O matrimônio: um caminho divino

Por ocasião da publicação do livro entrevista de Bento XVI, Luz do mundo, difundiram-se diversas interpretações incorretas que espalharam confusão sobre a posição da Igreja Católica acerca da moral matrimonial.

Para esclarecer, recomendamos que leia a Nota da Congregação para a Doutrina da Fé, e também apresentamos alguns textos de São Josemaria sobre o Matrimônio cristão para aprofundar na beleza desse chamado que é divino:

"Encarar esperançosamente o futuro com fé sobrenatural não significa de modo algum ignorar os problemas. Pelo contrário: a fé é um novo acicate para a busca quotidiana de soluções, certeza de que nem a ciência nem a consciência de um cientista podem aceitar sem-razões de mentirosa eficácia que levem a negar o amor humano, a secar as fontes da vida, ao hedonismo subtil ou ao mais boçal materialismo, que sufocam a dignidade do homem e o fazem escravo da tristeza.

Salvarão este nosso mundo – permiti que o recorde - não os que pretendem narcotizar a vida do espírito, reduzindo tudo a questões económicas ou de bem-estar material, mas o que têm fé em Deus e no destino eterno do homem e sabem receber a verdade de Cristo como luz orientadora para a acção e para a conduta. Porque o Deus da nossa fé não é um ser longínquo, que contempla a sorte dos homens. É um Pai criador que transborda de carinho pelas suas criaturas. E concede ao homem o grande privilégio de poder amá-lo transcendendo assim o efémero e o transitório.

"As vidas humanas, que são santas, porque vêm de Deus, não podem ser tratadas como simples coisas, como números de uma estatística. Ao considerar a realidade profunda da vida, escapam-se do coração humano os seus afectos mais nobres. Com que amor, com que ternura, com que paciência infinita, contemplam os pais os seus filhos, inclusivamente antes de nascerem! E acaso não vive o teólogo igualmente a generosidade incansável, a atenção ao concreto, ou a serenidade de juízo, que esmiúça o sentido da palavra divina sobre a vida humana? Ou não é também a do médico espera entusiasmada, capacidade de intuição, agudeza de engenho, ao aplicar os remédios mais modernos para evitar o risco de uma doença congénita, que talvez ponha em perigo a vida da criatura ainda não nascida?" (Compromisso da verdade, in: Josemaria Escrivá e a Universidade, Coimbra, Almedina, 2003, p. 113-114)

“Pobre conceito tem do matrimónio - que é um sacramento, um ideal e uma vocação - quem pensa que o amor acaba quando começam as penas e os contratempos que a vida traz sempre consigo. É então que o amor se fortalece.” (São Josemaria Escrivá)

"Vou falar de uma coisa que conheço bem, e que é da minha experiência sacerdotal, de muitos e em muitos países. A maior parte dos sócios do Opus Dei, vive no estado matrimonial e, para eles, o amor humano e os deveres conjugais fazem parte da vocação divina. O Opus Dei fez do matrimônio um caminho divino, uma vocação; e isto tem muitas conseqüências para a santificação pessoal e para o apostolado. Há quase quarenta anos que venho pregando o sentido vocacional do matrimônio. Que olhos cheios de luz vi mais de uma vez quando — julgando eles e elas incompatíveis em sua vida e entrega a Deus e um amor humano nobre e limpo — , me ouviam dizer que o matrimônio é um caminho divino na terra!

O matrimônio existe para que aqueles que o contraem se santifiquem através dele: para isso os cônjuges têm uma graça especial conferida pelo sacramento instituído opor Jesus Cristo. Quem é chamado ao estado matrimonial encontra nesse estado — com a graça de Deus — tudo o que necessita para ser santo, para se identificar cada dia mais com Jesus Cristo, e para levar ao Senhor as pessoas com quem convive.

