Apesar de viveres na França, sempre contas que tudo começou em Camarões.
Durante o verão em Komo, a cidade natal de meus pais, distante uma hora e trinta minutos de Yaoundê, conheci um grupo de universitárias. Tinham vindo a Komo para dar uma série de palestras para mães de família. Durante duas semanas, ofereceram sessões de higiene materno-infantil, sugestões para cuidados da casa, e palestras sobre como melhorar as condições de vida de cada família.
Estas moças me contaram que se reuniam em Yaoundê, em um centro juvenil do Opus Dei chamado “Riquel”: ali recebiam formação cristã, estudavam juntas e compartilhavam alguns assuntos interessantes como inglês e costura. Aquilo me interessou e foi assim que conheci a Obra. Em pouco tempo, pensei que eu também queria ser santa, mas fazendo aquilo que mais desejava: realizando as tarefas do lar.
Como foi que seu trabalho profissional tomou o rumo atual?
Uma das iniciativas mais importantes que foram levadas adiante em Camarões por algumas pessoas do Opus Dei é a Escola de Hotelaria “Sorawell”. Este centro de formação oferece curso para jovens que querem dedicar-se ao setor de hotelaria. Também pretende difundir o valor do trabalho doméstico. Em Camarões é muito necessário revalorizar o papel da mãe de família, para que em torno dela cresça a família africana.
Foi ali que eu estudei. Algumas de minhas companheiras trabalham em restaurantes, hotéis ou embaixadas. Eu vim para a França, onde moro há alguns anos.
E como santificas teu trabalho?
Com naturalidade! É a primeira resposta que me vem à cabeça. Sou uma a mais entre as companheiras que se dedicam ao mesmo campo de trabalho. Nosso trabalho nos permite pensar muito nas pessoas, de modo que é muito simples pôr amor em cada tarefa.
A santidade? Não são necessários grandes discursos nem teorias... eu a busco, com simplicidade, fazendo bem meu trabalho, escutando minhas companheiras, evitando críticas às ausentes, querendo bem às pessoas, como elas são...
Em meu caso, o caminho da santidade inclui o celibato, isto é, ofereço minha vida a Deus por completo, em todos os seus aspectos.
Que dizer além disso? Pois trato de aplicar cada virtude ao meu dia-a-dia. Por exemplo: a serenidade, manter a calma no trabalho... A calma exterior – que começa com a paz interior – é algo que chama a atenção quando a percebes em uma pessoa que trabalha, lado a lado contigo. E atrai muito.
Por isso, procuro permanecer serena nos períodos de maior ocupação. É uma oportunidade de falar da estabilidade interior e da confiança em Deus. Claro que eu também fico nervosa quando há muito trabalho! Mas procuro deixar esses nervos e essa tensão aos pés do altar, todos os dias, quando assisto à Missa. Daí saio com forças e muito mais tranquila.
Podes explicar-nos como te aproximastes de Jesus Cristo através da formação que o Opus Dei oferece?
Acima de tudo, aprendi que não se pode amar a quem não conhecemos bem!
Vou dar um exemplo: Camarões é um país que em breve celebrará o 120º aniversário da chegada do cristianismo. Mas a fé ali ainda não impregnou a cultura e a mentalidade das pessoas. Às vezes, encontram-se pessoas que, quando os filhos não vão bem na escola, ou as coisa saíram errado no trabalho, contratam a um bruxo no sábado para que lance o “espírito maligno da casa” e o mande para o vizinho. E no domingo vão à Missa, para pedir a Deus a mesma coisa! São muito precavidos! Se o bruxo não funciona, querem “garantir” o resultado pedindo ao Deus cristão a mesma coisa.
Como eu poderia ter feito o mesmo, valorizo muito a formação cristã que recebi na Obra: as aulas de catecismo em pequenos grupos, as conversas com o sacerdote, os sacramentos, o ter aprendido a fazer um tempo de oração diária diante do Sacrário...
Que trabalhos realizas atualmente? Quais são teus projetos?
Atualmente, após passar por várias empresas privadas, cuido de uma residência de estudantes em Paris (França). Mas não me esqueço que meu grande sonho é voltar a Camarões para ser útil a meu país, à minha gente.
É algo sobre que falo com muitas de minhas amigas que também são de lá: temos que voltar, espera-nos uma tarefa enorme! Primeiro, de cristianização ( e digo “cristianização”, não “re-cristianização”, hein?); em seguida, de luta otimista contra o fatalismo, porque muitos pensam que a situação não tem solução. Conheço a realidade, minha opinião não é ingênua, mas não me rebelo contra quem vê no trabalho apenas um meio para “ir levando”. O trabalho deve nos fazer melhores, tanto a nós como à sociedade que nos rodeia. Nós, os cristãos, temos que encher Camarões de esperança!