Os primeiros supernumerários do Opus Dei. A convivência de 1948

Em 1947 Josemaria Escrivá pôde cumprir um aspecto da fundação do Opus Dei, há muito tempo esperado: admitir membros casados ou com desejos de formar uma família. Este artigo reconstrói a mensagem que o fundador transmitiu aos primeiros supernumerários.

Tradução do artigo de Luis Cano, publicado no número 12 da revista “Studia et Documenta”.

Em 1947 Josemaria Escrivá pôde cumprir um aspecto da fundação do Opus Dei, há muito tempo esperado: admitir membros casados ou com desejos de formar uma família. O impulso definitivo ocorreu em setembro de 1948, quando – depois de ter obtido um reconhecimento por parte da Santa Sé nesse sentido – celebrou uma convivência na qual participaram quinze pessoas. Dali saíram os primeiros supernumerários. Este artigo centra-se no desenvolvimento dessa atividade, em que São Josemaria explicou muitos detalhes da vida dos supernumerários. graças às anotações e testemunhos de alguns assistentes, foi possível reconstruir, em parte, o conteúdo da convivência.

Palavras Chave: Josemaria Escrivá – Opus Dei – Supernumerários – Vocação matrimonial – Molinoviejo (Segóvia) – 1948

Introdução

A vocação ao Opus Dei como supernumerário: o iter de um fenômeno inovador

Os assistentes à primeira atividade para supernumerários

O desenvolvimento da convivência. A pregação de São Josemaria

Os dias de Molinoviejo, vistos pelos assistentes

Conclusões

Apêndice. Breve resenha biográfica dos assistentes (em ordem alfabética)


Introdução

Um dos marcos mais importantes na história da obra de São Gabriel no Opus Dei, que terminaria sendo o seu lançamento definitivo, foi a semana de formação e estudo que houve em Molinoviejo (Segóvia) de 25 de setembro a 1 de outubro de 1948. Participaram quinze pessoas, às quais o fundador explicou com profundidade o que significa ser supernumerário do Opus Dei.

Antes de entrar no tema principal, referir-nos-emos aos antecedentes imediatos desses dias, em especial ao trabalho do fundador para delinear a figura do supernumerário, do ponto de vista espiritual e jurídico. Passaremos depois ao desenvolvimento da convivência [1] em si e à pregação de São Josemaria.

No final, num apêndice, incluímos um breve perfil de cada um dos assistentes. Para essas breves notas biográficas, utilizamos os mencionados relatos testemunhais e as notas necrológicas dos membros falecidos, que se conservam no AGP, além de dados de domínio público, excluindo outros arquivos públicos ou privados, cujo rastreamento excederia o propósito deste artigo.

A vocação ao Opus Dei como supernumerário: o iter de um fenômeno inovador

Desde 1928, o fundador tinha falado a pessoas de todas as esferas sobre a santificação no meio do mundo, mas só vinte anos depois ele pôde propor um caminho vocacional concreto, reconhecido pela Igreja, a pessoas casadas ou com a perspectiva de formar uma família. Isto foi possível graças à aprovação pontifícia de 1947 [2], a partir da qual pessoas casadas podiam vincular-se de fato com a Obra, procurando “viver o espírito e apostolado da Instituição, sem incorporar-se a ela por um vínculo jurídico” [3]. Tal possibilidade representava um grande passo, porque se reconhecia que os casados podiam santificar-se em seu próprio estado, segundo o espírito do Opus Dei [4], porém isso não era suficiente para São Josemaria: esperava que no futuro a Sé Apostólica aprovasse que os supernumerários fossem incluídos como membros de pleno direito, algo que, naquele momento, não era possível.

Enquanto isso, os primeiros supernumerários – Tomás Alvira Alvira, Víctor García Hoz e Mariano Navarro Rubio – começaram a receber a formação e a viver segundo o espírito do Opus Dei. Numa nota circular, datada de 5 de novembro de 1947, enviada aos diretores dos centros da Obra que havia então, pediam-se dados de outros possíveis candidatos. Sem dizer ainda nada aos interessados, pedia-se que rezassem por eles com a intensidade que o assunto requeria, pois, “como sabeis – lia-se na nota – esta é uma verdadeira vocação” [5].

Em dezembro de 1947, Escrivá estava trabalhando para delinear com detalhe a figura dos supernumerários e a sua atenção espiritual. Nesta tarefa ajudava-o Amadeo de Fuenmayor, que se encontrava em Madri, colaborando com o Conselho Geral da Obra [6]. Numa carta desse mês escrevia, entre outras coisas:

Esses Supernumerários! Quanta esperança tenho!

Amadeo: com tudo o que vocês já trabalharam, você poderia fazer um anteprojeto de Diretório – que, necessariamente, agora será muito rudimentar – para os para os Supernumerários. E, da mesma forma, planos de formação, ao estilo dos que pedi antes – seis meses e um ano, por agora – para os Numerários [7]. Conviria pensar na preparação do regulamento, com base no aprovado pela Sagrada Congregação, que está impresso, com a finalidade de cumprir os requisitos legais civis para quando eu voltar. Também seria bom que, preparando três ou quatro palestras, você fosse a Valência, Saragoça, Bilbao, etc., para começar os núcleos dali. É claro que, uma vez iniciado o labor, não deve ser desatendido; e, onde começar, deve ficar um Numerário como Diretor, com um Secretário (falaremos sobre isso mais tarde: tome nota) Supernumerário, que leve o peso material da Delegação [8].

O encargo de Amadeo de Fuenmayor, como se vê, era delinear a figura do supernumerário e explicá-la aos membros da Obra que viviam nas diversas cidades espanholas. Embora até esse momento se havia trabalhado sobretudo com universitários ou jovens, havia já alguns conhecidos que podiam reunir condições para ser supernumerários.

Trata-se de vocação sobrenatural. É muita graça de Deus ser Supernumerário!

Uma semana mais tarde, respondia enviando um esboço do que o fundador lhe pedia. Escrivá lhe respondeu em 18 de dezembro de 1947:

Para Amadeo: li as notas dos Supernumerários. Parece-me que são pouco valentes ao anotar as obrigações: na próxima semana devolvo-te os papéis, com alguma indicação concreta: de qualquer forma, adianto-te que não poderemos perder de vista que não se trata da inscrição de uns senhores em determinada associação, mas da vocação sobrenatural para a vida de perfeição e para o apostolado. É muita graça de Deus ser Supernumerário! [9]

Detenhamo-nos brevemente neste parágrafo. A palavra-chave – que o fundador sublinha aqui – é “vocação”. Os supernumerários estão chamados “à vida de perfeição” (hoje em dia diríamos, numa terminologia mais atual, à santidade”) e ao apostolado, como os outros seculares e sacerdotes. A precisão de Josemaria Escrivá era necessária: para a mentalidade da maioria dos supernumerários, que procediam da Ação Católica ou de outras associações piedosas, cabia o perigo de pensar que a incorporação ao Opus Dei era equivalente à inscrição num desses grupos. E isto, como vimos, o fundador queria evitar. Recalca: ser do Opus Dei é uma “ vocação sobrenatural”, não “a inscrição de uns senhores em determinada associação”.

A teologia e a doutrina canônica daquele tempo tendiam a identificar plenitude de entrega com vida religiosa ou realidades equiparadas, reservadas, portanto a pessoas celibatárias. Para São Josemaria, pelo contrário, era claro que no Opus Dei havia “uma só e única vocação” [10]. Sem entrar em comparações, o Opus Dei se apresentava – neste sentido – como uma realidade inovadora, embora, por esses anos, não faltassem iniciativas na Igreja, que buscavam revitalizar a vida do laicato católico e, inclusive, oferecer uma específica espiritualidade matrimonial. Basta recordar o movimento dos Cursilhos de Cristandade, que teve um impulso definitivo entre os últimos dias de agosto de 1948 e princípios de 1949; ou também o movimento dos Focolari – fundado por Chiara Lubich e aprovado diocesanamente em 1947 – ao qual, em 1948, incorporou-se o deputado Igino Giordani, pai de quatro filhos, primeiro focolarino casado e considerado cofundador do movimento; ou as Equipes de Nossa Senhora, que começaram nos finais dos anos trinta, por obra do Pe. Henri Caffarel, e que, em 1947, publicaram sua Carta onde punham os fundamentos de sua espiritualidade conjugal [11].

Retomando o fio narrativo, no dia de Natal de 1947, São Josemaria escrevia novamente a Madri: “5/ Amadeo: voltem sobre aquele projeto – anteprojeto – dos Supernumerários, apertando na Obediência (sem permissão verbal expressa, mas que fique escrito na ficha pessoal correspondente – p. e. –, não se poderá pertencer a nenhuma associação), etc.” [12].

Como vemos, o fundador queria recalcar que a vocação no Opus Dei requeria uma doação completa e uma obediência real. Não explica aqui o porquê da exigência que menciona como exemplo, mas se pode pensar que desejava evitar a dispersão de forças e talvez os ciúmes, ou também a possível confusão de acabar considerando a Obra apenas como mais uma associação, à qual, dedicar uma parte do tempo junto a outras atividades piedosas, e não como uma verdadeira chamada de Deus que requeria entrega total. Por essa razão, era prudente pedir a permissão que mencionava Escrivá.

Em 1º de janeiro de 1948, escrevia aos três que, nesses momentos, já haviam pedido a admissão como supernumerários:

Para Tomás, Víctor e Mariano.

Que Jesus guarde esses meus filhos!

Meus queridos três: É impossível que agora escreva a cada um: mas envio a vocês a primeira carta que sai da minha pena no ano de 48.

Rezo por vocês de verdade. São o germe de milhares e milhares de irmãos seus, que virão mais cedo do que esperamos. Quanto e como se vai trabalhar bem pelo Reinado de Jesus Cristo! [13].

Poucos dias depois, o fundador ia vislumbrar por fim uma solução para o problema que estamos recordando. Ocorreu durante uma viagem a Milão, de 11 a 16 de janeiro, na qual o acompanhavam Álvaro del Portillo e Ignacio Sallent. Durante o regresso a Roma, São Josemaria exclamou de repente “Cabem!” [14]. Era uma espécie de eureca! porque havia compreendido como propor para a Santa Sé que os supernumerários “coubessem” no Opus Dei como membros de pleno direito. Assim que chegou a Roma, escreveu aos de Madri: “Trabalho sobre o tema dos Supernumerários: haverá belas e grandes surpresas. Como o Senhor é bom! Que esses três, Amadeo, rezem à Santíssima Virgem pelo meu trabalho. Prometo-lhes uma grande alegria” [15].

Em que consistia a solução que lhe tinha feito exclamar “cabem”?

Tratava-se de explicar que os supernumerários se dedicam parcialmente ao serviço do Instituto e empregam como meios de santificação e apostolado as suas próprias ocupações familiares e a sua profissão ou trabalhos; [...] vivem o mesmo espírito e, segundo as suas possibilidades, os mesmos costumes que os sócios Numerários; ainda que somente podem ser confiadas a eles as tarefas compatíveis com as obrigações em sua própria família natural e na sociedade civil [16].

Em outras palavras, a diferença em relação aos numerários fundamentava-se na dedicação às tarefas internas do Opus Dei e em que o campo de santificação ordinária dos supernumerários incluía as “próprias ocupações familiares”, além das profissionais ou sociais, comuns às dos numerários. Em outras palavras, eram apresentadas pessoas com o mesmo espírito e a mesma vocação, que simplesmente dedicavam distinto tempo “ ao serviço do Instituto” [17].

Adianto que se abre para a Obra, um panorama apostólico imenso, tal como vi em 1928. Que alegria poder fazer tudo em serviço da Igreja e das almas!

Não era uma mera explicação engenhosa, para passar um trâmite de aprovação. Em nossa opinião, o próprio fundador havia recebido uma nova luz sobre um ponto essencial do próprio carisma: a unidade de vocação. A sua alegria ante esse achado era muito grande, como escrevia aos de Madri, em 29 de janeiro de 1948: “Vocês já verão, quando eu falar na volta. Apenas adianto que se abre para a Obra, um panorama apostólico imenso, tal como vi em 1928; e tudo dentro das regras canônicas mais estritas, coisa que até aqui parecia impossível. Que alegria poder fazer tudo em serviço da Igreja e das almas!” [18].

Começou imediatamente a preparar um estatuto que deveria ser acrescentado às Constituições de 1947, para apresentá-lo à Santa Sé “a fim de que pudessem incorporar-se ao Instituto com vínculo jurídico, além dos Numerários, outros membros solteiros ou casados, de qualquer condição e profissão. Na carta de petição, Mons. Escrivá sublinha que se trata de acolher algo já previsto desde o início da Obra: “iam a prima ipsius Instituti delineatione” [19]. O pedido foi entregue no dia 2 de fevereiro e mês e meio mais tarde, em 18 de março de 1948, a Sagrada Congregação, com a assinatura do secretário Mons. Luca Pasetto, e a rubrica do subsecretário Arcadio Larraona, aprovou o estatuto apresentado [20].

Enquanto isso, São Josemaria tinha continuado trabalhando. Em 4 de fevereiro escrevia a Madri: “Vou aproveitar estes dias de Roma para trabalhar em tudo o que se refere aos Supernumerários: como é vasto e que fundo o sulco que se apresenta! ... É preciso que sejamos santos, que formemos – cada dia melhor – intelectualmente os nossos... e que tenhamos bastantes Sacerdotes” [21].

Nos meses seguintes, o fundador deu outros passos. Dispôs que durante o verão fosse explicado aos membros numerários tudo sobre os supernumerários e cooperadores e também estabeleceu o início formal desta nova fase para o verão [22]: “Prepararemos durante o verão o trabalho com os Supernumerários, e com certeza se realizará tudo o que o Senhor quer dessa gente, desses filhos! Laus Deo[23].

Entre outros preparativos, organizou-se uma convivência para a qual foram convidadas diversas pessoas conhecidas, às quais se queria propor a possibilidade de ser supernumerários, e aos seis que até esse momento tinham respondido afirmativamente [24].

