ENCONTRO COM OS JORNALISTAS NO AVIÃO ( Texto completo )
Diria que uma Igreja que procura sobretudo ser atraente já estaria num caminho errado, porque a Igreja não trabalha para si, não trabalha para aumentar os próprios números e, assim, o próprio poder. A Igreja está ao serviço de um Outro: não serve a si mesma, para ser um corpo forte, mas serve para tornar acessível o anúncio de Jesus Cristo, as grandes verdades e as grandes forças de amor, de reconciliação que apareceu nesta figura e que provém sempre da presença de Jesus Cristo. (...) Parece-me que neste sentido também anglicanos e católicos têm a simples e idêntica tarefa, a mesma direção a tomar. Se anglicanos e católicos juntos virem que não servem a si mesmos, mas que são instrumentos para Cristo, amigos do Esposo, como diz São João, se ambos executarem a prioridade de Cristo e não de si mesmos, então também caminham juntos, porque a prioridade de Cristo os irmana e já não são concorrentes onde cada um procura o maior número, mas estão unidos no compromisso pela verdade de Cristo que entra neste mundo e assim encontram-se também reciprocamente num ecumenismo verdadeiro e fecundo.
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AUDIÊNCIA COM A RAINHA DO REINO UNIDO ( Texto completo )
Podemos recordar como a Grã-Bretanha e os seus chefes se opuseram a uma tirania nazista que tinha no ânimo desenraizar Deus da sociedade e negava a muitos a nossa comum humanidade, sobretudo aos judeus, que eram considerados como não dignos de viver. Além disso, desejo recordar a atitude do regime em relação aos pastores cristãos e aos religiosos que proclamaram a verdade no amor; opuseram-se aos nazistas e pagaram com a própria vida a sua oposição. Enquanto refletimos sobre os motes do extremismo ateu do século XX, jamais podemos esquecer como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública conduz em última análise a uma visão incompleta do homem e da sociedade, e portanto a «uma visão redutiva da pessoa e do seu destino» ( Caritas in veritate , 29).
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SANTA MISSA EM BELLAHOUSTON PARK ( Texto completo )
A evangelização da cultura é ainda mais importante na nossa época, em que uma «ditadura do relativismo» ameaça ofuscar a verdade imutável a respeito da natureza do homem, do seu destino e do seu bem derradeiro. Hoje existem indivíduos que procuram excluir o credo religioso da esfera pública, de torná-lo uma realidade particular ou até de apresentá-lo como uma ameaça para a igualdade e a liberdade. Pelo contrário, na verdade a religião constitui uma garantia de liberdade e respeito autênticos, que nos leva a considerar cada pessoa como um irmão ou uma irmã. Por este motivo, dirijo um apelo particularmente a vós fiéis leigos, a fim de que, em conformidade com a vossa vocação e a missão batismal, não apenas possais ser um exemplo público de fé, mas saibais tornar-vos defensores na esfera pública da promoção da sabedoria e da visão do mundo que derivam da fé. A sociedade contemporânea tem necessidade de vozes claras, que proponham o nosso direito a viver não numa selva de liberdades autodestruidoras e arbitrárias, mas sim numa sociedade que trabalha em prol do verdadeiro bem-estar dos seus cidadãos, oferecendo-lhes orientação e salvaguarda diante das suas debilidades e fragilidades. Não tenhais medo de vos dedicar a este serviço em favor dos vossos irmãos e irmãs, e do futuro da vossa amada nação.
ENCONTRO COM JÓVENS EM UM COLÉGIO UNIVERSITÁRIO ( Texto completo )
Espero que entre vós, que hoje estais aqui para ouvir-me, haja alguns dos futuros santos do século XXI. O que Deus mais quer para cada um de vós é que vos torneis santos. Ele vos ama muito mais que possais imaginar e quer o melhor para vós. E, sem dúvida, o melhor para vós é, de longe, o crescer em santidade.
