A história de Joan: Amar até o fim

Joan é uma mãe e avó amorosa, um verdadeiro presente para sua família, que cuida dela com profundo carinho. Ela é a primeira supernumerária em Ottawa (Canadá). Em maio, quando muitos países comemoram o Dia das Mães, nós também celebramos aqueles que cuidam de suas mães com amor e dedicação. Neste fim de semana, também estamos celebrando o Jubileu das Famílias, dos Avós e dos Idosos.

Morrendo para encontrar você

Dying to Meet You é um projeto de renovação cultural, com o objetivo de humanizar as conversas sobre sofrimento, morte, significado e esperança. Por meio de textos, palestras, eventos, curtas-metragens e colaboração com outras pessoas, Amanda Achtman promove uma busca compartilhada para afirmar o valor de cada ser humano.

Preparando o cenário

Joan está sentada com um olhar gentil, mas distante.

“Joan”, pergunta Amanda, “é difícil para você perder a memória?”

Joan franze a testa. “Perder minha memória?”, ela repete. “Onde foi que eu perdi minha... minha memória?”

Então ela sorri, como se estivesse abraçando o mistério com humor, e, meio brincando, pergunta: “Você... você fez isso...?”

Amanda: “Viemos entrevistá-la hoje. Como você se sente em relação a isso?”

Joan: “Não me importo nem um pouco”.

Amanda: “Quantos anos você tem?”

Joan: “Ah, muitos anos mais.”

Amanda: “Qual era o nome do seu marido?”

Joan olha para cima, tentando se lembrar: “Eu já deveria saber disso... Eu... deixe-me ver...”

Sua filha Jill entra em cena: “Mãe, o nome do papai... Você sempre o chamou de Gil. O nome dele era Gilles. Gilles Lusignan. Mas você sempre o chamava de Gil, porque falava em inglês”.

“Sim, isso é verdade”, Joan acena com a cabeça. “Isso é verdade.”

Amanda: “Joan, quantos filhos você tem?”

“Pelo menos três”, ela responde com um sorriso. “Três ou mais.”

As visitas semanais de Jill

“Normalmente, tento visitá-la duas vezes por semana”, diz sua filha. “Eu arrumo o cabelo dela, às vezes a ajudo a tomar banho, lavo e penteio o cabelo. Se for durante a semana, eu só apareço para dar um retoque, enrolar um pouco o cabelo. Isso sempre fez parte de nossa rotina”.

Jill sorri e olha para sua mãe com carinho. “Eu gosto de fazê-la rir. E também gosto de cumprimentar outros residentes que não têm ninguém para visitá-los.”

Amanda: “A personalidade dela mudou ao longo dos anos?”

“Sim”, responde Jill. “Ela não gosta quando outras pessoas tentam cuidar dela. Às vezes, ela fica chateada com um funcionário e isso nos surpreende. Mas quando conseguimos acalmá-la novamente, ela volta a ser ela mesma.”

“Embora as conversas possam ser difíceis às vezes”, acrescenta, ”você tem que saber como se comportar e continuar. Ainda assim, ela é a pessoa que você ama. E você tem a chance de compartilhar com ela, de fazê-la feliz... e ela nos faz felizes também.”

O significado da doença

Amanda: “Qual você acha que é o significado de ter demência? Por que isso faz parte da condição humana?”

“É um mistério”, responde Jill. “Acho que ninguém quer ter demência, certo? Todo mundo quer manter suas faculdades até o fim. Mas... faz parte do processo de deixar a pessoa partir.”

Amanda: “E você acha que até mesmo os jovens podem aprender algo com isso?”

Jill: “Sim, acho que é valioso aprender que não podemos controlar tudo. As pessoas que tentam controlar tudo acabam ficando deprimidas. Porque a vida é cheia de surpresas e não é possível ter tudo sob controle.”

Amanda: “Um dos motivos pelos quais muitos canadenses dizem que considerariam a eutanásia é o medo de ser um fardo – especialmente mães e avós. Sua mãe é um fardo?”

“Não, definitivamente não”, responde Jill sem hesitar. “Sério.”

Amanda: “Você acha que a maneira como ela a criou influencia a forma como você cuida dela agora?”

Jill: “Sem dúvida. Tivemos uma mãe amorosa, e todos nós queremos amá-la até o fim. Eu sempre brinco com meus filhos: Tudo bem, pessoal, quero estar bonita quando tiver 90 anos. Então, vocês virão me ajudar a me arrumar, fazer o cabelo e as unhas, e tudo o mais”.

Amanda (para Joan): “Você está muito elegante hoje”.

Joan: “Ah, é mesmo? Bem... graças a Deus”.

Amanda (para Jill): “Então, se sua mãe não é um fardo... o que ela é para você?”

Jill: “Ela é um presente. Ela não é um fardo. Ela é uma dádiva – até o dia em que for para o céu e encontrar o meu pai... e dançar uma boa dança com ele lá em cima.”

Amanda: “Você ainda é você mesma, do jeito que sempre foi?”

Joan: “Bem... acho que sim.”

Amanda: “A vida é sempre boa?”

Joan: “Sim. Eu diria que a vida é muito boa. Então, a pergunta é: como podemos continuar?”