Os assistentes à primeira atividade para supernumerários

A procedência geográfica das quinze pessoas que, no total, participaram nas jornadas de Molinoviejo, era bastante variada. Entre os que moravam em Madri, havia quatro cântabros (Manuel Pérez Sánchez, Manuel Sainz de los Terreros, Ángel Santos Ruiz e Pedro Zarandona Antón); três aragoneses (Tomás Alvira, Rafael Galbe Pueyo e Mariano Navarro Rubio); um galego (Jesús Fontán Lobé); um castelhano (Víctor García Hoz); um andaluz (Hemenegildo Altozano Moraleda) e um maiorquino (Juan Caldés Lizana). De Valência vieram outros três (Antonio Ivars Moreno, Carlos Verdú Moscardó e Silverio Palafox Marqués), um de Bilbao (Emiliano Amann Puente). Suas profissões eram também diversas: havia dois oficiais da Marinha e outros dois de carreira jurídico-militar; três advogados e um juiz; dois engenheiros de caminhos, um pedagogo, um médico, um farmacêutico, um químico e um arquiteto. Pode-se dizer, vendo a trajetória posterior deles, que foram profissionais de destaque em suas áreas e que deixaram marca como cristãos entre seus familiares e amigos. Alguns deles se dedicaram a começar obras sociais de promoção humana. Como dissemos, no apêndice incluímos uma resenha biográfica de cada um.

A maioria tinha pertencido à Ação Católica ou a associações piedosas antes de conhecer o Opus Dei – como ocorria com tantos jovens católicos –, inclusive ocupando cargos de direção. Cinco tinham conhecido São Josemaria antes da Guerra Civil e tinham frequentado as atividades da Academia-Residência DYA. Entre eles, dois que tinham vivido alguns anos como numerários e, com as difíceis circunstâncias da guerra, tinham perdido o contato. Dos outros três, dois tinham frequentado Ferraz – um deles como residente –, e um terceiro, Tomás Alvira, tinha conhecido São Josemaria em Madri, durante a guerra.

Outros três jovens profissionais tinham entrado em contato com a Obra durante as viagens apostólicas do pós-guerra a várias cidades e inclusive tinham chegado a pedir a admissão como numerários, mas logo perceberam que não esse era o seu caminho. Animados pelo fundador, esperaram alguns anos para que fosse possível um novo modo de viver a mesma vocação ao Opus Dei. Também havia um grupo de conhecidos depois da guerra que tinham direção espiritual com São Josemaria. Vários já estavam casados ou o fundador tinha ajudado a discernir a sua vocação matrimonial. De todos os participantes, somente três ainda não o conheciam pessoalmente.

Amadeo de Fuenmayor estava presente e frequentemente utilizaremos as suas anotações, escritas em forma de diário [25]. Apresentando os assistentes, nas páginas desse diário, escrevia: “Compareceram todos os que tinham anunciado sua assistência. São homens feitos, a maioria parte casados, e com mais de 50 anos. Vários deles já formalizaram sua admissão como supernumerários e todos conhecem e amam a Obra, por terem conhecido, há muito tempo, o Padre [J. Escrivá], assistido a círculos de estudos de S. Rafael, etc.” [26].

Anos mais tarde, De Fuenmayor rememorava em outras recordações com quanto detalhe o Padre preparou tudo para que a Convivência desse seu fruto: desde coisas pequenas de ordem material até uma porção de indicações práticas que o Padre deu a nós, que o acompanhamos naqueles dias, sobre como explicar os temas ascéticos, que eram simples, pois o Padre tinha reservado para si os mais importantes e delicados para tratá-los ele, pessoalmente [27].

Junto a Amadeo de Fuenmayor se encontravam outros dois numerários: Odón Moles e Ignacio Orbegozo. Também estiveram presentes, ao menos parcialmente, vários dos mais antigos da Obra: os sacerdotes Álvaro del Portillo, Pedro Casciaro, que deu alguma palestra, e José Luis Múzquiz.

O fundador recebeu os assistentes e mostrou-lhes a casa, que ainda estava sendo instalada. Alguns dos quartos tinham beliches e não havia lençóis nem cobertores, por isso cada um levou os seus.

O desenvolvimento da convivência. A pregação de São Josemaria

No horário estavam previstas uma meditação e uma palestra pela manhã, um tempo de tertúlia depois do almoço, outro dedicado ao “catecismo” da Obra, quer dizer, ao conhecimento do Direito particular e do espírito do Opus Dei e um tempo de oração à tarde. Depois do lanche, havia outra sessão do “catecismo”, rezava-se o Santo Rosário e se fazia um tempo de leitura espiritual. Após o jantar e a tertúlia, o dia terminava com um breve comentário do Evangelho do dia e um exame de consciência.

Os que se entregam a Deus no mundo, em sua profissão e família também são escolhidos pelo Senhor; é “vocação divina”

No dia de chegada, à noite, São Josemaria dirigiu uma pregação preparatória no oratório. De Fuenmayor anotou algumas ideias no diário:

No final disse-lhes que, nos próximos dias não lhes falará ao coração, como hoje, mas friamente, porque são homens de fé e devem considerar racionalmente as consequências das verdades que lhes propuser. O Padre [J. Escrivá] disse-lhes: 1) Que vieram aqui por razões divinas, pois não é lógico abandonar tantas coisas de natureza profissional, familiar, etc.; 2) Os que se entregam a Deus no mundo, em sua profissão e família também são escolhidos pelo Senhor; é “vocação divina”, como diz o Papa; 3) Vieram nestes dias para tratar a Deus para amá-lo; 4) Um Caminho: a Santíssima Virgem, Nossa Senhora [28].

Os assistentes ficaram em silêncio durante o primeiro dia, em que realizaram um recolhimento; o resto dos dias foi de convivência, ou seja, alternando os meios de formação cristã com momentos de divertimento, esporte, tertúlia, etc.

Domingo, 26 de setembro de 1948

No dia seguinte ao da chegada, São Josemaria abordou o tema da vocação. Disse aos ouvintes que “a nossa missão na terra é dilatar o reino de Deus; fomos escolhidos desde a eternidade para este fim” [29]. Alvira acrescenta estas palavras: “Deus me chamou desde a eternidade” [30]. A consciência dessa vocação – sublinhou também Escrivá – não devia fomentar a soberba porque “o Senhor pôs seus olhos em seus servos mais miseráveis” [31] “Que gratidão por este chamado! – anota Alvira –. Tantas almas boas e limpas e, contudo, chama a mim que sou um trapo sujo” [32].

O fundador passou a tratar de outra questão, muito relacionada com as reflexões que estava fazendo: a filiação divina. “Sempre, consideração muito especial de que somos filhos de Deus. Como crianças, devemos tratá-lo e amá-lo e voltar a Ele depois das quedas, e contar sempre com o seu amor paternal, a sua compreensão. O ‘Abba Pater’ de Jesus equivale à voz dos pequeninos que chamam o seu pai; assim também nos dirigimos a Ele, com essa segurança de que nos ama extraordinariamente” [33].

“Devemos tratar a Deus como Pai – acrescenta Alvira –, com a mesma naturalidade, com a mesma franqueza com que a criança trata o seu pai” [34].

Pelas anotações do diário, sabemos que Escrivá completou o horizonte que desejava mostrar aos seus ouvintes, falando da santidade no meio do mundo: “Tratar a Deus e conhecê-lo, desprezando o resto. Honras e riquezas, simples meios. Para ser feliz aqui na terra e lá no céu, uma solução: ser santo; e quanto mais santo, mais feliz” [35].

A segunda meditação do dia foi sobre a morte: “Diz que vai fazer a sua oração em voz alta”, anotou Fuenmayor. A pregação do fundador foi direta, sem rodeios: “como se apresentaria minha alma ao Senhor se morresse agora? E o que faria com as coisas que hoje me preocupam se soubesse que ia morrer imediatamente?” [36]. Alvira anotou, entre outras coisas, o seguinte:

Todos vamos morrer. [...] Um velho Bispo dizia ao Padre [J. Escrivá] que ele todos os meses fazia uma meditação considerando-se cadáver, que lhe davam a Extrema-unção, que os seus membros se iam tornando frios... E então pensava em suas inquietações, em seus trabalhos, nas pessoas que não o queriam bem, etc. Um jovem operário sem fé finalmente conseguiu a graça divina. Ficou doente e morreu pouco depois. O Padre, referindo-se a ele, dizia: invejo-o, meu filho. [...] Porém a nossa alma está na presença de Deus apenas com as nossas boas obras, os nossos sacrifícios, as nossas boas intenções... [37].

Nesse dia, São Josemaria teve duas sessões dedicadas a explicar aspectos do espírito do Opus Dei, como as normas e costumes, várias virtudes humanas... De Fuenmayor escreveu que foram palestras muito amenas porque foi “intercalando numerosas histórias e referências a muitos pontos do espírito da Obra, para que chegassem a conhecê-la perfeitamente” [38].

O dia terminou com uma meditação de São Josemaria sobre a fé, na qual foi comentando passagens da Sagrada Escritura:

O Padre falou que devemos ser homens de fé. Exemplos evangélicos: 1) O cego que, quando sabe que Jesus de Nazaré passa, lança fora tudo e vai buscá-lo. Nós também: devemos romper com energia, não correntes – que felizmente não existem – mas muitos fios de seda que prendem e impedem entregar-se ao Senhor, pedindo-lhe, como o cego, ut videam[39], para que vejamos esses fios [40]. 2) O homem com a mão seca. Também se aproxima de Jesus para pedir-lhe que o cure. E Cristo lhe pede, por sua vez, que ponha a mão em movimento: a nossa cooperação, a nossa ação. E a mão ganha vida à palavra do Senhor: restituta [41]. 3) A mulher encurvada: somente podia olhar a lama e o esterco. Assim tantos na terra. Mas só com a presença do Senhor se endireita e já pode ver o céu do sol e os luzeiros [42]. Também nós temos de olhar para cima. 4) A figueira maldita. O Senhor, tão humano, tinha sede [43], e a figueira parecia preciosa, com folhas verdes, sugando a terra, mas sem fruto; e apesar de que non erat tempus ficorum[44], o Senhor a amaldiçoa e, naquele instante, seca [45], porque a todo momento é necessário dar frutos. 5) A fé dos apóstolos nos anjos da guarda. São Pedro é libertado de fortes cadeias e, quando a criada entra dizendo aos Apóstolos, que estavam reunidos, que Pedro está à porta, eles dizem “será o seu Anjo” [46]. Na festa dos Santos Anjos da Guarda a Obra se funda. Eles foram os cúmplices de tudo o que se fez[47].

Segunda-feira, 27 de setembro de 1948

No dia seguinte, o fundador pregou uma meditação sobre o reinado de Cristo. Utilizando a comparação das bandeiras, talvez inspirado no tradicional tema inaciano, referiu-se a várias atitudes que há no mundo perante o amoroso domínio de Cristo:

O Padre, na oração da manhã comenta a frase de Jesus: “O que não está comigo está contra mim”. Há duas frentes claramente delimitadas. A visão de uma batalha com três exércitos: o das bandeiras vermelhas e negras [48], inimigos de Cristo, que seguem gritando o Crucifige eum[49], que assolam Europa (Alemanha, Áustria, Hungria, Polônia); o dos católicos que não o são de verdade, e que levam bandeiras cinzas; e o dos verdadeiros cristãos, com bandeira branca e tendo por estandarte a Cruz, que querem fazer realidade. para remediar a situação à que alude o Salmo nº 2, o volumus regnare Christum. Entristece hoje contemplar o mapa-múndi; a redenção existe hoje [50]; é horrorosa a invasão dos bárbaros que se aproxima [51]: mulheres, almas puras das crianças, os bens, tudo será brutalmente calcado, se os católicos não souberem ser corredentores com Cristo em sua tarefa profissional, nos cargos oficiais e no seio da família [52].

A descrição desse panorama serviu a Escrivá para estimular a responsabilidade dos seus ouvintes, recordando-lhes que estavam chamados a procurar colocar Cristo no cume das atividades humanas, mais ainda, a ser corredentores com Ele em meio às tarefas profissionais, sociais, familiares, etc. Fazia-lhes chegar o eco da experiência fundacional de 7 de agosto de 1931: “E compreendi que hão de ser os homens e as mulheres de Deus, que levantarão a Cruz com as doutrinas de Cristo sobre o pináculo de todas as atividades humanas... E vi triunfar o Senhor, atraindo a Si todas as coisas” [53].

As notas que Alvira recolheu nesta meditação são mais explícitas em relação às consequências das omissões dos católicos na vida pública: “A Redenção não terminou”. O homem tem uma liberdade de ação. É preciso atuar. Ir aos postos mais elevados, aos de direção, se não queremos que ocorra o que já ocorre em outros países: com as mulheres, com as crianças, com os Religiosos, com os bens”. E acrescenta um episódio contado pelo pregador: “Sacerdote velho e sacerdote jovem se encontram e o velho pergunta: como é a sua vida? Responde o jovem: me levanto tarde, me deito cedo, trabalho pouco... Criminoso! Diz-lhe o velho. Você será isso se se aburguesar, se não trabalhar, se não for às funções de responsabilidade por temor, por medo de cansar-se, pelo motivo que for...” [54].

A segunda meditação foi sobre a vida oculta do Senhor. O pregador começou considerando como Jesus veio ao mundo: “Sem alardes, nem gritaria nem estrépito”. Depois, referiu-se aos “trinta anos de vida oculta [...]. Vida contemplativa, porque Deus está em nosso coração” [55]. As notas recolhidas por Alvira acrescentam alguns detalhes: “Vida ativa ou contemplativa? A nossa, contemplativa. Nossa cela é o mundo inteiro. Cristo no centro da nossa alma. À conquista do mundo para Cristo. [...] Nossa vida é muito dura, de sacrifício e de adoração constante” [56].

“Vida ativa ou contemplativa? A nossa, contemplativa. Nossa cela é o mundo inteiro. Cristo no centro da nossa alma”

Essa tarde, São Josemaria continuou falando de ser instrumentos do Senhor, que necessita de todo tipo de ferramentas. “Fora, portanto, falsas humildades (eu não sirvo, eu não posso, etc.)”, lê-se no diário: “Para uma operação cirúrgica, finos bisturis; para preparar o caminho, um rolo compressor” acrescentou, para explicar a utilidade de cada coisa; e concluiu: “Fora a covardia. O exemplo do Senhor, buscando os Apóstolos: os 12 primeiros; em sua profissão, na qual alguns inclusive continuam depois” [57]. “Jesus chama você no lugar que ocupa, no trabalho que você realiza”, se lê nos apontamentos de Alvira.

