O melhor da viagem do Papa ao Reino Unido

Oferecemos o núcleo central de cada discurso de Bento XVI em sua histórica viagem ao Reino Unido, e links para os textos completos.

ENCONTRO COM OS JORNALISTAS NO AVIÃO ( Texto completo )

Diria que uma Igreja que procura sobretudo ser atraente já estaria num caminho errado, porque a Igreja não trabalha para si, não trabalha para aumentar os próprios números e, assim, o próprio poder. A Igreja está ao serviço de um Outro: não serve a si mesma, para ser um corpo forte, mas serve para tornar acessível o anúncio de Jesus Cristo, as grandes verdades e as grandes forças de amor, de reconciliação que apareceu nesta figura e que provém sempre da presença de Jesus Cristo. (...) Parece-me que neste sentido também anglicanos e católicos têm a simples e idêntica tarefa, a mesma direção a tomar. Se anglicanos e católicos juntos virem que não servem a si mesmos, mas que são instrumentos para Cristo, amigos do Esposo, como diz São João, se ambos executarem a prioridade de Cristo e não de si mesmos, então também caminham juntos, porque a prioridade de Cristo os irmana e já não são concorrentes onde cada um procura o maior número, mas estão unidos no compromisso pela verdade de Cristo que entra neste mundo e assim encontram-se também reciprocamente num ecumenismo verdadeiro e fecundo.

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AUDIÊNCIA COM A RAINHA DO REINO UNIDO ( Texto completo )

Podemos recordar como a Grã-Bretanha e os seus chefes se opuseram a uma tirania nazista que tinha no ânimo desenraizar Deus da sociedade e negava a muitos a nossa comum humanidade, sobretudo aos judeus, que eram considerados como não dignos de viver. Além disso, desejo recordar a atitude do regime em relação aos pastores cristãos e aos religiosos que proclamaram a verdade no amor; opuseram-se aos nazistas e pagaram com a própria vida a sua oposição. Enquanto refletimos sobre os motes do extremismo ateu do século XX, jamais podemos esquecer como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública conduz em última análise a uma visão incompleta do homem e da sociedade, e portanto a «uma visão redutiva da pessoa e do seu destino» ( Caritas in veritate , 29).

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SANTA MISSA EM BELLAHOUSTON PARK ( Texto completo )

A evangelização da cultura é ainda mais importante na nossa época, em que uma «ditadura do relativismo» ameaça ofuscar a verdade imutável a respeito da natureza do homem, do seu destino e do seu bem derradeiro. Hoje existem indivíduos que procuram excluir o credo religioso da esfera pública, de torná-lo uma realidade particular ou até de apresentá-lo como uma ameaça para a igualdade e a liberdade. Pelo contrário, na verdade a religião constitui uma garantia de liberdade e respeito autênticos, que nos leva a considerar cada pessoa como um irmão ou uma irmã. Por este motivo, dirijo um apelo particularmente a vós fiéis leigos, a fim de que, em conformidade com a vossa vocação e a missão batismal, não apenas possais ser um exemplo público de fé, mas saibais tornar-vos defensores na esfera pública da promoção da sabedoria e da visão do mundo que derivam da fé. A sociedade contemporânea tem necessidade de vozes claras, que proponham o nosso direito a viver não numa selva de liberdades autodestruidoras e arbitrárias, mas sim numa sociedade que trabalha em prol do verdadeiro bem-estar dos seus cidadãos, oferecendo-lhes orientação e salvaguarda diante das suas debilidades e fragilidades. Não tenhais medo de vos dedicar a este serviço em favor dos vossos irmãos e irmãs, e do futuro da vossa amada nação.

ENCONTRO COM JÓVENS EM UM COLÉGIO UNIVERSITÁRIO ( Texto completo )

Espero que entre vós, que hoje estais aqui para ouvir-me, haja alguns dos futuros santos do século XXI. O que Deus mais quer para cada um de vós é que vos torneis santos. Ele vos ama muito mais que possais imaginar e quer o melhor para vós. E, sem dúvida, o melhor para vós é, de longe, o crescer em santidade.

