Universidades: procura incansável pela verdade

Em um encontro com professores de universidades européias, o Papa mostrou seu desejo de que "a cooperação entre as diversas comunidades acadêmicas permitirá às universidades católicas testemunhar a fecundidade histórica do encontro entre razão e fé".

O Papa Bento XVI acolheu em audiência no dia 23 de junho, na Sala Paulo VI do Vaticano, dois mil participantes do primeiro encontro dos reitores e professores das Universidades Européias. O encontro, promovido pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa, ocorreu por ocasião do quinquagésimo aniversário da assinatura do Tratado de Roma que deu origem, em 1957, ao embrião do que é, hoje, a união européia. 

"O tema do vosso encontro Um Novo Humanismo para Europa. O Papel das Universidades convida-nos a uma rigorosa avaliação da cultura contemporânea no continente", que "atualmente, está vivendo certa instabilidade social e uma desconfiança diante dos valores tradicionais, contudo a sua rica história e as suas instituições acadêmicas podem dar uma grande contribuição para modelar um futuro de esperança".

"Longe de ser o fruto de um desejo superficial de inovação - prosseguiu o Papa - a busca de um novo humanismo deve levar seriamente em consideração o fato de que (...) a Europa de hoje vive um maciço deslocamento cultural, no qual homens e mulheres têm uma crescente consciência de serem chamados a empenharem-se ativamente a modelar sua própria história". 

Neste sentido, o Santo Padre recordou que "historicamente, foi na Europa que o humanismo se desenvolveu, graças a um fecundo intercâmbio entre as diversas culturas de seus povos e a fé cristã. A Europa de hoje precisa preservar e assumir de novo a sua autêntica tradição se quiser permanecer fiel à sua vocação de berço do humanismo".

O atual deslocamento cultural, explicou Bento XVI, é considerado comumente como "um desafio" à cultura da universidade e ao próprio cristianismo, sobretudo como "horizonte" em relação ao qual podem e devem ser encontradas soluções criativas". 

Dentre os aspectos fundamentais ligados a esta questão de fundo, o Papa citou expressamente três: a crise da modernidade; a compreensão da racionalidade e a contribuição que o cristianismo pode dar ao humanismo do futuro.

O primeiro aspecto é “a necessidade de um estudo abrangente: da crise da modernidade” e dos problemas surgidos por um "humanismo” que pretende construir um “regnum hominis” desligado do seu alicerce necessariamente ontológico (...). “O antropocentrismo, que caracteriza a modernidade, nunca pode se separar do reconhecimento da verdade plena sobre o homem que inclui sua vocação transcendente”.

O segundo aspecto é "a ampliação do nosso conceito de racionalidade, que deve estender-se para explorar e abraçar aqueles aspectos da realidade que vão além do puramente empírico". Neste sentido, o Papa refletiu sobre a relação entre razão e fé. Afirmou que o aumento das universidades européias foi promovido com base na convicção de que fé e razão podem cooperar “na busca da verdade. Cada uma respeitando a natureza e a legítima autonomia da outra, todavia funcionando juntas, de modo harmonioso e criativo, a serviço da pessoa humana na verdade e no amor". 

Em terceiro e último lugar, o Papa refletiu sobre "a contribuição que o Cristianismo pode dar ao Humanismo do futuro”. A chamada “questão do homem”, e por consequência da modernidade, desafia a Igreja a conceber modos eficazes de proclamar à cultura atual, "o realismo" de sua fé na obra de salvação de Cristo. O Cristianismo não deve ser relegado ao mundo dos mitos e das emoções, mas deve ser respeitado, para que seu anúncio ilumine a verdade acerca do homem, de modo a transformar, espiritualmente, os homens e as mulheres, e permitir-lhes realizar a própria vocação na história”.

"Espero – concluiu o Papa – que as universidades sejam cada vez mais comunidades empenhadas numa incansável procura da verdade, "laboratórios de cultura" onde os professores e estudantes colaboram na procura de respostas importantes para a sociedade, recorrendo a métodos interdisciplinares e contando com a colaboração dos teólogos".

"Seria muito fácil na Europa, ao considerar a presença de tantas instituições católicas de prestígio e de faculdades de teologia. Estou convencido de que uma mais estreita colaboração (...) e novas formas de amizade associativa entre as diferentes comunidades acadêmicas permitirá às Universidades católicas testemunhar a fecundidade histórica do encontro entre fé e razão".