Escrivá ainda interveio uma vez mais nesse dia, em outra sessão dedicada a comentar alguns pontos do Decretum laudis de 1947, onde expôs detalhadamente vários aspectos do espírito do Opus Dei. Tinham passado dois dias inteiros e De Fuenmayor anota: “A alegria de todos e cada um é imensa, incrível” e cita o comentário de um dos assistentes, Pedro Zarandona: “Nunca tinha ouvido o Padre e saio emocionado depois de cada palestra. E o mesmo acontece ao ouvir a sua Missa” [58]. O cronista queria deixar constância de que não se deixava levar pelo entusiasmo: “Tudo isto que escrevo não tem o menor exagero. Parece incrível, mas é assim. O Senhor está mimando a todos nós com a sua graça. E o desta semana é mais um exemplo de seu Amor pela Obra e da sua ajuda evidente em todos seus trabalhos” [59].

Terça-feira, 28 de setembro de 1948

Na terça 28, São Josemaria pregou três meditações. Na primeira, comentou a cena em que Jesus lava os pés dos Apóstolos, durante a Última Ceia: “Jesus tenta lavar os pés de Pedro, mas este se nega com falsa humildade. Porém depois, quando o Senhor lhe diz que não terá parte com Ele, reage com a sua impulsividade característica: não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça. Assim é a nossa entrega: total; é verdade que estamos carregados de misérias, mas o Senhor, com a sua graça, ajudará poderosamente” [60].

E continuou comentando as passagens da Paixão de Cristo: “Jesus, de tribunal em tribunal, silencioso. Diante disto, tantas línguas sujas – inclusive de católicos oficiais – tanta murmuração. O terrível momento da coroação de espinhos. Ele se inclina. São as minhas misérias que o pregam. A nossa pouca caridade. Finalmente, na Cruz, sozinho, pregado como um bicho. Recebendo dor em seus sentidos externos e internos. Vamos buscá-lo para fazê-lo descer da Cruz e ficarmos nós pregados” [61].

A segunda meditação foi sobre oração mental. O fundador se referiu aos temas para a conversa pessoal com Deus e deu alguns conselhos práticos para fazê-la bem: “Preocupações, alegrias, desejos, esperanças, tudo, conversar sobre isso com Deus. 15 minutos, e, se for possível, 30. Antes deixar a comunhão que a oração. Num lugar tranquilo: pode ser a igreja, ou em casa muitas vezes melhor. Fórmula lógica e divina para começar: Meu Senhor e meu Deus (São Tomé, quando colocou mão na chaga do Senhor), creio firmemente que estás aqui, etc.” [62].

Prosseguiu ensinando quais devem ser as condições da oração: “Em primeiro lugar, a oração tem de ser humilde: entre o publicano e o fariseu, nós devemos ser como aquele [63]. Em segundo lugar, simples, com a simplicidade das crianças, nas quais se podem aprender tantas lições de oração. Perseverante: Santa Terezinha usava jaculatórias quando não conseguia fazê-la de outro modo. Sejamos homens de oração, de vida interior” [64].

As anotações de Alvira, neste ponto, refletem melhor o colorido da pregação de Escrivá:

Simplicidade na oração. Menino que dizia:Viva Jesus, viva Maria e viva a minha tia. Menino que bate à porta do seu pai com a mão, com o pé, com todo o corpo. E o pai sai com intenção de repreendê-lo, mas ao vê-lo, o abraça. Assim nós na oração a Jesus. Invoquemos Maria, José, o nosso Anjo, para que nos ajudem. Não devemos deixar nenhum dia a oração. Um Chefe de Estado tem a sua guarda e uns consideram uma honra fazê-la, e outros passam o tempo pensando na namorada. Nós devemos considerar uma honra esse tempo de plantão, de oração, e ser pontuais, mesmo que tenhamos olhado para o relógio quarenta e duas vezes na meia hora. Se tínhamos vontade de fazer oração, já ganhamos muito [65].

A última meditação desse dia foi sobre a mortificação. Como era seu costume, São Josemaria glosou vários textos bíblicos: “Se o grão de trigo cai na terra e não morre fica infecundo; se morre, dá muito fruto [66]. Assim, nós precisamos da mortificação para ser fecundos” [67].

Continuou falando dos vencimentos que são necessários para a santidade: “Pequenas mortificações. Oração da carne, dos sentidos. Se um anjo viesse dizer-nos que sem mortificação podíamos ser perfeitos, não seria anjo de luz, mas de trevas” [68]. Passou a referir-se a São Paulo, que contava suas dificuldades para superar a debilidade do corpo [69], e utilizava a comparação do esporte para explicar o esforço que é preciso colocar na vida cristã:

Os atletas fazem tantas coisas para ganhar um prêmio. E nós? Correr [ sic] de maneira que ganheis o troféu, diz o próprio São Paulo: muitos são os que participam e um só leva o prêmio [70]. A mortificação, meio para fazer muito felizes os que nos rodeiam (nossa grande obrigação). A Virgem Maria sabe muito de mortificação: procuremos tirar alguma das espadas que atravessam o seu coração para enfiá-la um pouco no nosso [71].

Nesse dia o fundador continuou explicando o Direito particular do Opus Dei, detendo-se nas “obrigações e privilégios dos supernumerários; a natureza e alcance do seu vínculo com a Obra” [72].

Quarta-feira, 29 de setembro de 1948

Na quarta-feira 29, São Josemaria continuou abordando os temas da vida cristã habituais na sua pregação: caridade, meios para alcançar a santidade, coisas pequenas e direção espiritual. Na primeira meditação, comentou o Mandatum novum, explicando que as obras de caridade devem ser feitas sem chamar a atenção e sem buscar um reconhecimento humano: “O preceito continua tão novo como quando o Senhor o declarou, porque ninguém o usa. Caridade cristã, tão esquecida pelos católicos oficiais. Como contraponto às esmolas com espetáculo (fundações com o objetivo de perpetuar a memória do fundador), a boa ação que ninguém fica sabendo” [73].

Prosseguiu depois explicando um modo concreto de exercitar a caridade: praticar a fraternidade entre os que fazem parte do Opus Dei. Pedia que essa manifestação de amor “seja verdadeiro carinho; amor de irmão, que elogia pelas costas, e corrige cara a cara quando é necessário. O exemplo vivo de Cristo, que chora pelo seu amigo Lázaro; que, compadecido, ressuscita o filho da viúva. Caridade sem hipocrisia: com sacrifício e amor” [74]. As notas de Alvira, que se vão abreviando à medida que passam os dias, acrescentam: “Jesus não disse que os seus discípulos seriam reconhecidos por seriam puros, nem humildes, mas porque se amariam uns aos outros. Cuidado com a língua. Pessoas que comungam todos os dias, mas depois atacam a honra de outros” [75].

No diário lê-se que a segunda meditação desse dia versou sobre os meios que se devem empregar para alcançar qualquer fim e, concretamente o da santidade:

Ante a meta, os homens – segundo sua posição – formam três grupos: os insensatos que desprezam qualquer meio (exemplo do que quer descer do terraço da Telefônica [76] sem elevador nem escada); outros que só aceitam os meios que gostam, que são gratos à sua vontade; e, finalmente, os que, por sentirem-se enfermos, não recusam nenhum remédio. Esta última postura é, além disso, uma consequência lógica da entrega: para servirmos fielmente, temos de utilizar os únicos meios adequados: oração, mortificação e trabalho. O contrário é uma covardia, que nos pesaria por toda a vida. Que a Virgem – a quem devemos pedi-lo – nos adoce e torne agradáveis estes meios. Um propósito geral, amplo: Amor. E, além disso, propósitos concretos, diários [77].

À tarde, o fundador abordou a importância das coisas pequenas, concretamente no que se refere ao cuidado do plano de vida espiritual, quer dizer, essas práticas de piedade que marcam o dia do membro do Opus Dei:

Cumprimento do plano de vida: fidelidade nos detalhes. Diante da pobre viúva que deposita no cofre as moedas de cobre, o Senhor diz: Asseguro-vos que esta viúva deu mais do que ninguém. Perseverança, com humildade, entregando-nos à nossa mãe como crianças para que ela nos pegue, nos leve. Que neste cumprimento detalhado de nossas obrigações está a própria santidade; porque os santos são de carne e osso, não de papelão. O exemplo de Isidoro [Zorzano][78]; santificou-se com o trabalho diário, com humildade extraordinária [79].

Na última meditação desse dia, deteve-se na “confidência semanal e na direção que a Obra proporciona a seus sócios por meio do Diretor e de seus Sacerdotes” [80], quer dizer, tudo o que se requer para aproveitar com fruto o acompanhamento espiritual de que se beneficiam os fiéis do Opus Dei para avançar no caminho da santidade.

Quinta-feira, 30 de setembro de 1948

As últimas meditações de São Josemaria foram na quinta-feira, 30 de setembro[81]. Na primeira, o fundador comentou a parábola da boa semente e da cizânia: “O bom semeador, que semeia trigo; e chegam os inimigos e, covardemente, semeiam cizânia. Assim na terra, entre nós: quantos, covardemente – porque depois fogem – semeiam a cizânia! Tudo porque aqueles a quem o Senhor encomendou o campo não o vigiaram: não sejamos homens dormentes[82].

Explicou que essa vigilância devia aplicar-se também à vida pessoal, para detectar as tentações sutis do demônio: “Não virá a nós grosseiramente com um pedaço de carne crua, mas guisada, temperada e, em coisas pequenas: aqui é preciso fazer-se fortes. Os meios são os já conhecidos: oração, mortificação e trabalho. Não ter medo da penitência; matéria sobre a qual se deve consultar o Diretor” [83]. A propósito desta parábola, estendeu-se também falando da inspiração cristã que os membros do Opus Dei deviam procurar oferecer no meio em que vivem e trabalham. Explicou algumas características que o apostolado pessoal no ambiente profissional devia ter: “No trabalho: prestígio; alçar a cabeça com humildade sobre os outros companheiros e dar-lhes critério, sem ser ‘pregador’ (não somos dominicanos). E com tudo isso, adquirir um sentido novo de todas as coisas, que nos encha de paz e de alegria, de contentamento (alegria com conteúdo)” [84].

Na tarde desse último dia, fez algumas reflexões sobre a história do Opus Dei e, concretamente, sobre as perseguições que tinha sofrido, algumas delas em ambientes eclesiásticos. Agora, depois da aprovação como instituto de direito pontifício, a Igreja o tinha abençoado e posto como exemplo. Assim, concluía, sucede também na vida das pessoas: “doenças, mortes, contrariedades, apuros econômicos, deslealdades profissionais, tormentas... e depois o sol” [85] Fez referência à pesca milagrosa de Jesus e, relacionando-a com a vocação ao Opus Dei, apontou:

E não se pense que esta dedicação pode prejudicar minimamente a vida familiar ou os interesses econômicos familiares: quando Pedro se esforçava com a pesca, sem sucesso, Jesus lhe mostra o lugar certo e, então, ele tira muitos peixes sem que a rede se rompa.

Mesmo que o nosso trabalho aumente no mundo, a rede (lar, profissão, etc.) não se romperá [86].

Acabavam aqueles dias e a última meditação de São Josemaria estava reservada ao tema da perseverança. Quis pregá-la no final da tarde, para que, no dia seguinte, todos pudessem viajar cedo. Disse-lhes entre outras coisas:

Muitos começam, mas poucos chegam ao topo. Em nosso caso, são poucos os que começam, mas, seguramente, muitos terminarão. A graça de Deus não nos há de faltar.

Nos Atos dos Apóstolos lê-se que os primeiros cristãos eram perseverantes na fé, no pão e na palavra [87]. Teimosia: neste ponto sejamos obstinados, se uma porta se fechar, outra se abrirá. Que a partir de agora sejamos filhos da mãe boa e bonita que é a Obra, “cor unum et anima una” [88].

Os dias de Molinoviejo, vistos pelos assistentes

Já recolhemos as impressões de Amadeo de Fuenmayor, o cronista desses dias, sobre a satisfação que reinava entre os participantes, à medida que o fundador desdobrava diante dos seus olhos o panorama de uma entrega a Deus como supernumerários. Vejamos agora algumas impressões sobre diversos aspectos daquela convivência, que ficaria gravada na memória de muitos deles.

O clima de família e a pregação de São Josemaria

Um dos desafios formativos desta nova etapa na história do Opus Dei era transmitir aos supernumerários o espírito de filiação e de fraternidade que são característicos da Obra e que o fundador considerava essenciais. Até esse momento, tinham existido somente membros numerários, entre os que esses aspectos estavam assumidos, em maior ou menor medida. Faltava ver como estes traços espirituais seriam incorporados por pessoas com menos ocasiões de se encontrar e que poderiam ver o fundador com menor frequência.

Entende-se, portanto, a satisfação que se transluz numa anotação de Fuenmayor: “Não quero deixar de consignar o fato de que os três que conheceram o Padre nesta semana – Hermenegildo [Altozano], Juan C. [Caldés], e Pedro [Zarandona] – comentaram espontaneamente e separadamente o grande carinho que já sentem por ele. É maravilhoso ver como vibram todos animados deste espírito de filiação” [89]. E, em outro lugar, anota: “É formidável ver como os que há três dias nunca se haviam visto, tratam-se já como velhos amigos, como verdadeiros irmãos, que se amam familiarmente. Eles mesmos o notam e o comentam cheios de admiração” [90].

Esse clima se devia, em boa parte, à presença e ao exemplo do fundador. A este propósito, Alvira recordava anos depois:

O Padre atendia a todos, nos animava, colocava esse selo de bom humor que lhe era tão habitual. O que o Padre nos disse penetrou profundamente em todos e criou-se um clima de grande amizade. Por isso, agora, depois dos anos passados, continua essa autêntica amizade que nos faz lembrar, quando nos vemos, aqueles dias passados junto ao Padre recebendo doutrina e vendo novos caminhos para a nossa vida espiritual, que nos fizeram tanto bem [91].

“Sempre com uma alegria transbordante – recordava-o Juan Caldés – [...] tinha na boca o riso fácil e, às vezes, a gargalhada cordial” [92]. Nos momentos livres, jogávamos futebol ou íamos à piscina, cantávamos ou escutávamos música e, nas tertúlias depois do almoço ou do jantar, cada um contava as suas recordações e histórias. “Conversávamos todos como uma família cujos membros se amam familiarmente – lembrava Ivars –. A maioria deles eram desconhecidos para mim até então; contudo parecia que eu sempre tinha vivido com eles. A tertúlia era uma verdadeira festa” [93].

