26 de junho: São Josemaria

Festa de São Josemaria. “Subindo para uma das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem”. O Senhor veio ao nosso barco para entrar numa relação pessoal com cada um de nós. Depende de nós que o resultado seja uma nova história de amor, como aconteceu na vida de São Josemaria.

Evangelho (Lc 5, 1-11)

Certo dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré. A multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. Subindo para uma das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões.

Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avança para águas mais profundas e lança as redes para a pesca”.

Simão respondeu: “Mestre, tentamos a noite inteira e não pescamos nada. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”.

Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram as duas barcas, a ponto de quase se afundarem. Ao ver isto, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-Te de mim, porque sou um pecador!”

É que o espanto tinha tomado conta de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados.

Mas Jesus disse a Simão: “Não tenhas receio! De hoje em diante serás pescador de homens”.

Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram Jesus.


Comentário

No lago de Genesaré, duas dimensões convergiram. De um lado, estava Deus. Do outro, alguns pescadores. O primeiro tinha um plano eterno. Os segundos, o plano de todos os dias.

E Deus decidiu então que o plano diário se deveria tornar um plano eterno. Era o primeiro capítulo de uma história de amor.

Por isso, entrou no barco. No princípio, eles pensaram que estavam fazendo-Lhe um favor. Pouco a pouco, foram percebendo de que era Ele que ia tomando o governo da barca. Depois compreenderam que estavam testemunhando algo de extraordinário: uma pesca milagrosa. No fim, quando voltaram à margem, tinham entendido que nada mais seria, nunca mais, igual a antes. Era como se estivessem abrindo os olhos pela primeira vez. E então deixaram tudo. Para ganhar tudo. Para ganhar a Ele.

O que aconteceu em Genesaré repetiu-se inúmeras vezes, tantas quanto o número de seres humanos que povoam a terra. Muitos, infelizmente, não o perceberam. E então a sua vida se desenvolveu, sempre e só, numa única dimensão.

Mas felizmente, muitos outros o descobriram. Antes de Genesaré, Deus tinha ido a Nazaré para contar a Maria o Seu plano eterno. Séculos mais tarde, foi a Milão para agitar Agostinho. A Sena, avisar Catarina. A Pamplona, sacudir Inácio. Ao Uganda, chamar Carlos. Todos disseram que sim e, como aqueles primeiros pescadores, mudaram o curso da História.

“Parece que vos escolheram um a um..., dizia alguém. - E assim é!” (Sulco 220).

Séculos mais tarde, decidiu também ir a Logronho, despertar, com umas pegadas na neve, um rapaz nascido em Barbastro, chamado Josemaria. O procedimento foi o mesmo, o de sempre: subir à barca e, se a resposta for positiva, vai-se tornando, pouco a pouco, amo e Senhor. A conclusão foi a mesma: o rapaz compreendeu que já nada voltaria a ser como antes. Que o Amor é jogar a própria vida numa só cartada. E deixando tudo, seguiu-O.

Como já dissemos, Deus tinha decidido que o plano de todos os dias deveria se tornar um plano eterno. A vida corrente de homens e mulheres ia ser o lugar do seu encontro permanente com o Criador.

No entanto, à força de não viverem assim, muitos tinham esquecido isso. Assim, a missão deste novo pescador de homens foi precisamente essa: gritar ao mundo, com palavras, mas sobretudo com a vida, que cada instante tem valor de eternidade. Que Cristo pisou esta Terra e a santificou. Que Jesus trabalhou, que Jesus Ressuscitado cozinhou o peixe (cf. Jo 21,9), e, portanto, que toda a atividade humana pode ser divina.

A festa de São Josemaria é um motivo de ação de graças a Deus, porque nos recorda com particular dinamismo esse desejo que o Senhor tem de unir a Sua vida à nossa, esse anseio de sempre de que escrevamos a história da nossa vida a quatro mãos, permitindo que Ele seja também seu autor e protagonista.

“Se corresponderes à chamada que o Senhor te fez, a tua vida – a tua pobre vida! – deixará na história da humanidade um sulco profundo e largo, luminoso e fecundo, eterno e divino” (Forja, 59).

A vida de Josemaria Escrivá pode ser um estímulo maravilhoso para cada cristão recordar que a sua existência, independentemente de como e onde se desenvolve, pode receber a luz de Cristo e refletir também essa luz para os outros. Não há desculpas que valham: podemos dizer que não ao convite, mas já não podemos continuar a fingir que estamos surdos, que ninguém nos avisou. “Eu também não pensava que Deus me apanharia como o fez. Mas o Senhor deixa-me que te repita não nos pede licença para nos ‘complicar a vida’. Mete-se e... pronto!” (Forja 902).

Todos nós, sem exceção, estamos chamados a ser santos. Essa é a vontade de Deus, e esse é o único caminho que conduz à felicidade plena.

Cristo subiu para a sua barca, para a minha. Depende de nós que o resultado seja uma nova história de amor. Como a de Josemaria e a de todos os santos que existiram antes dele.

Luis Miguel Bravo