Os meios de comunicação na família: um risco e uma riqueza

"A comunicação deve inspirar-se sempre no critério ético do respeito à verdade e à dignidade da pessoa humana". Mensagem de João Paulo II para a 38ª Jornada Mundial para as Comunicações Sociais.

Na Festividade de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, foi publicada a mensagem de João Paulo II para a 38ª Jornada Mundial para as Comunicações Sociais: “Os meios de comunicação na família: um risco e uma riqueza”.

Seguem trechos da mensagem anual, que foi publicada em italiano, inglês, francês, alemão, espanhol e português.

“O extraordinário crescimento dos meios de comunicação social e sua maior disponibilidade trouxeram excepcionais oportunidades para enriquecer a vida não só dos indivíduos como também das famílias. Ao mesmo tempo, as famílias enfrentam hoje novos desafios que nascem das diversas mensagens, muitas vezes contraditórias, transmitidas pelos meios de comunicação social. O tema escolhido para a Jornada Mundial das Comunicações Sociais de 2004 – ‘Os meios de comunicação na família: um risco e uma riqueza’ –, é muito oportuno, visto que convida a uma reflexão sóbria sobre o uso que as famílias fazem dos meios de comunicação, e também sobre o modo como os meios de comunicação tratam a família e as questões que afetam a família”.

O tema deste ano serve, além disso, para recordar a todos, comunicadores e espectadores, que toda comunicação tem uma dimensão moral. A estatura moral das pessoas cresce ou diminui segundo as palavras que pronunciam e as mensagens que decidem ouvir.

“Graças à expansão sem precedentes do mercado relacionado às comunicações sociais nas últimas décadas, muitas famílias em todo o mundo, inclusive aquelas que dispõem de limitados recursos materiais, podem acessar de dentro das suas casas os imensos e diferentes recursos oferecidos pelos meios de comunicação social”.

“Contudo, estes mesmos meios de comunicação possuem a capacidade de causar grande dano às famílias, apresentado-lhes uma visão inadequada e inclusive deformada da vida, da família, da religião e da moralidade. O Concílio Vaticano II captou muito bem esta capacidade de fortalecer ou comprometer valores tradicionais como a religião, a cultura e a família. A comunicação, em todas as suas formas, deve inspirar-se sempre no critério ético do respeito à verdade e à dignidade da pessoa humana.”

'Uma reflexão atenta sobre a dimensão ética das comunicações deve assegurar que esses poderosos meios de comunicação continuem sendo autênticas fontes de enriquecimento'.

“Estas considerações aplicam-se especialmente ao modo como os meios de comunicação tratam a família. Por um lado, inúmeras vezes, o matrimônio e a vida familiar são descritos de um modo sensato – realista e benévolo ao mesmo tempo – exaltando virtudes como o amor, a fidelidade, o perdão e a entrega generosa aos demais, e esforçando-se para discernir o correto do incorreto, distinguir o amor autêntico de suas falsificações, e mostrar a importância insubstituível da família como unidade fundamental da sociedade”.

“Por outro lado, a família e a vida familiar são, com muita frequência, descritas de maneira inoportuna pelos meios de comunicação. A infidelidade, a atividade sexual fora do matrimônio e a ausência de uma visão moral e espiritual do pacto matrimonial são apresentadas de modo acrítico, enquanto, às vezes, apóia-se o divórcio, a anticoncepção, o aborto e a homossexualidade”.

“Não é tão fácil resistir às pressões comerciais ou às exigências de adequar-se às ideologias do mundo, mas isto é precisamente o que os comunicadores responsáveis devem fazer”.

“As autoridades públicas têm o grave dever de apoiar o matrimônio e a família. Na atualidade, contudo, muitos pensam e agem segundo argumentos libertários, carentes de qualquer fundamento, forjados por alguns grupos que defendem práticas que contribuem ao grave fenômeno da crise da família e ao enfraquecimento do conceito autêntico de família. Sem recorrer à censura, é necessário que as autoridades públicas definam políticas e procedimentos de regulamentação para assegurar que os meios de comunicação social não atuem contra o bem da família. Os representantes das famílias devem participar da elaboração dessas políticas”.

A missão dos pais

“Os meios de comunicação não devem dar a impressão de que têm uma agenda hostil aos salutares valores familiares das culturas tradicionais, ou de que buscam substituir estes valores pelos valores secularizados da sociedade consumista como parte de um processo de globalização”.

“Os pais, como primeiros e principais educadores dos seus filhos, são também os primeiros a explicar-lhes como utilizar os meios de comunicação. Estão chamados a formar seus filhos ‘no uso moderado, crítico, vigilante e prudente de tais meios’ no lar. Quando os pais atuam de modo positivo e consistente, a vida familiar se enriquece muito”.

“Conscientes da enorme influência que exercem na formação das idéias e na conduta das pessoas, os comunicadores devem reconhecer que não somente têm a responsabilidade moral de oferecer às famílias todo estímulo, ajuda e apoio possíveis em vista da renovação da sociedade, como também devem atuar com sabedoria, sensatez e justiça ao apresentar questões que dizem respeito à sexualidade, ao matrimônio e à vida familiar”.

“Os meios de comunicação são acolhidos diariamente como hóspedes habituais em muitos lares e famílias. Nesta Jornada Mundial das Comunicações Sociais, exorto tanto os comunicadores como as famílias a reconhecer o privilégio singular e a responsabilidade que isto comporta”.

    Vatican Information Service