Juan Caldés recordava assim a imagem do fundador:

Desde o momento em que nos recebeu (na sala de estar que fica antes do oratório) com umas frases amáveis (“esta é sua casa; bem-vindos a ela; é pobre, mas feita com carinho”), me senti fortemente atraído por um algo especial; depois, ao longo do curso, foi-se concretizando essa atração porque, em cada Missa, em cada meditação, com ele podíamos sentir a graça de Deus que parecia desprender-se de sua presença e se derramava nas suas palavras” [94].

Não foi uma impressão isolada. Outros assistentes recordavam, depois dos anos, a pregação de São Josemaria: “O tema habitual era comentar uma passagem do Evangelho – anota Antonio Ivars –. Não era possível a menor distração. Parecia dirigir-se a cada um. Falava no singular. Não costumava dizer “vocês” mas “você” ou “você e eu” [95].

O horizonte da vocação

São Josemaria contava com a experiência das semanas de formação que desde muitos anos [96] eram feitas para os membros numerários. Mas esta convivência requeria várias adaptações e uma compreensão prévia das características de um supernumerário que só o fundador podia ter. A julgar pelos testemunhos dos presentes, a mensagem chegou alta e clara. Ángel Santos, por exemplo, guardou na memória as ideias que tirou daqueles dias. Ao lê-las hoje, mostram-nos como um bom resumo dos traços essenciais de um supernumerário:

Santificar nosso trabalho habitual, buscando assim a plenitude da vida cristã; santificar o mundo a partir de dentro, com os meios da nossa vida interior e do cumprimento dos nossos deveres comuns de cristãos; ser contemplativos, com naturalidade, em meio das nossas tarefas cotidianas; fazer um apostolado de confidência que abarque a nossa existência e eleve a amizade até os cumes da caridade; ser semeadores de paz e converter nossas casas em lares luminosos e alegres. E tudo com estrita responsabilidade individual – sem aspirações representativas, sem tendências clericais – característica de um laicato maduro. Alheios a uma vocação religiosa, porém a serviço da Igreja. Para isso contaríamos, desde então, com uma adequada formação doutrinal, direção espiritual, calor fraterno e impulso para iniciativas pessoais [97].

Para alguns, essa proposta representou uma novidade. Todos conheciam as ideias do fundador, há mais ou menos tempo, apesar de não o conhecerem pessoalmente, mas talvez nenhum havia encontrado até esse momento uma visão tão completa e acabada do que significava a vida de um supernumerário.

Como dissemos, os participantes tinham a experiência de uma fé vivida e praticada intensamente há anos e vários tinham participado ativamente no apostolado secular. Contudo, é significativo o que escrevia Mariano Navarro Rubio, referindo-se especialmente àqueles dias em Molinoviejo:

Sobre a minha mentalidade na época, forjada desde muito jovem na Ação Católica, caíram umas ideias que me pareceram novidades agressivas para o modo de entender a religião que eu tinha então. O Padre falava constantemente de santificar o trabalho diário com uma insistência que sem dúvida destacava um ponto fundamental; do apostolado “ad fidem” – de amizade com protestantes e judeus – o que então parecia um tanto estranho; da ascética sorridente junto com essa outra ideia maravilhosa da vida contemplativa no meio do mundo. Tudo isto soava a renascimento religioso, a glória viva. De repente, víamos as mesmas coisas que antes, mas com uma cor diferente. Surgia uma visão otimista e exigente ao mesmo tempo, que falava de vocação de santidade aos seculares, quando em todos os lugares nos consideravam como uma espécie de católicos de segunda categoria. Sobretudo a vida matrimonial, aparecia com uma riqueza religiosa para mim, e creio que para todos, desconhecida até então [98].

O sim à vocação

Ficou-lhes claro, segundo os testemunhos que possuímos, que o Opus Dei não era uma associação circunstancial. Era algo diferente, que compreenderam bem ao receber as explicações do fundador. Antonio Ivars escrevia:

A Obra era muito jovem e estava se estendendo com rapidez. [...] Um painel de tecido recordava que “as águas passarão” e, numa fontezinha situada num dos corredores, lia-se “ inter medium montium pertransibunt aquae” [99]. A Obra queria ser uma injeção intravenosa na corrente circulatória da sociedade. Todo o quid estava no “unum necessarium”; a santidade pessoal, fazendo cada um o seu, no seu lugar, com perfeição, pela glória de Deus, com esquecimento de si e sem ruído [100].

Juan Caldés escreveu, transcrevendo palavras de Escrivá: “Vereis coisas maravilhosas”. Porém sempre, sempre, como um “presente de Deus, como uma prova de amor da Providência” [101]. “Através de seus comentários – anotava Carlos Verdú – falava-nos com tanta fé de coisas, acontecimentos e desenvolvimento futuro da Obra [...], o Padre as assegurava de tal forma, que dava a impressão de que as via já feitas realidade” [102].

Aquela semana – acrescenta Ivars – foi decisiva para todos. Tudo estava claro e tudo era simples. Além disso, era lógico e sensato. Continuaríamos sendo os mesmos, fazendo as mesmas coisas, mas apontando sempre para uma meta: a santidade pessoal. [...] Ouvimos esta luminosa frase: “Vivereis um bonito romance de aventuras e de amor”. E, ao cabo dos anos, muitos anos, fomos comprovando que isto foi verdade [103].

Durante os dois últimos dias – recorda Ángel Santos – “o Padre passeou individualmente com cada um de nós, à margem do riachinho da propriedade. Minha conversa foi, eminentemente, de agradecimento pelo maravilhoso presente que me fazia ao poder pertencer à Obra e dedicar minha vida a Deus, dentro de meu estado civil de cidadão e de cristão comum” [104].

Manuel Pérez Sánchez também recorda aquela conversa na qual São Josemaria lhe disse, entre outras coisas: “Exponham a sua disposição com toda liberdade; eu não os coajo minimamente. Se você não está disposto diz com toda franqueza, não o faça por mim. Esteja disposto ou não a ser supernumerário, eu terei o mesmo carinho por você” [105]. Silverio Palafox, o médico vindo de Valência, recordava aquela conversa pessoal com o fundador:

Levava-me pelo braço com força e suavidade ao mesmo tempo. Fiquei literalmente pasmado das coisas que sabia, não já de mim mesmo, mas também de questões “muito pouco comuns”, que me interessavam muito e que quase todos ignoravam, ou então deformavam ou tinham medo de falar delas: origem da vida, evolucionismo, fundamentos biológicos da sexualidade e do pensamento, higienismo, medicina alternativa...

Duas coisas ficaram indeléveis em minha memória: uma: “Agradece a Deus esta vocação que lhe deu como prêmio porque você ajudou o seu irmão para que pudesse seguir a dele”. E outra: “Dá-me muita alegria que, com muita piedade, prudência e formação você coloque doutrina em todos esses temas que estão nas mãos de marxistas, maçons, materialistas...”. E o exemplificou magistralmente com o melhor humor: “Porque também me dará muita alegria o dia em que tiver um filho toureiro; mas não posso dizê-lo a ninguém que se ponha a tourear para alardear que há toureiros na Obra... Cada um com o seu” [106].

Pedro Zarandona também tinha gravados esses instantes “enquanto passeava pela margem do pequeno rio que atravessa a propriedade, muito perto do antigo pinheiral. Em conversa íntima e simples, em alguns momentos segurava no meu braço com gesto de confiança, falou-me com palavras cheias de fé e amor a Deus, da grandeza da vocação de entrega no meio do mundo, santificando o trabalho e as coisas normais de cada dia. Aquelas palavras me confirmaram na decisão que poucos meses antes tinha tomado de pedir a admissão na Obra” [107].

O diário daqueles dias conclui assim: Terminou esta 1ª semana, e fica em nossa recordação como um sonho, um sonho real. O Senhor mostrou novos horizontes para nós, que nos enchem de alegria e felicidade. E eles voltam a seus lares e a seu trabalho para continuar a mesma vida, mas com objetivos claros, entusiasmos divinos e vocação de santidade” [108].

Conclusões

Tendo em vista os documentos e testemunhos que examinamos, podemos tirar algumas conclusões. Em primeiro lugar, o fundador conseguiu transmitir aos participantes a ideia fundamental do que é o supernumerário no Opus Dei: um fenômeno vocacional para santificar-se no mundo. Dizer isto em 1948 surpreendia, inclusive aos que tinham conhecido São Josemaria no passado e estavam familiarizados com o espírito do Opus Dei. Todos sabiam que o estado matrimonial não era incompatível com uma intensa vida cristã, mas propor este como uma vocação, com tudo o que este termo implicava na época e agora, era uma coisa diferente.

A alegria e a surpresa que esta descoberta produziu no grupo foram grandes. Eram pessoas que desejavam entregar-se a Deus e vários deles já haviam tentado ou considerado isso antes anteriormente, pensando ser sacerdotes ou numerários, e perceberam que não era o caminho deles. Agora, finalmente, encontravam o seu caminho vocacional.

Pelo que conhecemos, a sua mensagem àquele grupo de homens casados ou com perspectiva de formar uma família não foi diferente do que vinha dizendo a grupos de homens ou mulheres que desejavam viver essa vocação no celibato. A primazia da vida contemplativa, a santificação das realidades do mundo e do trabalho, a participação responsável nas questões temporais, servindo a Deus e à sociedade no seu próprio lugar, com desejo de irradiar ao máximo o espírito cristão, sem temor de ocupar cargos de prestígio ou de relevância se Deus os chamasse a desempenhá-los, são temas que sempre pregou. Não há, por assim dizer, uma mensagem específica para os supernumerários.

A biografia dos participantes, como se pode ver no anexo, mostra um grupo heterogêneo por sua formação civil, procedência geográfica ou conhecimento anterior da Obra. Ao mesmo tempo, há alguns traços comuns: todos tinham formação universitária ou, no caso de dois deles, eram oficiais da Marinha. Eram profissionais de prestígio e inclusive vários chegariam a ser personalidades preeminentes no panorama científico, político, cultural e econômico da Espanha. Também, em alguns, desenvolver-se-ia a preocupação de se envolverem em iniciativas de repercussão social. No que diz respeito a suas filiações ou ideologias, não se menciona nos documentos de arquivo que utilizamos, e isto se deve, em boa parte, a que, no Opus Dei, se evita perguntar aos outros por suas opiniões nestes campos, para respeitar a liberdade. De alguns, como Fontán, sabemos que foi muito próximo de Francisco Franco, enquanto Navarro Rubio chegaria a ser ministro do regime, embora costume ser apresentado como um católico tecnocrata, e, de Altozano, sabemos que era monárquico. Do resto, podemos supor que existia a relativa homogeneidade que se dava entre os católicos espanhóis da época, que tinham vivido a Guerra Civil e apoiado o partido nacional.

Tinham passado vinte anos desde o 2 de outubro de 1928 e o fundador tinha podido amadurecer, à luz do carisma fundacional e das próprias experiências desses anos, uma visão praticamente definitiva sobre os supernumerários, que foi a que, em boa parte, lhes comunicou nesses dias e a que ficaria plasmada, ao cabo de uns meses, na Instrução para a obra de São Gabriel [109]. A partir desse momento, esta parte do Opus Dei decolaria de modo definitivo: dos 2404 membros varões e das 550 mulheres com que o Opus Dei contava nos princípios de 1950, os supernumerários já eram 519 varões e 163 mulheres [110].

Apêndice. Breve resenha biográfica dos assistentes (em ordem alfabética)

Para compor estas breves notas biográficas, centramo-nos na documentação disponível em AGP; foram usadas as relações testemunhais que vários dos protagonistas redigiram por ocasião da causa de canonização de São Josemaria e breves notas necrológicas sem assinatura, redigidas por ocasião do falecimento dos interessados. Pelo tema e limites deste artigo, não se procurou outra documentação primária em arquivos públicos e privados, limitando-nos a usar bibliografia e dados de domínio público, tirados de diversas publicações e alguns sites.

Ángel Santos Ruiz (1912-2005)

Ángel Santos, à esquerda, com José Antonio Galarraga, em 1944.

Nasceu em Reinosa (Cantábria) em 1912. Aos vinte e dois anos terminou a licenciatura na Faculdade de Farmácia da Universidade de Madri e ampliou estudos em Londres e Paris. Conheceu São Josemaria em setembro de 1935, através de Miguel Deán, um amigo que também chegaria a ser supernumerário um pouco mais tarde.

Em suas recordações, escritas muitos anos depois, encontramos a exortação do fundador do Opus Dei sobre “a conveniência de preparar-se otimamente, tanto no científico quanto no profissional, para ter prestígio e ser capazes de influir, com visão cristã, no ambiente familiar, universitário e social” [111].

Foi um dos que se incorporou às atividades de So.Co.In. Durante a Guerra Civil, Isidoro Zorzano levou-lhe, algumas vezes, a comunhão e, em algumas ocasiões, um sacerdote celebrou clandestinamente a Missa em sua casa. Mas, como outros católicos, Santos Ruiz acabou sendo detido e encarcerado. Ao terminar a Guerra Civil, continuou participando nas atividades de formação cristã do Opus Dei, tendo São Josemaria como diretor espiritual.

Em 1940 obteve a cátedra de Química Biológica na Faculdade de Farmácia da Universidade Central de Madri. Lembrava que São Josemaria “parabenizou-me e, com sua veemência característica, esclareceu minhas responsabilidades como universitário, como cientista e como filho de Deus. Devia ter um grande amor a meu trabalho – sem colocar as minhas esperanças na glória humana e no agradecimento dos outros – com retidão de intenção e, sobretudo, uma constante preocupação de fazer apostolado com meus companheiros e amigos, ajudando-os desinteressadamente, não só no espiritual, mas também no material, se fosse preciso” [112].

À medida que Santos conhecia melhor o Opus Dei, sentia inquietação ante uma possível chamada de Deus, mas recordava que o fundador lhe falou de sua vocação para o matrimônio: “Uma vocação maravilhosa – dizia o Padre – que eu abençoo com as duas mãos” [113]. O próprio Escrivá celebrou o seu casamento em 4 de dezembro de 1941 com María del Carmen Díaz Hernández Agero, que também seria supernumerária. Tiveram quatro filhos.

Ao mesmo tempo em que trabalhava na universidade, estudou Medicina em Salamanca e fez o correspondente doutorado em Madri. Por seu trabalho no ensino e pesquisa, chegou a ser um dos pais da Bioquímica na Espanha. Em 1955 foi nomeado presidente do Comitê Nacional de Bioquímica. Foi um dos fundadores da Sociedade Espanhola de Bioquímica e presidente da Real Academia Nacional de Farmácia, além de acadêmico da Real Academia de Medicina. Recebeu cinco doutorados honoris causa e outros importantes reconhecimentos e condecorações pela sua atividade científica [114].

