Uma amizade inesperada no Canadá

Louise é reservada e introvertida, Marie adora a vida social e não tem fé em Deus, como Marie. Apesar disso, as duas colegas de trabalho chegaram a ser grandes amigas.

Background: The Quebec Bridge (Canada)

Louise e Marie* são colegas em Montreal, no Canadá. Tornaram-se amigas, pouco apouco, apesar de terem origens, crenças e interesses muito diferentes.

Como vocês se conheceram?

Marie: No trabalho. A Louise foi a minha primeira nova colega, depois de um ano e meio de homeoffice, numa equipe de três pessoas.

O que as faz amigas improváveis?

Marie: A Louise vem de um meio muito diferente daquele a que eu estou habituada. E é mais reservada e introvertida, o que contrasta com a minha personalidade, mais extrovertida. Fiquei intimidada pelo seu nível e área de estudos. Considero que as pessoas com este nível de educação estão acima da média e geralmente são muito inteligentes.

Louise: Temos personalidades muito diferentes. A Marie gosta da interação social e se sente confortável em grandes eventos, enquanto eu acho que as multidões me esgotam. Ela é corajosa e aventureira. Por exemplo, é uma motorista segura, enquanto eu tenho tendência para ficar nervosa ao volante. Nunca vou esquecer a primeira vez que entrei no carro dela!

Marie (rindo): Muito francamente, o trabalho exclusivamente remoto tornou mais difícil conhecer pessoas. No início, as nossas trocas de impressões eram pragmáticas e centradas no trabalho, não sociais, pelo que parecia improvável que nos tornássemos verdadeiras amigas.

E que mudou?

Louise: A Marie me ensinou a tornar-me uma pessoa mais atenta e experiente no trabalho, a superar a minha ingenuidade e a entrar em relações de trabalho mais complexas. Compartilhou a sua experiência e os seus conhecimentos, arduamente adquiridos, sem pedir nada em troca.

Marie: O fato de termos a mesma idade e de termos estudado na mesma universidade, em áreas semelhantes, facilitou a ligação. O nosso ambiente de trabalho era novo para a Louise e, como duas jovens mulheres tentando encontrar o seu lugar no mundo profissional, senti o dever de ajudar, num contexto profissional às vezes difícil. Tentei tranquilizá-la, identificando linhas vermelhas.

Nem sempre é fácil pedir ou dar ajuda. Como é que construíram esse nível de confiança, sendo colegas novas?

Louise: Ríamos muito juntas, fizemos uma sessão fotográfica para renovar as fotografias na nossa rede profissional e, de vez em quando, fazíamos compras depois do trabalho. Não passávamos o tempo todo em conversas difíceis, pesadas, e penso que essas conversas foram facilitadas pela espontaneidade das nossas perguntas, e pela honestidade mútua. Porque nos respeitamos e confiamos uma na outra, não há temas-tabu entre nós.

Podem falar-nos de alguma situação em que uma tenha ajudado a outra?

Marie: Pouco depois de a Louise ter assumido o seu posto, tive de me ausentar durante quatro meses por doença. Foi muito difícil para mim, e tive dificuldade em aceitar. Isto significou que a Louise teve de assumir uma grande parte das minhas responsabilidades num curto espaço de tempo, apesar de estar começando neste trabalho, num mundo empresarial em que a adaptação demora normalmente vários meses. Quando dei a notícia da minha partida, ela não só me apoiou como disse que rezaria por mim. Na época, não sabia o que pensar disso. Na verdade, até achei um pouco estranho.

Foi estranho?

Louise: Os nossos percursos de vida e as nossas crenças são muito diferentes, mas Marie foi sempre muito aberta. Isso surpreendeu-me no início. Quando lhe falei da minha fé e do meu compromisso no Opus Dei, pareceu-me muito interessada em saber mais, de uma forma muito positiva. Senti-me totalmente respeitada.

Marie: Quando voltei ao trabalho, tivemos a oportunidade de desenvolver mais a nossa relação. Consegui entender melhor o significado de rezar por mim; e compreender o significado do que me dando... o que, realmente, me tocou. Seja qual for o nome que lhe dermos (vibrações positivas, afirmações ou oração), a verdade é que voltei ao trabalho mais forte. Sei que a oração dela contribuiu para a minha cura. Para mim, esta recordação diz muito sobre a Louise. Vejo-a como uma pessoa altruísta, essencialmente boa, que está sempre pronta a ajudar as pessoas à sua volta.

Louise: Quando eu estava passando por um momento bastante difícil, ela falou-me do meu Menino Jesus [p’tit Jésus]; o que me tocou muito, precisamente porque ela não acredita n’Ele como eu.

Marie, sabia alguma coisa sobre o Opus Dei antes de conhecer a Louise?

Marie: Não muito. No início tinha algumas ideias preconcebidas sobre o Opus Dei, mas sabia que não se baseavam em nada de muito concreto. Não me lembro exatamente como é que a Louise me disse que era numerária do Opus Dei, mas fiquei contente por ela ter confiado em mim o suficiente para me dizer. Fiz muitas perguntas, a que ela respondeu pacientemente. Estou muito grata por isso, porque agora sinto que a conheço melhor e compreendo melhor os seus desafios diários.

Qual foi a coisa mais importante que cada uma aprendeu com a outra?

Marie: A Louise ajudou-me a perceber o valor da amabilidade nas relações interpessoais. Os seus dias são cheios de contatos com pessoas de idades e de culturas muito diferentes, e fico sempre impressionada com a sua consideração por todos.

Louise: Para mim, é a honestidade. A Marie deu-me um exemplo de honestidade na amizade, vivida com fortaleza e ponderação. Ela tem o dom de cativar as pessoas, de compreender e animar, pondo-se no lugar delas. Agradeço a Deus pelo fato de a ter colocado na minha vida.


* Os nomes foram alterados por razões de privacidade.