Talvez alguns de vós jamais tivésseis pensado antes nisso. Talvez alguém pense que ser santo não é para ele. Deixai-me explicar o que quero dizer. Quando somos jovens, pensamos geralmente em pessoas que estimamos e admiramos, pessoas às quais desejamos nos assemelhar. Poderia tratar-se de alguém que encontramos na nossa vida cotidiana e por quem tenhamos grande estima. Ou poderia ser alguém famoso. Vivemos em uma cultura da celebridade, e os jovens, muitas vezes, são incentivados a ter como modelo figuras do mundo do esporte ou do espetáculo. Desejo fazer-vos esta pergunta: Quais são as qualidades que vedes nos outros e que vós mesmos mais desejaríeis possuir? Qual tipo de pessoa desejaríeis ser de verdade?
Quando vos convido a tornar-vos santos, estou pedindo-vos que não vos contenteis com escolhas de segunda categoria. Estou pedindo-vos que não persigam um objetivo limitado, ignorando todos os outros. Ter dinheiro torna possível sermos generosos e fazer o bem no mundo, mas, por si só, não é suficiente para fazer-vos felizes. Ser altamente qualificado em alguma atividade ou profissão é uma coisa boa, mas não poderá nunca satisfazê-los a ponto de dispensar a aspiração por algo ainda maior. Poderá tornar-nos famosos, mas não nos fará felizes. A felicidade é algo que todos desejamos, mas uma das grandes tragédias deste mundo é que muitas pessoas nunca conseguem encontrá-la, porque a procuram nos lugares errados. A solução é muito simples: a verdadeira felicidade é encontrada em Deus. Precisamos ter a coragem de colocar as nossas esperanças mais profundas somente em Deus: não no dinheiro, numa carreira, no sucesso mundano, ou nas nossas relações com os outros, mas em Deus. Somente Ele pode satisfazer as necessidades mais profundas do nosso coração.
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ENCONTRO INTERRELIGIOSO ( Texto completo )
No nível espiritual, todos nós, por diferentes caminhos, estamos pessoalmente comprometidos numa jornada que oferece uma resposta importante à questão mais importante de todas, aquela referente ao sentido último da existência humana. A busca pelo sagrado é a busca do único necessário, o que satisfaz os anseios do coração humano. No Século V, Santo Agostinho descreveu essa busca nestes termos: "Senhor, criou-nos para Vós e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em vós" ( Confissões , Livro I, 1). Ao embarcar em tal aventura, nos damos conta cada vez mais de que a iniciativa não é nossa, mas do Senhor: não é tanto nós que estamos à procura dEle, mas sim Ele que está à nossa procura e sem dúvidas foi Ele quem colocou esse anseio por ele no fundo de nossos corações.
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VISITA FRATERNA AO ARCEBISPO ANGLICANO ( Texto completo )
Na figura de John Henry Newman, que será beatificado no domingo, celebramos um homem de Igreja, cuja visão eclesial foi alimentada pela sua formação anglicana e amadureceu durante os seus longos anos de ministério ordenado na Igreja da Inglaterra. Ele pode ensinar-nos as virtudes exigidas pelo ecumenismo: por um lado, ele foi impelido a seguir a sua própria consciência, também a um elevado preço pessoal; por outro, a intensidade da amizade contínua com os seus colegas precedentes levou-o a verificar juntamente com eles, com verdadeiro espírito conciliador, as questões sobre as quais divergiam, conduzido por uma profunda busca da unidade na fé.
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ENCONTRO COM A SOCIEDADE CIVIL E MUNDOS ACADÊMICO E CULTURAL
( Texto completo )
Onde pode ser encontrado o fundamento ético para as escolhas políticas? A tradição católica afirma que as normas objetivas que governam o reto agir são acessíveis à razão, prescindindo do conteúdo da Revelação. Em conformidade com esta compreensão, o papel da religião no debate político não consiste tanto em oferecer tais normas, como se elas não pudessem ser conhecidas pelos não-crentes — muito menos consiste em propor soluções políticas concretas, o que está totalmente fora da competência da religião — mas sobretudo em ajudar a purificar e lançar luz sobre a aplicação da razão na descoberta dos princípios morais objetivos. Mas este papel «corretivo» da religião em relação à razão nem sempre é bem acolhido, em parte porque determinadas formas ambíguas de religião, como o sectarismo e o fundamentalismo, podem mostrar-se elas mesmas como uma causa de sérios problemas sociais.