Faleceu em 23 de abril de 2005, aos noventa e dois anos de idade.

Antonio Ivars Moreno (1918-1997)

Antonio Ivars, o segundo da esquerda, em Valência, em 1948.

Nasceu em Valência em 1918. Estudou Direito em sua cidade natal e fez o doutorado em Madri. Conheceu o fundador do Opus Dei durante as primeiras viagens de São Josemaria a Valência, depois da Guerra Civil espanhola, em 1939, quando, segundo suas recordações, “um amigo íntimo, o descreveu como um sacerdote santo, dedicado à formação da juventude. Falou-me de uns círculos que aconteciam numa modesta sobreloja da rua de Samaniego n° 9, aos que me propôs assistir” [115]. Ali conheceu São Josemaria, um dia em que o fundador estava “deitado num colchão, doente, com febre, magro” [116]. Quando se recuperou, atendeu a confissão dele e convidou-o para a Missa, que o impressionou profundamente. Como resultado desse encontro, recordava, “a minha vida mudou. Durante os últimos anos, tinha aspirado a encontrar algo que “me satisfizesse por completo” e era, exatamente aquilo, o que esperava sem sabê-lo” [117].

Em 1940, quando já estava funcionando uma residência de universitários na mesma rua Samaniego, Antonio Ivars teve uma conversa com Pedro Casciaro e Amadeo de Fuenmayor. Disseram-lhe que São Josemaria “tinha dito que eu tinha vocação matrimonial e que não me perturbassem” [118]. Desde aqueles primeiros contatos com o Opus Dei, sentia-se já parte da Obra: “sou supernumerário e não o fui ‘de jure’ até dez anos depois. Contudo, a minha vocação surgiu no primeiro momento” [119].

Profissionalmente trabalhou na Companhia de Bondes e de Caminhos de Ferro de Valência, da qual foi Secretário Geral. Em 1957, levado por suas preocupações com a melhoria do mundo empresarial, fundou uma escola dirigida à formação de altos executivos de empresas, uma iniciativa pioneira em Valência. Escreveu vários livros relacionados com a formação de executivos e a gestão de empresas.

Organizou tertúlias que o ajudaram a ampliar o campo de suas amizades. Um bom número de supernumerários de Valência garantem que graças a ele descobriram a sua vocação. Em 1982 fundou a Escola Tertúlia, à qual assistiam semanalmente grupos pequenos de empresários com os quais discutia temas humanísticos, culturais, sociais e profissionais.

Na última etapa da sua vida padeceu, durante dez anos a doença de Alzheimer. Faleceu em 25 de abril de 1997.

Carlos Verdú Moscardó (1914-1991)

Nasceu em Paterna (Valência) em 1914. Estudou Direito na Universidade de Valência.

Foi um dos universitários que se encontravam no primeiro retiro que São Josemaria pregou em Valência em 1939. Era bolsista do Colegio Mayor San Juan de Ribera, em Burjasot (Valência). Três estudantes foram designados para ir a Madri e trazer o padre Josemaria Escrivá: um deles era Verdú. Rememorando aquelas horas de viagem de carro de Madri a Valência com São Josemaria, escrevia que a conversa “girava em torno da sua preocupação de conquistar a Universidade para Jesus Cristo. Despertava em nós o senso de responsabilidade que, como estudantes católicos, deveria levar a sermos os melhores em todas as áreas e ter competência e de prestígio para fazer no ambiente universitário o trabalho que devíamos como intelectuais católicos” [120].

Verdú foi protagonista de um relato que São Josemaria evocou em diversos momentos da sua vida, oralmente e por escrito, que se relaciona com um grande cartaz no qual estava o lema “Cada caminante siga su camino”, deixado pelas tropas republicanas que tinham ocupado o edifício durante a guerra. Quando ia arrancá-lo, São Josemaria lhe disse que podia ser útil deixá-lo e, durante o retiro, “rara era a meditação ou palestra em que, de um modo ou de outro, não aproveitasse aquela frase “cada caminhante siga o seu caminho” para animar-nos a ser coerentes no nosso atuar católico” [121].

Verdú também conheceu nesses dias, com a ajuda de São Josemaria, o seu próprio “caminho”, o de buscar a santidade dentro do estado matrimonial. Não voltaria a ver o fundador até a convivência de Molinoviejo, para a que foi convidado por seu velho amigo Ángel López-Amo [122], por encargo de São Josemaria.

Depois da convivência, já como supernumerário, tornou a encontrar São Josemaria em Valência, em abril de 1949. Nessa ocasião, acompanhavam-no três amigos seus que, pouco tempo depois, pediram a admissão como supernumerários.

Casou-se com María Sancho Minaya, com quem teve quatro filhos. Dedicou-se ao livre exercício da advocacia em Valência e Gandía, localidade próxima da capital Valenciana. Ocupou também cargos na vida pública Valenciana: foi deputado provincial da Deputação de Valência, substituto de alcaide da Câmara Municipal de Valência e diretor do Hospital Provincial da mesma cidade. Continuou sempre em contato com o Colegio Mayor San Juan de Ribera, de cujo patronato foi membro, além de presidente da associação de antigos alunos.

Faleceu em 24 de julho de 1991 em Valência, depois de três anos de grave doença.

Emiliano Amann Puente (1919-1980)

Emiliano Amann, com outros residentes de DYA (Madri), no terraço da residência, em maio de 1936. Emiliano é o primeiro da direita.

Nasceu em Bilbao em 1919. O seu pai era um ilustre arquiteto, Calixto Emiliano Amann Amann (1882-1942) [123]. Ao terminar o ensino médio, com apenas 15 anos, mudou-se para Madri a fim de preparar o ingresso na Escuela de Arquitectura e alojou-se em DYA, uma residência que havia começado em 1934, sob o impulso do fundador do Opus Dei [124]. As cartas que, da residência, escreveu a seus pais, que foram publicadas no número 2 da revista Studia et Documenta[125], refletem a vida cotidiana dos primeiros membros do Opus Dei e do seu fundador, que realizavam uma ampla atividade de formação cristã.

O início da Guerra Civil separou-o por algum tempo da formação e ajuda espiritual que recebia em DYA, mas quando São Josemaria conseguiu fugir da perseguição religiosa e estabelecer-se em Burgos, recuperou o contato com ele e Emiliano recebeu a sua paterna solicitude, tanto pessoalmente como por carta. Uma carta de Amann se encontra na origem dos pontos 106 e 977 de Caminho[126].

Ao terminar a guerra, Amann voltou a Madri, e ajudou a instalar a nova residência da rua Jenner, onde se alojaria. Dali mudou-se para a Residência Moncloa, que começou suas atividades em 1943. Continuou encontrando São Josemaria, embora com menos frequência. Ao terminar o curso de Arquitetura, em 1946, voltou a Bilbao. Muito provavelmente, Escrivá também tinha falado com ele da “vocação matrimonial” e, quando Emiliano Amann se casou com Carmen Garamendi, em 1948, São Josemaria celebrou o matrimônio em Algorta (Vizcaya). Em Molinoviejo, quando lhe expôs a possibilidade de pedir a admissão como supernumerário, Amann recordava que “não duvidei um segundo, porque confiava no Padre” [127].

Como arquiteto, Emiliano Amann trabalhou nos anos do desenvolvimento, continuando a linha inovadora de seu pai para projetar moradias sociais que diminuíam custo e melhoravam o aproveitamento do espaço. Trabalhou também como arquiteto diocesano entre os anos 1956 e 1960, e realizou diversos projetos para Moradias de Vizcaya, para a Obra Sindical do Lar, para o Banco Popular e para a Telefônica. Além disso, encarregou-se de edifícios destinados a atividades apostólicas relacionadas com o Opus Dei, como a casa de retiros Islabe (Derio, Vizcaya).

Faleceu em 13 de dezembro de 1980.

Hermenegildo Altozano Moraleda (1916-1981)

Nasceu em Baños de la Encina (Jaén) em 23 de dezembro de 1916. Começou o curso de Direito com apenas quinze anos em 1931, na Universidade de Granada. Nos anos da 2ª República foi presidente da Associação de Estudantes Católicos de Direito e Filosofia e Letras da sua universidade. Ao terminar a universidade, ainda muito jovem, ganhou o concurso para o corpo jurídico da Armada. Tomaria posse de seu cargo ao acabar a Guerra Civil espanhola. Depois foi nomeado professor na Escola Naval de Marín. Na Marinha alcançou a graduação de general auditor. De 1949 a 1955 foi secretário geral do Governo nos territórios da colônia espanhola que hoje é a República da Guiné Equatorial, em tempos nada fáceis. Como escrevia Antonio Fontán, Altozano “foi jurista e militar prestigioso, e ao mesmo tempo um político independente e nada convencional” [128]. Tinha ideias monárquicas e fez parte do conselho do Conde de Barcelona. Entre 1959 e 1962, foi governador civil de Sevilha [129]. Quando deixou a política, foi diretor do Banco Hipotecário da Espanha. Era conhecido como “um homem profundamente humano, que conquistou o respeito e as simpatias gerais nas diversas funções públicas que desempenhou” [130].

Conheceu São Josemaria em Molinoviejo, na ocasião de que este artigo trata. Nas recordações dos que o conheceram no Opus Dei, é descrito como um homem amável e delicado no trato, sorridente e equilibrado, com muitos amigos, aos que procurava aproximar de Deus. Ele e sua esposa tiveram oito filhos.

Faleceu em Jerez de la Frontera (Cádiz) em 12 de setembro de 1981, devido a um câncer.

Jesús Fontán Lobé (1901-1980)

Nasceu em 26 de abril de 1901, em Vilagarcía de Arousa (Pontevedra). Foi marinheiro de guerra, onde alcançou o grau de vice-almirante. Vivendo em El Ferrol, quando era menino, conheceu um amigo do seu irmão Juan, mais velho do que ele, que ia estudar em sua casa: chamava-se Francisco Franco Bahamonde. Desde então, tiveram uma estreita amizade, e por esta razão o general e ditador espanhol o nomeou seu ajudante em fevereiro de 1939 [131].

Fontán ingressou na Escola Naval em 1917 e, mais tarde, obteve os títulos de piloto de dirigível e de observador naval, além do diploma de Estado Maior. Durante a Guerra Civil, foi detido em Madri, em setembro de 1936, e passou dois meses no Cárcere Modelo. Depois de ser posto em liberdade, passou para a zona nacional, em junho de 1937. A partir de então foi destinado para diversos buques e trabalhou no Quartel Geral do Exército, em Salamanca.

Em 1942, conheceu José María González Barredo, um dos primeiros membros do Opus Dei, que era catedrático da Universidade de Zaragoza e lhe falou de São Josemaria. No dia seguinte conheceram-se e a simpatia do fundador o conquistou. Em encontros sucessivos, foi testemunha da segurança com que falava do futuro desenvolvimento da Obra. Nesses anos, Jesús Fontán também conheceu Álvaro del Portillo[132].

Nos primeiros dias de abril de 1946, Fontán cessou em seu cargo de ajudante do Generalíssimo, para comandar o buque Galatea. No verão de 1947, recebeu a agradável e inesperada visita de Josemaria Escrivá e de Álvaro de Portillo em sua casa de Pontedeume. Com sua mulher, Blanca Suanzes, que também foi supernumerária, tinham então seis filhas e dois filhos. “Com o carinho que o Padre [J. Escrivá] punha em tudo, recordava Fontán – olhou minhas filhas e disse: “ Destas tenho eu que levar alguma” e o Senhor concedeu vocação a duas[...]. Ao despedir-se, disse-me: Já podes ser da Obra” [133].

Depois de ocupar cargos de grande responsabilidade, em 1967 terminava sua atividade na Armada, mas não a relação com o mar. Nesse ano, foi nomeado presidente do Instituto Social da Marinha, que se ocupa do serviço sanitário e previsão social para os trabalhadores do mar, além de facilitar outras ajudas aos que desempenham esse duro ofício e a suas famílias. Cessou nesse cargo em 1976, aos 75 anos de idade.

Faleceu em 26 de agosto de 1980, em sua casa de Cabañas (A Coruña). Em seu funeral estavam presentes muitos dos companheiros marinheiros que procurou aproximar de Deus durante sua vida como supernumerário.

Juan Caldés Lizana (1921-2008)

Durante uma tertúlia com São Josemaria em Tajamar (Madri), em 1972: em segundo plano, com óculos, aparece Juan Caldés.

Nasceu em Liuchmayor (Mallorca), em 1 de janeiro de 1921. A família teve de mudar-se para Madri e aí Juan estudou o ensino médio, obtendo o prêmio extraordinário de exame de Estado. Depois da Guerra Civil, estudou Direito na Universidade de Valência, e terminou em 1944. No ano seguinte, obteve o título de doutor em Madri e ganhou no concurso a oficial letrado do Instituto Social da Marinha em 1946. Nesse mesmo ano, fundou, em Madri, a Academia Universitária São Raimundo de Peñafort, dirigida a trabalhadores de diversos setores, que, deste modo, poderiam estudar Direito no horário noturno. A Academia chegou a ser um centro modelo em seu gênero e inspirou a criação de outros semelhantes na Espanha. Em 1956, centenas de empregados já tinham feito o curso de Direito [134].

Juntamente com Leonardo Prieto Castro, catedrático de Direito Processual, Juan Caldés fundou também a Escola de Prática Jurídica da Universidade de Madri. Quase meio século depois, havia, na Espanha, setenta e quatro escolas desse tipo.

Durante os estudos em Valência, tinha conhecido o Opus Dei, graças a Amadeo de Fuenmayor e a José Montañés. Pediu a admissão como supernumerário em 15 de julho de 1948, semanas antes de ir a Molinoviejo. Quando São Josemaria conversou com ele, não teve de propor-lhe sua possível vocação, como a outros: “num momento em que me tomou pelo braço e passeamos – recordava Caldés –, somente me fez uma recomendação muito concreta: no próximo ano, queria ver-me ali com dois amigos meus. A sua preocupação com o apostolado era gigantesca” [135].

Casou-se com Consuelo Llopis Martínez, que também foi supernumerária. Tiveram dez filhos.