Talvez alguns de vós jamais tivésseis pensado antes nisso. Talvez alguém pense que ser santo não é para ele. Deixai-me explicar o que quero dizer. Quando somos jovens, pensamos geralmente em pessoas que estimamos e admiramos, pessoas às quais desejamos nos assemelhar. Poderia tratar-se de alguém que encontramos na nossa vida cotidiana e por quem tenhamos grande estima. Ou poderia ser alguém famoso. Vivemos em uma cultura da celebridade, e os jovens, muitas vezes, são incentivados a ter como modelo figuras do mundo do esporte ou do espetáculo. Desejo fazer-vos esta pergunta: Quais são as qualidades que vedes nos outros e que vós mesmos mais desejaríeis possuir? Qual tipo de pessoa desejaríeis ser de verdade?

Quando vos convido a tornar-vos santos, estou pedindo-vos que não vos contenteis com escolhas de segunda categoria. Estou pedindo-vos que não persigam um objetivo limitado, ignorando todos os outros. Ter dinheiro torna possível sermos generosos e fazer o bem no mundo, mas, por si só, não é suficiente para fazer-vos felizes. Ser altamente qualificado em alguma atividade ou profissão é uma coisa boa, mas não poderá nunca satisfazê-los a ponto de dispensar a aspiração por algo ainda maior. Poderá tornar-nos famosos, mas não nos fará felizes. A felicidade é algo que todos desejamos, mas uma das grandes tragédias deste mundo é que muitas pessoas nunca conseguem encontrá-la, porque a procuram nos lugares errados. A solução é muito simples: a verdadeira felicidade é encontrada em Deus. Precisamos ter a coragem de colocar as nossas esperanças mais profundas somente em Deus: não no dinheiro, numa carreira, no sucesso mundano, ou nas nossas relações com os outros, mas em Deus. Somente Ele pode satisfazer as necessidades mais profundas do nosso coração.

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ENCONTRO INTERRELIGIOSO ( Texto completo )

No nível espiritual, todos nós, por diferentes caminhos, estamos pessoalmente comprometidos numa jornada que oferece uma resposta importante à questão mais importante de todas, aquela referente ao sentido último da existência humana. A busca pelo sagrado é a busca do único necessário, o que satisfaz os anseios do coração humano. No Século V, Santo Agostinho descreveu essa busca nestes termos: "Senhor, criou-nos para Vós e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em vós" ( Confissões , Livro I, 1). Ao embarcar em tal aventura, nos damos conta cada vez mais de que a iniciativa não é nossa, mas do Senhor: não é tanto nós que estamos à procura dEle, mas sim Ele que está à nossa procura e sem dúvidas foi Ele quem colocou esse anseio por ele no fundo de nossos corações.

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Bento XVI, junto com o Arcebispo de Canterbury, assina o livro de visitas da abadia de Westminster @Reuters

VISITA FRATERNA AO ARCEBISPO ANGLICANO ( Texto completo )

Na figura de John Henry Newman, que será beatificado no domingo, celebramos um homem de Igreja, cuja visão eclesial foi alimentada pela sua formação anglicana e amadureceu durante os seus longos anos de ministério ordenado na Igreja da Inglaterra. Ele pode ensinar-nos as virtudes exigidas pelo ecumenismo: por um lado, ele foi impelido a seguir a sua própria consciência, também a um elevado preço pessoal; por outro, a intensidade da amizade contínua com os seus colegas precedentes levou-o a verificar juntamente com eles, com verdadeiro espírito conciliador, as questões sobre as quais divergiam, conduzido por uma profunda busca da unidade na fé.

