaria, Carta 28/03/1973, n. 9.

[8]São Josemaria, Carta 24, n. 16.

[9]Bento XVI, Homilia, 15/08/2005.