Golpes
Ao longo de minha vida, critiquei muitíssimo a Obra. Por quê? Não consigo entender. Não sabia o que era e falava por ouvir dizer, dizendo coisas terríveis. E, embora minha mãe, que morava comigo, fosse cooperadora, eu não me preocupava em informar-me. Deixava-me levar pelos preconceitos, e punha todos os obstáculos possíveis, tanto por palavras – pois tinha uma boca terrível – como por obras...
Uma pequena amostra: meu marido, José Luis, que descanse em paz, se confessava com um sacerdote da Obra, que lhe recomendava a leitura de livros de espiritualidade; e eu, assim que os via em casa, os escondia...
E como sabia que minha nora e meu filho eram do Opus Dei, me metia com eles... e de que maneira, porque um dia meu filho mais velho, bastante contrário ao Opus Dei, me disse: “Mamãe, não diga essas coisas ao Manolo, porque vais magoá-lo”.
Eu criticava tudo e todos: os sacerdotes e os não-sacerdotes... Ainda que sem motivo, pois o exemplo cristão de meu marido era formidável. Quando ele chegava à noite, cansado do trabalho, eu lhe perguntava: - Que tal, José Luis, como foi de consultas? – Muitíssimo bem – dizia-me – tive quatorze visitas. – Que bom! Eu lhe comentava.
- Bem... treze foram de pessoas necessitadas e uma foi paga...
...e carícias
Até que um dia – e isto o considero uma graça especialíssima de São Josemaria – cheguei à igreja de São João e encontrei-a completamente vazia, algo raro. Dei uma volta e vi um sacerdote no confessionário. Confessei-me e ... quantas graças devemos dar a Deus pelo sacramento da confissão!
Em 1994 fui a um retiro. José Luis acabara de pedir admissão à Obra, como supernumerário. Eu a pedi um ano depois. E minha filha pequena, no ano seguinte.
As pessoas me perguntavam: “mas, como? Agora, você é da Obra, depois de tudo o que disse!” E eu lhes respondia: “retificar é de sábios”.
Retificar é de sábios
Em 1996, quando o Prelado do Opus Dei veio a Granada, eu lhe contei:
- Sou Menenes e por pouco conhecimento da Obra, critiquei-a demais da conta ... Graças a Deus, agora sou sua filha. Quero aproveitar estes momentos para novamente pedir perdão e retificar por todo o mal que tenha podido fazer. Quero que nos fale de como todos nós, cristãos, devemos viver a caridade não falando mal de ninguém.
O Padre me disse com humor: “Minha filha, fizeste uma confissão pública, mas não te darei penitência”; e me falou, com muito carinho, da necessidade de compreender os demais, de ser pessoas de oração, de viver a caridade, de cuidar da língua... “Quando se trata de crítica – disse-me sorrindo, aludindo ao que lhe havia dito – é sempre demais da conta...”.
E aqui estou, graças a Deus... graças a Deus, a São Josemaria e à oração paciente e calada, durante tantos e tantos anos, de José Luis, meu esposo.
O santo a golpes
Agora, ao cabo do tempo, fiquei sabendo que aquele sacerdote jovem que nos preparou, em Madri, alunas do Colégio da Assunção, para a Primeira Comunhão, em 1932, foi... São Josemaria! Não me lembro quase nada dele, a não ser que cada dia, ao terminar o catecismo, nos dizia:
- Agora vamos rezar uma ave-maria... pelo santo a golpes.
Esse “santo a pauladas” era ele. É verdade que recebeu muitas contradições, muitos insultos e muitas pauladas ao longo da vida, que o foram purificando e santificando. E algumas dessas pauladas dei-as eu.
E ele, como todos os santos, intercedeu por mim diante de Deus, e respondeu às minhas pauladas com a graça e a carícia de uma conversão.