Com que espírito se está vivendo a festa dos 25 anos da prelazia pessoal do Opus Dei?
Sem alterar o seu ritmo de trabalho habitual, cada um esforça-se para dar muitas graças a Deus por todos os bens recebidos. Nesse sentido, dispus que este ano, até 28 de novembro próximo, seja um ano mariano de ação de graças na prelazia do Opus Dei. Além disso, evidentemente, este aniversário é uma oportunidade para renovar o nosso empenho pessoal de seguir mais de perto a Jesus Cristo, em comunhão com o Papa e todos os bispos diocesanos.
Usando termos humanos, pode-se dizer que o Opus Dei já alcançou a maioridade?
Se considerarmos o serviço que a prelazia está chamada a prestar à Igreja e às almas ao longo dos séculos, podemos dizer que ainda está no início; certamente, não no que se refere à sua missão - lembremos a vocação de todos os cristãos à santidade, através da vida ordinária -, mas sim na amplitude e profundidade da missão de evangelização que lhe é confiada, pois ainda não é suficientemente grande o trabalho que podemos assumir em comparação com as expectativas de muitos na Igreja: por exemplo, a de um grande número de bispos que gostariam que começássemos a trabalhar em suas dioceses.
Além disso, todos nós, fiéis da prelazia, com a ajuda da graça, temos o desafio de tornar realidade essa mensagem nas nossas vidas. Nessa perspectiva, que é, na minha opinião, o mais importante, o Opus Dei nunca poderá considerar-se maior de idade, pois está completamente necessitado da ajuda de Deus, como uma criança pequena precisa dos seus pais.
O que representou para o Opus Dei, há 25 anos, o reconhecimento jurídico como prelazia pessoal? Por que foi escolhida essa figura dentre outras mais frequentes no âmbito dos movimentos leigos?
A ereção do Opus Dei como Prelazia Pessoal pelo Papa João Paulo II, após ampla consulta a milhares de bispos e um cuidadoso estudo, representou o pleno reconhecimento eclesial do carisma fundacional. Recordando o que muitos já sabem, no dia 2 de outubro de 1928, São Josemaria viu que Deus lhe pedia que promovesse em todo o mundo a chamada universal à santidade e uma tomada de consciência efetiva e plena por parte dos leigos da sua missão na Igreja e no mundo, principalmente através da santificação do trabalho e das circunstâncias da sua vida ordinária. O trabalho apostólico que surgiu daquela semente inspirada por Deus, e que foi se espalhando por muitas partes do mundo, não encontrou o canal adequado dentro do direito da Igreja até que o Concílio Vaticano II estabelecesse as prelazias pessoais para determinadas finalidades apostólicas. Esta figura jurídica ajusta-se perfeitamente à missão –plenamente secular e de âmbito internacional - do Opus Dei, em que convergem organicamente fiéis leigos - que continuam pertencendo às suas respectivas dioceses – e sacerdotes seculares incardinados na prelazia. Por outro lado, enfatiza a plena comunhão com os bispos diocesanos e esclarece a sua inserção nas várias dioceses. Foi, por isso, um dia muito desejado pelo fundador, que rezou e se mortificou muito por ele, a ponto de oferecer o sacrifício de não ver realizado em vida o pleno reconhecimento eclesial do Opus Dei por parte da suprema autoridade da Igreja.
Além disso, os fiéis do Opus Dei, ao procurarem viver fielmente o seu compromisso como cristãos - iguais aos outros -, sentem-se numa especial comunhão de oração, intenções e afetos com todos os carismas da Igreja, que são sempre uma riqueza do Povo de Deus: sejam realidades antigas ou recentes, como os movimentos eclesiais.
Como a prelazia desenvolveu-se durante esses 25 anos? Quais foram os acontecimentos mais importantes?