Ao longo da sua vida profissional desempenhou diversos cargos relacionados com a advocacia e a economia: no Conselho Geral de Advogados, a Mutualidade de Advogados da Espanha, a Confederação de Entidades de Previsão Social da Espanha, etc. Desde 1958, ocupou-se também de bancos: primeiro no Banco Popular e, depois, como diretor do Instituto de Crédito das Caixas Econômicas, donde recordava ter passado seus quatro anos mais felizes, profissionalmente [136]. Tradicionalmente, as Caixas Econômicas favoreciam obras sociais e culturais, que Caldés impulsionou nesses anos, com a criação de residências para a terceira idade, escolas, etc. Em 1972, o Instituto de Crédito foi absorvido pelo Banco da Espanha, do qual Caldés passou a ser diretor geral até 1984. Depois voltou a exercer a advocacia.

Faleceu em 30 de maio de 2008.

Manuel Pérez Sánchez (1905-2002)

Nasceu em Herrera de Ibio (Cantábria) no 8 de novembro de 1905. Depois de estudar o ensino médio em Santander mudou-se para Madri, em 1924, para preparar o ingresso na Escola Técnica Superior de Engenheiros de Caminhos, Canais e Portos. Ali seu conterrâneo e amigo Manuel Sainz de los Terreros convidou-o para as atividades de formação cristã que o fundador do Opus Dei organizava.

Conheceu São Josemaria em 18 de março de 1934, num retiro espiritual que ocorreu na residência dos padres redentoristas da rua de Manuel Silvela 14, em Madri. Pouco mais tarde pedia a admissão no Opus Dei.

Desde anos antes, colaborava nas atividades que as Conferências de São Vicente de Paulo promoviam na paróquia de São Ramón, no bairro madrileno de Puente de Vallecas. Um dos participantes era um aluno do primeiro ano da Escola de Caminhos, Canais e Portos: Álvaro del Portillo. Um dia em que todos falavam com entusiasmo de Josemaria Escrivá, Pérez Sanchez ficou de apresentá-lo a del Portilho, o que aconteceu uns dias depois, na Residência DYA. Dom Álvaro del Portillo guardou sempre uma gratidão especial a Manuel Pérez Sanches por tê-lo feito conhecer São Josemaria.

A Guerra Civil surpreendeu-o em Santander. Quando São Josemaria pôde chegar a Burgos, retomaram o contato. Em algumas ocasiões, Pérez Sánchez forneceu uma ajuda econômica muito necessária para superar os apuros do fundador e seus acompanhantes.

Pouco antes da Guerra Civil, Pérez Sánchez tinha deixado de ser numerário, mas logo São Josemaria pensou nele como possível supernumerário e assim o foi desde os dias de Molinoviejo de 1948. Em 1962, ainda solteiro, passou a ser adscrito do Opus Dei. Morou até 1997 em sua casa de Madri. Ocupou diversos cargos no Ministério de Obras Públicas. Em 1965, foi nomeado diretor da Comissão Administrativa do grupo de Portos. Desde a sua aposentadoria, em 1975, trabalhou distribuindo livros espirituais e desempenhando tarefas administrativas no centro do Opus Dei do qual dependia, até depois dos noventa anos. Toda sua vida continuou colaborando nas Conferências de São Vicente, que foram um meio de fazer apostolado com seus amigos.

Faleceu em Herrera de Ibio em 29 de março de 2002, aos noventa e seis anos de idade.

Manuel Sainz de los Terreros y Villacampa (1907-1995)

Manuel Sainz de los Terreros, durante a Guerra Civil espanhola.

Nasceu em Solares (Cantabria) em 1907. Amigo de Manuel Pérez Sánchez, como se disse, e, como ele, engenheiro de caminhos, tinha conhecido São Josemaria em junho de 1933. Falaram-lhe desse sacerdote aragonês enquanto atendia a umas famílias pobres em Madri, numa atividade de caridade. Quando se encontraram, o jovem engenheiro mostrou a sua incerteza sobre uma possível dedicação a Deus e, depois de rezar e de pensar nisso, após uns dias, decidiu-se a colaborar com toda a alma na obra que Escrivá estava levando adiante [137].

Colaborou no início da Academia e Residência DYA e, por ser um pouco mais velho do que os universitários que a frequentavam, ocupou-se da So.Co.In., a primeira tentativa de São Josemaria para começar a obra de São Gabriel. Depois, com Tomás Alvira e os outros, acompanhou Escrivá na fuga através dos Pirineus. Em 1938 perdeu o contato com a Obra, embora sempre mantivesse uma grande estima e veneração por São Josemaria.

Casou-se com Carmen de Goñi y Esparza, com quem teve sete filhos, e mudou-se para Pamplona, onde exerceu sua atividade profissional.

Quando São Josemaria considerou a possibilidade de recuperar alguns velhos conhecidos dos tempos de Ferraz, pensou em Sainz de los Terreros, que aceitou participar da semana de Molinoviejo, embora seu novo contato com a Obra tenha sido interrompido de novo pouco tempo depois. Faleceu em Pamplona em 18 de junho de 1995.

Mariano Navarro Rubio (1913-2001)

São Josemaria com Mariano Navarro Rubio e sua mulher, María Dolores Serrés, por ocasião de uma viagem a Roma, em 1958.

Nasceu em Burbáguena (Teruel), em 14 de novembro de 1913 [138]. Passou a infância e primeira juventude em Daroca (Zaragoza). Estudou Direito na Universidade de Zaragoza. De ideias republicanas e contrário tanto aos partidos de esquerda como aos de direita, encontrou na Ação Católica um bom campo de ação. Ao acabar a Guerra Civil espanhola, foi dispensado do exército, como Capitão Provisional de Regulares.

Preparou o doutorado em Direito e entrou na Academia do Corpo Jurídico Militar. Morava em Madri e era membro do Conselho Superior dos Jovens da Ação Católica, quando, em maio ou junho de 1940, conheceu São Josemaria, graças a Alberto Ullastres [139], presidente do Conselho Diocesano de Madri e seu companheiro de estudos no curso de doutorado de Direito.

Navarro estava procurando um bom diretor espiritual que esclarecesse suas dúvidas sobre uma possível vocação sacerdotal. No princípio, São Josemaria animou-o nessa direção, mas, poucos dias depois, aconselhou-o a esperar e considerar se Deus não o chamava ao matrimônio. Uma série de acontecimentos desses dias fizeram-lhe ver que o fundador da Obra tinha razão. Casou-se com María Dolores Serrés Sena, com quem teve onze filhos.

Algo parecido aconteceu com a sua orientação profissional. Respeitando a sua liberdade, São Josemaria sugeriu que pensasse em dedicar-se à política, ao invés de ganhar uma cátedra de Direito à qual Navarro aspirava. Depois do desconcerto inicial por esse conselho inesperado, a realidade demonstrou que as suas qualidades iam nessa direção, como Escrivá tinha intuído, pois, como Navarro mesmo recordava, “em 1947 fui designado Procurador em Cortes. Em 1955, nomeado Subsecretário de obras Públicas. Em 1957, Ministro da Fazenda e, em 1965, Governador do Banco da Espanha. Não cabe dúvida de que o Padre tinha razão” [140].

Navarro continuou falando com São Josemaria, enquanto o seu afeto pela a Obra crescia. Estando em Roma em 1947, junto com Víctor García Hoz, encontrou-se com o fundador, que lhe fez saber que havia chegado o momento de que os casados pudessem incorporar-se ao Opus Dei como supernumerários. Quando lhe perguntaram se queria ser um deles, resolutamente respondeu que sim. São Josemaria disse-lhe para pedir a García Hoz que lhe ensinasse as > Preces[141], e, nesse dia, rezaram-nas juntos no hotel.

Como vimos, Mariano Navarro Rubio ocupou importantes cargos na vida pública espanhola. Recebeu muitos reconhecimentos e condecorações pelo seu trabalho; foi também um estudioso de economia e política, e acadêmico da Real Academia de Ciências Morais e Políticas. Foi um dos principais propulsores do Plano Nacional de Estabilização Econômica, que modernizou a Economia e Administração espanholas, permitindo – nos anos em que foi ministro da Fazenda – um crescimento econômico extraordinário. Essa brilhante carreira foi truncada em 1970, enquanto era governador do Banco de Espanha, quando foi acusado no chamado “caso Matesa” [142].

Durante seus últimos anos, a doença obrigou-o a ficar imobilizado. Faleceu em 3 de novembro de 2001.

Pedro Zarandona Antón (1922-2009)

Nasceu em Castro Urdiales (Cantábria), em 12 de agosto de 1922. Era o mais novo de doze irmãos. Em 1941 ingressou na Escola Naval Militar. Em junho de 1944, foi diagnosticado com tuberculose. Durante a sua convalescência, duas irmãs suas que eram clarissas no mosteiro de Cantalapiedra (Salamanca) aconselharam-no a ler Caminho. Ansioso por conhecer o autor, Zarandona tentou entrar em contato com Josemaria, com quem se encontrou em Madri, em 1 de dezembro de 1945. O fundador interessou-se pela sua doença e, entre outros conselhos, recomendou-lhe que acudisse à intercessão de Isidoro Zorzano. Ao perguntar pelo Opus Dei, São Josemaria disse-lhe para ter paciência e sugeriu que, por enquanto, tivesse direção espiritual com o reitor da Paróquia do Bom Sucesso, Mons. José María Bulart, amigo seu. Em outubro de 1946, já quase restabelecido, começou a participar nos meios de formação cristã que se ofereciam no Colegio Mayor Moncloa.

Em janeiro de 1947, conseguiu reincorporar-se à Escola Naval, para concluir os estudos. Em junho desse ano, ascendeu a alferes de navio e foi destinado à Jurisdição Central da Marinha em Madri, onde retomou o contato com o Opus Dei. Depois de ter pedido a admissão como supernumerário em 1948, e depois dos dias passados em Molinoviejo, começou a estudar Economia na Universidade Central de Madri, tornando os estudos compatíveis com o seu trabalho. Em novembro de 1950, por ocasião de uma peregrinação militar a Roma, esteve novamente com São Josemaria. Pouco depois pedia a admissão como adscrito do Opus Dei e, um ano mais tarde, passava a ser numerário.

Em 1962, depois de ter ascendido a capitão de corveta, decidiu solicitar a permissão para a situação de reserva da Marinha, para dedicar-se por completo a tarefas internas do Opus Dei. De 1962 a 1964 viveu e trabalhou em Sevilha, como membro do Conselho da Delegação do Opus Dei nessa cidade, e, em 1964, voltou a Madri, para trabalhar na Comissão Regional do Opus Dei na Espanha, primeiro como oficial e, depois, a partir de 1966, como administrador.

Em 1976 mudou-se para Torreciudad, onde assumiu o cargo da presidência do patronato do Santuário, encarregou-se do sustento econômico e da difusão do mesmo, bem como da promoção de obras sociais e educacionais na zona. Quando regressou a Madri, em 1992, trabalhou para sustentar diversas iniciativas apostólicas do Opus Dei. Ocupou-se também de promover a Fundação Ana María de la Lama y Salvarrey, que proporciona bolsas de estudo a jovens da Cantábria, além de ajudar outros projetos de promoção social.

Faleceu no 21 de maio de 2009, em Madri.

Rafael Galbe Pueyo (1919 – 2012)

Nasceu em Zaragoza em 1919. Estudou ali a carreira de Direito. Em 1937, durante a Guerra Civil, chegou a bordo do cruzeiro Canarias a Mallorca, onde conheceu José Orlandis, com quem sempre teve uma grande amizade [143]. Foi tenente auditor da Escala de Complemento do Corpo Jurídico da Armada.

O seu primeiro contato com o Opus Dei foi em Zaragoza, durante as viagens regulares que membros da Obra faziam a essa cidade. Durante o ano 1942-43, mudou-se para Madri a fim de preparar os concursos de judicatura, e ia ao centro da rua Lagasca para encontrar São Josemaria e José Luis Múzquiz.

Galbe ingressou na carreira judicial em 1947, e foi designado para o Juizado de Primeira Instância e Instrução de Jaca. Em 1948, como sabemos, São Josemaria pensou nele como num dos candidatos a ser supernumerário. Como os outros participantes da convivência, entusiasmou-se com essa possibilidade. Mais tarde, passou a ser numerário. Em 1949, foi destinado pelo governo espanhol, aos então chamados territórios do Golfo da Guiné.

Na colônia espanhola era conhecido por sua atividade de apostolado entre os europeus mais jovens, que tinham dificuldades para viver cristãmente naquele ambiente, mais relaxado moralmente que a Espanha de então. Em abril do ano 1953, foi nomeado juiz de Primeira Instância e Apelação de Santa Isabel e presidente do Tribunal Colonial e Superior Indígena. Em maio de 1960, foi promovido à categoria de magistrado, continuando como chefe do Serviço de Justiça do então território da Guiné. Em 1966 era presidente do Tribunal de Justiça da Guiné Equatorial [144]. Em 9 de outubro de 1968 cessou como comissário geral adjunto da Guiné Equatorial, no mesmo dia em que a Espanha outorgava a independência ao novo país. Os que o conheceram ali recordavam-se dele como um homem de grande fé, honesto, de grande retidão moral e com um temperamento forte.

Desde meados dos anos cinquenta tinha-se desvinculado formalmente do Opus Dei, mantendo sempre a fama de pessoa “reflexiva, crente e sobretudo serviçal” [145]. Também se manteve solteiro durante toda a vida.

De volta a Espanha, chegou a ser presidente da Sala do Contencioso-Administrativo da Audiência de Zaragoza. Faleceu na capital aragonesa em 2012.

Silvério Palafox Marqués (1921-2015)

Silverio Palafox com vários amigos em 1944, na Residência Moncloa (Madri): é o primeiro da direita.

Nasceu em Granada em 1921. Enquanto estudava Medicina em Valência, começou a frequentar a residência da rua Samaniego, animado pelo pe. Eládio Espanha, um sacerdote amigo de São Josemaria. Em 1940 conheceu o fundador do Opus Dei em Valência. Pedro Casciaro convidou-o para dar aulas de Biologia aos que frequentavam a referida residência para preparar o Exame de Estado. Em 1941 esteve em Madri participando de um retiro pregado por São Josemaria e vinculou-se ao Opus Dei, mas em seguida perdeu o contato, ao alistar-se voluntariamente na Divisão Azul, que reuniu jovens espanhóis para lutar na Rússia. Regressou um ano e meio mais tarde, bastante decepcionado pelo que tinha vivido e mudou a matrícula para a Universidade de Salamanca.

