Os papas João Paulo II e Bento XVI falam da família

A instituição familiar é a protagonista principal desses dias. Por motivo do Encontro Mundial da Família que se celebrou na Espanha, oferecemos breves textos de João Pablo II e Bento XVI.

Carta às famílias (1994, João Paulo II)

-quão indispensável seja o testemunho de todas as famílias que vivem dia-a-dia a sua vocação; quanta urgência exista de uma grande oração das famílias, que aumente e atravesse o mundo inteiro, e na qual se exprima a ação de graças pelo amor na verdade, pela «efusão da graça do Espírito Santo» (10), pela presença de Cristo entre os pais e os filhos: Cristo Redentor e Esposo, que «nos amou até ao fim» (cf. Jo 13, 1). Estamos intimamente persuadidos de que este amor é maior que tudo (cf. 1 Cor 13, 13), e cremos que ele é capaz de superar vitoriosamente tudo o que não é amor.

-a família se acha no centro do grande combate entre o bem e o mal, entre a vida e a morte, entre o amor e quanto a este se opõe. À família está confiado o dever de lutar, sobretudo para libertar as forças do bem, cuja fonte se encontra em Cristo Redentor do homem.

-vós, queridos pais e mães, sois as primeiras testemunhas e ministros deste novo nascimento do Espírito Santo. Vós, que gerais os vossos filhos para a pátria terrena, não esqueçais que, ao mesmo tempo, os gerais para Deus. Deus deseja o seu nascimento do Espírito Santo; Ele os ama como filhos adotivos no Filho unigênito, que nos dá «o poder de nos tornarmos filhos de Deus» (cf. Jo 1, 12).

«Vinde, benditos de Meu Pai (...) Porque tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me de vestir» (Mt 25, 34-36). Naturalmente, este elenco poderia alongar-se, aparecendo nele uma infinidade de problemas que interessam também à vida conjugal e familiar. Poderíamos encontrar afirmações como estas: «Era menino ainda não nascido, e Me acolhestes, permitindo-Me nascer; era criança abandonada e fostes para Mim uma família; era órfão e Me adotastes e educastes como um filho vosso». E ainda: «Ajudastes as mães hesitantes, ou sujeitas a iníquas pressões, a aceitarem o seu menino nelas gerado e a fazerem-no nascer; ajudastes as famílias numerosas, famílias em dificuldade a manterem e educarem os filhos, que Deus lhes dera».

Familiaris consortio (1981)

-A familia, fundada e vivificada pelo amor, é uma comunidade de pessoas: dos esposos, homem e mulher, dos pais e dos filos, dos parentes. A sua primeira tarefa é a de viver fielmente a realidade da comunhão num constante empenho por fazer crescer uma autêntica comunidade de pessoas. O princípio interior, a força permanente e a meta última de tal dever é o amor: como, sem o amor, a família não é uma comunidade de pessoas, assim, sem o amor, a família não pode viver, crescer e aperfeiçoar-se como uma comunidade de pessoas. Quanto escrevi na encíclica Redemptor Hominis encontra exatamente na família como tal: «O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível, e a sua vida é destituída de sentido, se ele não se encontra com o amor, se não se o experimenta e se não o torna algo próprio, se nele não participa vivamente». (A missão da família cristã no mundo de hoje. Edições Paulinas. São Paulo, 1982, Parágrafo nº 18, p.34).

-É dever fundamental da Igreja reafirmar vigorosamente — como fizeram os Padres do Sínodo — a doutrina da indissolubilidade do matrimônio; a quantos, nos nossos dias, consideram difícil ou mesmo impossível ligar-se a uma pessoa por toda a vida e a quantos, subvertidos por uma cultura que rejeita a indissolubilidade matrimonial e que ridiculariza abertamente o empenho de fidelidade dos esposos, é necessário reafirmar o alegre anúncio da forma definitiva daquele amor conjugal, que tem em Jesus Cristo o fundamento e o vigor. (A missão da família cristã no mundo de hoje. Edições Paulinas. São Paulo, 1982, Parágrafo nº 20, p.37). 

- Amar a família significa saber estimar os seus valores e possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a família significa descobrir os perigos e os males que a ameaçam, para poder superá-los. Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento. E, por fim, forma eminente de amor à família cristã de hoje, muitas vezes tentada por incomodidades e angustiada por crescentes dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas próprias que lhe advém da natureza e da graça, e na missão que Deus lhe ha confiou: «É necessário que as famílias do nosso tempo tomem novamente altura!. É necessário que sigam a Cristo». (A missão da família cristã no mundo de hoje. Edições Paulinas. São Paulo, 1982, Conclusão, p.151-152).

Discurso (13 de maio de 2006)

- A estabilidade da família está particularmente em perigo; para a salvaguardar, é necessário ir com frequência contra a corrente, em relação à cultura predominante, e isto exige paciência, esforço, sacrifício e busca incessante de compreensão mútua. Mas também nos dias de hoje os cônjuges podem superar as dificuldades e conservarem-se fiéis à sua vocação, recorrendo ao auxílio de Deus através da oração e participando assiduamente nos sacramentos, de maneira particular na Eucaristia. A unidade e a solidez das famílias ajudam a sociedade a respirar os valores humanos autênticos e a abrir-se ao Evangelho. Para isto contribuem o apostolado de não poucos Movimentos, chamados a trabalhar neste campo em harmoniosa sintonia com as Dioceses e as paróquias.

- Graças a Deus muitas pessoas, especialmente no meio dos jovens, continuam a descobrir o valor da castidade, que se manifesta cada vez mais como uma garantia segura do amor genuíno. O momento histórico que estamos a viver exige que as famílias cristãs dêem com corajosa coerência o testemunho de que a procriação é fruto do amor. Este testemunho não deixará de estimular os políticos e os legisladores a salvaguardarem os direitos da família.

Carta por motivo do V EMF (17 maio 2005)

- Os pais são os primeiros evangelizadores dos filhos, dom precioso do Criador, começando pelo ensino das primeiras orações. “Assim se vai construindo um universo moral enraizado na vontade de Deus, no qual o filho cresce nos valores humanos e cristãos que dão pleno sentido à vida”.

- Ao tornarem-se pais, os esposos recebem de Deus o dom de uma nova responsabilidade. Seu amor paterno está chamado a ser para os filhos o sinal visível do mesmo amor de Deus, «do qual procede toda paternidade no céu e na terra».

Encíclica Deus Caritas Est (2006)

-O homem (...) não pode viver exclusivamente no amor oblativo, descendente. Não pode limitar-se sempre a dar, deve também receber. Quem quer dar amor, deve ele mesmo recebê-lo em dom. Certamente, o homem pode — como nos diz o Senhor — tornar-se uma fonte donde correm rios de água viva (cf. Jo 7, 37-38); mas, para se tornar semelhante fonte, deve ele mesmo beber incessantemente da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo coração trespassado brota o amor de Deus (cf. Jo 19, 34).