Papa faz balanço de sua viagem à Turquia

Bento XVI reconheceu na quarta-feira passada, em Roma, que a Turquia é um país onde se faz necessário redescubrir a realidade de Deus e a importância pública da fé religiosa, e garantir que a expressão dessa fé seja livre, sem degenerações fundamentalistas e capaz, portanto, de repudiar qualquer forma de violência".

Bento XVI reconheceu, na quarta-feira, 6 de dezembro, que sua viagem à Turquia foi um chamado a todos os crentes a dar testemunho de uma «autêntica fraternidade», em particular aos cristãos e muçulmanos.

Assim explicou na audiência geral, ao fazer um balanço de sua quinta peregrinação apostólica internacional. A viagem à Turquia, onde 99% de seus habitantes são muçulmanos, aconteceu de 28 de novembro a 1º de dezembro.

«Uma visita que não parecia fácil desde vários pontos de vista, mas que Deus acompanhou desde o início e que deste modo pôde desenvolver-se felizmente», explicou aos milhares de peregrinos congregados na Sala Paulo VI do Vaticano.

Nesses dias, declarou, «tive a oportunidade propícia de renovar meus sentimentos de estima aos muçulmanos e à civilização islâmica».

Bento XVI na sua chegada à Mesquita Azul

Na audiência o Papa recordou seus encontros com as autoridades turcas, em particular com seu presidente, Ahmet Necdet Sezer; com o primeiro-ministro, Recep Tayiip Erdogan; e com o presidente para os Assuntos Religiosos, o professor Ali Bardakoglu.

«Esta intensa série de encontros constituiu uma parte importante da visita, sobretudo porque a Turquia é um país, em sua grande maioria muçulmana, regida por uma constituição que afirma o caráter leigo do Estado», declarou. É, portanto, «um país que constitui um emblema do grande desafio proposto hoje, em âmbito mundial: por uma parte, é necessário redescobrir a realidade de Deus e a importância pública da fé religiosa e, por outra, garantir que a expressão dessa fé seja livre, sem degenerações fundamentalistas e capaz de repudiar firmemente qualquer forma de violência».

Ao mesmo tempo, esta viagem lhe permitiu «insistir na importância de que cristãos e muçulmanos se comprometam juntos a favor do ser humano, da vida, da paz e da justiça, reafirmando que a distinção entre a esfera civil e a religiosa constitui um valor e que o Estado deve garantir ao cidadão, e às comunidades religiosas, a efetiva liberdade de culto».

Como gesto simbólico da promoção do diálogo entre os crentes, o bispo de Roma rememorou a visita à Mesquita Azul de Istambul. «Permanecendo uns minutos em recolhimento nesse lugar de oração me dirigi ao único Senhor do céu e da terra, Pai misericordioso de toda a humanidade». E exclamou: «Que todos os crentes possam reconhecer-se como criaturas e dar testemunho de autêntica fraternidade». «Que Deus onipotente e misericordioso ajude o povo turco, os seus governantes e os representantes das religiões a construírem juntos um futuro de paz, para que a Turquia possa ser uma “ponte” de amizade e de colaboração fraternal entre o Ocidente e o Oriente», concluiu.

Compromisso pela unidade

Bento XVI com Bartolomeu I

A visita de Bento XVI à Turquia serviu também para que ortodoxos ratifiquem publicamente seu compromisso para fazer o possível por alcançar a unidade plena, constata o próprio pontífice.

Na visita à sede do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, por ocasião da festa de Santo André, disse que «esta celebração serviu de contexto ideal para consolidar as relações fraternas entre o bispo de Roma, sucessor de Pedro, e o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I».

Após mais de 900 anos de afastamento, ortodoxos e católicos deram uma mudança decisiva às suas relações em 1965, quando o Papa Paulo VI e o patriarca ecumênico Atenágoras apagaram da memória da Igreja as dramáticas excomunhões.

Em Istambul, atual Constantinopla, o Papa voltou a abraçar Bartolomeu I «para confirmar o compromisso recíproco de prosseguir o caminho para o restabelecimento da comunhão plena entre católicos e ortodoxos».

E, «para sancionar este firme propósito», continuou explicando, firmou «junto ao patriarca ecumênico uma “Declaração conjunta” que constitui uma etapa ulterior neste caminho».

Nessa ocasião, «manifestamos que no fundamento de todo esforço ecumênico sempre está a oração e a perseverante invocação do Espírito Santo».

Em Istambul, o Papa também manteve encontros com outros dois importantes representantes da Ortodoxia: o patriarca da Igreja Armênia apostólica, Sua Beatitude Mesrob II, e o metropolita siro-ortodoxo Mor Filuksinos.

Três «círculos concêntricos» do ministério papal

O ministério do Papa, explicou Bento XVI nesta quarta-feira, desenvolve-se em três «círculos concêntricos»: o mais interno envolve os católicos; o intermediário, os demais cristãos; e o terceiro, os não cristãos.

O pontífice esclareceu esta visão, baseando-se na constituição dogmática sobre a Igreja do Concílio Vaticano II, «Lumen gentium». Desse modo, explicam-se os três objetivos desta viagem: o inter-religioso, o ecumênico e o pastoral. Em virtude desse último círculo concêntrico, o «mais interno», o Papa confirmou na fé a pequena comunidade católica, que constitui 0,004% dos mais de 70 milhões de habitantes da Turquia.

O bispo de Roma manteve dois encontros significativos com os católicos turcos: um na que é considerada, segundo a tradição, a casa de Maria, a quatro quilômetros de Éfeso, em 29 de novembro. O outro, em 1º de dezembro, na catedral latina do Espírito Santo, em Istambul.

«Na “Casa de Maria” nos sentimos verdadeiramente “em casa”, e naquele clima de paz rezamos pela paz na Terra Santa e em todo o mundo». Lá «quis recordar o padre Andrea Santoro, sacerdote romano, testemunha em terra turca do Evangelho com seu sangue», acrescentou. O sacerdote foi assassinado no mês de fevereiro passado.

Recordou que na missa do último dia em Istambul participaram católicos de diferentes ritos (armênio, caldeu, sírio...), e foram utilizados numerosos idiomas (latim, turco, francês, alemão, sírio, árabe e espanhol).