Em outras palavras, para os legisladores a religião não representa um problema a resolver, mas um fator que contribui de forma vital para o debate público na nação. Neste contexto, não posso deixar de manifestar a minha preocupação diante da crescente marginalização da religião, de modo particular do Cristianismo, que se vai consolidando em determinados ambientes, também em nações que atribuem um grande valor à tolerância. Existem pessoas segundo as quais a voz da religião deveria ser silenciada ou, na melhor das hipóteses, relegada à esfera puramente particular. Outros ainda afirmam que a celebração pública de festividades como o Natal deveria ser desencorajada, segundo a questionável convicção de que ela poderia de alguma maneira ofender aqueles que pertencem a outras ou a nenhuma religião. E há outros ainda que — paradoxalmente com a finalidade de eliminar as discriminações — chegam a considerar que os cristãos que desempenham funções públicas deveriam, em determinados casos, agir contra a própria consciência. Trata-se de sinais preocupantes da incapacidade de ter na justa consideração não apenas os direitos dos crentes à liberdade de consciência e de religião, mas também o papel legítimo da religião na esfera pública. Por conseguinte, gostaria de convidar todos vós, cada um na sua respectiva esfera de influência, a procurar caminhos para promover e encorajar o diálogo entre fé e razão, a todos os níveis da vida nacional.
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CELEBRAÇÃO ECUMÊNICA NA ABADIA DE WESTMINSTER ( Texto completo )
Numa sociedade que se tornou cada vez mais indiferente e até hostil à mensagem cristã, todos nós somos ainda mais chamados a dar um testemunho jubiloso e convincente da esperança que se encontra em nós (cf. 1 Pd 3, 15), e a apresentar o Senhor Ressuscitado como a resposta às mais profundas interrogações e aspirações espirituais dos homens e das mulheres do nosso tempo.
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MISSA NA CATEDRAL DE WESTMINSTER
Precisamos muito, na Igreja e na sociedade, testemunhas da beleza da santidade, testemunhas do esplendor da verdade, testemunhas da alegria e liberdade que nasce de uma relação viva com Cristo. Um dos maiores desafios que enfrentamos hoje é como falar de maneira convincente da sabedoria e do poder liberador da Palavra de Deus a um mundo que, com demasiada frequência, considera o Evangelho como um estrangulamento da liberdade humana, em lugar da verdade que liberta nossa mente e ilumina nossos esforços para viver correta e sabiamente, como indivíduos e como membros da sociedade.
Oremos, pois, para que os católicos desta terra sejam cada vez mais conscientes de sua dignidade como povo sacerdotal, chamados a consagrar o mundo a Deus através da vida de fé e de santidade. E que este aumento de zelo apostólico se veja acompanhado de uma oração mais intensa pelas vocações à ordem sacerdotal, porque quanto mais cresce o apostolado secular, com maior urgência se percebe a necessidade de sacerdotes; e quanto mais os leigos aprofundem na própria vocação, mais se sublinha o que é próprio do sacerdote.
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VISITA A UM ASILO ( Texto completo )
Vim até vós não só como um Pai, mas sobretudo como um irmão que conhece bem as alegrias e os desafios que chegam com a idade. Os nossos longos anos de vida oferecem-nos a oportunidade para apreciar a beleza dos maiores dons que Deus nos deu, tanto o dom da vida como a fragilidade do espírito humano. Aqueles que vivem muitos anos têm uma oportunidade maravilhosa de aprofundar o próprio conhecimento do mistério de Cristo que se humilhou a si mesmo para partilhar a nossa humanidade.
