Comentário do Evangelho: entrada em Jerusalém

Domingo de Ramos (Ano A) e comentário do evangelho da Missa.

Foto: Toni Cuenca

Evangelho (Mt 21, 1-11)

Jesus e os discípulos aproximaram-se de Jerusalém e chegaram a Betfagé, no Monte das Oliveiras. Então Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: Ide até o povoado ali na frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada e, com ela, um jumentinho. Desamarrai-os e trazei-os a mim! E se alguém vos disser alguma coisa, direis: ‘O Senhor precisa deles, mas logo os mandará de volta’.

Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo profeta:

Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta.

Então os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes havia mandado.

Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram seus mantos em cima, e Jesus montou.

A numerosa multidão estendeu seus mantos no caminho, enquanto outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam no caminho.

As multidões na frente e atrás dele clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!

Quando Jesus entrou em Jerusalém, a cidade inteira ficou alvoroçada, e diziam: Quem é este?

E as multidões respondiam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia.


Comentário

Nesta cena, cumpre-se o que foi escrito pelo profeta Zacarias: “Dança de alegria, filha de Sião, dá vivas, filha de Jerusalém, pois agora o teu rei está chegando, justo e vitorioso, montado num jumento, num burrico, filhote de jumenta” (Zc 9,9). Ele é um rei de paz revestido de simplicidade.

Esta maravilhosa passagem do Evangelho fala com delicadeza sobre a humildade de Jesus, uma virtude que é inseparável do reconhecimento aberto da verdade. Ele não chega montado em um cavalo brioso, mas em um burrinho modesto e tranquilo. Mesmo assim, ele é Rei! E o seu domínio se estende até os confins da terra (cf. Zc 9, 10). O que nas palavras do profeta apenas se vislumbrava como algo misterioso, é plenamente cumprido em Jesus. Jesus é rei, e por isso entra assim em Jerusalém, mas não apoia a violência, não proclama uma insurreição contra os exércitos romanos. A sua autoridade brota da simplicidade, da paz de Deus, a única fonte do poder salvador. São Josemaria, em uma homilia sobre esta passagem, ressalta que “quando se avizinha o momento da sua Paixão, e quer mostrar de um modo gráfico a sua realeza, Jesus entra triunfalmente em Jerusalém – montado num burrico!”[1]

O Bem-aventurado Álvaro del Portillo lembrava que São Josemaria falou-nos muitas vezes daquele pobre jumento, instrumento do triunfo de Jesus, no qual via retratados todos os cristãos que, por meio de um trabalho profissional bem feito, realizado diante de Deus, procuram tornar Cristo presente entre os seus companheiros e amigos, trazendo-o na sua vida e nas suas obras pelos povoados e cidades, para que só Deus seja glorificado[2]. E fazia notar que “para que o burrinho pudesse levar o Senhor (...) uma alma de apóstolo teve de ir desamarrá-lo da estrebaria. Assim nós devemos ir até essas almas que nos rodeiam, que estão esperando uma mão de apóstolo (...) que os desamarre do presépio das coisas mundanas, para que sejam o trono do Senhor”[3].

Mais tarde, dom Álvaro observa que “o Evangelho não nos diz o nome daqueles dois discípulos a quem Jesus pediu que desamarrassem o burrico, mas menciona que cumpriram com exatidão o mandato do Senhor (...). A docilidade daqueles homens de ater-se exatamente ao que lhes fora encarregado foi um requisito prévio à entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, prelúdio, por sua vez, do triunfo definitivo sobre o pecado que haveria de obter poucos dias depois, no altar da Cruz”[4].

A numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho (v. 8) como um gesto de entronização, típico da dinastia davídica (cf. 2 R 9,13). Eles também o recebiam com ramos de árvores, enquanto o aclamavam com algumas palavras do Salmo 118 que o proclamavam como Messias: Bendito o que vem em nome do Senhor! (Sl 118,26), ao qual acrescentaram um grito: Hosana, que significa: Salve-nos! Ajude-nos! A aclamação do povo soa como louvor jubiloso e uma explosão de esperança na iminente instauração do reino de Davi e, com isso, na tão esperada redenção de Israel.

O Catecismo da Igreja Católica sintetiza assim o que hoje lemos no Evangelho: “No tempo estabelecido, Jesus decide subir a Jerusalém para sofrer a sua paixão, morrer e ressuscitar. Como Rei Messias que manifesta a vinda do reino, Ele entra na sua cidade montado num jumento. É acolhido pelos pequenos, cuja aclamação é retomada no Sanctus eucarístico: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana (salva-nos)’ (Mt 21,9). A liturgia da Igreja dá início à Semana Santa com a celebração dessa entrada em Jerusalém”[5].


[1] São Josemaria, Amigos de Deus, nº 103.

[2] Bem-aventurado Álvaro del Portillo, Carta 1ºde abril de 1992.

[3] São Josemaria, Anotações de uma conversa, 30/03/1947 (AGP, biblioteca, P01, IX-1982, p. 56) citado em Ibidem.

[4] Bem-aventurado Álvaro del Portillo, Carta 1ºde abril de 1992.

[5] Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, nº 111.