Os historiadores e leitores interessados na história do Opus Dei e do seu fundador encontrarão interessantes novidades no número 3 (2009) da revista Studia et Documenta publicado em Março de 2009.
De São Josemaria nos anos trinta têm-nos falado até agora as suas biografias, que proporcionam muitos pormenores sobre a vida do jovem sacerdote aragonês nos anos que se seguiram à fundação do Opus Dei. Mas há muitos aspectos dessa história que permanecem inéditos. Por exemplo, sempre se falou do grupo de sacerdotes que reuniu à sua volta nesses anos, com a intenção de lhes transmitir os seus ideais, mas sabemos muito pouco deles e da sua relação com o fundador. Pela primeira vez, foi elaborado um estudo pormenorizado dessas trajetórias sacerdotais, que abrem também uma perspectiva muito interessante sobre a vida do clero em Madrid durante os anos da Segunda República espanhola. São seus autores José Luís González Gullón e Jaime Aurell, dois especialistas da história religiosa desse período.
Este artigo faz parte de um caderno monográfico da revista, dedicado precisamente a São Josemaria em Madrid nos anos trinta, que se inicia com um artigo introdutório sobre o ambiente social, político, cultural e religioso na capital de Espanha. Júlio Montero - catedrático de História da Comunicação - e Javier Cervera - um dos maiores especialistas da Segunda República e da Guerra Civil - traçam-nos um quadro muito vivo e, ao mesmo tempo rigoroso, com informações rápidas que permitem compreender melhor o contexto em que começou o Opus Dei.
Até agora sabia-se muito pouco de Luís Gordon, um jovem empresário, do ramo da indústria da cerveja, que foi um dos primeiríssimos seguidores de São Josemaria Escrivá de Balaguer, que morreu prematuramente, anulando as esperanças que o fundador tinha posto nele. Pedro Pablo Ortúñez, especialista em história económica, e Luís Gordon Beguer, sobrinho do biografado, apresentam uma interessante contribuição sobre a vida de um católico muito “normal”, nada estereotipado, que entendeu muito bem a mensagem de secularidade e santificação na vida corrente, na sua profissão de produtor de cerveja.
Muito interessante também o estudo da relação de Josemaria com a “Obra do Amor Misericordioso”. As referências a este aspecto da sua biografia têm sido sempre escassas. E, contudo, descobrimos que o fundador do Opus Dei teve uma grande familiaridade com esse movimento religioso - diretamente ligado devoção ao Sagrado Coração - que estava muito difundido então em Espanha e que desapareceu depois da Guerra Civil. Devemos estas páginas a Federico M. Requena, talvez o mais qualificado estudioso deste movimento religioso.
Beatriz Comella, historiadora, encerra este caderno monográfico com uma contribuição sobre um tema que conhece muito bem: o Patronato de Santa Isabel, de Madrid, onde Josemaria Escrivá desempenhou um encargo pastoral durante bastantes anos.
Mas onde os especialistas encontrarão talvez o artigo mais interessante e com novidade será na secção de Estudos e notas. Trata-se do denso trabalho realizado pelo Diretor do Instituto Histórico, José Luís Illanes, que pela primeira vez apresenta uma resenha completa e cronológica dos escritos de São Josemaria. Não só dos publicados ou póstumos - isto não representaria qualquer novidade - mas também dos inéditos.
J. L. Illanes levou a cabo um exaustivo exame dos escritos e apontamentos do fundador que se conservam - também das notas da sua pregação oral -, guardados no arquivo da Prelatura. Como fruto desse trabalho, apresenta uma panorâmica de São Josemaria como escritor e pregador, sobretudo do seu trabalho de elaboração dos diversos textos, também das Cartas e “Instruções”, que ainda permanecem inéditas. Naturalmente, Illanes só pôde referir-se ao conteúdo desses escritos, em número considerável, e que esperam ser publicados um dia, numa coleção de Obras completas de Josemaria Escrivá, em fase de preparação no Instituto. Mas a imagem de conjunto é já sumamente reveladora: estamos perante um patrimônio muito rico para toda a Igreja, como já havia declarado Paulo VI a D. Álvaro del Portillo em 1976.
Curiosa e pouco conhecida é a história da atividade docente de São Josemaria, tratada em outros dois estudos: o primeiro, de Constantino Ánchel - um dos maiores especialistas em história do Opus Dei -, refere-se ao seu trabalho no Instituto Amado e na Academia Cicuéndez (entre 1926 e 1932), como professor de Direito Canônico e Romano. O segundo trabalho, elaborado por Pablo Pérez López – professor de História Contemporânea -, debruça-se sobre as aulas de Ética e Moral Profissional que São Josemaria regeu num curso oficial para formação de jornalistas em Madrid em 1940-1941. A secção de Estudos e Notas encerra-se com a segunda parte de um longo estudo do teólogo Guillaume Derville sobre a edição crítico-histórica de Caminho.
Na seção de Documentação, encontra-se a edição integral de um dos documentos que nos aproxima dos primeiros anos da vida do Opus Dei. São os relatos escritos de São Josemaria sobre os encontros com Francisco Morán, vigário geral da diocese de Madri, entre 1934 e 1938. Este texto completa o quadro apresentado no caderno monográfico dedicado ao fundador do Opus Dei em Madri nos anos trinta. O editor é Santiago Casas, professor de História da Igreja e especialista em catolicismo espanhol contemporâneo.
Na secção Crônica, Alfredo Méndiz contribui com notícias sobre eventos relacionados com a história do Opus Dei ou do seu fundador, entre 2006 e 2008.
Além de recensões e resenhas, a seção bibliográfica contém a segunda parte do elenco bibliográfico, que continua a “Bibliografia Geral” sobre São Josemaria e o Opus Dei até 2002, começada no primeiro volume de Studia et Documenta. Esta terceira parte, inclui a segunda parte das obras publicadas sobre São Josemaria, divididas nos seguintes secções: Estudos teológicos e jurídicos e Outros estudos. Num total de 350 referências, acompanhadas em alguns casos de breves comentários explicativos.