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VIGÍLIA DE ORAÇÃO PRÉVIA À BEATIFICAÇÃO DO CARDEAL NEWMAN ( Texto completo )
A existência de Newman ensina-nos que a paixão pela verdade, pela honestidade intelectual e pela conversão genuína exigem que se pague um preço elevado. A verdade que nos torna livres não pode ser conservada só para nós; exige o testemunho, precisa ser ouvida, e no fundo o seu poder de convencer provém dela mesma e não da eloquência humana nem dos raciocínios nos quais pode ser acomodada. Não distante daqui, em Tyburn, um grande número de nossos irmãos e irmãs morreram pela fé; o testemunho da sua fidelidade até ao fim foi muito mais poderoso que as palavras inspiradas que muitos deles disseram antes de abandonar tudo pelo Senhor. Na nossa época, o preço que deve ser pago pela fidelidade ao Evangelho já não é ser enforcado, afogado e esquartejado, mas muitas vezes significa ser indicado como irrelevante, ridicularizado ou ser motivo de paródia. E contudo a Igreja não se pode eximir do dever de proclamar Cristo e o seu Evangelho como verdade salvífica, fonte da nossa felicidade última como indivíduos, e como fundamento de uma sociedade justa e humana.
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BEATIFICAÇÃO DO CARDEAL NEWMAN ( Texto completo )
O lema do Cardeal Newman, Cor ad cor loquitur, «o coração fala ao coração», permite-nos penetrar na sua compreensão da vida cristã como chamada à santidade, experimentada como o intenso desejo do coração humano de entrar em íntima comunhão com o Coração de Deus. Ele recorda-nos que a fidelidade à oração nos transforma gradualmente na imagem divina. Como escreveu num dos seus lindos sermões: «O hábito da oração, que é a prática de se dirigir a Deus e ao mundo invisível em cada época, em todos os lugares, em qualquer emergência, a oração, digo, possui aquilo que pode ser chamado um efeito natural no espiritualizar e elevar a alma. Um homem já não é o que era antes; gradualmente... interiorizou um novo sistema de ideias e tornou-se impregnado de princípios límpidos» ( Parochial and plain sermons , IV, 230-231).
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ENCONTRO COM OS BISPOS ( Texto completo )
A vossa crescente compreensão da extensão dos abusos contra os jovens na sociedade, dos seus efeitos devastadores e da necessidade de oferecer um apoio adequado às vítimas, deveria servir de incentivo para partilhar, com a sociedade mais ampla, a lição por vós aprendida. Na realidade, qual melhor caminho poderia haver, a não ser reparar estes pecados aproximando-vos, em humilde espírito de compaixão, dos jovens que sofrem também noutras partes devido a abusos? O nosso dever de nos ocuparmos da juventude exige nada menos do que isto. Enquanto refletimos sobre a fragilidade humana que estes trágicos acontecimentos revelam de modo tão duro, é-nos recordado que, para sermos guias cristãos eficazes, devemos viver na mais alta integridade, humildade e santidade.
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CERIMÔNIA DE DESPEDIDA ( Texto completo )
Naturalmente, a minha visita visava de modo especial os católicos do Reino Unido. Recordo com íntima alegria o tempo transcorrido com os bispos, o clero, os religiosos e os leigos, e também com os professores, os estudantes e os idosos. De maneira especial, foi comovedor celebrar com eles, aqui em Birmingham, a beatificação de um grande filho da Inglaterra, Cardeal John Henry Newman. Com a sua vasta herança de escritos acadêmicos e espirituais, estou certo de que ele ainda tem muito a ensinar-nos sobre a vida e o testemunho cristão entre os desafios do mundo contemporâneo, desafios que previu com clarividência excepcional.
Site da visita do Papa ao Reino Unido (em inglês)
Site da causa de canonização de John Henry Newman (em inglês)
Viagem apostólica ao Reino Unido (16-19 de setembro de 2010)