Continuou mantendo contatos esporádicos com o Opus Dei e São Josemaria, até que um dia – por sugestão de seu irmão Emílio, que era da Obra – perguntou a Pedro Casciaro “o que era isso dos supernumerários”. Casciaro mostrou-se surpreendido, porém respondeu sorridente: “Não são nada ainda, mas o serão. Continue comportando-se bem e reze por isso” [146]. Passado um tempo, convidaram-no para ir a Molinoviejo, pela ocasião que conhecemos, onde pôde saber o que desejava e começar a ser do Opus Dei.

Em 1950 casou-se com María Dolores Bogdanovitch Manrique: o casal teve cinco filhos, com os que, desde o primeiro momento quiseram criar um lar cristão.

Foi um cientista ativo, expoente da corrente neo-hipocrática do naturismo médico espanhol. Doutorou-se em Hidrologia, Psiquiatria, Endocrinologia e em História da Medicina, com prestigiosos acadêmicos. Foi professor de várias matérias na Universidade Complutense de Madri. Em 1947 criou Cuadernos de Bionomía, uma revista que tinha como objetivo o estudo e a divulgação do naturismo médico, a higiene, a dietética, o vegetarianismo, os agentes naturais de cura e a tendência autocurativa do organismo, num contexto de humanismo médico.

Foi acadêmico correspondente da Real Academia Nacional de Medicina (1980) e fundador da Associação Espanhola de Médicos Naturistas (1981), da qual foi presidente até 1997.

Faleceu em 23 de março de 2015, aos noventa e três anos de idade.

Tomás Alvira (1906-1992)

Tomás Alvira e sua futura esposa Francisca Domingues, quando ainda eram namorados.

Nasceu em Villanueva de Gállego (Zaragoza), em 17 de janeiro de 1906. Já existem alguns perfis biográficos da sua vida [147]. Estudou Ciências Químicas na Universidade de Zaragoza. A sua vida profissional esteve sempre ligada ao ensino médio. Trabalhou em vários colégios, em alguns como diretor. Quando a Guerra Civil espanhola terminou, começou a dar aulas no Instituto Ramiro de Maeztu de Madri, onde ganharia o lugar de catedrático em 1941. O “Ramiro”, como é conhecido coloquialmente em Madri, era um centro de excelência, onde Alvira fez parte de um prestigioso claustro de professores [148].

Foi também diretor do Colégio de Huérfanos de la Guardia Civil. Participou na criação de Fomentos de Centros de Enseñanza, uma sociedade promotora de muitos colégios espanhois de inspiração cristã, que começou em 1963, onde também encontraremos Víctor García Hoz e Ángel Santos. De 1973 a 1976, foi vice-diretor do Centro experimental del Instituto de Ciencias de la Educación de la Universidad Complutense, e, mais tarde, diretor da Escuela Universitaria de Fomento de Centros de Enseñanza.

Seu contato com o fundador do Opus Dei ocorreu em Madri, em plena Guerra Civil espanhola, em 31 de agosto de 1937. Poucos dias depois, Alvira recebeu um convite surpreendente naquelas circunstâncias: fazer um retiro de três dias, pregado pelo fundador do Opus Dei, com outras quatro pessoas. Significava assumir um grave risco, devido ao clima de perseguição religiosa, por isso tinham que reunir-se em casas diferentes para ter as meditações sem causar suspeitas [149]. Quando São Josemaria decidiu passar para a zona nacional, para poder desempenhar com liberdade seu ministério sacerdotal, ele uniu-se ao grupo de fugitivos.

A família Alvira em 1957.

Alvira casou com Francisca Domínguez (Paquita), pouco depois do fim da guerra, em junho de 1939. Alvira continuou encontrando São Josemaria nos anos seguintes. Em 1947, pediu ser admitido como supernumerário. Sua esposa também seria uma das primeiras supernumerárias. O casal teve nove filhos. Faleceu em 7 de maio de 1992. O processo de beatificação dele e da sua esposa está aberto.

Víctor García Hoz (1911-1998)

Víctor García Hoz, durante uma conferência no Colégio Peñarredonda (A Coruña) de Fomento.

Nasceu em Campillo de Aranda (Burgos), em 1911. Em 1940 obteve o doutorado em Pedagogia e, em 1944 conseguiu a cátedra em Pedagogia Experimental e Diferencial na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Madri.

Casou-se logo depois do fim da Guerra Civil espanhola, em agosto de 1939. Juntamente com sua mulher, Nieves Rosales y Laso de la Vega, procurava um diretor espiritual e foi assim que conheceu o fundador do Opus Dei. Conheceram-se através de Casimiro Morcillo, vigário geral da Diocese de Madri. Viram-se com regularidade até 1946. Dessas conversas de orientação espiritual, García Hoz lembrava “uma frase que, então, me encheu de admiração: ‘Deus te chama por caminhos de contemplação’. Naqueles anos era quase incompreensível que a um homem casado, já com uma filha e esperando a chegada de mais filhos, como ocorreu, falassem de contemplação como algo que ele tinha de realizar” [150]. Com a sua esposa, que também chegaria a ser supernumerária, tiveram oito filhos.

Por volta de 1942, Escrivá começou a falar-lhe da possibilidade de responder “a uma especial vocação divina para buscar a santidade no meio do mundo[...]. Propôs-me que junto com com outra pessoa, Tomás Alvira, começássemos a viver as Normas e Costumes da Obra, sem dar um caráter formal a nossa pertença a ela. Produziu-me uma grande alegria. [...] Com uma paciência que cada vez me impressiona mais, o Padre dirigia um Círculo de Estudos de Supernumerários (apesar de não existirem formalmente) ao qual assistíamos Tomás Alvira e eu” [151].

O histórico acadêmico e profissional de Víctor García Hoz é muito amplo. Foi diretor do Instituto de Pedagogia do Conselho Superior de Investigações Científicas, até 1981; membro da Real Academia de Ciências Morais e Políticas e de sociedades científicas; conselheiro pedagógico – comissionado pela Unesco – de diversos estados; obteve vários doutorados honoris causa, numerosos prêmios e distinções nacionais e internacionais. Com centenas de publicações, talvez a sua obra mais importante seja o monumental Tratado de educação personalizada, em trinta e três volumes, com a colaboração de professores europeus e americanos, que terminou em 1997, aos 86 anos. Até poucos dias antes de sua morte, ia pontualmente trabalhar em Fomento de Centros de Ensino, entidade promotora de muitos colégios de inspiração cristã, em cuja criação e impulso participou com entusiasmo junto a Tomás Alvira e Ángel Santos, também participantes da convivência de Molinoviejo. Faleceu em 18 de fevereiro de 1998, em seu domicílio de Madri.

O autor, Luis Cano, é secretário e membro ordinário do Instituto Histórico São Josemaria Escrivá. Licenciado em Direito e doutor em Teologia. Seu campo de investigação, além do Opus Dei e seu fundador – especialmente sua pregação e escritos –, é a história da devoção ao Sagrado Coração e a Cristo Rei. É professor de História da Igreja no Istituto di Scienze Religiose all’Apollinare (Roma). Recentemente publicou, com Francesc Castells, uma série de textos inéditos da pregação de São Josemaria ( En diálogo con el Señor, Madri, Rialp, 2017).

e-mail: lucano@isje.org


[1] Para simplificar, chamamos “convivência” à semana de formação cristã e de melhora espiritual e pessoal que costumam fazer os membros supernumerários uma vez por ano, e que representa também uma ocasião de conviver e de descansar com outros membros do Opus Dei.

[2] Referimo-nos à aprovação como instituto secular, com o Decretum laudis (decreto Primum institutum, 24 de fevereiro de 1947).

[3] Constituciones 1947,n.342, 3º, cit. en Amadeo de FUENMAYOR – Valentín GOMEZ IGLESIAS – José Luis ILLANES, El itinerário jurídico del Opus Dei. Historia y defensa de un carisma, Pamplona, Eunsa, 1989, p. 199 (daqui para frente, Itinerario).

[4] Cfr. Ibid.

[5] Nota do 5 de novembro de 1947, AGP, A.2, 40-3-2.

[6] Amadeo de Fuenmayor (1915-2005), nasceu em Valência. Pediu a admissão no Opus Dei em 1939. Em 1943 ganhou a cátedra de Direito Civil. Em 1949 foi ordenado sacerdote. Em sua vida compatibilizou seu trabalho pastoral e a colaboração no governo do Opus Dei com sua dedicação ao Direito. Entre 1952 e 1956 foi conselheiro do Opus Dei na Espanha. Doutor em Direito Canônico (1965), desde 1967 foi professor na Universidade de Navarra. Interveio nos trabalhos preparatórios para a ereção do Opus Dei em Prelazia pessoal. Faleceu em 22 de novembro de 2005, em Pamplona, aos 89 anos.

[7] “Seis meses e um ano”: refere-se à formação inicial que recebem os que pedem a admissão no Opus Dei até sua admissão (seis meses) e daí à sua incorporação jurídica mediante a Oblação (um ano).

[8] Carta de Josemaria Escrivá ao Conselho Geral do Opus Dei, 11 de dezembro de 1947, AGP, A.3.4, 0259-04, carta 471211-04.

[9] Carta de Josemaria Escrivá ao Conselho Geral do Opus Dei, 18 de dezembro de 1947, AGP, A.3.4, 0259-04, carta 471218-01.

[10] Itinerario, p. 256.

[11] Cfr. Julio A. GONZALO GONZÁLEZ, Cursillos de cristiandad. Orígenes y primera expansión, Valência, Edicep, 2006; Raffaella PINASSI CARDINALI, I focolarini Sposati. Una “via nuova” nella Chiesa, Roma, Città Nuova, 2007; para a história das Equipes de Nossa Senhora, cfr https://equipes-notre-dame.com/pt/historia-do-movimento/ [consultado 14/04/2020]; Fidel GONZÁLEZ FERNÁNDEZ, Los movimentos en la historia de la Iglesia, Madri, Encuentro, 1999.

[12] Carta de Josemaria Escrivá ao Conselho Geral do Opus Dei, 25 de dezembro de 1947, AGP, A.3.4, 0259, carta 471225-01.

[13] Carta de Josemaria Escrivá a Mariano Navarro Rubio, Tomás Alvira Alvira e Victor García Hoz, 1 de janeiro de 1948, AGP, A. 3.4, 0260-01 carta 480101-01.

[14] Cfr. Andrés VAZQUEZ DE PRADA, O Fundador do Opus Dei (doravante AVP), São Paulo, Quadrante, 2004, vol III, p. 141.

[15] Carta de Josemaria Escrivá ao Conselho Geral do Opus Dei, 18 de janeiro de 1949, AGP, A.3.4, 0260-01, carta 480118-01.

[16] Constitutionibus Operis Dei Addenda, 18 de março de 1948, cit. em Itinerario, p. 201.

[17] Outra diferença é que não se comprometiam a viver o celibato, como os numerários.

[18] Carta de Josemaria Escrivá ao Conselho Geral do Opus Dei, 29 de janeiro de 1948, AGP, A.3.4,0260-01, carta 480129-03.

[19] Itinerario, p. 200.

[20] A questão, felizmente solucionada para o fundador, voltaria a apresentar-se em 1950, quando por ocasião da aprovação definitiva das Constituições, a correspondente Comissão de Consultores da Congregação de Religiosos encontrou algumas dificuldades para admitir este ponto e pediu esclarecimentos ao fundador. Cfr. Itinerario, p. 226.

[21] Carta de Josemaria Escrivá ao Conselho Geral do Opus Dei, 4 de fevereiro de 1948, AGP, A.3.4, 0260-01, carta 480204-1.

[22] Carta de Josemaria Escrivá ao Conselho Geral do Opus Dei, 18 de março de 1948, AGP, A.3.4, 0260-02, carta 480318-1.

[23] Carta de Josemaria Escrivá ao Conselho Geral do Opus Dei. 21 de abril de 1948, AGP, A.3.4, 0260-02, carta 480421-01.

[24] Amadeo de Fuenmayor, em suas recordações, fala de cinco: além dos três primeiros, menciona Silverio Palafox e Juan Caldés, e outras fontes confirmam que se vincularam à Obra em 6 de maio e em 15 de julho de 1948, respectivamente. Segundo outros dados, também Pedro Zarandona tinha pedido a admissão, concretamente em 9 de maio de 1948 (Testemunho de Amadeo de Fuenmayor Champín, nota de 23 de novembro de 1976, AGP, A.5, 0353-03-07, e nota necrológica de Pedro Zarandona Antón, AGP, série M.1.4.148).

[25] Em suas recordações, escritas em 1975 para testemunhar na causa de beatificação e canonização de São Josemaria, confunde alguns fatos – como ele próprio reconhece numa nota – dessa primeira convivência e do retiro espiritual celebrado meses mais tarde, na Semana Santa de 1949, também pregado por São Josemaria, de onde sairiam vários supernumerários mais (Testemunho de Amadeo de Fuenmayor Champín, 4 de setembro de 1975 e nota de 23 de novembro de 1976, AGP, A.5, 0353-03-07).

[26] Diario de la primera semana de convivencia para supernumerarios, Septiembre 1948 ( doravante Diario), [p. 1], AGP, A.2, 0040-03-05. Como as páginas do documento não estão numeradas, pomos o número da página entre colchetes.

[27] Testemunho de Amadeo de Fuenmayor Champín, 4 de setembro de 1975, AGP, A.5, 0353-03-07.

[28] Diário, [p. 4].

[29] Diário, [pp. 5-6].

[30] Testemunho de Tomás Alvira Alvira (notas das meditações, pp. 16-19; doravante Notas), 28 de janeiro de 1976, AGP, A.5, 0193-01-01, p. 19.

[31] Diário, [pp. 5-6].

[32] Notas, p. 16.

[33]Diário, [p. 6].

[34] Notas, p. 16.

[35] Diário, [p. 6].

[36]Diário, [p. 5].

[37] Notas, p. 17.

[38] Diário, [p. 7].

[39] Cfr.Lc 18, 35-43.

[40] As notas de Alvira aqui são mais extensas: “Temos de ver se há fiozinhos que nos atam; fiozinhos tênues, sutis, mas que não nos permitem facilidade de movimentos. Devemos pedir ao Senhor que nos permita ver esses obstáculos: Senhor, que eu veja!” ( Notas, p. 17). A referência a esses “fiozinhos sutis já se encontra em Caminho: nn. 170 e 237.

[41] Cfr. Mc 3, 1-5.

