“Senhor, não sei rezar!”

Se de verdade desejas ser alma penitente - penitente e alegre -, deves defender, acima de tudo, os teus tempos diários de oração - de oração íntima, generosa, prolongada -, e hás de procurar que esses tempos não sejam quando calhar, mas a hora certa, sempre que te seja possível. Não cedas nestes detalhes. Sê escravo deste culto cotidiano a Deus, e eu te asseguro que te sentirás constantemente alegre. (Sulco, 994)

Quando vejo de que modo alguns formulam a vida de piedade, a relação de um cristão com o seu Senhor, e me apresentam essa imagem desagradável, teórica, formalista, infestada de cantilenas sem alma, que mais favorecem o anonimato que a conversa pessoal, de tu a Tu, com o nosso Pai-Deus - a autêntica oração vocal jamais significa anonimato -, lembro-me daquele conselho do Senhor:Nas vossas orações, não queirais usar muitas palavras, como os pagãos, pois julgam que, pelo seu muito falar, serão ouvidos. Não queirais, portanto, parecer-vos com eles, porque vosso Pai sabe de que coisas tendes necessidade, antes que vós lho peçais. E comenta um Padre da Igreja:Penso que Cristo nos manda que evitemos as longas orações; porém, longas não quanto ao tempo, mas pela multidão interminável de palavras. O próprio Senhor nos apresentou o exemplo da viúva que, à força de súplicas, venceu a renitência do juiz iníquo; e aquele outro do inoportuno que chegou a altas horas da noite e, mais pela sua teimosia do que pela amizade, conseguiu que o amigo se levantasse da cama (cfr. Lc XI, 5-8; XVIII, 1-8). Com esses dois exemplos, manda-nos que peçamos constantemente; não, porém, compondo orações intermináveis, mas contando-lhe com simplicidade as nossas necessidades.

De qualquer maneira, se ao iniciardes a vossa meditação não conseguis concentrar a atenção para conversar com Deus, se vos sentis secos e a cabeça parece não ser capaz de expressar uma só ideia, ou os vossos afetos permanecem insensíveis, aconselho-vos o que sempre procurei praticar nessas circunstâncias: colocai-vos na presença do vosso Pai e manifestai-lhe ao menos isto: “Senhor, não sei rezar, não me ocorre nada para te contar!...” E estai certos de que nesse mesmo instante começastes a fazer oração. (Amigos de Deus, 145)

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