Se não sinto vontade, não é autêntico?

No Brasil, em 1974, uma estudante pergunta se fazer as coisas quando não nos apetece é um modo pouco autêntico de viver.

No Brasil, em 1974, uma estudante pergunta se fazer as coisas quando não nos apetece é um modo pouco autêntico de viver.

Padre, sou estudante, e é frequente ouvir na minha classe que se deve ir à missa e rezar só quando se tem vontade, porque fazer as coisas quando não se sente vontade não é um modo pouco autêntico. Que devo dizer a essas pessoas? Como fazer-lhes ver que estão equivocadas?

Ouve, minha filha, eu, vontade, tenho muito poucas vezes.

É preciso fazer as coisas quando não se sente vontade; nesse caso, como estão fundamentadas no sacrifício, na contradição..., são muito mais fecundas, valem muito mais diante de Deus, brilham como as estrelas à noite.

Quando fores fazer a tua oração, e não sentires vontade e não te venha nada à cabeça põe-te na presença de Deus e diz-lhe: "Senhor...", isso que acabaste de dizer: "não sinto nenhuma vontade de falar contigo, não me apetece dedicar-te nem um minuto, parece-me que te estou a fazer um favor".

E sentirás no fundo do teu coração como um choque, amoroso mas forte...; o grito de Deus que te diz: sou eu que te faço o favor, quando te chamo a servir-me, quando te chamo para conversar comigo, quando te digo que quero fazer amizade com a tua alma.

E então, com vontade ou sem vontade, farás todos os dias um tempo de oração: na tua casa, ou na rua, no escritório ou na Universidade, ou na oficina, ou na estrada, ou caminhando, ou na igreja, junto do sacrário, pois aí está Cristo Jesus, o filho de Santa Maria, de Santa Maria Virgem, sempre Virgem que nasceu no presépio, que trabalhou junto de José, de quem aprendeu o trabalho humano, e que depois pregou e depois padeceu a paixão e foi subido à cruz, e se deixou cravar por amor, com pregos ao madeiro.

E está à nossa espera aí; porque tu e eu sabemos pela fé, que oculto sob as espécies sacramentais está Cristo: esse Cristo com o seu corpo, com o seu sangue, com a sua alma e com a sua divindade, prisioneiro de amor. Iremos sem vontade, mas sabendo que nos ouve, dizer-lhe que não sentimos vontade, e já estaremos a fazer oração.

Verás

E verás como Ele te fala, verás como te remove, verás como acabarás por te habituar a essa conversa com o Senhor, e, como no dia em que não te dirigires a Deus, com vontade ou sem vontade, sentirás desejo de o fazer, necessidade de o fazer.