Redescobrir a fraternidade é essencial para a unidade dos cristãos

Por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, falamos com Dom Philippe Jourdan, bispo de Talin desde setembro de 2024, que nos referiu o desenvolvimento da Igreja Católica na Estônia e a relevância crescente da fraternidade cristã na sociedade atual.

Recentemente falou de uma fraternidade renovada entre os cristãos estônios. Pode dizer o que alimenta esse sentimento hoje?

Há já alguns meses que a Igreja Católica Estônia vive um forte sentimento de fraternidade cristã com os nossos irmãos de outras confissões. Isto tem sido particularmente evidente desde que o Papa Francisco elevou a Administração Apostólica da Estônia à categoria de diocese de Talin, em 26 de setembro. Este gesto não é apenas um acontecimento administrativo: marca o reconhecimento da presença católica na Estônia depois de séculos de ausência.

As outras confissões cristãs acolheram esta decisão com sincera alegria, considerando-a como um sinal de comunhão. Embora o diálogo ecumênico possa parecer lento, é inegável que os cristãos no meu país vivem atualmente uma autêntica fraternidade que não se via há séculos.

Parece que ainda há um longo caminho a percorrer para aproximar os cristãos. Quais são, na sua opinião, as principais etapas?

É verdade que o caminho rumo à unidade visível entre os cristãos ainda é longo e que o diálogo teológico pode, às vezes, parecer lento. Mas é essencial recordar que a unidade só pode surgir da fraternidade autêntica.

Hoje, construímos esta fraternidade, aos poucos, através de gestos concretos e momentos compartilhados. Por exemplo, durante o encontro internacional de Taizé, em Talin, ver o Arcebispo de Paris, Dom Laurent Ulrich, celebrar a Missa na principal igreja luterana da Estônia foi um momento muito significativo. Estes passos, embora aparentemente modestos, testemunham um caminho efetivamente percorrido.

Jovens participantes nos encontros de Taizé na Missa do Bispo Dom Laurent Ulrich na Igreja Luterana de Kaarli, em Talin.

Refere-se frequentemente à História para explicar os desafios atuais. Que lições tira disso para a unidade cristã?

A história está cheia de lições. Por exemplo, o princípiocuius regio, eius religio [a religião autorizada é a praticada pelo rei] imposto no século XVI para manter uma paz frágil dividiu os cristãos tendo em conta os territórios e príncipes. Esse tempo agora é história. Hoje redescobrimos uma fraternidade que desapareceu por causa destas divisões. Da mesma forma, o regime soviético, através da sua hostilidade a todas as formas de religião, paradoxalmente aproximou os cristãos estônios. Perante a opressão, aprendemos a trabalhar juntos, dando origem ao Conselho de Igrejas da Estônia, que continua a ser um exemplo vivo de cooperação interconfessional.

Mencionou os jovens. Qual é o papel dos jovens nesta dinâmica ecumênica?

Os jovens são uma enorme força motriz do ecumenismo. Na Estônia, onde apenas uma minoria tem pais ou avós católicos, a convivência com outras confissões, e mesmo com pessoas sem religião, faz parte da sua vida cotidiana. Esta realidade encoraja os jovens a aprofundar a sua fé católica, vivendo ao mesmo tempo um ecumenismo prático e natural. Demonstram assim que unidade não significa uniformidade, mas compreensão e respeito mútuos. Graças a este profundo conhecimento da sua fé e à sua abertura aos outros, eles dão testemunho da universalidade do Evangelho.

Que diria aos que se impacientam com a lentidão do ecumenismo?

A paciência é essencial. Como uma árvore que cresce demasiado lentamente para que possamos ver o seu progresso a olho nu, o ecumenismo segue o ritmo de Deus, não o dos homens. Devemos avançar lentamente, evitando perigos como o relativismo, o indiferentismo ou o ceticismo que não nos levam a lugar nenhum. Os frutos virão no devido tempo. São João Paulo II chamou-nos a ser sinais de fraternidade no mundo e acredito que estamos num bom processo para responder a este apelo, passo a passo.

Como a Igreja da Estônia vê o papel do Papa Francisco nesta dinâmica ecuménica?

O Papa Francisco é um guia e um modelo. Durante a sua visita à Estônia, insistiu que o ecumenismo não deveria se limitar às relações entre cristãos, mas também abrir o coração de quem procura a Deus, às vezes sem o saber. Ele mostrou que a unidade cristã não é um fim em si, mas um meio para melhor servir o mundo e testemunhar juntos o Evangelho.

Como é que o espírito do Opus Dei ou a mensagem de São Josemaria o ajuda a viver e a promover a unidade?

Há uma frase muito querida a São Josemaria, que tem raízes profundas na Tradição da Igreja e no espírito da Obra, e que sempre me ajudou muito no meu trabalho desde que cheguei à Estônia em 1996. Também o escolhi como meu lema episcopal quando o Papa João Paulo II me nomeou bispo em 2005: omnes cum Petro ad Iesum per Mariam.

A Estônia é um dos poucos países com tradição luterana e ortodoxa. Como católicos estônios, somos todos chamados a ir a Jesus – ad Iesum – com a mesma convicção dos nossos irmãos luteranos, através de Maria – per Mariam – com a mesma piedade mariana dos nossos irmãos ortodoxos, em união com o sucessor de Pedro – cum Petro – que manifesta a nossa profunda identidade católica, como nunca deixou de nos recordar São Josemaria. Parece-me que este lema reflete muito bem a procura da unidade dos cristãos num caminho comum rumo a Cristo, num país como a Estônia.

Tem alguma última palavra para concluir?

Sim, quero recordar que a unidade dos cristãos depende da fraternidade. Já percorremos um longo caminho desde a desconfiança do passado. Continuemos a semear, mesmo que ainda não vejamos os frutos. Deus age em silêncio e através do tempo. Temos que manter a confiança.