A configuração jurídica definitiva ajudou muito na compreensão da missão do Opus Dei ao serviço da Igreja universal e da sua plena integração nas igrejas locais. Durante estes 25 anos, também houve motivos de muita alegria, como a canonização do fundador. Outro fato de destaque, que julgo necessário mencionar, é a vida do seu primeiro sucessor, D. Alvaro del Portillo, cuja causa de beatificação já foi iniciada. Além disso, nos últimos anos, a prelazia tem expandido os seus apostolados em novos países dos cinco continentes.
«Qualquer trabalho honesto, bem feito, acabado por amor, pode e deve ser um ponto de encontro com Deus»
No entanto, quero salientar que, para os fiéis do Opus Dei, os acontecimentos mais importantes não são desse tipo, mas os que preenchem a vida ordinária de cada um: embora passem despercebidos e possam parecer sem transcendência, são ocasiões em que Deus espera cada pessoa, são momentos de encontro com Ele.
Como a morte do fundador afetou a prelazia?
Deus concedeu ao nosso fundador um coração de pai, pleno de humanidade. Sua morte causou, inicialmente, profunda dor. A seguir, porém, com a ajuda de D. Alvaro del Portillo, que nos convidou a manter essa ferida aberta na alma para que todos cuidássemos fielmente do tesouro que tínhamos recebido, percebemos que esta família do Opus Dei já tinha a sua cabeça e o seu coração no Céu.
Além disso, São Josemaria procurou durante toda a sua vida não se fazer imprescindível. Procurou deixar "esculpido" - assim o dizia - o espírito do Opus Dei. A nós que recebemos este espírito, corresponde agora sermos muito fiéis a essa mensagem e fazê-la frutificar diariamente. Agradeço muito a Deus por me ter dado a oportunidade de conviver muitos anos com um santo como São Josemaria Escrivá de Balaguer. Confio plenamente na força da sua intercessão e creio que hoje ele continua nos olhando e ajudando com seu afeto paterno e materno, enquanto nos diz, como o fazia repetidas vezes: "Mais, mais, mais!" Sempre podemos amar mais, fazer mais por Deus e pelo próximo, assim, com os nossos erros, esforcemo-nos por acabar cada dia mais perto de Deus do que quando o começamos.
Qual é o segredo do Opus Dei para, especialmente na Europa, continuar a atrair jovens para o seguimento radical de Cristo, seja através da vida matrimonial, do celibato apostólico ou do sacerdócio?
O mesmo segredo que tem a Igreja, e que não pode ser outro que a atração sempre atual de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sobre todos os cristãos recai a obrigação de fazer presente, com o exemplo e a palavra, o rosto e a mensagem adoráveis de Cristo. Sem camuflagens, embora possa parecer que estamos indo contracorrente. E a experiência mostra que Jesus Cristo sempre arrasta.
Por outro lado, para usar uma comparação que São Josemaria frequentemente utilizava, o Opus Dei nada mais é que uma grande catequese. Oferece meios de formação cristã e um acompanhamento espiritual personalizado aos seus fiéis e às pessoas que participam dos seus apostolados. E são eles que, com a naturalidade da sua vida, da sua amizade e da sua conversação pessoal dão a conhecer a doutrina do Evangelho aos seus familiares, amigos, colegas, vizinhos...
Transcorridos 25 anos, quais são hoje os desafios mais urgentes enfrentados pela prelazia?
O desafio fundamental é a santidade pessoal de cada membro e a extensão dessa aspiração à santidade a muitas pessoas por meio do trabalho de evangelização. Essa tarefa, que é e será sempre atual, torna-se hoje particularmente urgente, como o Santo Padre Bento XVI não deixa de recordar a todos os homens de fé.
«A Prelazia do Opus Dei não busca nenhuma glória humana; aspira a servir sem segredo algum, mas discretamente, como o fermento na massa»
Devo acrescentar, como já disse, que muitos bispos pedem que a prelazia inicie a sua atividade apostólica nas suas dioceses. Exatamente há um ano, foi aberto o primeiro centro do Opus Dei em Moscou. E, nesse momento, estamos rezando e trabalhando para que se faça realidade o trabalho estável da prelazia na Romênia e na Indonésia.