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ENCONTRO COM A SOCIEDADE CIVIL E MUNDOS ACADÊMICO E CULTURAL

( Texto completo )

Onde pode ser encontrado o fundamento ético para as escolhas políticas? A tradição católica afirma que as normas objetivas que governam o reto agir são acessíveis à razão, prescindindo do conteúdo da Revelação. Em conformidade com esta compreensão, o papel da religião no debate político não consiste tanto em oferecer tais normas, como se elas não pudessem ser conhecidas pelos não-crentes — muito menos consiste em propor soluções políticas concretas, o que está totalmente fora da competência da religião — mas sobretudo em ajudar a purificar e lançar luz sobre a aplicação da razão na descoberta dos princípios morais objetivos. Mas este papel «corretivo» da religião em relação à razão nem sempre é bem acolhido, em parte porque determinadas formas ambíguas de religião, como o sectarismo e o fundamentalismo, podem mostrar-se elas mesmas como uma causa de sérios problemas sociais.

Em outras palavras, para os legisladores a religião não representa um problema a resolver, mas um fator que contribui de forma vital para o debate público na nação. Neste contexto, não posso deixar de manifestar a minha preocupação diante da crescente marginalização da religião, de modo particular do Cristianismo, que se vai consolidando em determinados ambientes, também em nações que atribuem um grande valor à tolerância. Existem pessoas segundo as quais a voz da religião deveria ser silenciada ou, na melhor das hipóteses, relegada à esfera puramente particular. Outros ainda afirmam que a celebração pública de festividades como o Natal deveria ser desencorajada, segundo a questionável convicção de que ela poderia de alguma maneira ofender aqueles que pertencem a outras ou a nenhuma religião. E há outros ainda que — paradoxalmente com a finalidade de eliminar as discriminações — chegam a considerar que os cristãos que desempenham funções públicas deveriam, em determinados casos, agir contra a própria consciência. Trata-se de sinais preocupantes da incapacidade de ter na justa consideração não apenas os direitos dos crentes à liberdade de consciência e de religião, mas também o papel legítimo da religião na esfera pública. Por conseguinte, gostaria de convidar todos vós, cada um na sua respectiva esfera de influência, a procurar caminhos para promover e encorajar o diálogo entre fé e razão, a todos os níveis da vida nacional.

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CELEBRAÇÃO ECUMÊNICA NA ABADIA DE WESTMINSTER ( Texto completo )

Deão de Westminster, John Hall, acompanha ao Papa em sua entrada na abadia de Westiminster

Numa sociedade que se tornou cada vez mais indiferente e até hostil à mensagem cristã, todos nós somos ainda mais chamados a dar um testemunho jubiloso e convincente da esperança que se encontra em nós (cf. 1 Pd 3, 15), e a apresentar o Senhor Ressuscitado como a resposta às mais profundas interrogações e aspirações espirituais dos homens e das mulheres do nosso tempo.

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MISSA NA CATEDRAL DE WESTMINSTER

Precisamos muito, na Igreja e na sociedade, testemunhas da beleza da santidade, testemunhas do esplendor da verdade, testemunhas da alegria e liberdade que nasce de uma relação viva com Cristo. Um dos maiores desafios que enfrentamos hoje é como falar de maneira convincente da sabedoria e do poder liberador da Palavra de Deus a um mundo que, com demasiada frequência, considera o Evangelho como um estrangulamento da liberdade humana, em lugar da verdade que liberta nossa mente e ilumina nossos esforços para viver correta e sabiamente, como indivíduos e como membros da sociedade.

Oremos, pois, para que os católicos desta terra sejam cada vez mais conscientes de sua dignidade como povo sacerdotal, chamados a consagrar o mundo a Deus através da vida de fé e de santidade. E que este aumento de zelo apostólico se veja acompanhado de uma oração mais intensa pelas vocações à ordem sacerdotal, porque quanto mais cresce o apostolado secular, com maior urgência se percebe a necessidade de sacerdotes; e quanto mais os leigos aprofundem na própria vocação, mais se sublinha o que é próprio do sacerdote.