Por isso penso sempre com esperança e com carinho nos lares cristãos, em todas as famílias que brotaram do Sacramento do Matrimônio, que são testemunhos luminosos desse grande mistério divino — sacramentum magnum! (Ef 5, 32), sacramento grande — da união e do amor entre Cristo e a sua Igreja. Devemos trabalhar para que essas células cristãs da sociedade nasçam e se desenvolvam com ânsia de santidade, com a consciência de que o sacramento inicial — o batismo — confere já a todos os cristãos uma missão divina, que cada um deve cumprir no seu próprio caminho." (‘Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá’. A mulher na vida do mundo e da Igreja, n. 91)

Tudo o que é preciso para serem santos

"O esposos cristãos devem ter a consciência de que são chamados a santificar-se santificando, de que são chamados a ser apóstolos, e de que seu primeiro apostolado está no lar. Devem compreender a obra sobrenatural que supõe a fundação de uma família, a educação dos filhos, a irradiação cristã na sociedade. Desta consciência da própria missão dependem, em grande parte, a eficácia e o êxito da sua vida: a sua felicidade.

Mas não esqueçam que o segredo da felicidade conjugal está no quotidiano, não em sonhos. Está em encontrar a alegria escondida de chegarem ao lar; no trato afetuoso com os filhos; no trabalho de todos os dias, em que toda a família colabora; no bom-humor perante as dificuldades, que é preciso enfrentar com esportivismo; é também no aproveitamento de todos os avanços que nos proporciona a civilização, para tornar a casa agradável, a vida mais simples, a formação mais eficaz.

“O amor puro e limpo dos esposos é uma realidade santa, que eu, como sacerdote, abençoo com ambas as mãos. A tradição cristã viu frequentemente na presença de Jesus nas bodas de Caná uma confirmação do valor divino do matrimónio: “O nosso Salvador foi às bodas - escreve S. Cirilo de Alexandria - para santificar o princípio da geração humana.” (Cristo que passa, n. 24)

Àqueles que foram chamados por Deus para formar um lar, digo constantemente que se amem sempre, que se amem com aquele amor entusiasmado que tinham quando eram noivos. Pobre conceito tem do matrimônio — que é um sacramento, um ideal e uma vocação — quem pensa que a alegria acaba quando começam as penas e os contratempos que a vida sempre traz consigo. Aí é que o amor se torna forte. As enxurradas das mágoas e das contrariedades não são capazes de afogar o verdadeiro amor: une mais o sacrifício generosamente partilhado. Como diz a Escritura, aquae multae — as muitas dificuldades, físicas e morais — non potuerunt extinguere caritatem (Cant. 8, 7) — não poderão apagar o carinho." (‘Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá’. A mulher na vida do mundo e da Igreja, n. 91)

Não rebaixar o dom da caridade

"Pedi ousadamente ao Senhor este tesouro, esta virtude sobrenatural da caridade, para levá-la à prática até o seu último detalhe.

Com freqüência nós, os cristãos, não soubemos corresponder a esse dom; às vezes o rebaixamos, como se não passasse de uma esmola sem alma, fria; ou o reduzimos a atitudes de beneficência mais ou menos formalista. Exprimia bem esta aberração a resignada queixa de uma doente: Aqui tratam-me com caridade, mas minha mãe cuidava de mim com carinho. O amor que nasce do coração de Cristo não pode dar lugar a esse gênero de distinções.


Para que esta verdade se gravasse de uma forma plástica na vossa cabeça, preguei em milhares de ocasiões que nós não possuímos um coração para amar a Deus e outro para querer bem às criaturas: este nosso pobre coração, de carne, ama com um carinho humano que, se estiver unido ao amor de Cristo, é também sobrenatural. Esta e não outra é a caridade que devemos cultivar na alma, a que nos levará a descobrir nos outros a imagem de Nosso Senhor.
" (Amigos de Deus, n. 229)

DOCUMENTAÇÃO:

- O matrimônio vocação cristã, 'É Cristo que passa'

- Catecismo da Igreja Católica: "O sacramento do Matrimônio"

- Nota da Congregação da Doutrina da Fé sobre as declarações do Papa àcerca do uso do preservativo no livro "Luz do Mundo"

- Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá A mulher na vida do mundo e da Igreja Ponto 91

- Amigos de Deus. Com a força do amor Capítulo 14