Sonhai e ficareis aquém

Mary Hamm, Directora executiva do Centro Tepeyac, que presta assistência mães jovens sobretudo provenientes da América Latina

Quando me perguntam quantos filhos tenho, respondo muitas vezes que tenho doze, mais dois “não lucrativos”, porque trabalhar com uma instituição de solidariedade sem fins lucrativos é como ter outro filho. E isto o aprendi graças a Josemaria Escrivá e ao Opus Dei.

Conheci o Opus Dei e os ensinamentos do seu fundador quando era adolescente, através de “Caminho”. O que lia era semelhante ao que os meus pais me tinham ensinado sobre a “unidade de vida”: a vida sacramental deve informar a vida quotidiana, tendo a Missa como centro e raiz da nossa vida interior. É aí, no oferecimento diário de Cristo crucificado, que encontro a força para continuar a construir uma cultura da vida.

Na minha tarefa de mãe, não disponho de muita ajuda em casa, por isso passo muitas horas do dia a tratar da família. É precisamente isso que uno ao oferecimento de Cristo. Durante os primeiros dezoito anos da minha vida de casada procurei construir um “lar luminoso e alegre”, o ideal proposto por São Josemaria para a vida de família. Quando tinha onze filhos e o mais novo com quatro anos, comecei a alargar a minha esfera de influências e a envolver-me na promoção de uma cultura da vida também fora de casa.

Muitas vezes me perguntam: “Você fez a Universidade em Harvard e tem doze filhos?” Ao que eu respondo: “Bem, lá me ensinaram que, posta a fazer alguma coisa, o fizesse em grande”.

Muitas vezes me perguntam: “Você fez a Universidade em Harvard e tem doze filhos?” Ao que eu respondo: “Bem, lá me ensinaram que, posta a fazer alguma coisa, o fizesse em grande”. De fato, é São Josemaria, com a sua visão de que “estas crises mundiais são crises de santos” (Caminho, 301) quem me inspira e ajuda a “lançar as redes” para eu mesma poder influir na cultura.

Sou membro fundador do National Institute of Womanhood (NIW), onde trabalhei como vice-presidente. Cada vez se tornava mais notório que a luta pela promoção da mulher estava a ser travada à custa do seu papel fundamental de esposa e de mãe. No NIW, procuramos mostrar o que é o “feminismo autêntico”. Os amigos perguntavam-me: “Como encontras tempo para o NIW”? Ao que eu respondia: “É precisamente porque tenho doze filhos, e sete são meninas, que tenho de lutar pelos direitos da maternidade”. Em 1994 e 1995, as Conferências da ONU no Cairo e em Pequim trataram do “gênero” e do “papel dos dois gêneros”. Mais uma vez a visão do fundador do Opus Dei, desta vez sobre o “gênio feminino”, me serviu de princípio orientador. Em meados dos anos noventa tive de arranjar trabalho remunerado e fiquei no Centro Tepeyac, um centro de apoio a grávidas em risco, oriundas dos países latino-americanos. Aí pude continuar a promover a causa do “feminismo autêntico” e a lutar contra a crescente onda de sensualidade, com uma “cruzada de virilidade e de pureza” (Caminho, 121).

O Centro Tepeyac ajuda as mulheres que estão a passar por uma gravidez indesejada, na sua maioria imigrantes da América Central e do Sul que fogem à guerra, à pobreza ou a ambas. Aprendi com Josemaria Escrivá que “não há almas para o ‘lixo’”: isto se aplica especialmente às crianças não nascidas de mulheres pobres. Nos meus sete anos de Tepeyac, o Centro o número das suas utentes aumentou de cem para mil. Posso dizer que isso se deve, em larga medida, à fidelidade ao plano de vida marcado pelo fundador do Opus Dei. Os seus ensinamentos sobre “a grandeza da vida corrente” lembram-me constantemente que a minha “barca – os teus talentos, as tuas esperanças, as tuas realizações – não valerão nada se não as deixares nas mãos de Cristo, dando-Lhe permissão para entrar com toda a liberdade na tua barca” (Amigos de Deus, 21). A Missa diária, o Terço e a leitura espiritual alimentam a minha vida de oração e são como que a “cola” que dá unidade à minha família e ao meu lar, e ajudam-me também a levar a mensagem da cultura da vida à cena nacional e internacional.

Recordo frequentemente que Josemaria Escrivá procurava e descobria imagens de Nossa Senhora e sacrários, nos seus percursos intermináveis por Madrid. Animava-nos a visitar Nosso Senhor aí, mesmo que só com um olhar e uma jaculatória. Também eu comecei a procurar e a encontrar “cantos e recantos”, no meu caminho para Tepeyac, onde podia silenciosamente cumprimentar Nosso Senhor e a Virgem Maria, em lugares insuspeitados. Ensinei também os meus filhos a conviverem assim com Deus, no meio da cidade, nos transportes ou nas suas atividades recreativas.

No esforço por corresponder ao apelo de evangelizar, aprendi de Josemaria Escrivá o “apostolado epistolar”, que sempre me leva a ajudar os outros, especialmente os nossos colaboradores. As suas palavras sobre o apostolado da opinião pública animam-me a relacionar-me com jornalistas e, onde quer que vá, levo comigo material impresso que possa ser útil. Ele dizia: “De cem almas importam-nos as cem” (Sulco, 183), e eu assim procuro viver. Lembro-me de ouvir contar que, quando ele viu os astronautas pisarem a lua, rezou por eles; também eu tento rezar pelas pessoas que vejo na televisão. Dele aprendi a procurar amar e rezar por todas as pessoas, quer estejam à direita quer à esquerda, como ele dizia.

Com a canonização, Josemaria Escrivá vai tornar-se uma fonte de inspiração e um mestre para inúmeras pessoas que, como eu, têm vidas normais e querem procurar a sua união com Deus no meio dessa mesma normalidade.