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VISITA A UM ASILO ( Texto completo )

Vim até vós não só como um Pai, mas sobretudo como um irmão que conhece bem as alegrias e os desafios que chegam com a idade. Os nossos longos anos de vida oferecem-nos a oportunidade para apreciar a beleza dos maiores dons que Deus nos deu, tanto o dom da vida como a fragilidade do espírito humano. Aqueles que vivem muitos anos têm uma oportunidade maravilhosa de aprofundar o próprio conhecimento do mistério de Cristo que se humilhou a si mesmo para partilhar a nossa humanidade.

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VIGÍLIA DE ORAÇÃO PRÉVIA À BEATIFICAÇÃO DO CARDEAL NEWMAN ( Texto completo )

A existência de Newman ensina-nos que a paixão pela verdade, pela honestidade intelectual e pela conversão genuína exigem que se pague um preço elevado. A verdade que nos torna livres não pode ser conservada só para nós; exige o testemunho, precisa ser ouvida, e no fundo o seu poder de convencer provém dela mesma e não da eloquência humana nem dos raciocínios nos quais pode ser acomodada. Não distante daqui, em Tyburn, um grande número de nossos irmãos e irmãs morreram pela fé; o testemunho da sua fidelidade até ao fim foi muito mais poderoso que as palavras inspiradas que muitos deles disseram antes de abandonar tudo pelo Senhor. Na nossa época, o preço que deve ser pago pela fidelidade ao Evangelho já não é ser enforcado, afogado e esquartejado, mas muitas vezes significa ser indicado como irrelevante, ridicularizado ou ser motivo de paródia. E contudo a Igreja não se pode eximir do dever de proclamar Cristo e o seu Evangelho como verdade salvífica, fonte da nossa felicidade última como indivíduos, e como fundamento de uma sociedade justa e humana.

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BEATIFICAÇÃO DO CARDEAL NEWMAN ( Texto completo )

O lema do Cardeal Newman, Cor ad cor loquitur, «o coração fala ao coração», permite-nos penetrar na sua compreensão da vida cristã como chamada à santidade, experimentada como o intenso desejo do coração humano de entrar em íntima comunhão com o Coração de Deus. Ele recorda-nos que a fidelidade à oração nos transforma gradualmente na imagem divina. Como escreveu num dos seus lindos sermões: «O hábito da oração, que é a prática de se dirigir a Deus e ao mundo invisível em cada época, em todos os lugares, em qualquer emergência, a oração, digo, possui aquilo que pode ser chamado um efeito natural no espiritualizar e elevar a alma. Um homem já não é o que era antes; gradualmente... interiorizou um novo sistema de ideias e tornou-se impregnado de princípios límpidos» ( Parochial and plain sermons , IV, 230-231).

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ENCONTRO COM OS BISPOS ( Texto completo )

A vossa crescente compreensão da extensão dos abusos contra os jovens na sociedade, dos seus efeitos devastadores e da necessidade de oferecer um apoio adequado às vítimas, deveria servir de incentivo para partilhar, com a sociedade mais ampla, a lição por vós aprendida. Na realidade, qual melhor caminho poderia haver, a não ser reparar estes pecados aproximando-vos, em humilde espírito de compaixão, dos jovens que sofrem também noutras partes devido a abusos? O nosso dever de nos ocuparmos da juventude exige nada menos do que isto. Enquanto refletimos sobre a fragilidade humana que estes trágicos acontecimentos revelam de modo tão duro, é-nos recordado que, para sermos guias cristãos eficazes, devemos viver na mais alta integridade, humildade e santidade.

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CERIMÔNIA DE DESPEDIDA ( Texto completo )

Naturalmente, a minha visita visava de modo especial os católicos do Reino Unido. Recordo com íntima alegria o tempo transcorrido com os bispos, o clero, os religiosos e os leigos, e também com os professores, os estudantes e os idosos. De maneira especial, foi comovedor celebrar com eles, aqui em Birmingham, a beatificação de um grande filho da Inglaterra, Cardeal John Henry Newman. Com a sua vasta herança de escritos acadêmicos e espirituais, estou certo de que ele ainda tem muito a ensinar-nos sobre a vida e o testemunho cristão entre os desafios do mundo contemporâneo, desafios que previu com clarividência excepcional.