No final de 1914, poucos meses depois de iniciada a 1ª Guerra Mundial, os Escrivá mudaram-se para Logronho, devido à falência do negócio familiar.
Com quarenta e oito anos, José Escrivá preparou-se para começar do zero. Encontrou trabalho como empregado e homem de confiança numa loja de tecidos. Foi uma mudança difícil para todos; também para Josemaria, já adolescente, que prosseguiu os estudos secundários. Era bom aluno, com excelentes notas. O seu sonho era ser arquiteto.
O Natal de 1917-18 foi extremamente frio. O termômetro estabilizou nos 14º negativos por vários dias e a cidade ficou quase paralisada. E num desses dias, depois de uma forte nevada, um fato aparentemente irrelevante transformou o horizonte da sua vida. Foram umas pegadas na neve. As pegadas de um carmelita, que caminhava de pés descalços por amor a Deus. Ao vê-las, experimentou na alma uma profunda inquietação divina, que suscitou nele um forte desejo de entrega. Outros fazendo tantos sacrifícios por Deus e ele - interrogou-se -… não seria capaz de lhe dar nada?
“O Senhor foi-me preparando apesar de mim, com coisas aparentemente inocentes, das quais se valia para meter na minha alma essa inquietação divina. Por isso, entendi muito bem aquele amor, tão humano e tão divino, de Teresa do Menino Jesus, que se comove quando, ao folhear um livro, depara com uma estampa com a mão ferida do Redentor. Também a mim me aconteceram coisas deste gênero, que me comoveram e me levaram à comunhão diária, à purificação, à confissão... e à penitência”.
Pode surpreender que um motivo de tão pouca importância – umas pegadas na neve – baste para que um adolescente tome uma decisão tão grande: dedicar a sua vida inteira a Deus; mas é essa a linguagem com que Deus costuma chamar os homens, e assim são as respostas, os sinais de fé, das almas generosas que procuram a Deus com sinceridade. Não foi uma simples reação, emotiva e passageira. “Comecei a pressentir o Amor, a dar-me conta de que o coração me pedia qualquer coisa de grande e que fosse amor. Eu não sabia o que Deus queria de mim, mas era, evidentemente, uma escolha. O que quer que fosse viria depois”.
Decide ser sacerdote
A partir daquele dia foi crescendo na sua alma, de forma cada vez mais impetuosa, a necessidade de conhecer e ter mais intimidade com Cristo na oração e nos sacramentos, especialmente na Eucaristia. Começou a assistir diariamente à Santa Missa. Decidiu ser sacerdote: pareceu-lhe que era o melhor caminho para estar inteiramente disponível para essa Vontade de Deus que tinha intuído na sua alma – “algo que estava por cima de mim e em mim” -, e cujo alcance último desconhecia.
E depois? Depois… “viria o que teria de vir”.
Falou com o pai. A José Escrivá custava-lhe a decisão do filho, e mais ainda naquelas circunstâncias familiares, - com efeito, foi a única vez que Josemaria o viu chorar – mas como bom pai cristão aconselhou-o a que falasse da sua inquietação com um sacerdote da cidade, para se certificar se essa era a vontade de Deus. O sacerdote confirmou a José Escrivá a vocação do filho. E, apesar de aquela decisão fosse para eles, de uma perspectiva puramente humana, o que é costume chamar-se "um sacrifício”, os pais de Josemaria secundaram o chamamento de Deus com grande sentido sobrenatural.
Ensinava São Josemaria: "não é um sacrifício, para os pais, que Deus lhes peça os filhos; nem, para aqueles que o Senhor chama, é um sacrifício segui-Lo. Pelo contrário, é uma honra imensa, um orgulho grande e santo, uma prova de predileção, um carinho particularíssimo, que Deus manifestou num momento concreto, mas que estava na sua mente desde toda a eternidade”.