[42] Cfr. Lc 13, 11-13.

[43] Parece um lapso: na realidade, o Evangelho diz que “sentiu fome” (Mc 11,12).

[44] Cfr. Mc 11, 13.

[45] Cfr. Mt 21,19.

[46] Cfr. Act 12,15.

[47] Diario, [p. 8].

[48] Bandeiras “vermelhas e negras”: por outros textos da sua pregação sabemos que identificava essas cores, às vezes precedidas do substantivo “onda”, com o marxismo e com o laicismo, respectivamente.

[49] Cfr. Jo 19, 15.

[50] Alvira explica que São Josemaria contou o episódio que ocorreu com um conhecido seu ante um mapa-múndi: “O Padre mostrou este panorama a um conhecido e ele respondeu: e o que temos a ver com isso, você e eu, se Cristo fracassou? A Redenção não terminou...” ( Notas, p. 17).

[51] A metáfora foi tirada das invasões dos povos que acabaram com a civilização do Império romano, no final da Antiguidade. Talvez estivesse se referindo à ameaça representada pela expansão das ideologias materialistas nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial.

[52] Diário, [pp. 9-10].

[53] Josemaria Escrivá, Apontamentos íntimos, cit. em AVP, vol.I, p. 349.

[54] Notas, p. 17.

[55] Diário, [pp. 10-11].

[56] Notas. 17-18.

[57] Diário, [p. 12].

[58] Diário, [pp. 10-11].

[59] Diário, [pp. 13-14].

[60] Diário, [pp. 12-13].

[61] Diário, [p. 13].

[62] Diário, [p. 14].

[63] Cfr. Lc 18, 9-14.

[64] Diário, [pp. 14-15].

[65] Notas, p. 18.

[66] Cfr. Jo 12,24.

[67] Diário, [p. 16].

[68] Diário, [p. 16].

[69] Cfr. Rom 7, 24.

[70] Cfr.1Cor 9. 24.

[71] Diário, [p. 16].

[72] Diário, [p. 15].

[73] Diário, [ p. 17].

[74] Diário, [p. 17].

[75] Notas, p. 19.

[76] O edifício da Telefônica, na Gran Via de Madri, era um dos mais altos da cidade.

[77] Diário, [p. 18].

[78] Cfr. Nota n.81 infra.

[79] Diário, [pp. 19-20].

[80] Diário, [p. 20].

[81] As notas de Alvira sobre as meditações terminam no dia 30 com algumas anotações sobre a meditação que o padre Pedro Casciaro deu nesse dia às 11. O pe. Casciaro também deu uma palestra às 12.30 sobre as virtudes de Isidoro Zorzano Ledesma (1902-1943), de quem ia iniciar-se o processo de beatificação. As notas seguintes se referem às palestras, mas sem indicar a que dia correspondem, por isso não é possível fazer um paralelo seguro com as anotações de Amadeo de Fuenmayor, que relata pouco das palestras e mais das meditações.

[82] Cfr. Mt 13,25.

[83] Diario, [p. 21].

[84] Diario, [p. 21].

[85] Diario, [p. 22].

[86] Diario , [pp. 22-23].

[87] Cfr. Act 2, 42.

[88] Cfr. Act 4, 32. Diario, [p. 23].

[89] Diario, [p. 19].

[90] Diário, [p. 13].

[91] Testemunho de Tomás Alvira Alvira, 28 de janeiro de 1976, AGP, A.5, 0193-01-01, p. 10.

[92] Testemunho de Juan Caldés Lizana, 19 de dezembro de 1975, AGP, A.5, 0317-01-05, p. .2.

[93] Testemunho de Antonio Ivars Moreno, 30 de julho de 1975, AGP, A.5, 0220-02-07, p. .8.

[94] Testemunho de Juan Caldés Lizana, 19 de dezembro de 1975, AGP, A.5, 0317-01-05, p. 1.

[95] Testemunho de Antonio Ivars Moreno, 30 de julho de 1975, AGP, A.5, 0220-02-07, p. 7.

[96] Cfr. AVP, vol II, pp. 369-370 e 537.

[97] Testemunho de Ángel Santos Ruiz, setembro de 1975, AGP, A.5, 0245-02-15, p. 9.

[98] Testemunho de Mariano Navarro Rubio, 8 de julho de 1975, AGP, A.5, 0232-02-05, p. 5.

[99] O painel e a fonte decorativa fazem referência a uma passagem da Escritura (Ps. 103, 10) que São Josemaria encontrou gravada em sua alma durante uma experiência espiritual de 1931, que consignou assim em seus Apontamentos íntimos: “Ontem almocei em casa dos Guevara. Estando ali, sem fazer oração, vi-me dizendo, como em outras ocasiões: “Inter medium montium pertransibunt aquae” [“As águas passarão através das montanhas”]; ( Ps103, 11). Acho que, nestes dias, tive outras vezes na minha boca essas palavras, sem nenhuma razão especial, mas não lhes dei importância. Ontem disse-as com tal ênfase, que me senti compelido a anotá-las. Entendi-as: são a promessa de que a Obra de Deus vencerá todos os obstáculos, de que as águas do seu apostolado passarão através de todos os inconvenientes que hão de apresentar-se” (Anotação de 13 de dezembro de 1931, Caderno V, nº 476, cit. em Josemaria Escrivá, Caminho. Edição comentada a cargo de Pedro RODRÍGUEZ (doravante, Caminho, ed. comentada), São Paulo, Quadrante, 2014; cfr. com. ao ponto n.12).

[100] Testemunho de Antonio Ivars Moreno, 30 de julho de 1975, AGP, A.5.0220-02-07, p. 9.

[101] Testemunho de Juan Caldés Lizana, 19 de dezembro de 1975, AGP, A.5, 0317-01-05, p. 2.

[102] Testemunho de Carlos Verdú Moscardó, julho de 1975, AGP, A.5, 0251-03-10, p. 5.

[103] Testemunho de Antonio Ivars Moreno, 30 de julho de 1975, AGP, A.5, 0220-02-07, pp. 9-10.

[104] Testemunho de Ángel Santos Ruiz, setembro de 1975, AGP, A.5, 0245-02-15, p. 9.

[105] Testemunho de Manuel Pérez Sánchez, 1 de agosto de 1975, AGP, A.5, 0238-01-04, p. 30.

[106] Testemunho de Silverio Palafox Marqués, 25 de julho de 1975, AGP, A.5, 0339-02-02, [p. 5].

[107] Testemunho de Pedro Zarandona Antón, 1 de janeiro de 1977, AGP, A.5, 0353-01-02, p. 1.

[108] Diário, [p. 25].

[109] São Josemaria a tinha começado a escrever em 1935, por isso esta Instrução tem duas datas: maio 1935, setembro 1950.

[110] No decorrer dos anos, essa proporção aumentaria. Na atualidade, dos mais de 90.000 membros do Opus Dei, ao redor de 70% são supernumerários.

[111] Testemunho de Ángel Santos Ruiz, setembro de 1975, AGP, A.5, 0245-02-15, p. 2.

[112] Testemunho de Ángel Santos Ruiz, setembro de 1975, AGP, A.5, 0245-02-15, p. 5.

[113] Testemunho de Ángel Santos Ruiz, setembro de 1975, AGP, A.5, 0245-02-15, p,4.

[114] Cfr. “Anais da Real Academia Nacional de Farmácia” 71 (2005), pp. 991 – 1040, onde se recorda sua figura como professor e mestre, cientista e investigador, acadêmico, etc.

[115] Testemunho de Antonio Ivars Moreno, 30 de julho de 1975, AGP, A.5, 0220-02-07, p. 1.

[116] Ibid.

[117] Testemunho de Antonio Ivars Moreno, 30 de julho de 1975, AGP, A.5, 0220-02-07, p. .2.

[118] Testemunho de Antonio Ivars Moreno, 30 de julho de 1975, AGP, A.5,0220-02-07, p. 4.

[119] Testemunho de Antonio Ivars Moreno, 30 de julho de 1975, AGP, A.5, 0220-02-7, p2.

[120] Testemunho de Carlos Verdú Moscardó, julho de 1975, AGP, A.5,0251-03-10, p. 2.

[121] Testemunho de Carlos Verdú Moscardó, julho de 1975, AGP, A.5, 0251-03-10, p. 3. O relato é recordado em vários escritos de São Josemaria. O verso parece provir do poeta António Machado. Cfr. Alfonso MÉNDIZ, “Cada caminante siga su camino”, Historia y significado de un lema poético en la vida del fundador del Opus Dei”, en “Cuadernos del Centro de Documentación y Estudios Josemaria Escrivá” 4 (2000), pp. 31-59, separata de “Anuario de Historia de la Iglesia” 9 (2000), pp. 741-769.

[122] Ángel López-Amo (1917-1956) foi catedrático de Direito em várias universidades espanholas. Foi professor pessoal de Juan Carlos de Borbón, futuro rei da Espanha. Membro do Opus Dei desde os primeiros anos 40, faleceu num acidente de carro nos Estados Unidos, em 1956. Cfr. Ismael SÁNCHEZ BELLA - Alfonso GARCÍA GALLO - Gonzalo FERNÁNDES DE LA MORA, Ángel López-Amo y Marín, historiador del Derecho y pensador político, Pamplona, Publicaciones del Estudio General de Navarra, 1957.

[123]Tanto o pai como o filho foram arquitetos bem conhecidos em sua época. Cfr. Javier GONZÁLEZ DE DURANA, La tipologia de edifícios para oficinas em Bilbao, Bilbao, Diputación Foral de Vizcaya, 1992.

[124] Sobre esta iniciativa apostólica, cfr. a monografia de José Luís GONZÁLEZ GUILLÓN, DYA. La Academía y Residencia en la historia del Opus Dei (1933-1939), Madri, Rialp, 2016.

[125] Cfr. José Carlos MARTÍN DE LA HOZ – Josemaria REVUELTA SOMALO, Un estudiante en la Residencia DYA. Cartas de Emiliano Amann a su família (195-1936), Set D 2 (2008), pp. 299-358.

[126] Cfr. Caminho ed. comentada, in loc.

[127] Testemunho de Emiliano Amann Puente, 3 de setembro de 1977, AGP, A.5, 0193-01-04, p. 12.

[128] Antonio FONTÁN, Hermenegildo Altozano Moraleda (1916-1981), enABC, 15 de septiembre de 1981, p. 4.

[129] Cfr. Julio PONCE ALBERCA, Hermenegildo Altozano Moraleda. Un gobernador civil monárquico en la Sevilla de Franco, “Andalucía en la Historia” 34 (octubre 2011), pp. 82-87.

[130] Ha muerto el general Hermenegildo Altozano Moraleda, em ABC, 13 de setembro de 1981, P. 12.

[131] Cfr. María MÉRIDA, Almirante Jesús Fontán Lobé, em ID., Testigos de Franco. Retablo íntimo de una dictadura, Esplugues de Llobregat, Plaza & Janés, 1977, p. 55.

[132] Cfr. Javier MEDINA BAYO, Álvaro del Portillo. Un hombre fiel, Madri, Rialp, 2012, 239.

[133] Testemunho de Jesús Fontán Lobé, 6 de agosto de 1975, AGP, A-5, 1244-01-14, [p. 7].

[134] Homenagem ao Professor Caldés Lizana em ABC, 6-12-1956, p. 54.

[135] Testemunho de Juan Caldés Lizana, 19 de dezembro de 1975, AGP, A.5, 0317-01-05, p. 2.

[136] Entrevista a Juan Caldés, fevereiro de 1998, em https://entrevistasenMadri.blogspot.it/2011/09/- juan-caldes-lizana-ex-director-general.html [consultado em 13 de setembro de 2016].

[137] Cfr. GONZÁLEZ GUILLÓN, DYA, pp. 95-96.

[138] Abundantes detalhes biográficos em Mariano NAVARRO RUBIO, Mis memorias. Testimonio de una vida política truncada por el “Caso MATESA”, Esplugues de Llobregat, Plaza & Janés, 1991.

[139] Alberto Ullastres Calvo (1914-2001) pediu a admissão no Opus Dei em 1940. Foi catedrático de Economia Política, ministro do Comércio (1957-65) e embaixador da Espanha nas Comunidades Europeias. Com Navarro Rubio seria um dos artífices da mudança econômica espanhola e de sua progressiva integração na Europa.

[140] Testemunho de Mariano Navarro Rubio, 8 de julho de 1975, AGP, A.5, 0232-02-05, p. 4.

[141] As Preces da Obra são orações breves, tomadas da liturgia; os membros do Opus Dei rezam-nas diariamente.

[142] Foi processado pelo Supremo Tribunal, mas quando ia ser realizado o julgamento – no qual Mariano Navarro Rubio esperava demonstrar sua inocência –, Franco decidiu indultá-lo, impedindo a defesa da sua reputação. Para esclarecer os fatos, escreveu, além de suas memórias, o livro: El caso Matesa: (datos para la historia), Madri, Dossat, 1979.

[143] Cfr. José ORLANDIS, Memorias de medio siglo en Aragón, Zaragoza, Colección Biblioteca Aragonesa de Cultura, Caja Ahorros y Monte de Piedad de Zaragoza, Aragón y Navarra, 2003, pp. 38 y 101.

[144] Cfr. ABC, 12 de agosto de 1966, p. 27.

[145] Hipólito GÓMEZ, Los amigos del alma, en El Periódico de Aragón, 8 de abril de 2012.

[146] Testemunho de Silvério Palafox Marqués, 25 de julho de 1975, AGP, A.5, 05339-02-02, [p. 5].

[147] Cfr. Antonio VÁZQUEZ, Tomás Alvira. Una pasión por la familia. Un maestro de la educación, Madri, Palabra, 1997.

[148] Mencionemos alguns nomes: Gerardo Diego, Guillermo Díaz-Plaja, Antonio Millán-Puelles, Rafael Lapesa, Gonzalo Torrente Ballester, Carlos Seco Serrano, Valentín García Yebra, Ángel Hoyos de Castro, Samuel Gili Gaya, os irmãos Manuel e Dimas Fernández Galiano, o Prêmio Nobel Vicente Aleixandre... (cfr. Ibid., p. 210).

[149] Mais detalhes em AVP, II, p. 121.

[150] Testemunho de Víctor García Hoz, 15 de julho de 1975, AGP, A.5, 0214-02-03, p. 8.

[151] Testemunho de Víctor García Hoz, 15 de julho de 1975, AGP, A.5, 0214-02-03, p. 13.