Outro desafio, igualmente perene para os fiéis do Opus Dei e para todos os cristãos, sobretudo para os leigos, é contribuir com todas as mulheres e homens de boa vontade na configuração de uma cultura que seja coerente com a dignidade da pessoa humana.
Podemos falar do carisma do Opus Dei? O pilar da sua espiritualidade continua sendo a "santidade por meio do trabalho"?
Continua, e será sempre assim. Por um lado, qualquer trabalho honesto, qualquer atividade profissional honrada, bem feita, acabada por amor, pode e deve ser um ponto de encontro com Deus, de serviço aos demais e de aperfeiçoamento pessoal; Deus chama-nos não apenas quando oramos, mas o dia todo. Não se pode falar, então, de trabalhos ou ocupações de segunda categoria, porque todas as ocupações profissionais podem ser ocasiões de encontrar-se com Deus. E não apenas o trabalho; para os casados, por exemplo, o cumprimento amoroso dos seus deveres matrimoniais e familiares é também verdadeiro caminho de santidade, como é para os sacerdotes o exercício do seu sacerdócio e para todos os cidadãos o cumprimento leal dos deveres cívicos justos.
Por outro lado, Deus chama a todos a serem santos; a chamada não é para alguns apenas: é para todos. Todos podemos e devemos viver uma vida de intimidade com Deus, porque todos somos filhos de Deus, e Deus espera amor de todos os seus filhos.
Intimamente unidas a esta mensagem central estão a coerência de vida, o amor à liberdade pessoal e o afã de sermos semeadores de paz e alegria no seio da sociedade, sem colocar entraves a pessoa alguma.
Sendo o prelado do Opus Dei, como o senhor enfrenta a responsabilidade de liderar um dos mais animados e entusiastas carismas da Igreja atual?
Perdoe-me que proteste um pouco por causa dos termos em que põe a sua pergunta. Na atual Igreja - como sempre aconteceu –, há muita riqueza espiritual, muitas manifestações de que o Espírito Santo a acompanha e a inspira. O Opus Dei é mais uma prova desta vitalidade perene da Igreja, mas não queremos ser "os primeiros da classe." Pessoalmente, posso dizer-lhe que conheço muito bem a desproporção de minhas forças para a missão confiada, e que procuro apoiar-me na oração dos fiéis da prelazia, dos cooperadores e de muitas pessoas que rezam pelo nosso trabalho. Mas, além disso, a prelazia do Opus Dei não busca qualquer glória humana; aspira a servir, sem segredo algum, mas discretamente, como o fermento na massa.
A intercessão da Virgem Maria, à qual decidiram confiar este aniversário, certamente, é uma realidade durante estes 25 anos...
Realmente. E não apenas durante esses 25 anos, mas em toda a história do Opus Dei. Para qualquer necessidade, sempre recorremos a Maria. São Josemaria recorreu à ajuda da nossa Mãe desde que teve os primeiros vislumbres do que Deus lhe pedia; e, entre muitos outros detalhes de devoção para com ela, foi em peregrinação a santuários marianos pelo mundo afora. Também esteve em Montserrat e, especialmente, no santuário de Nossa Senhora de la Merced, em Barcelona. As suas visitas a esta basílica de Barcelona têm uma íntima relação com o caminho jurídico do Opus Dei, cujo término feliz completa agora 25 anos. No presente e no futuro, continuará sendo sempre necessária a ajuda da Virgem. Incentivei todos os fiéis da Prelazia a viverem com mais esmero a devoção ao Santo Rosário durante este ano mariano que estamos celebrando na Obra e a estendê-la entre seus colegas, amigos e familiares. É uma oração plenamente atual.